segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Então, de novo, é Natal... E o que você fará?

Novamente nos aproximamos rapidamente do dia de Natal. As mesmas repetitivas e exaustivas reportagens sobre o aumento do consumo e do endividamento das famílias nessa época tão supostamente feliz. Invariavelmente, mostram as pessoas se esfalfando em shoppings e ruas do comércio popular com o intuito de comprar os famigerados presentes da moda para todos os amigos e familiares. A mim causa estranheza que a maioria dessas pessoas, que correm freneticamente nesse período, muitas vezes nem lembrem exatamente qual é o principal motivo da celebração do Natal, tamanha é a avidez por adquirir tudo aquilo que está em voga nesta estação, bem como presentear a todos com essas coisinhas, que não serão sequer lembradas daqui a um ano. Percebo que a grande maioria se empolga com as festas de final de ano, com os famigerados amigos secretos ou ocultos, como queiram, mas não vejo quase ninguém lembrar com a devida atenção do aniversariante e de todos os ensinamentos que ele nos deixou quando passou por esta Terra. Muitos passam a ser extremamente generosos neste período, como se a generosidade e a solidariedade não coubessem em outras épocas, ou melhor, em todas as outras épocas e dias de todos os anos de nossas vidas. O sentimento cristão de enxergar o próximo, de viver em comunhão com os outros, de ser solidário, de pensar um pouco mais no coletivo e menos no individual, tudo isso deveria ser praticado por todos de maneira incessante e ininterrupta. No entanto, tirando o período de festas, nas demais épocas do ano o que vemos é a exacerbação máxima do individualismo e do egoísmo. Da violência, da maldade e da ignorância. Das injustiças, dos preconceitos, das diferenciações e distinções em todas as esferas entre pobres e ricos, entre quem pode e quem não pode pagar. As pessoas tem valido apenas pelo seu poder de consumo e por sua capacidade econômica. Não estamos dando a mínima para a formação das nossas crianças e jovens, que têm se tornado cada vez mais despreparados, consumistas e individualistas. O que vejo em quase todos os meios em que vivo, ou nas situações que presencio, é a grande voracidade das pessoas por se darem bem individualmente, em fazer crescer o seu patrimônio, muitas vezes de maneira ilícita e corrupta, prejudicando terceiros e até pessoas próximas e mais humildes. Poucos têm sido os exemplos de honradez, retidão de caráter e hombridade, apesar de que eles existem, e quando os vemos, ficamos espantados, como se tais gestos fossem muito estranhos, quase bizarros. Ser honesto, nestes tempos mercantilizados, passou a ser uma virtude, quando, na verdade, ser honesto é um dever de qualquer cidadão, sempre. Pessoalmente, não consigo passar bem e feliz por essas comemorações, pois, diante do nosso dia a dia turbulento e desumano, considero demasiada hipocrisia que de repente todas as pessoas passem a se cumprimentar efusivamente, aos beijos e abraços, após terem passado o ano inteiro se maldizendo e se desrespeitando. Claro, sou obrigado a concordar que sempre é tempo para a reconciliação e o entendimento entre as pessoas, mas percebo que tais reuniões de fato duram muito pouco, acabando já antes do Carnaval, outro período em que as pessoas voltam a se individualizar extremamente, sendo que para algumas parece que o mundo irá se acabar nessas folias de Momo. Como não sei o que dar para cada um de vocês, e acho que todos nós estamos precisando muito mais de reflexão e carinho do que de festas, bebidas, presentes e modismos, deixo aqui as minhas impressões e sensações pessoais do que entendo ser uma justa e correta comemoração do aniversário de Jesus. Penso que o melhor presente para Ele seria que todos nós passássemos a viver de maneira boa e simples; coletiva e justa; sem que as posses, o dinheiro e os bens materiais e de consumo pautassem as nossas relações da maneira tão marcante como tem acontecido em nossas vidas. Que as pessoas fossem valorizadas pelo que são e não pelo que têm ou representam na sociedade. Que enalteçamos os talentos e os dons daqueles que os têm, mas que jamais deixemos de perceber que por mais simples que sejam as vocações das pessoas, todos nós as temos, e estamos neste mundo para vivermos como verdadeiros irmãos, nos auxiliando, nos apoiando, de maneira sincera e leal, dia a dia, e não apenas nas épocas e das formas predeterminadas pelos que detêm o poder e o dinheiro. São a simplicidade, a solidariedade e a bondade o maior legado que nos deixou o nosso pai, cujo aniversário é o grande motivo de comemoração do próximo dia 25 de dezembro, muito embora às vezes pareçamos esquecer completamente disso. 
 
Feliz Natal a todos, de verdade!!! E que em 2013 possamos começar a encontrar, todos nós, e para todos, tantas coisas das quais estamos realmente precisando.
 

sábado, 17 de novembro de 2012

Da série "Somente um idiota..."

Na semana passada, um juiz norte-americano condenou uma motorista de 32 anos a passar uma hora na via pública segurando uma placa com os dizeres "Somente um idiota ultrapassaria um ônibus escolar pela calçada." A mulher havia cometido essa grotesquice exatamente naquele mesmo lugar, alguns dias antes. No entanto, foi filmada durante a estúpida atitude. A polícia agiu rapidamente e a enquadrou minutos depois. A pena da moça, inovadora e surpreendentemente, foi  essa já descrita acima.  

O que me veio à cabeça é que essa modalidade de punição poderia passar a ser utilizada pela justiça brasileira para as pequenas, mas nem tão inofensivas, estupidezes cometidas por muitas pessoas nas ruas e locais de convivência pública das cidades do Brasil.

O único problema é que no Brasil, o número de pessoas condenadas a portar placas com dizeres similares a este pelos locais públicos seria realmente muito grande. Talvez encontrássemos pelas ruas mais pessoas com placas do que sem elas. De qualquer forma, acredito que seria amplamente didático para todos. 

Assim, segue um decálogo de situações cotidianas e ridículas, nas quais esse tipo de pena se encaixaria como uma luva, servindo amplamente, e de forma bem-humorada, à conscientização da nossa sociedade:

1) Somente um idiota acreditaria piamente nas informações parciais e eticamente seletivas divulgadas pelos quatro grande grupos de mídia que dominam as comunicações no Brasil.  

2) Somente um idiota partiria com o seu automóvel para cima de pedestres, seja na faixa, seja nas calçadas.

3) Somente um idiota sairia com o seu carro apenas para buscar o filho na escola ou para comprar pão, em locais  que ficam a menos de cinco quadras da sua casa. 

4) Somente um idiota desrespeitaria uma fila de banco ou de qualquer outra natureza, achando que iria levar vantagem com essa atitude.

5) Somente um idiota discriminaria pessoas por suas características físicas, pessoais, religiosas, sociais ou de  naturalidade.

6) Somente um idiota se acharia melhor e mais bonito que os outros apenas porque possui um carro maior e mais possante que os demais.

7) Somente um idiota acharia que a sua pressa e urgência são mais importantes que as das demais pessoas, querendo atropelar e passar por cima de todos por isso.

