segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um cidadão X vivendo neste Mundo Y

Os tempos seguem cada vez mais céleres, mais automatizados, mais conectados e cada vez menos presenciais, menos afetivos e menos humanos.

Hoje, para tudo há padrão. Padrão de roupa, padrão de cabelo, padrão estético, padrão de automóveis, etc. O mercado, a propaganda e as poderosas empresas envidam um esforço orquestrado e programado para padronizar uma série de bens, comportamentos e aspectos visuais da aparência, alçando-os, para o incauto público, à condição de coisas mais importantes da vida moderna.

Alia-se a agilidade da informação “sem fricção” com as ações maciças e coordenadas de marketing, tentando transformar o Mundo em uma coisa só. Seja em que local do Globo for, as pessoas acabam tendo os mesmos sonhos de consumo e as mesmas tendências de comportamento.

Não está sobrando tempo ou espaço para a autenticidade regional. Todos estão caminhando, quase sem pensar, para as mesmas práticas e os mesmos padrões comportamentais. Aliás, parece que está ficando cada vez mais deselegante questionar, ou ter opinião diferente sobre qualquer coisa na sociedade moderna globalizada. Há padrões veladamente impostos como certos, que precisam ser seguidos, sob pena, para os eventuais rebeldes, de ficar de fora daquilo que se convencionou entender na sociedade como padrão aceitável de postura, seja física, seja psíquica. São esses padrões comportamentais empresariais impostos goela abaixo dos funcionários, que dão origem às muitas aberrações no relacionamento empresa/cliente, como, por exemplo, o abusivo e onipresente uso do gerundismo pelos robotizados e mal preparados atendentes de Call Center das grandes e modernas empresas. Às vezes, temos a impressão de que os funcionários modernos, por ordem das suas chefias, precisam apenas estar nos seus postos de trabalho uniformizados e bem alinhados, sem a necessidade de realmente prestar um serviço de qualidade aos seus clientes. Basta apenas parecer bonitinho e eficiente, não importando que na realidade seja ordinário e ineficaz. Em muitos casos substitui-se completamente - a meu ver, não sem muitos prejuízos - a eficiência e a capacidade profissional de uma pessoa pela aparência padronizada e asséptica de outro funcionário.

As novas tecnologias podem trazer realmente muitas coisas boas a todos nós. Porém, todas as facilidades tecnológicas de nada adiantarão se, paralelamente a elas, não houver um investimento maior no crescimento das pessoas como seres humanos e cidadãos. Por maior que seja a evolução, entendo que jamais poderemos prescindir de um toque de humanidade em nossas relações, sejam elas de que natureza forem. Nada substitui um cumprimento cordial, um sorriso, uma postura de real interesse naquilo que a outra pessoa (cliente/cidadão/contribuinte) esteja querendo, precisando ou perguntando.

Essa desumanização da vida real cotidiana vem crescendo a olhos vistos. Principalmente nos grandes centros urbanos, não há mais espaço para práticas corteses e interação interpessoal. As pessoas andam pelas ruas e lugares públicos como autômatos, sem qualquer atenção ou respeito para com todos aqueles que circunstancialmente estejam por perto. Parece que tacitamente se convencionou que, atualmente, para haver interação entre humanos, ela precisa necessariamente acontecer de maneira virtual, por vias eletrônicas. Parece que não é mais cabível, em áreas e espaços públicos, haver entrosamento espontâneo e físico, olho no olho, tête-à-tête, com palavras cordiais entre duas ou mais pessoas. As pessoas estão “conectadas e ocupadas” demais para perder tempo com os cidadãos que perambulam ao seu lado. Sem contar que a vida anda muito perigosa, e é melhor não falar pessoalmente com estranhos, só pela Internet.

Observo pelas ruas, que está sendo cada vez mais comum as pessoas se esbarrarem ou trombarem, sem que haja qualquer pedido de desculpa ou iniciativa elegante de qualquer uma delas. Simplesmente se chocam ou quase se chocam, sem que uma olhe diretamente para outra ou lhe dirija a palavra.

Talvez eu esteja errado, e tudo aquilo que escrevi acima sejam apenas lamentações de um homem datado como pertencente à geração X, que viveu ¾ da sua vida no século XX, e que não consegue se adaptar às novas tendências e maneiras de viver deste século XXI, completamente dominado e gerido pela geração Y e subsequentes. Talvez eu esteja errado ou nostálgico demais. Sonhando em viver numa sociedade mais humana e solidária em tempos tão frios e de relações tão estranhas e distantes. Talvez não haja mais tempo e espaço para se ter respeito e preocupação com o próximo, e sim apenas para com o nosso próprio umbigo e com os nossos bens materiais de última geração. Os parâmetros de felicidade parecem ter mudado muito neste Mundo. Fui eu quem não mudou e ficou para trás, atropelado por essa forma de modernidade que nunca desejei.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Simphrônio vai ao inferno

Post originalmente publicado em 2009, o qual
repostamos agora, uma vez que o tema
ainda conserva alguma atualidade.