8) Somente um idiota jogaria lixo nas ruas da sua cidade. (Esta pena seria agravada nos casos em que esse mesmo idiota, ao andar pelas ruas do primeiro mundo, acha bonito comportar-se com toda a urbanidade e civilidade possíveis.)

9) Somente um idiota acreditaria que apenas uma classe ou estirpe social pode e deve, ao longo de toda a história, manter-se sempre à frente do governo do seu país.

10) Somente um idiota acreditaria que apenas uma classe privilegiada possa ser sempre a detentora de todas as benesses e tudo de melhor que uma sociedade possa oferecer, como as universidades, os cursos de formação, os clubes e os mais célebres pontos turísticos e de lazer.

Acho sinceramente que apenas um decálogo foi muito pouco para contemplar toda a idiotice humana a que nós brasileiros estamos expostos e sujeitos nos dias atuais. Agradeceria muito se vocês pudessem completar e enriquecer esta lista. Infelizmente, comportamentos e posturas idiotas não estão em falta neste momento. Talvez viesse a faltar cartolina para confeccionar os cartazes, caso essas penas passassem a ser aplicadas sistematicamente pela justiça brasileira.



Imagem retirada do blog: Blog Mais Um

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Thongo Man (O padrão do novo homem)

O Thongo Man chega ao seu escritório, de onde emana ordens a torto e a direito, em todas as direções e por todos os meios de comunicação de que dispõe. Se acha o dono da verdade. Está conectado a várias mídias simultaneamente, mas é incapaz de interagir diretamente com a secretária ou com a copeira. Thongo, para os mais íntimos, não lida muito bem com pessoas propriamente ditas. Se sai melhor com números, tabelas e apresentações de vídeo objetivas e impessoais. Thongo não prima por ser bom em comandar e coordenar equipes de trabalho, apesar de ser o mandachuva do lugar em que atua. Ele não tem a mínima facilidade para promover o bom e sadio trabalho em equipe. Talvez acredite na teoria de que ao dividir as pessoas poderá manter melhor controle sobre elas. Thongo mais separa do que agrega, mais ignora do que enaltece. Mais reprime do que libera os anseios e as propostas dos seus subordinados. Thongo é, para muitos padrões atuais, um homem de pleno sucesso. É jovem, bem vestido, bem tratado. Tem uma namorada loira e bonita, que vive saindo na mídia por aparecer em eventos grã-finos e vazios. Tem três carros espetaculares na sua garagem, com muitos cavalos de potência em cada um deles (E um burro ao volante). Apesar disso, Thongo jamais conseguiu desenvolver uma velocidade maior do que 40 km/h nas ruas paulistanas pelas quais trafega, ou melhor, pelas quais engarrafa. À noite, Thongo costuma frequentar vernissages, inaugurações de concessionárias de carros importados, lançamentos de imóveis de altíssimo padrão e outras efemérides dessa linhagem. Nos finais de semana, Thongo esbalda-se em sua lancha nas praias do litoral norte paulistano, que são as mais bem frequentadas, em sua maioria apenas por gente bonita, como a estirpe dos Thongos costuma se referir a lugares privativos apenas para pessoas de pedigree, com as quais eles costumam se sentir bem e completamente adaptados, uma vez que esse é o seu habitat natural. Em certas circunstâncias, como nos dias de eleição, homens e mulheres da linhagem do Thongo Man precisam se misturar às outras castas sociais menos privilegiadas, com as quais são obrigados a conviver minimamente, pois se tivessem tal poder, talvez as extirpassem da face da Terra. Mas, por outro lado, raciocina o Thongo, se eu os eliminar do mundo, quem irá executar os trabalhos pesados e sujos para que eu e os meus possamos viver dignamente, como cidadãos de bens que somos? Pessoas como o Thongo, equivocadas que são, se veem - bem como em relação aos seus pares - como seres predestinados a vencer, melhores realmente que os demais, quiçá até ungidos por Deus. O Thongo acha que nasceu para brilhar nesse mundo de glamour, de posses, de rapapés e salamaleques, de mútua rasgação de seda. No mundo do Thongo, cada um deles preserva e dá suporte aos congêneres, defendendo-se uns aos outros com unhas e dentes contra a sanha das demais classes desprovidas de toda a graça e toda a glória com as quais eles, os thongos, foram devidamente abençoados. Ao final, com um exame mais detalhado, percebemos o quanto o Thongo Man pode ser vazio e desprovido de vivência, de assunto e de interação humana. Quanto tempo ainda será necessário para que a casta dita superior dos Thongo Men entenda que a vida deve ser compartilhada e vivida com todos aqueles que os rodeiam, e que de preferência o bem-estar deva estar presente em todos os lugares, disponível para todos e usufruído também por todos? Quando os homens (e mulheres) como o Thongo Man deixarão de agir de maneira egoísta e hipócrita, passando a entender que o Sol nasce e brilha para todos, independentemente de qualquer diferença que possa existir entre nós?            

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Tubarão Alado


Livremente inspirado na obra “Tubarões Voadores”, de Arrigo Barnabé e Luiz Gê.  

 

O Tubarão corre pelas avenidas, em sua motorizada jaula blindada e resplandecente,

Acredita em seu íntimo, que tem alguma coisa a mais do que os outros seres,

Na verdade, a única coisa que tem a mais é o dinheiro, herança da família tradicional,

Tubarão só acredita no dinheiro e em seu poder sobre os outros,

Acha-se verdadeiramente superior, cabendo às outras pessoas lhe renderem deferências,

Quando o tráfego fica por demais lento e pesado, Tubarão se torna alado,

De arranha-céu em arranha-céu, percorre São Paulo, como um Homem-Aranha nefasto,

Do alto, não discerne, e nem quer, o que a cidade tem de bom e o que tem de ruim,

Tudo lá embaixo parece ao Tubarão como algo distante, de um mundo que não é o seu,

É o mundo dos simples mortais, e o que eles importam, no olimpo em que ele agora flutua?

Tubarão só se sente à vontade acompanhado dos seus pares, e da chique tubaroa,

Tubarão discrimina, diferencia e menospreza todos aqueles milhões de pessoas diferentes dele,

O equivocado Tubarão defende a sua classe, com ideias equivocadas como ele,

Alardeia que o melhor parâmetro para a sociedade é a ampla concorrência de mercado,

Desde que ele, e poucos como ele, sejam os únicos concorrentes habilitados nessa guerra,

Defende o mercado como regulador de tudo na sociedade, pois este o mantém tubarão,

Propala aos quatro ventos que só quem tem competência se estabelece,

Mas evita de todas as maneiras deixar que os peixinhos também se tornem sabidos e competentes,

Sem dó, oprime e maltrata cardumes e cardumes de peixes pequenos,

Tubarão manda, e quem tiver juízo que o obedeça, é a sua máxima,

Tubarão corrompe a classe política e definitivamente comanda a sociedade,

Tubarão tira de todos aquilo que têm e o que não têm,

Abocanha verbas públicas, faz tráfico de influência, frauda licitações,

Tubarão só não gosta que venham lhe atrapalhar ou lhe copiar em suas negociatas,

Só a classe dos tubarões pode fazer e desfazer em toda e qualquer matéria no país,

Aos outros cabe apenas se calar, sob a pressão política e econômica dos tubarões,

Tubarões nadam à vontade nas águas brasileiras, há séculos,

Não dando oportunidades a ninguém para incomodá-los,

Tubarões são corporativistas, se defendem, se aliam, se suportam,

Têm espírito de corpo e de porco, apesar de tubarões,

Tubarão, como todos sabemos, esperto que é, nada conforme a maré,

Desde   que o domínio, de alguma forma, esteja em suas mãos, bocarras e barbatanas,
 
Tubarões controlam e monopolizam a mídia e o mercado,

Tubarões jamais permitirão a revolução dos peixes pequenos,

Tubarões precisam ser combatidos com as suas próprias armas: os dentes,

Enquanto o nosso tempo de desigualdades e injustiças continua semeando atrocidades,

O Tubarão Alado sobrevoa as metrópoles, como se fora uma ave de rapina,

Nada pode sair do controle, ele deve sempre se manter mais igual entre os iguais,

Deve continuar fazendo a todos acreditarem que nasceram para servi-lo,

Que ele é superior, mesmo não passando de mais um ser vivo criado por Deus,

Mesmo sendo mortal, Tubarão trabalha para deixar descendentes e herdeiros,

Que mantenham pelos séculos o império que julga ser seu,

Que mantenham propriedades e terras que julga só a ele e aos seus pertencerem,

Ah, se todos percebessem o quão equivocado e ultrapassado é esse Tubarão Alado,

Talvez a opressão diuturna dessa casta já tivesse se acabado neste mundo.
 
 

sábado, 22 de setembro de 2012

O dia em que os rollinbunds* foram retirar o kit (ferra) de corrida!

*Rollinbunds é uma  alcunha dada a um grupo  de amigos que, já no início dos anos 90, viviam , entre outras modalidades de dificuldades, algumas desventuras  em série nos deslocamentos  diários para a ida ao trabalho e a volta para a casa, em bairros periféricos da  cidade de São Paulo.  

Passados quase vinte anos da separação do bando de rollinbunds, apenas dois deles ainda mantêm contato contínuo, tendo inclusive se tornado compadres nos anos subsequentes à separação da famigerada gangue de desafortunados.
Nos anos 2000, esses dois rollinbunds passaram a se dedicar às corridas de rua, como forma de extravasar o stress da metrópole, bem como para tentar manter um mínimo de forma física possível nessa idade já um pouco mais adiantada. 

Nessas corridas, geralmente realizadas nas manhãs de domingo, os participantes costumam retirar seus kits (camiseta, número de peito, bolsa, etc.) com dois dias de antecedência, para chegarem uniformizados no dia do evento.

Essa prática nunca trouxe nenhum problema, até que, para a corrida da primavera, os rollinbunds, bem como todos os demais atletas, foram instados a retirar seu kit (ferra) de participação em um Hotel chamado Transamérica, que fica numa área longínqua da capital paulista, no bairro de Santo Amaro, e tem apenas a marginal Pinheiros como acesso.

Some-se a isso, que os kits seriam entregues apenas na sexta e no sábado. Assim sendo, os rollinbunds, após o susto da localidade em que teriam que ir buscar os apetrechos, passaram a engendrar o seu plano de deslocamento. Pedestres inveterados que são, consultaram o oráculo Google, para saber qual condução precisariam utilizar para chegar ao local. Descobriram que, de ônibus, numa sexta à noite, depois do trabalho, gastariam cerca de 2h45m para aportar nesse suntuoso e distante hotel. Cogitaram a opção de caminhar pela Marginal Pinheiros até o ponto do Hotel, mas tendo em vista se tratar de via inapropriada para andarilhos, bem como a distância de cerca de onze quilômetros, houveram por bem lançar mão do trem, modal de transporte que lhes pareceu mais pertinente para acessar aquela inóspita região da cidade, na qual as pessoas de bens só se deslocam (com imensa lentidão, devido ao acúmulo, claro) a bordo de suas máquinas automotoras possantes e maravilhosas. 

Embarcaram no trem com destino ao Grajaú na estação Pinheiros, depois de ali chegarem pelo metrô da linha amarela e caminharem por cerca de quinze minutos em meio a uma manada humana para chegar à plataforma da linha desejada. Na plataforma, deram muita sorte, pois um trem vazio acabava de aportar por aquelas plagas.
Devidamente aboletados em um vagão, ficaram próximo à porta, em meio à massa humana que ali se formara.
Meia hora depois, andando sempre ao lado da Marginal Pinheiros, cujos carros engarrafados pareciam estar parados, chegaram à estação Santo Amaro, que era o ponto mais próximo para um pedestre poder tentar acessar aquela luxuosa e restrita localidade, que por obra caprichosa do destino estavam sendo obrigados a visitar naquela chuvosa noite paulistana.

Chegaram à calçada enlameada da Marginal Pinheiros e caminharam por áreas pouco propícias para o deslocamento humano, em um local completamente concebido para o tráfego de veículos automotivos, no qual sequer havia faixas de pedestres. Sempre que precisavam atravessar o leito carroçável ( e ali só tinha leito carroçável) expunham-se a grandes riscos de atropelamento. 

Após um pequeno périplo, perceberam a fachada do Hotel Transamérica. No entanto, ficaram se perguntando como adentrariam ao local, tendo em vista que não se viam por ali caminhos ou veredas que podiam ser utilizadas por pedestres, e sim apenas vias sinalizadas para carros.
Ao chegar ali andando e "do nada", além de modestamente  vestidos, assustaram os porteiros/vigias, todos eles elegantemente trajados com ternos sóbrios e bem cortados. Percebendo o espanto e a prontidão dos vigias, logo trataram de quebrar o gelo e perguntaram em alto e bom som se era ali a retirada dos kits. Os porteiros responderam que sim, mas ficaram meio constrangidos ao informar aos rollinbunds que eles precisariam se deslocar com cuidado, evitando riscos de serem atropelados, pelo amplo estacionamento que tomava toda a área de frente daquele faraônico complexo hoteleiro.  

Assim, se aproximaram da entrada principal do Hotel, onde fizeram questão de perguntar ao carregador de malas se era ali mesmo a retirada dos kits. Esse confirmou com desdém e ar blasé, enquanto dava atenção a uma roda se socialites e madames muitíssimo bem vestidas. Os rollinbunds passaram, pela primeira vez na vida, por uma daquelas portas giratórias de hotel grã-fino e acessaram o enorme hall de entrada, muito perfumado e frequentado apenas por pessoas de fino trato. As únicas portas giratórias que conheciam  até então eram as dos bancos, que sempre travavam quando da tentativa de entrada por parte deles. 

Após irem ao luxuoso sanitário, onde quase tomaram um banho completo utilizando o sabão líquido caríssimo, bem como o papel-toalha extra-macio que ali estava à disposição dos hóspedes e visitantes, finalmente chegaram à sala de entrega dos kits.

Por curiosidade, perguntaram aos funcionários do evento sobre o motivo daquele local tão distante ter sido o escolhido para a entrega de kits, ao que estes informaram ser devido à facilidade para pouso de helicópteros naquele complexo, que dispunha de dezenas de heliportos.     