Simphrônio caminhava tranquilamente pelo viaduto do Chá no seu horário de almoço. Absorto em sua faina diária, o contabilista usava um terno alinhado, a sua indefectível gravata e o chapéu branco tipo palheta. Bigodinho negro e muito fino, como convinha a um cavalheiro. Naquele ano de 1929, os maiores ruídos que haviam por ali eram os dos bondes e os dos passos de alguns transeuntes apressados. Também ele tinha alguma pressa, pois já eram 12h50 em seu relógio de bolso. Precisava estar no escritório, na Praça do Patriarca, exatamente às 13h00, quando iniciaria o segundo turno de trabalho, mas ainda tinha que passar na pharmacia.
Foi então que, num átimo, ao passar por baixo de uma escada em meio ao viaduto, utilizada pelos funcionários da Companhia de eletricidade, Simphrônio viu-se imediatamente em outra dimensão. O ar mudou, tornou-se espesso, o barulho era ensurdecedor. Buzinas, gritos, muita gente apressada, vendedores ambulantes aos montes.
Perplexo e paralisado, nosso herói viu o seu relógio e a sua carteira serem roubados por punguistas, menos de dois minutos depois da sua "chegada" ao local. Não sabia se estava em outro país ou em outro planeta, apesar do lugar ainda conservar alguma familiaridade para ele.
Simphrônio estava atônito. As pessoas pareciam malucas. Muitas delas falavam e gesticulavam sozinhas, com uma caixinha nas mãos. Parecia que chegara a um mundo de lunáticos. As mulheres usavam roupas leves e algumas estavam seminuas, pernas à mostra, barrigas à mostra. Ele não estava entendendo nada. Aos poucos, conseguia distinguir alguns prédios que ainda mantinham as mesmas características de alguns minutos atrás, quando tudo era normal em sua pacata vida de trabalhador e homem de família.
Arguto que era, Simphrônio percebera que estava em São Paulo, só não conseguia discernir se estava acordado ou sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo.
Continuava se espantando com os tipos que via à sua frente. Muitos tinham os braços, pernas e pescoços desenhados, além de apresentarem pedacinhos de metal pelas orelhas, narizes e bocas. Os cabelos eram de cores variadas e cortes inimagináveis no seu tempo. Em muitos casos não diferenciava homens de mulheres e vice-versa. Teria sido São Paulo invadida por uma tribo de selvagens?
Ele, por sua vez, por estar no Viaduto do Chá, talvez estivesse sendo confundido com os muitos artistas de rua que passam os dias ali, vestidos com roupas de época, trabalhando como estátuas vivas. Por isso, e também devido à correria desenfreada e à indiferença generalizada dos cidadãos paulistanos modernos, ninguém notava a sua curiosa presença.
Esperto, Simphrônio aproximou-se de uma banca de jornais e, depois de quase cair de costas com o número de mulheres nuas em diversas revistas, conseguiu achar um jornal. Avidamente, verificou a data em que estavam. Oito de julho de 2009. Estupefato, concluiu que viajara no tempo exatamente 80 anos!
Logo em seguida, algumas moças bonitas o pegaram pelo braço e o convidaram para momentos de prazer. Cavalheiro que era, agradeceu a boa vontade delas e deixou para outra oportunidade. Eram 13h30. Seu Astolfo, o rígido patrão, não iria perdoar aquele atraso inimaginável para os padrões do escritório em que trabalhava.
Ao tentar atravessar o viaduto, quase morreu atropelado por carros, motos e ônibus. Eram tantos veículos, tanta fumaça, que não conseguia entender como era possível a convivência de seres humanos (Se é que ainda eram humanos) em meio a todo aquele caos.
Observador, notou que as pessoas falavam muito mais sozinhas, nas caixinhas, do que entre si. Outras levavam umas coisinhas nos ouvidos, que ele não conseguia entender para que serviam. Muitas outras paravam diante de coisas ou pessoas e ficavam apontando as mesmas caixinhas em suas direções. Seriam aquelas caixinhas algum tipo de arma ? Ele se perguntava. Aliás, perguntas sem respostas era tudo o que havia em sua cabeça.
Inteligente, pensou consigo mesmo: Vou tentar chegar ao escritório. Seu Astolfo deve estar espumando de raiva. Caminhou alguns metros. Viu um estabelecimento que, apesar das diferenças, se assemelhava com a pharmacia. Mas deixou para outro dia, se houvesse outro dia para ele. Ao entrar no velho edifício em que trabalhava, repentinamente sentiu a atmosfera mudar ao seu redor. Que alívio, voltara a sua doce São Paulo. Deixara para trás aquele inferno de Dante. Estava tão feliz, que seria capaz de beijar a careca de Seu Astolfo. Ele que descontasse as horas que achasse que devia. Estava em casa de novo, e imensamente feliz.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Message in a virtual bottle

Às vezes me perguntam para que serve um blog. Sinceramente, cada vez mais tenho dificuldades em responder a essa questão. São milhões de blogs vagando pelo cyber-espaço, e outros milhares sendo criados todos os dias. Algumas das minhas respostas recorrentes normalmente abordam a possibilidade de publicar nossos textos e ideias, ou a facilidade de armazenamento das nossas experiências de vida, entre outras tantas evasivas.
Contudo, é mesmo de se perguntar: Pra que serve um blog?
A única coisa mais palpável que me vem à mente é o fato de que daqui a cem, duzentos anos, nossos escritos poderão ser eventualmente estudados pelos arqueólogos e antropólogos do futuro. Se tem uma coisa da qual nossos descendentes não poderão reclamar será da falta de informações sobre como era absurda e cheia de inconformidades a vida humana no Planeta Terra no início do terceiro milênio.
Os blogs serão fósseis digitais ao alcance de quem tenha paciência para dissecá-los e tentar decifrá-los.
Do modo com a tecnologia evolui vertiginosamente, talvez bem antes, ainda na próxima década, os blogs já sejam tidos como dinossauros digitais.
O fato concreto é que, talvez como uma garrafa com o pedido de socorro lançada ao info-mar, a utilidade do blog esteja nas observações, críticas e discussões que fazemos hoje, sobre acontecimentos e comportamentos desta era, os quais poderão ser estudados e quiçá melhor entendidos pelos nossos irmãos do futuro. Quem sabe se, até lá, a humanidade já não terá atingido um determinado grau de consciência e esclarecimento que permita aos homens que virão se espantar com coisas e pensamentos produzidos nestes tempos.
E tomara que vivam, nesse futuro distante, de maneira muito mais civilizada, num tempo em que já tenham resolvido as questões de preconceito, miséria, fome, corrupção, diferenças sociais, diferenças étnicas, diferenças religiosas, diferenças ideológicas, entre tantos outros graves problemas enfrentados neste mundo atual.
Acho que essa talvez seja a única resposta factível para a manutenção de um blog nos dias atuais. O envio de mensagens póstumas aos nossos irmãos do futuro.
Fora isso, para pouco serve um blog pouco ou nada lido, com o acompanhamento apenas de uma meia dúzia de amigos sinceros e de todas as horas.
Para mim, blogs que, por mais que tentem, não conseguem produzir discussões, que não atingem um determinado número mínimo de leitores, que provocam pouquíssima ressonância, como é o caso deste, estão fadados a serem diários eletrônicos, passíveis de serem compilados para futuras biografias feitas pela família, no máximo.
Depois de toda essa reflexão, tenho a resposta, um blog é uma mensagem na garrafa, uma cápsula do tempo, que poderá ser descoberta e aberta daqui a séculos ou milênios.
Não deixa de ser uma ferramenta moderna, voltada para o futuro, sob certo ponto de vista.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A cidade dos carros

Em São Paulo, hoje, tudo é voltado e (mal) planejado para as necessidades dos automóveis. Parece que as pessoas, em sua imensa maioria, desaprenderam a caminhar ou a se deslocar de outras maneiras. Mesmo para trajetos de 500m, as pessoas optam pelo uso do automóvel, talvez até pelo suposto status que o veículo particular possa conferir ao cidadão. Há uma enorme preocupação da prefeitura em cuidar das pistas de rolagem, mas nenhuma preocupação em manter as calçadas minimamente trafegáveis para os pedestres e cadeirantes. É como se as calçadas fossem terra de ninguém; como se nenhum incauto fosse ousar caminhar a pé por elas. Acontece que há milhares de paulistanos que, por consciência ou por falta de opção, precisam caminhar pelas calçadas. E como é duro ser pedestre em Sampa. Em muitos casos tornam-se praticamente invisíveis, pois os motoristas jogam seus carros sobre eles sem a menor cerimônia, dando ainda a entender que eles, pedestres, os estão atrapalhando em suas manobras, principalmente nas entradas e saídas de garagens. É como se a calçada deixasse de se ser sobretudo o caminho reservado aos pedestres para ser, prioritariamente, entrada e saída de veículos.
Além disso, os níveis de grotesquice dos motoristas tem passado de todo e qualquer limite aceitável. Eles metem as mãos nas buzinas a qualquer pretexto, a qualquer hora, não importando se a zona é residencial, ou se há crianças e idosos por perto. É a barbárie. E na maioria dos casos, as grotesquices são produzidas por pessoas que se auto intitulam como sendo de bem. Parece haver muita gente que acha que educação, respeito e boas maneiras não precisam se estender ao trânsito motorizado.
Agora, com a fiscalização pegando pesado e multando em relação ao respeito às faixas de pedestres, talvez os grotescos motoristas paulistanos sejam compelidos por força de lei a respeitarem um pouquinho mais esses seres que se arvoram a cruzar o seu caminho, também chamados de transeuntes. Onde já se viu? Gente comum querendo transitar a pé em São Paulo!?! Nessa cidade só se anda motorizado, com uma verdadeira armadura sobre rodas!
Se você não tem carro porque não pode ou porque não gosta de dirigir, azar o seu! Aqui não é o seu lugar!
As preocupações dos governantes com o transporte público estão muito aquém de onde deveriam estar. Os investimentos em transportes integrados, que possibilitem aos cidadãos se moverem de maneira rápida e digna em São Paulo são infinitamente menores do que efetivamente essa cidade precisaria. E olhe que as passagens são caras. Pagamos caro para andar como sardinhas em lata, em ônibus e trens cujos horários e frequência de partidas sempre estão longe de serem os ideais, gerando a superlotação cotidiana.
Preocupações do poder público com os ciclistas, praticamente não existem. Pouco se investe em ciclovias e em reais incentivos para que a população adotasse de maneira segura e confortável o uso das bicicletas em nossas ruas e avenidas.
Por enquanto, tudo se resume aos carros, tudo se destina aos carros. Eles são os donos das ruas e dos corações e mentes da maioria das pessoas, inclusive daquelas que detém o poder e que, se quisessem, poderiam começar a mudar essa situação.
Enquanto isso, ser pedestre, usuário de transporte coletivo, motociclista ou ciclista em São Paulo são atividades de alto risco, para as quais não há garantias ou preocupações por parte de ninguém.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Robozinho valente volta ao inferno de Dante

Uma vez reiniciada - dois anos após a primeira incursão - a epopeia do flutuador (robozinho valente) da Globo nas imundas águas do Rio Tietê, achei interessante e oportuno republicar este post daquela época.

Todos os dias, o robozinho - guiado pelo seu quixotesco e estoico guardião, o cavaleiro navegante Dan Robson - é acompanhado pela equipe de reportagem da Globo.

Durante as transmissões, são recorrentes as esperadas e padronizadas caras e bocas de espanto dos apresentadores dos telejornais. Como se a situação horripilante do Rio Tietê pudesse ser novidade, mesmo para o mais desligado paulistano.

A única conclusão possível, diante dessa segunda e tresloucada jornada, é que a situação é igual, se não pior do que em 2009, e que nada foi efetivamente feito, por nenhuma instância, para reverter o quadro dantesco do Rio Tietê.

Foi iniciada nesta terça-feira, 01/09/09, com pompa, circunstância, transmissões e relatos ao vivo, uma jornada no mínimo insólita. A Globo está patrocinando a viagem de um flutuador, que mais parece um robozinho ou um satélite, o qual terá a ingrata missão de percorrer 500 Km do Rio Tietê, coletando informações, dados e imagens sobre a vida (?) e a quantidade de oxigênio de suas águas imundas, espessas e pardacentas.
São públicos e notórios os altíssimos níveis de poluição do Rio Tietê, pelo menos na parte que corta a grande São Paulo, causados principalmente pelos esgotos e dejetos industriais lançados sem o menor cuidado nas suas águas.

Parafraseando jornadas famosas, concluímos que essa tresloucada expedição será uma autêntica viagem ao fundo da merda.