Resignados, pegaram suas sacolas e saíram em sua caminhada, não sem antes terem tido a pachorra de perguntar aos porteiros sobre qual seria a estação de trem mais perto dali, visto que o local ficava entre duas delas, ao que estes, novamente pasmos, responderam que era a estação Santo Amaro.

Os rollinbunds saíram dali com alguma convicção de que talvez sejam os únicos dos cinco mil participantes da corrida da primavera a conseguir a proeza de retirar esses kits utilizando trem e, como pedestres,  terem andado até o majestoso, e acessível para poucos, Hotel Transamérica.

sábado, 8 de setembro de 2012

Em Sampa tá ruço, mano!

Os eleitores da cidade de São Paulo, nas poucas eleições para prefeito que foram realizadas a partir de 1985, mostraram prioritariamente que tem a característica marcante de confundir a urna eleitoral com penico. Senão, vejamos. Da redemocratização do país até hoje, ocorreram sete eleições municipais em todo o Brasil e em São Paulo. Houve eleições em 1985, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008. 
Nessas sete eleições, apenas em 1988 e 2000 o eleitorado de São Paulo escolheu os melhores candidatos, no caso, candidatas, Erundina e Marta. Essas candidatas, eleitas prefeitas, realmente eram, em cada uma das eleições em que participaram, as alternativas mais acertadas e voltadas à implantação de gestões democráticas  e populares na cidade de São Paulo. Nas outras cinco eleições, os paulistanos sempre optaram pelos candidatos com grande tendência à administração de direita e voltada aos grandes interesses econômicos e à realização de obras faraônicas ou iniciativas equivocadas e inócuas, que poucos resultados efetivos trazem à enorme população das periferias. Mas, depois da eleição já é tarde, o prefeito mal eleito tem quatro anos para tornar a vida nessa metrópole ainda pior, principalmente para os cidadãos mais pobres, que são os que mais precisam das boas e eficazes iniciativas do poder público municipal.       
Relembrando, a título de esclarecimento, Sampa já elegeu, em anos recentes, Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra e Gilberto Kassab. É importante frisar que esses senhores venceram, nos respectivos pleitos, pessoas como FHC, Suplicy, Erundina e Marta. Ou seja, o povo paulistano já demonstrou que tem uma enorme tendência para votar mal, como se encarasse a urna eleitoral como penico, sem a menor preocupação ou responsabilidade.
Nas eleições que se aproximam, mais uma vez as pesquisas apontam fortemente para uma nova escolha equivocadíssima e impensada do eleitorado paulistano. Na frente de todos, com percentual altíssimo, aparece uma figura insossa e de passado de poucos feitos conhecidos, mas que já andou com Maluf em outros tempos, Celso Russomanno. Ele parece ser o candidato vazio e queridinho da vez.
Espero que a cagada eleitoral não se repita em São Paulo. Ainda há tempo dos paulistanos darem um basta a esse tipo de administração centralizada, ditatorial e equivocada, que por tantos anos dominaram a cidade.
Ainda estamos sob a política higienista e militarizada do Sr. Kassab, o Jânio sem álcool, em alcunha muito propriamente dada a ele pelo jornalista Xico Sá. Será que esses oito anos desse tipo de administração ainda não foram o suficiente para as periferias de Sampa votarem em outra direção? Será que vão escolher novamente um prefeito insípido e inodoro, que pouco ou nada vai mudar na vida dos paulistanos, principalmente dos mais necessitados?
Só nos resta deixar aqui um apelo: Que nas próximas eleições, o eleitor encare a urna eleitoral como aquilo que é, o local para depositar o seu voto consciente, visando eleger prefeito e vereadores que trabalhem por uma São Paulo melhor. O panorama em São Paulo já tá ruço, mano, não faça com que ele ainda fique pior a partir do ano que vem. Bom voto a todos!   

São Paulo merece ser governada por pessoas de maior credibilidade e de outra estirpe, com posturas e biografias diferentes dos exemplos aqui mostrados! 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Curso de Noção Vivencial em Sociedade

Hoje em dia, costuma-se dizer sistematicamente, em variadas e diferentes situações, que Fulano ou Beltrano são pessoas sem-noção por esse ou por aquele motivo. Fala-se em tom de brincadeira, mas a falta de noção de um número cada vez maior de brasileiros, principalmente, mas não só, nas grandes cidades, tem atingido níveis alarmantes. Em muitos locais, já não nos comportamos como seres humanos e racionais, mas apenas, e se tanto, como jegues mal amestrados.
Nas ruas paulistanas, por exemplo, uma parcela cada vez maior da população tem se comportado com elevadíssimos índices de ausência de noção na maioria das suas atividades ou deslocamentos diários.
Os motoristas com seus carros cada vez mais possantes (embora em nosso caótico trânsito cotidiano não seja possível trafegar a mais de 30 km/h) invadem as ruas com suas atitudes tresloucadas e ostensivas, jogando os veículos para cima de todo e qualquer incauto que esteja no seu raio de ação. Os pedestres nas calçadas sofrem com as saídas e entradas de carros nas garagens em alta velocidade e sem o mínimo de respeito ou atenção.
E quanto maior e mais caro o carro, maior é a ignorância e a falta de educação e noção com que age o seu condutor. Madames metidas a besta, doutores que se dizem super ocupados, ou então os famosos jarbas a serviço de gente rica, simplesmente - não sabemos por que - acreditam piamente que devam ter e receber todas as deferências e preferências dos demais motoristas, transeuntes ou o que seja que se locomova à sua volta ou na sua proximidade.
Nas faixas de travessia das vias públicas são travadas verdadeiras batalhas, nas quais a falta de noção, principalmente daqueles que se encontram motorizados, faz com que haja constante perigo de atropelamentos e ferimentos para os pedestres, que são a parte mais frágil e mais sujeita a riscos nesses desproporcionais e selvagens confrontos. Muito embora, precisamos fazer aqui uma observação, muitos pedestres também ajam, em determinadas situações, com total e absoluta falta de noção, tentando passar pelos lugares mais perigosos, sem o menor cuidado ou atenção.
Os ciclistas também são outra categoria que exigem, com grande grau de razão, todo o respeito do mundo dos motoristas e motociclistas, mas que também costumam não primar pelas atitudes com noção, principalmente quando trafegam pelas calçadas, colocando os pedestres em risco, na maioria das vezes ao passar por eles, vindos de trás, em alta velocidade e sem a menor preocupação em avisá-los que vão fazer a passagem. Ou então, quando, mesmo vindo de frente, empreendem na bicicleta velocidade incompatível com uma calçada e ainda obrigam o pedestre a se virar para sair da frente. Não se pode dizer, infelizmente, que apesar de algumas iniciativas válidas, os ciclistas dos grandes centros sejam exemplos acabados de cidadania e noção social.
Outra categoria que vive surfando diariamente na quase completa falta de noção são os motociclistas, que cortam no trânsito a torto e a direito, sem qualquer preocupação, travando também a sua batalha particular com os motoristas, outra categoria grotesca que, como já colocado acima, encabeça a lista dos atuais cidadãos sem-noção brasileiros.
Outras situações muito comuns e habituais em nossas vidas, que tem sido completamente tomadas pela falta de noção dizem respeito exatamente à atenção que todos deveríamos ter com os idosos, deficientes físicos e com pessoas que não tenham estritamente a mesma origem e orientação que a nossa, seja racial, social, religiosa ou sexual.
A falta de noção e educação tem se mostrado cada vez mais presente nas relações cotidianas dos brasileiros. A maioria age como se o seu próprio umbigo fosse o centro do universo e não existissem pessoas ao seu redor. Quase não vemos mais gestos solidários e educados. Quase não presenciamos atitudes cavalheiras. Raramente somos agraciados com um pedido de licença, com um muito obrigado ou com um pedido de desculpas. Dificilmente alguém faz um gesto cortês para os que estão à sua volta. E o absurdo é que quando alguém tem uma atitude educada e com noção, muitas vezes é tido como um alienígena, um extraterrestre, que saiu de algum OVNI recém chegado à Terra. 
Em muitos casos, a falta de noção é ainda agravada pela utilização indiscriminada das inúmeras tecnologias de comunicação e entretenimento atualmente disponíveis em nosso famigerado e cada vez mais voraz mercado de consumo. Pessoas andam por calçadas ou falam com outras pessoas ao mesmo tempo em que estão conectadas ao mundo virtual e aí, como já sabemos, agem como verdadeiros autômatos, zumbis teleguiados a um passo de trombar com os outros, serem atropelados ou caírem nos buracos do caminho.
Nas relações comerciais também há grande participação dos sem-noção. Como não tem a devida base educacional, muitos profissionais atuais agem estritamente como miquinhos amestrados ao atender os clientes, seguindo um script pré-formatado pelas suas chefias, primando pela total falta de espontaneidade ou autenticidade, tornando essas relações muito enfadonhas e pouquíssimo verdadeiras ou agradáveis para qualquer um dos lados envolvidos.
E infelizmente os exemplos de atitudes e comportamentos sem-noção poderiam continuar ad eternum, mas é necessário informar sobre o título deste post, que promove a instituição urgente do Curso de Noção Vivencial em Sociedade, o qual deverá começar a ser ministrado em todas as instâncias e organizações educacionais, públicas ou privadas, em todos os níveis, visando propiciar conhecimentos rudimentares aos nossos profissionais, cidadãos, jovens e crianças sobre como viver com noção, ou seja, para que as pessoas de todos os níveis sociais e faixas etárias recebam as noções básicas para uma vida social, profissional e familiar minimamente provida de noção, bom senso, respeito e educação. A vida com noção nos tornará um povo mais voltado para o coletivo, para o social, enfim, mais voltado para os aspectos humanos. Precisamos dar um basta em tanta alienação, em tanto preconceito, em tanto egoísmo e em tanto consumismo. Precisamos entender que só cresceremos enquanto nação se aprendermos a dar valor a nós mesmos e a nos respeitarmos mutuamente mais a cada dia. Precisamos muito de noção.  


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quem não respeita uma fila não respeita ninguém

Todos no Brasil já devem ter passado por essa experiência: A pessoa está numa determinada fila e de repente surge algum espertalhão se fazendo de desorientado e tentando se infiltrar e furar na frente dos outros incautos. Outra modalidade bastante conhecida é a do sujeito que, ao se aproximar de qualquer fila, principalmente as mais longas e tumultuadas, logo procura por algum conhecido que permita a sua entrada indevida na frente dos menos espertos.
Desrespeitar a fila de idosos e pessoas com deficiência também é uma atitude à qual muitos sem-noção se entregam sem a menor cerimônia, na maior desfaçatez. No país do jeitinho e da lei de Gerson, o importante sempre foi levar vantagem em tudo, certo?
Ignorar assentos reservados em transportes coletivos. Utilizar indevidamente vagas de estacionamento para idosos e deficientes. Estacionar na frente de rampas de acesso para cadeirantes. Todas essas também são atitudes de pessoas que não respeitam nem a si próprias, pois todos nós, em algum momento da vida, poderemos nos encontrar na situação de precisar dessas instalações e dessas necessárias benesses, que, se respeitadas e corretamente utilizadas, tanto facilitam a vida de quem tenha ou esteja com algum problema de locomoção.
Mas, voltando à questão da fila, é comum notarmos que os folgados que a furam, quando muito, se preocupam em dar uma desculpa esfarrapada apenas para a pessoa que ficou imediatamente atrás deles, como se a sua atitude não estivesse prejudicando também a todos os demais que ali estão.
É no mínimo que se conhece o máximo. Do que será capaz um sujeito que não tem consciência ou respeito com os outros para se comportar devidamente em uma simples fila? Com certeza não pestanejará em auferir outros tipos de vantagens ilícitas ou indevidas nas outras searas da sua vida. Jamais, sempre que tiver oportunidade, se furtará a passar a perna nos incautos que o rodeiam. Dificilmente será capaz de um gesto solidário, digno ou nobre para com as demais pessoas.
Do que será capaz o elemento saudável que estaciona seu veículo, mesmo que por uns minutinhos -como esses sem-vergonha costumam se justificar - em vagas e lugares reservados para pessoas especiais? Com certeza não respeitam nem os próprios pais e nem a si mesmos daí a vinte ou trinta anos.
Essa questão é mesmo de cidadania, ou melhor, de falta dela. No Brasil, nossa educação pública de base, além de muito deficitária, jamais se preocupou em formar cidadãos na concepção plena dessa palavra. Nossas precárias escolas não preparam as pessoas para a vida em sociedade e não dão nenhuma importância à formação de cidadãos, que sejam plenamente conscientes dos seus direitos e deveres. Nossas escolas tem repercutido completamente aquilo que se vê na atual e massificada sociedade de consumo, ou seja, o individualismo exacerbado acima de tudo. Parece que está fora de moda propiciar às pessoas ferramentas e orientações que possibilitem um aprendizado voltado para o coletivo, para o todo e para o entorno. Sabemos que ninguém vive ou sobrevive sozinho, então é necessário formar indivíduos íntegros, solidários e participativos, e não apenas criaturas ensimesmadas, abobalhadas e ridículas, que valorizam tão somente o próprio umbigo.   