Nos primeiros dias, o robozinho irá navegar por águas mais limpas, próximas da nascente do Tietê. O bicho vai pegar na medida em que ele for se aproximando da capital. Nem sei se alguns trechos ainda são navegáveis, dada a densidade de suas águas marrons. Talvez o aparato venha a encalhar em alguns pontos das águas embosteadas do rio.
O que me espanta é o ar de desbravadores do rio que os apresentadores dos telejornais da emissora têm adotado. O entusiasmo e a alegria com que noticiam os avanços do projeto, que, ao menos em tese terá duração de um mês. Isso, se o sofisticado equipamento não vier a se desintegrar nas ácidas águas em que irá navegar.
Outro ponto em que os globais dão muita ênfase é o envio de imagens a serem coletadas durante a empreitada. Não consigo deixar de imaginar as belas imagens a serem fotografadas, e transmitidas em tempo real, no período crítico, quando o flutuador estiver navegando quilômetros e quilômetros literalmente na merda.
Quanto à vida nesse trecho do rio, só vejo a possibilidade de encontrarem uma única espécie, cuja resistência é descomunal, são os famosos peixes de origem nipônica, os toroços. Esses deverão ser muito fotografados pelo heroico robozinho.
É importante lembrar, que a engenhoca será sempre pajeada por um atleta do remo, a quem eu sinceramente desejo toda a sorte do mundo, tendo em vista os caminhos pútridos nos quais irá se aventurar.
No final das contas, ao fim da penosa viagem, teremos um amplo painel dos níveis de merda existentes no Rio Tietê. Nunca nenhuma iniciativa foi tão desbravadora e corajosa. Durante anos a fio esperamos uma medida como essa, que pudesse comprovar cientificamente aquilo que os olhos e narizes dos paulistanos já conhecem de longe.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A dança do João Sorrisão

Juntando a dança do patinho de B-Negão, com a televisão
de Arnaldo Antunes, saiu essa dança do João Sorrisão!

Se você anda cheio de se sentir vazio, como diria Renato Russo... Se você anda dando valor demais às coisas estúpidas e idiotas, que te enfiam goela abaixo como sendo as últimas bolachas do pacote... Talvez você já esteja prestes a sair dançando a dança do João Sorrisão.
Não há nada mais vazio, inofensivo e idiota do que o João Sorrisão. Acho que, no fundo, essa é a grande meta da toda-poderosa: Transformar os 200 milhões de brasileiros em Joões Sorrisões.
João Sorrisão toma pancada de tudo que é lado, mas está sempre com aquele sorriso imbecil estampado no rosto. A trilha sonora que, invariavelmente, seus criadores escolhem para ele vão do mais lamentável do pagode, ao pior do funk, do axé e dos breganejos. Agora está virando hit, cult, moda, o escambau! Triste o país que tem como símbolo um boneco tonto, vazio e sorridente.
E pensar que tanta coisa boa, criativa e de qualidade poderia ser veiculada no horário e no espaço televisivo inutilmente destinado a esse abobalhado boneco. É de se lamentar profundamente, que num país com o cada vez mais alto déficit educacional e cultural, perca-se tempo com a difusão de tão abestalhado personagem. Tantos artistas, escritores, atores, músicos com tanto a dizer, a mostrar e a ensinar, mas não, a mídia incensa e propala idiotices como o João Sorrisão. É um tapa na nossa cara. Joões-bobos é o que somos para os poderosos dos conglomerados midiáticos. E, sendo joões-bobos, merecemos apenas ter acesso a artistas, músicas e programas de conteúdo sofríveis, uma vez que não temos capacidade para gostar ou apreciar manifestações culturais mais autênticas, verdadeiras e profundas.
E seguimos nessa toada, paradões, vazios, mas cheio de informações fúteis e padronizadas, que nada exigem de nossos intelectos, tendo em vista o idiota riso fácil e duradouro que provocam e mantém em nossas caras.
É a dança... é a dança... é a dança do João Sorrisão! Cada povo tem os heróis que merece!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O escriturário enxerido

Com a atual avalanche de informações e fontes na web, até o enxerido escriturário se arvora a dar pitacos nos mais variados assuntos e temas cotidianos.



Sua formação profissional não é exatamente na área da comunicação, mas, de qualquer forma, quer participar da aldeia global de informações que se estabeleceu no mundo e encurtou distâncias.



O enxerido quer fazer valer a sua opinião e o seu ponto de vista. Usa os blogs e o Twitter para postar sobre os mais variados temas, achando que alguém talvez possa achar interessante aquela ideia jogada repentinamente na infomaré de Gilberto Gil.



Mas a infomaré já está tomando jeito de tsunami, tamanha a quantidade de informações, ideias e besteiras (essas, talvez, mais do que tudo) que vem engrossando suas águas.



As pessoas mais postam do que lêem. A maioria quer ser ouvida, mas já não se preocupa tanto em saber o que os outros pensam.



No Twitter, há uma competição, já não tão velada assim, para saber quem tem mais seguidores. Como se apenas o número de seguidores, por si só, já conferisse o status de autoridade da web a esse tuiteiro.



Eventualmente, na minoria dos casos, surge uma discussão construtiva e producente no Twitter. Na maioria das vezes, as postagens se resumem a banalidades e frivolidades do cotidiano das pessoas, que, em tese, pouco deveriam interessar a terceiros.



No entanto, quando essas informações fúteis são postadas por celebridades, costumam causar muita repercussão, mesmo que o tema abordado não tenha nenhuma relevância ou importância.



Por outro lado, importantes jornais e veículos de comunicação estão, cada vez mais, sendo caixa de ressonância de muitas dessas banalidades postadas na internet. É como se a comunicação tivesse sido nivelada por baixo. Até os órgãos que um dia foram respeitados pela austeridade, hoje cedem espaços cada vez mais generosos de suas páginas às frivolidades.



É claro que, com isso, deixam de abordar assuntos e temas de real interesse da sociedade. Mas quem vai se preocupar com coisas importantes como educação, cidadania, saúde, moradia, reforma agrária, se há tantas notícias leves e factoides pululando todos os dias?



É por isso que o enxerido lá do começo, que, como todo tuiteiro e blogueiro sem prestígio tem menos seguidores do que seguidos, continua metendo o bedelho aonde não é chamado, nem querido.



O enxerido não é jornalista, não é crítico, não é da mídia, não é artista, mas tem opinião própria e quer expressá-la, mesmo que ninguém dê a menor importância.



Escriturário que é, esperam dele apenas ações e providências administrativas, o que já foi abordado anteriormente neste blog. Para maiores detalhes de sua rotina, basta se enroscar nesta curva de rio aqui.