Procurando imagens para ilustrar este post, conheci o blog www.afilanossadecadadia.wordpress.com  ao qual dou o crédito e, além disso, recomendo, pela similaridade com o assunto abordado neste texto.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Propagandas equivocadas em tempos equivocados

Sinal dos tempos modernos, as propagandas tem se mostrado, em sua grande maioria, cada vez menos inspiradas e humanas. Está certo que a propaganda sempre foi a alma do negócio, muito embora alguns poucos considerem, talvez com muita propriedade, que os negócios não tem alma, mas mesmo assim, não é por isso que se pode lançar mão de qualquer estratégia para tentar vender um produto. Seria importante manter um mínimo de dignidade, mesmo em se tratando apenas da voraz competição mercadológica. Há como fazer boas propagandas, pois muitos exemplos, principalmente do passado, demonstram claramente essa possibilidade. Contudo, atualmente, tem-se lançado mão apenas de recursos mais imediatistas, pouquíssimo inspirados e até de mau gosto, para tentar enredar e laçar o consumidor. As propagandas de carros são as que apresentam os mais baixos níveis de criatividade, versando sempre sobre os mesmos temas e usando as mesmas tomadas, dos veículos percorrendo livremente e a toda velocidade estradas longínquas, muito distantes dos grandes centros, onde os carros simplesmente não conseguem mais andar. Ainda sobre os carros, são batidíssimas as cenas em que o bonitão circula pelas ruas e é quase que aclamado pela plateia feminina, que fica maravilhada ao ver aquela obra de arte (o carro, claro) passar. Todos ao redor ficam extasiados diante daquela nova oitava maravilha do mundo (só até o próximo lançamento, daí a uma semana) a acelerar bem diante dos seus olhos perplexos. Cansado de ver esses reclames, como se dizia no passado, cada vez mais abundarem nos intervalos comerciais, resolvi elaborar essa postagem, colocando alguns exemplos de propagandas, ao meu ver equivocadas, que só poderiam mesmo ser veiculadas nos equivocados tempos em que estamos vivendo, de total inversão de prioridades e desrespeito aos verdadeiros sentimentos humanos. Tempos em que acumular e ostentar bens é o que mais importa, em que a pessoa só é aquilo que aparenta ser, em que o valor dos seres humanos é medido apenas na escala material e da aparência física, e de nenhuma outra maneira mais. Essas propagandas podem até ser o reflexo dos dias que vivemos, mas, de qualquer maneira, ainda acredito que entre os os criadores e profissionais de marketing existam pessoas dotadas de razoável inteligência e sensibilidade, que sejam capazes de elaborar novas e criativas abordagens para a divulgação dos produtos e serviços disponíveis no mercado de consumo. Esses profissionais são tão bem remunerados e incensados pela mídia e pelo mercado, será que essas equivocadas peças e estratégias publicitárias que tem nos oferecido representam tudo aquilo que são capazes de criar? Abaixo, vocês podem ver alguns filmes comerciais recentíssimos, que julgo de extremo mau gosto, tendo em vista que dão ênfase e valorizam o egoísmo e a questão material em detrimento da humanidade, dos sentimentos e da capacidade que as pessoas tem em se destacar também por outras atitudes e dons muito mais nobres do que serem representadas apenas  por aquilo que compram e consomem. De todos os quatro filmes abaixo, o que mais me indignou é o comercial do Fiat Bravo, em que um sujeito literalmente começa a desaparecer, apenas por que o seu carro não é aquele top de linha. O cara simplesmente some e deixa de ser visto, somente porque não tem um carro recém lançado. Propagar uma distorção dessas é um desserviço enorme à nossa sociedade, que já não prima como deveria pela valorização das relações e dos sentimentos humanos. Para completar, exemplifico com mais algumas pérolas da babaquice comercial, como o último filme do Boticário, em que uma mulher despreza completamente o romântico pedido de desculpas do seu ex, informando-o fria e secamente que a fila anda. Fechando o ciclo de propagandas equivocadas, pincei ainda o filme da Renault, em que vários babacas choram copiosamente por não terem comprado um tal de Duster. Com tantos motivos melhores e mais nobres para chorar, um marmanjo vai se debulhar em lágrimas por causa de um carro? Francamente. Selecionei também o filme da Net, em que, diante da amiga cheia de si e de razão, uma atriz muito boa nos diverte com a tímida e envergonhada afirmação de que instalou uma banda larga que não é Net, mas é tipo Net. Como se isso fosse fazer sua amiga metida a besta mais feliz do que ela, que instalou uma banda larga wireless, mas com fio. Como ela mesmo afirma: Para que tanta pressa? E é essa pergunta que deixo no ar: Será que precisamos de todos esses bens de ponta e de última geração para sermos considerados seres humanos dignos, queridos e honrados? Espero sinceramente que não.    


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Besteiras ilimitadas e infinitas por apenas R$ 0,25


Na guerra das superpoderosas empresas de telefonia móvel, que monopolizam esses serviços no Brasil, chegou-se a um consenso de que as ligações para as linhas da mesma operadora devem custar R$ 0,25, podendo o usuário conversar o dia inteiro, se quiser ou tiver assunto para tanto. Uma ou outra operadora pode eventualmente  baixar ainda mais essa tarifa, chegando até a R$ 0,21. No entanto, o presente post não se destina, de maneira nenhuma, a fazer propaganda dessas famigeradas empresas, que tanto exploram e, em muitos casos, tantas canseiras dão aos seus incautos usuários. Acontece que, com essa história de ligações com valores aparentemente baixos, a maioria da população já usa celulares com um monte de chips, cada um de uma operadora, para ir conversando com os amigos e parentes, de acordo com a procedência das linhas dos interlocutores. Daí, como as pessoas, via de regra, tem muitas coisas importantes para falar e para apresentar ao mundo, podemos ver cidadãos, principalmente em espaços públicos ou em transportes coletivos, conversando despreocupadamente por horas a fio, como se estivessem numa mesa de bar ou na sala da sua própria casa. É nessas horas, que as pessoas ao redor do falastrão são contempladas com toda a sorte de abobrinhas, desabafos e narrativas inapropriadas para lugares públicos. Algumas pessoas parecem perder a noção de que estão em espaços de uso comum. É claro que o mau uso do celular, dependendo do ambiente e do momento, por si só, já pode causar vários desconfortos aos que rodeiam os sem-noção que lançam mão dessa prática. Contudo, tem algumas figuras que vão bem além de apenas atender ou fazer uma ligação em momentos pouco aconselháveis para isso. Em ônibus lotados, em plena 7h00 da manhã, já presenciei conversas longas e detalhadas contendo relatos e assuntos pouco próprios para serem discutidos fora de quatro paredes, que dirá em um coletivo, transportando, naquele momento, cerca de 100 pessoas. É de chocar ou até de fazer rir, a facilidade com que algumas pessoas discutem assuntos espinhosos e íntimos na presença dos outros, como se não houvesse ninguém por perto. Da última vez que presenciei esse tipo de conversa, há uns três dias, uma mulher falava em alto e bom som sobre a sexualidade de toda a sua família, inclusive dela própria e do marido, sem nenhum pudor ou semancol. Chegou a falar que o fulano não pegaria a beltrana, nem mesmo se ela fosse a última mulher da Terra. Em outro momento, ao falar que apresentara uma outra mulher para o marido - a qual este, educadamente e com muita finesse, disse prontamente que pegava -, a narradora acrescentou que não iria preparar bolo para o outro comer. Como vocês podem perceber, as conversas giravam em torno de questões importantíssimas, que não poderiam de maneira nenhuma esperar para serem discutidas em outra oportunidade. Tinha que ser ali, naquele local, falando besteira ilimitada ou infinitamente, como preferirem. Também, pudera, por R$ 0,25, até injeção na testa. Não importa o que você fala, mas o quanto você fala. O negócio é trocar o chip e soltar o verbo. Nunca o brasileiro foi tão interativo e conectado. Pena que toda essa facilidade de conexão e interatividade não tem contribuído em nada para uma sociedade melhor, mais justa e cidadã.

sábado, 5 de maio de 2012

Massification Society - Revisited

Texto originalmente publicado em janeiro de 2010, mas
 repostado agora em virtude da atualidade do tema. 

Não sei se vocês perceberam, mas estamos vivendo num mundo em que as pessoas fazem quase tudo sempre igual e ao mesmo tempo.

Como miquinhos amestrados, estamos sendo, todos, orquestrados por poderosos grupos econômicos, empresas, meios de comunicações e detentores das mais modernas tecnologias.
Apesar de nos acharmos tão livres, leves e soltos, estamos, isto sim, sendo o tempo todo compelidos a agir desta ou daquela maneira, a usar esta ou aquela grife, a comprar este ou aquele carro, a assistir este ou aquele filme, a ouvir esta ou aquela música...

Os comportamentos têm cada vez mais sido ditados pela televisão e pela internet. As poderosas redes televisivas dão a pauta de como a sociedade vai se comportar naquele período.

Pensem um pouco sobre o cronograma de vida e atividades que nos impõem durante o ano:

Em janeiro, ao mesmo tempo que falam em férias escolares, dando sugestões de onde ocupar os pimpolhos, falam também sobre IPVA, IPTU e material escolar. Sempre a mesma lenga-lenga.

Depois vem o Carnaval, e só se fala nesse assunto, diuturnamente. Mostram inúmeros carros descendo para o litoral, porque ficou estabelecido, sabe Deus por quem, que Carnaval é para ser curtido na praia. Desfiles, fofocas sobre as rainhas de bateria e suas infantilidades. Quantos mililitros de silicone as musas colocaram. Quanto malharam. Com quem estão namorando. Haja saco. A música então, só samba-enredo de manhã até a noite. Um porrilhão de surdos e cuícas massacrando diretamente os nossos pobres tímpanos.

Após o Carnaval, o assunto passa a ser o início das aulas e o aumento do trânsito já caótico, devido às mamães que insistem em parar em fila dupla na frente dos colégios dos rebentos.
Fala-se também dos trotes aplicados aos calouros nas faculdades e das eventuais atrocidades que essa prática costuma trazer todos os anos.

Abril, mês da Semana Santa. E a mídia já começa a insuflar a população para as viagens ao interior. Assim como o Carnaval tem que ser curtido na praia, a Semana Santa deve ser aproveitada no interior. É outra regra que assola o nosso inconsciente coletivo.
Por que o cara não pode curtir o Carnaval no campo ou na montanha e a Semana Santa na praia? Onde está escrito que essa norma não pode ser subvertida? Eu, particularmente, todas as vezes em que inverti os roteiros pré-programados pela massificação onipresente, me dei extremamente bem, ficando em lugares tranquilos e menos badalados.

E assim passa o ano: Dias das mães, férias de julho, dias dos pais, dias das crianças... e, finalmente, o auge da mesmice e do comportamento clônico: Natal e Ano Novo. Aí é que o caldo entorna de vez. Graças a Deus, passamos por esse período recentemente e vai demorar um pouco para chegar novamente.

Aí sim, a micaiada amestrada se lambuza de tanto fazer a mesma coisa junta e igual, exatamente ao mesmo tempo.

Todo mundo se fodendo junto nos centros de compras, sejam shoppings chiquérrimos e metidos à besta, ou os centros populares de varejo, como a 25 de Março em São Paulo, ou o Sahara no Rio de Janeiro.

A desinteligência coletiva é tanta, que todo o ano, passado o Natal, as lojas ficam às moscas, com liquidações de até 70% de desconto. Mas isso, só alguns poucos pensantes e autênticos conseguem vislumbrar e aproveitar. Para eles, tiro o meu chapéu.

E também, e principalmente, nesse período, a ditadura comportamental assola a todos.
O Natal DEVE ser passado em família, em volta do peru e próximo à árvore de Natal.
O Ano Novo DEVE ser passado na praia, de branco, pulando sete ondinhas e comendo romã. Claro que depois de suportar as 10 horas de tráfego pesado e engarrafamento, para só então poder pisar na areia suja e contaminada.

Não sou contra a alegria, contra as viagens e muito menos contra as deliciosas reuniões familiares. Não sou contra dar presentes a quem amamos ou admiramos. Muito pelo contrário.
Sou contra, isso sim, o fato de sermos impingidos a fazer isso sempre que o patrão mandar.

Não sou contra a música. Por sinal, adoro música. Mas precisa ser a música que eu escolhi para curtir. Não aquela que toca à exaustão nas rádios e na TV.

Curto tudo que há de bom na vida, mas deve ser tudo aquilo que represente algo de bom para mim, para minha família e para a sociedade em geral. Não o que nos empurram goela abaixo durante o ano todo.

Acho que só a educação séria e comprometida das nossas crianças pode fazer com que, no futuro, passemos a ter mais cidadãos pensantes, atuantes e questionadores. Que não engulam, sem avaliar ou cogitar, todo o lixo e todas as regras de comportamento que nos são delicada e discretamente impostas.


Créditos:
A imagem de Homer Simpson, que ilustra este post, foi retirada do blog The Gong Show.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mentes Compartimentadas e Fechadas