E assim segue o enxerido escriturário na sua faina diária, metendo a colher de pau nos assuntos mundanos e alheios, mesmo que não receba nada por isso, muito pelo contrário.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O bom e o bonzinho


Esta vai para todas essas pessoas muito parecidas entre si, que andam às pencas por aí. Com o corte de cabelo padrão, com os trajes padrão, com as expressões e chavões padrão. Pessoas com falsos sorrisinhos de cordialidade no canto da boca. Treinadas para parecerem educadas e eficientes, abusando da praga do gerundismo. Pessoas que, no fim, só se preocupam com a enorme área adjacente ao próprio umbigo. Não estão nem aí para o coletivo, nem para os próximos que as rodeiam.


Hoje, prega-se das mais variadas formas, que o cidadão moderno deva ser bonzinho. Ele deve se enquadrar e comportar-se de determinadas maneiras, e dentro de certos critérios e padrões, caso almeje alguma conquista, seja pessoal, seja profissional.


Há inúmeras cartilhas de etiquetas, que ditam aquilo que pode ou não ser feito ou dito em determinadas situações clichês, como entrevistas de emprego, encontros amorosos e compromissos oficiais e sociais.
Para cada situação, o sujeito deve usar uma persona, uma máscara, um comportamento. Mais do que nunca, a sociedade está se baseando nas aparências, e não nas essências dos indivíduos.
Em muitos meios de trabalho e atividades, a pessoa pode ser competentíssima, talentosíssima, porém, se não estiver envergando os trajes da moda atual, nem com a aparência que a mídia diz ser a aparência padrão atual, certamente estará fadada ao fracasso, seja na seleção, na entrevista ou na dinâmica de grupo.
Atualmente, a única exceção para esse conjunto de regras são os concursos públicos, que têm se pautado pela objetividade na seleção das pessoas. Num concurso honesto, bem realizado e transparente, certamente as pessoas melhor preparadas e com mais conteúdo serão as aprovadas. Não necessariamente as mais bonitas e bem apresentadas nos aspectos físicos e de vestimentas.
Nessa ordem toda de arranjos para que a aparência e a presença física e o carisma ditem as normas e os padrões, outra coisa tem me saltado aos olhos. O fato das pessoas serem, de alguma forma, compelidas a parecer boazinhas e inofensivas. Note bem, eu disse parecer boazinhas. Não precisam ser boas de verdade. Mas têm que ostentar uma aura de beleza, de delicadeza, de serem aparentemente inofensivas aos demais participantes dos grupos em que estejam inseridas.
Na verdade, a meu ver, as pessoas cada vez menos precisam ser genuinamente boas, mas precisam, isso sim, parecer boazinhas, só isso.
Isso leva a algumas situações limites, em que tais pessoas, ditas boazinhas, podem vir a agir de maneira completamente egoísta, leviana e racional, pensando só em si e nos seus interesses, em detrimentos dos demais.
Para mim, esses sustos e surpresas negativas, que todos nós tomamos com certas atitudes de pessoas “boazinhas”, apenas revelam que elas são, na realidade, só isso, boazinhas. Não são pessoas genuinamente boas. Apenas vestem a máscara social da bondade.
Por isso, costumo distinguir muito bem esses dois tipos de gente no mundo: o bom e o bonzinho. O bom é o sujeito correto, reto, transparente, de boa índole, que não se corrompe, e valoriza e respeita o ser humano acima de tudo. O bonzinho é apenas isso, bonzinho. Mas não se surpreenda se ele eventualmente cravar uma faca nas suas costas.
Para fechar, na minha experiência pessoal e de vida, percebo que, na grande maioria dos casos, as pessoas preferem tratar com os bonzinhos e boazinhas de plantão. Porque, teoricamente, a relação fica mais fácil, uma vez que é completamente baseada na hipocrisia, na falsidade e na ausência da verdade.
As pessoas realmente boas incomodam, pois têm o desagradável hábito de primar pela verdade e pela transparência, que em muitos momentos chegam a ser tidas como coisas desagradáveis e abjetas, neste admirável mundo novo em que vivemos.
Cada vez mais, o importante é parecer ser bom, e não realmente ser bom, na maior acepção que essa palavra possa ter.
Não faço a menor questão de ser um homem bonzinho. Luto, diariamente, para tentar ser um homem bom e justo.

sábado, 14 de maio de 2011

Incômodos

Post livremente inspirado na

música "Apenas um Incômodo", da

banda cearense Cidadão Instigado.

Sua aparência não confere com a aparência padrão, ditada pelo Grande Irmão, e por isso ele incomoda. Suas roupas não seguem as tendências da última estação, nem das maciças propagandas, aliás, não seguem qualquer tendência, apenas são usadas com a finalidade de proteger o corpo e aquecê-lo do frio.

Raspou os cabelos, que já eram ralos, pois assim tem uma preocupação a menos na vida.

Seu discurso, ninguém sabe o porquê, não está alinhado com os discursos propalados pelos agentes do Grande Irmão, impressos, narrados ou transmitidos eletronicamente.

A música que aprecia não toca nas rádios e Tv's que servem ao Grande Irmão, apenas a ouve nos cada vez mais raros veículos alternativos. Nos meios de comunicações "oficiais", só se ouve ou se vê aquilo que serve aos interesses econômicos ou políticos do Grande Irmão.

Mas por que ele incomoda tanto, se é praticamente inofensivo? Como já dissemos, não vive travestido de moderno, cultuando as últimas tendências fúteis para poder se manter competitivo. Não leu o último "best-seller", lançado na semana passada pelo guru da auto-ajuda. Não assistiu ao último "blockbuster", que já está cotado para ganhar dez "Oscars", todos relativos às categorias técnicas.

Ele incomoda porque, à primeira vista, não se parece com aquilo que se adotou como padrão internacional de ser humano ideal.

Não age e se apresenta exatamente como a maioria esmagadora, que compõe o senso comum, entende ser a correta maneira de agir e se apresentar.

Ele incomoda porque não fala aquilo que a maior parte das pessoas que seguem o Grande Irmão estão preparadas para ouvir.

Ele é um incômodo porque não atrelou e programou toda a sua vida à aquisição do último modelo de veículo lançado ontem, custe o que isso poderá custar. Ele também não acha que precisa comprar o último lançamento eletrônico a ser lançado amanhã pela manhã, nem tampouco que precisa entrar na fila de madrugada para garantir que seja um dos primeiros a fazer a aquisição.

Os incômodos que perambulam por aí simplesmente ainda vivem a vida real. Precisam se preocupar com o próprio sustento, e por isso não têm tempo para pensar em etiquetas e padrões comportamentais a cumprir.

São pessoas, de alguma forma, mais ricas e felizes que as demais, uma vez que não estão escravizadas pelos estereótipos criados e promovidos pelo Grande Irmão. Embora paguem um alto preço por essa postura "inadequada".

Talvez os incômodos queiram dizer, de alguma forma, que pode existir vida criativa, producente e feliz fora dos muros dos condomínios fechados e dos shopping centers. E que, principalmente, existe muita vida inteligente e inspirada fora da mesmice em que chafurdam todos os meios de comunicações servidores do Grande Irmão.

Existem manifestações culturais regionais prodigiosas. Existem músicos talentosíssimos, que optam por realizar seus trabalhos de maneira sincera e autoral. Enfim, existem artistas e pessoas de todas as naturezas fazendo coisas e mostrando que há muitos caminhos e possibilidades a seguir. Por que, então, teremos de seguir, todos, por uma única estrada?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Chico Science - A falta que o líder faz


Há quatorze anos perdíamos, precocemente, o grande artista Francisco de Assis França - o inesquecível Chico Science - em um acidente automobilístico.

A falta que o mangue-boy faz no cenário musical brasileiro ainda pode ser sentida até hoje, pois, ao contrário de outros importantes artistas mortos recentemente, Chico Science ainda não havia tido tempo de explorar todo o seu potencial criativo, que era impressionantemente elevado.

Ele foi o líder de um movimento cultural, o mangue beat, que ainda hoje pode ser considerado a última grande revolução no panorama musical brasileiro, além de render frutos. Tudo de novo e relevante que aparece na música brasileira, atualmente, ainda tem alguma ou muita influência das ideias e sacadas geniais de Chico Science e da Nação Zumbi.

Eles surgiram na grande mídia do sul maravilha em 1993, e, desde aquele início, já diziam fortemente a que vinham e quais eram as suas intenções. Vinham para literalmente balançar as estruturas da nossa, àquela altura, insossa produção cultural e musical.

Aquele período era um marasmo só. O rock nacional já havia passado do seu auge. A MPB só mantinha seus grandes nomes. O axé, o sertanejo e o pagode dominavam todas as rádios e canais de Tv à custa de muito jabá das gravadoras. Ou seja, a mesmice e a falta de inventividade reinavam absolutas.

Em meio a tudo isso surge o furacão Chico Science, liderando outras pessoas e bandas também geniais, como Fred Zero Quatro, Otto, Mestre Ambrósio, bem como a própria Nação Zumbi, que ficaria órfã do seu mentor tão cedo e, mesmo assim, continuaria produzindo muita coisa interessante nos anos seguintes.

Li uma declaração do talentoso cantor Seu Jorge, na qual ele afirmava que, naquele início dos anos 90 tinha a intenção de criar uma musicalidade alternativa e diferente, mas que depois de assistir a um show da ainda iniciante Nação Zumbi, sentiu que tudo o que podia haver de mais novo e interessante na música já estava sendo criado por aquele grupo de recifenses. Segundo ele, depois daquela explosão de ideias e sonoridades, tudo o mais ficava parecendo brincadeira de criança.

Para mim, Chico Science foi o último revolucionário da nossa cultura, pois conseguiu, com seu talento criar uma música poderosa, dotada de mensagens e ideias renovadoras. Foi eficiente ao criar letras e músicas que diziam muito. Provou que é possível ser criativo e popular ao mesmo tempo. Provou que inteligência e conscientização cabem e são necessárias para todos, em qualquer contexto.

Além disso, frise-se que ele morreu durante os preparativos para o carnaval de 1997, quando trabalhava arduamente - e por isso corria tanto - para oferecer uma alternativa popular, mas de qualidade, aos tchans e axés da Bahia, que assolavam ininterruptamente os ouvidos de todos naquele período.

Podem notar, todos os talentos verdadeiros que surgem atualmente, de alguma forma, ainda bebem na fonte do inesgotável Chico Science.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Olhos nos olhos

Está faltando olhos nos olhos

E não apenas nos idílios amorosos

Está faltando olhos nos olhos nas relações humanas

Sejam de que natureza forem

Muito se fala, pouco se ouve

Muito se fala na primeira pessoa

Quase nada se ouve dos outros com atenção

Muita comunicação à distância

Quase nenhuma interação presencial

Muitos padrões comportamentais estabelecidos

Pouquíssimos relacionamentos verdadeiros

Muitos manuais de etiquetas e atitudes

Quase nenhuma atitude realmente digna

Muitas cópias de cópias de cópias

Raríssimas ideias inovadoras

Muita teoria, pouca prática

Tempos do politicamente correto

Muitos políticos nada corretos

Muita frescura, muita diferenciação, muita intolerância

Muito EU, pouco NÓS

Muito a mim, pouco a vós

Muitos segmentos, muitas castas

Pouca igualdade, pouca solidariedade

Pouco respeito, pouca atenção

Muito interesse, muita alienação

O ser humano precisa se ver mais

Se falar mais, se ouvir mais

Está faltando olhos nos olhos

E não apenas nos idílios amorosos


Dedicado a todos nós, seres humanos, de todas as partes, de todas as raças, de todos os credos, de todas as orientações sexuais, de todas as idades. Ninguém pode ser considerado tão rico que não necessite de um sorriso, nem tão pobre que não possa lançar um olhar de compreensão.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

(Des) Considerações sobre a atual sociedade brasileira

1) Diferentemente do Japão, aqui não temos tsunami ou terremoto, porém, estão incrustados na alma da maioria o jeitinho brasileiro e a maldita mania de sempre levar vantagem em tudo.



2) Os humanos modernos vivem tecnologicamente conectadíssimos, contudo, andam como autômatos no mundo real, ignorando quase tudo que os rodeia. Às vezes, pagam altos preços por essa negligência e por essa ausência da vida ao vivo.


3) Os artistas incensados, promovidos e veiculados à exaustão pela grande mídia, a custa de muito jabá, são cada vez mais sofríveis. Enquanto isso, artistas de verdade, independentes, de norte a sul do país, sofrem para divulgar seus trabalhos de qualidade, e raramente são reconhecidos.


4) A televisão tem, além de entreter, o dever de promover a cultura e a educação do povo brasileiro. Está na Constituição. No entanto, o que vemos cada vez mais é a sua enorme contribuição para a imbecilização de todos os telespectadores.


5) As pessoas gostam de porcarias porque vêem na TV ou vêem porcarias na TV porque gostam?


6) Os políticos são em sua grande maioria tachados de corruptos e safados. Mas quem os elege, eleição após eleição? Não somos nós mesmos? Eles não seriam o nosso espelho? Em nosso cotidiano, somos responsáveis, engajados e temos respeito para com as outras pessoas?


7) As tecnologias, redes sociais e congêneres não deveriam aproximar e fazer interagir de verdade os seres humanos, ao invés de levar a grande maioria às raias da debilidade mental?


8) Twitter, Facebook, Orkut: Essas ferramentas tem aguçado a autenticidade e a criatividade das pessoas, ou apenas tem sido usadas como caixa de ressonância de ideias alheias pela maioria? Muitos repassam cegamente adiante ideias estapafúrdias, simplesmente porque foram lançadas por pessoas famosas!


9) Por que as pessoas tem, cada vez mais, cultuado e valorizado as unanimidades eleitas e propagadas pelos interesses empresariais e midiáticos, ignorando completamente qualquer manifestação genuinamente cultural independente? Será que é por causa da sensação do inconsciente coletivo de que aquilo que não está na tela da TV não está no Mundo?


10) Os padrões de beleza, moda, atitude e saúde devem necessariamente ser os que estão sendo empurrados ao povo goela abaixo pela mídia, ou haveriam outras possibilidades de vida saudável e inteligente longe desses estereótipos massificados e que tantos danos tem causado a muitos incautos que querem a todo custo segui-los?

sábado, 5 de março de 2011

Homem-Sapato

Inspirado no conto "homemcarro",
de Ademir Assunção,
no livro "A Máquina Peluda".
O Homem-Sapato já conta com milhares de quilômetros rodados. Já fez várias revisões e ainda continua apresentando bom desempenho. Os triglicerídeos encontram-se em níveis desejáveis, assim como o colesterol e a glicemia. Poderia se dizer que ele está bem lubrificado. Também, pudera, vive rodando, ou melhor, circulando pelas ruas da cidade, faça chuva ou faça sol. Enfrenta as escadas e rampas sem medo de ser feliz. Já não se preocupa se a distância que irá percorrer seja medida em quilômetros, pois sabe que, na maioria das vezes, seu desempenho será melhor do que os veículos motorizados. Os carros simplesmente não andam mais numa cidade como São Paulo. Enquanto isso, o Homem-Sapato segue lépido e fagueiro pelas calçadas esburacadas e malconservadas. Faz em uma hora e meia o que um motorista faria em duas horas ou talvez mais. E, de quebra, pratica diariamente a sua atividade aeróbica. Une o útil ao agradável em sua rotina de deslocamentos. Evita os riscos vividos constantemente pelas motos e bicicletas, e o stress imenso causado pelo anda e para dos veículos convencionais. Também não precisa sofrer as agruras e as incivilidades dos ônibus e metrôs caros e abarrotados. Ao chegar em casa, o Homem-Sapato é diariamente bombardeado pelas dezenas de elegantes propagandas de veículos. Não consegue entender como podem vender tantos carros em uma cidade que praticamente já não anda e respira apenas monóxido de carbono. Tranquilo, sabe que já licenciou e pagou o IPVA do seu Vulcabrás. Na semana passada, levou-o para a inspeção veicular e foi aprovado com louvor. O técnico da Controlar ficou impressionado com as baixíssimas emissões de poluentes do Homem-Sapato. Chegou a afirmar que nunca havia presenciado um catalisador tão eficiente. O máximo que pôde detectar foi algum chulézinho básico e eventualmente alguma flatulência, visto que ninguém é de ferro, e o sistema de escapamento tem que funcionar perfeitamente. Além de todas essas vantagens, um veículo ultra compacto como o Homem-Sapato raramente precisa se preocupar com os problemas de estacionamento. Não é incomodado pelos famigerados flanelinhas, nem tampouco precisa ficar preenchendo cartões de zona azul. Nesse quesito, as únicas dificuldades que enfrenta acontecem nas raras vezes que se aventura a trafegar nos transportes coletivos. Aí, invariavelmente, falta espaço para uma perfeita baliza no chão dos veículos e o Homem-Sapato chegar a ficar por cima ou por baixo de outros pisantes similares a ele. Fora isso, anda livre. Mesmo nas enchentes que assolam Sampa, o desempenho do Homem-Sapato é considerado bastante razoável. Quando necessário, sobe nas partes mais altas e se protege. Quando não, segue andando pelas próprias ruas alagadas, tomando alguns cuidados básicos. Quase nada barra a autonomia de deslocamento do Homem-Sapato, salvo condições climáticas muito severas, que não acontecem com muita frequência. Até os amigos do alheio pensam bem antes de abordar o Homem-Sapato, tendo em vista suporem que ali não vão encontrar nada de que possam se apoderar, a não ser um par roto e desgastado de sapatos. Ou seja, o Homem-Sapato trafega pela cidade quase invisível, poucos o notam, visto estarem atentos aos volantes e aos semáforos. Por isso, o Homem-Sapato pratica a caminhada defensiva, ou seja, está sempre atento aos movimentos dos outros veículos, com o objetivo de evitar acidentes e traumas. É claro que o Homem-Sapato, como cidadão, tem suas reivindicações aos governantes e elas não poderiam deixar de ser relativas à melhoria das condições de pavimentação, sinalização e iluminação das calçadas e passeios públicos, tendo em vista o pouco caso e a desatenção com que são tratados os caminhos para pedestres nesta cidade. Mas, apesar dos pesares, o Homem-Sapato continua literalmente sua caminhada feliz da vida, chegando em casa cansado, mas tranquilo. Então, basta uma bela ducha, uma troca de óleo e um reabastecimento rápidos, uma noite de descanso, para, no outro dia, começar tudo de novo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Todos estão com muita pressa

Hoje em dia, principalmente nos grandes centros, as pessoas correm o tempo todo para dar conta dos seus infindáveis compromissos. É chique e modernoso parecer estar sempre muito ocupado, atarefado e apressado. Para ser cool, há que se estar sempre com aquele ar blasé, próprio de quem é alguém supostamente importante demais para perder tempo com questões mundanas e comezinhas.
Agora, será que há necessidade de marcar tanta coisa simultaneamente, ou o homem dito moderno não está sabendo programar direito a sua agenda e priorizar os eventos da sua vida?
Tem gente que faz muitas coisas sem prestar a devida atenção, pois está sempre com a mente na próxima tarefa ou no próximo lugar em que deverá estar. Não se concentra em nada direito. Às vezes, um sujeito está em um local, mas já está conectado, de várias maneiras (celular, lap top e o escambau...) a outras pessoas ou eventos.
Tenho presenciado muitas situações em que um grupo de pessoas está reunido em determinado lugar, mas todas elas estão falando ou teclando ao celular, quando não estão conectados à web, tuitando. Ou seja, estão fisicamente próximos, mas mentalmente apartados e distantes.
Tal conectividade abusiva tem gerado outros sintomas em nossa sociedade. As pessoas estão cada vez interagindo menos tête-à-tête. Estão diminuindo sensivelmente os contatos de camaradagem, espontaneidade e interação no mundo real e físico. Muitos andam como autômatos por todos os lugares. Não se comunicam diretamente e, em muitos casos, mesmo em vias públicas movimentadas, sequer percebem a presença de outras pessoas ao seu redor, o que pode ser perigoso até em relação às questões de segurança.
Apesar de tanta comunicação virtual em tempo real com "amigos" distantes, há muitas situações em que as pessoas praticamente não se comunicam com aqueles que estão fisicamente próximos. É um contra-senso, mas nesta época em que as formas de comunicação encontram-se tão em alta, talvez seja o tempo em que os seres humanos estejam interagindo menos e se relacionando com muito mais frieza nas suas andanças e ações cotidianas.
Tem havido cada vez menos espaço nas ruas e lugares públicos para a cortesia, para a troca de ideias e para a comunicação direta e presencial. Cada vez menos as pessoas tem observado o seu próximo. Entre a pressa desenfreada e a onipresente comunicação à distância, acabou sobrando para a convivência cordial e pacífica entre as pessoas, que quase já não existe mais. Está fadada à extinção. Pior para nós, que cada vez mais estamos passando a viver num mundo mais individualista e muito menos coletivo e solidário.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Atrofia mental

Vivemos dias de atrofia mental. Somos, todos, bombardeados por mesmices midiáticas que pautam e uniformizam as posturas e os comportamentos das pessoas. Haja BBBesteiras estampadas diariamente em todos os sites, jornais e revistas. Tais "notícias" têm destaque nas primeiras páginas (eletrônicas ou impressas) de todos os grandes e poderosos veículos de comunicação, como se fossem "assuntos" realmente relevantes para toda a sociedade.
As fofocas e notícias desimportantes tomaram conta do noticiário. Publica-se (às vezes em tempo real, como no Twitter) aonde está, com quem está e o que está comendo a celebridade X. Que a celebridade Y está fazendo compras no shopping tal. Que o participante Zezinho do reality show não sei das quantas está maquinando planos para ficar com a Mariazinha. Façam-me o favor! É muita baboseira e desinformação para um povo que já tem a infelicidade de contar com um sistema educacional tão deficiente quanto é o brasileiro. É municiar de padrões estéticos inalcançáveis, de obejtivos estapafúrdios e utopias deformadas, as cabecinhas já tão despreparadas de enorme parcela da nossa gente.
Apresentadores de peso se esmeram para tentar tornar interessantes os folhetins ridículos e vazios que são "encenados" nos infindáveis BBB´s da vida.
É até compreensível que tais programas e notícias existam e tenham seu público. O que é de lascar é que sejam alçados ao patamar que atingiram de importância e relevância.
Realmente, caminha-se vertiginosamente para o dia em que todas as pessoas se tornarão montanhas de músculos, botox, piercings e tatuagens. Sem esquecer do bronzeamento artificial e das escovas progressivas, hoje tão em voga. Quanto ao conteúdo, aparência e musculatura cerebral, não há que se preocupar, pois isso não tem importância. Apenas a aparência é importante.
Não há mais espaço nos meios de comunicação de massa para a autenticidade, para a originalidade e para a inspiração. Os poucos programas que ainda apresentam boas atrações são veiculados nas televisões educativas, que têm maior nível de independência e liberdade.
Nos últimos tempos, pude assitir nesses canais (Como TV Câmara, TV Justiça ou Canal Universitário) algumas entrevistas com pessoas realmente interessantes, totalmente fora dos padrões globais e "vejísticos" de comportamento, ações e intenções.
Falo dos escritores e poetas Fabrício Carpinejar e Ademir Assunção. Pessoas de conteúdo e criatividade, que merecem a nossa atenção, por terem a capacidade de nos fazer pensar e vislumbrar outras perspectivas do mundo e da vida cotidiana.
Sei que é difícil, mas acho muito importante que pessoas com conteúdos e formas diferentes dos padrões estabelecidos possam também ter os seus trabalhos e ideias veiculados e divulgados nos meios de comunicação. Precisamos, todos, de mais diversidade, de mais possibilidades, de mais espontaneidade. Ou seremos, muito em breve, uma legião de cérebros completamente atrofiados e compactados.

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