Parece que, cada vez mais, as mentes das pessoas estão se tornando compartimentadas e setorizadas, não sobrando mais espaços para a diversidade de pensamentos e atuações.  
Já há algumas décadas, mas cada vez mais, implantou-se a cultura urbana das tribos. Por essa linha de pensamento, ou você pertence a uma tribo ou pertence a outra, ou está no limbo. Não há espaço para interações e complementações. Não há diálogos entre os pretensos desiguais. E essa mentalidade, em casos agudos, tem levado até ao aumento exacerbado da violência, haja visto as ditas tribos que são extremistas na sua maneira de atuar, como os skin heads, torcidas organizadas  e grupos similares.
Porém, não acho que precisemos chegar a esses casos extremos, para detectarmos os vários tipos de problemas que a tribificação (Termo cuja invenção reputo ao espetacular músico André Abujamra) das pessoas pode causar ou ensejar.  
As tribos urbanas ou sociais, sejam de que natureza forem, sempre tenderão para a uniformização de pensamentos, ideias, proposições e, claro, da aparência física e da vestimenta dos seus membros.
Alguns poderão estar perguntando: E o que isso tem de mau? Procurarei explicar. Entendo que, toda vez que uma pessoa age levada por fatores externos, sejam quais forem, está deixando de ser ela mesma, e de pensar por si mesma. Nas tribos, sejam musicais, intelectuais, jovens ou qualquer que seja a sua motivação, os integrantes tendem a se comportar sempre dentro dos quadrados informalmente pré-determinados. Ao meu ver, parece que o campo de atuação e de discussão fica reduzido, de acordo com a finalidade à qual aquela tribo se propõe. Sempre que saio com parentes e amigos, indo a shows e espetáculos variados, noto a presença dessas tribos. É claro que nós, pobres mortais, não nos enquadramos em nenhuma delas, visto termos uma mente mais aberta e mais ampla, que aprecia um leque maior de possibilidades artísticas e musicais. Assim, não vemos problema algum em assistir em uma semana a um show dito brega, e na semana seguinte a outro show, completamente diferente, considerado mais pensante e cabeça pela opinião pública. Entendemos que as ideias, opiniões e propostas devam se complementar umas às outras, e jamais se compartimentarem.
Porém, por mais cool que os integrantes de determinadas facções sociais se sintam, acredito que eles percam muito por não praticar a interação espontânea, a qual eu e meu singelo grupo somos afeitos.
Tem sido recorrente o fato de estarmos em casas populares de São Paulo, como a rede SESC, as quais oferecem ótimas opções de shows e espetáculos a preços módicos, e sentirmos, de acordo com os shows, a total compartimentação da plateia. Já houve apresentações, que juntavam artistas mais velhos e mais novos, nas quais os públicos de ambos não interagiam. E, acabada a participação de um dos artistas, o respectivo público, se é que isso existe, imediatamente deixava o recinto, numa clara demonstração de sectarismo e falta de abertura para o que é supostamente diferente e novo.
Mas esses são apenas exemplos mais práticos, para ver se consigo me fazer entender. As tribos, em seus muitos meios de atuação, ao meu ver, se comportam assim. Incensam e valorizam apenas o pequeno nicho de pensamento e pessoas ao qual estão voltadas e das quais estão rodeadas. 
Sinceramente, não vejo vantagem alguma nessa postura. Acredito que a espontaneidade, a interação e o constante treino para o abandono de condutas rançosas e preconceituosas sejam um excelente caminho para a expansão das nossas mentes. A ideia central, para mim, deve ser sempre a de incluir, chamar, interagir. Qual a vantagem em se fechar em um microcosmo, em um grupo de personalidades congêneres, seja virtual, seja presencial, e, a partir daí balizar toda a sua vida e a suas posturas pessoais?   
Novamente lanço mão da sabedoria de André Abujamra, o qual eu já vi propor a ampla e total destribificação dos cérebros, lançando mão, com sua mente criativa e fervilhante, de outro neologismo sensacional, alem de realmente muito aplicável aos dias e comportamentos atuais.  
Destribifiquemo-nos pois. Tenho certeza de que nada perderemos com isso. Contatos com outras maneiras de pensar, com outras visões artísticas e políticas, com pessoas de diferentes faixas etárias, só irão nos enriquecer e integrar neste mundo tão compartimentado e setorizado em que vivemos. Ser cool é compartilhar, e não se fechar em casulos, achando-se diferente e melhor do que todos os outros mortais apenas por ostentar uma tatuagem, um piercing ou um corte de cabelo específico. Ser cool está na essência, e não na aparência das pessoas.

domingo, 22 de abril de 2012

Considerações de um diletante sobre o "Jornalismo Lado B"

Estava eu praticando minha caminhada de domingo, em meio às elucubrações das ideias e propostas lançadas e discutidas no curso "Jornalismo Lado B", do Instituto Barão de Itararé, quando nos meus fones de ouvido a letra de uma das músicas da Nação Zumbi trouxe uma frase precisa, que se encaixava no contexto e no cerne de toda essa discussão: "...Mais perto da essência, o sentido respira,  consumido no perfume que vem..." Aliás, com um pequeno aparte, recomendo a todos que ouçam sempre as músicas de Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, pois todas são sempre muito boas para ficar pensando melhor e mais claro. Essas letras e músicas deveriam ser estudadas nas escolas, conforme a excelente sugestão do Azenha,  juntamente com muitos outros materiais audiovisuais criativos e alternativos, que podemos encontrar nas televisões públicas, na mídia alternativa e até mesmo no lado claro e positivo da Internet.
Mas, voltando à vaca fria, a música "Prato de Flores" traz em sua letra, conforme trecho sublinhado acima, a importância que existe em vivermos sempre, diante de qualquer aspecto de nossas vidas, perto da nossa essência, pois perto dela, nossos sentidos sempre estarão melhor amparados pela nossa verdade, pelos nossos princípios. Nada será mais belo ou verdadeiro do que qualquer trabalho que façamos balizados pelos nossos próprios e verdadeiros parâmetros interiores. Sempre que seguirmos verdades e imposições alheias em detrimento das nossas convicções soaremos falsos, fakes, ou seja, seremos cópias dos outros, ou então fantoches, jamais seremos nós mesmos. É claro que as boas influências, os grandes profissionais e tudo de bom e criativo que nos rodeia pode e deve ser utilizado e aproveitado por nós, mas apenas com o sentido de inspiração, sendo que sempre deveremos procurar acrescentar algo de novo e útil aos bons métodos e ideias alheias que porventura nos sirvam de inspiração. A cópia pela cópia dos padrões impostos como certos e válidos jamais trará nada de positivo ou interessante a qualquer meio de trabalho em que estejamos inseridos.
Como coloco no título deste post, sou apenas um diletante, um amador, que adora estar bem informado, mas não apenas isto, que procura no dia-a-dia separar o joio do trigo, principalmente em relação às posturas e ações políticas de nossos homens públicos, bem como daqueles, que por fazerem parte da mídia, são responsáveis por divulgar todos os acontecimentos e fatos, sejam políticos ou de que natureza forem.
Além disso, entendo que precisamos resgatar o sentido de coletividade e bem-estar geral em nossas vidas. De nada adiantará termos uma vida profissional extremamente bem sucedida se ela, em última análise, não puder oferecer uma contribuição concreta, útil e desinteressada à vida das pessoas que nos rodeiam.
Entendo que todos nós, jornalistas ou não, que nos propomos a interagir de alguma forma com o mundo, precisamos manter nessa relação o maior grau de honestidade e verdade possível, mesmo que a nossa verdade possa não condizer exatamente com os modismos e imposições midiáticas e propagandísticas do momento. Um posicionamento sincero e honesto, mesmo que não seja entendido imediatamente, será entendido por todos com o passar do tempo. Às vezes, o que é correto, justo e valoroso fica sucumbido pelos ditames da moda, pelas imposições do capital ou pela manifestação da vontade daqueles que detém o poder, seja político ou econômico. Porém, demorando ou não, a verdade sempre prevalecerá.
Por isso, volto ao ponto inicial, quem mantém a coerência interior e a firmeza de propósitos em todos os aspectos da sua vida, dificilmente cairá em contradições, sejam pessoais ou profissionais. Por outro lado, quem se deixa levar pelas tendências de mercado, pelos atalhos fáceis e pelas imposições alheias, corre o sério risco ser tido como incoerente e suscetível às influências daninhas e oportunistas.
É claro que, com  todas as novas tecnologias à disposição, alguns aspectos profissionais vão se alterando e evoluindo com o tempo, mas, como já foi dito algumas vezes nas palestras deste curso, o conteúdo e as ideias sempre continuarão sendo a base de todo o bom trabalho que qualquer profissional venha a criar ou executar. Acho, por fim, que para todos nós, o que deve nos mover para realizar trabalhos dignos e úteis à sociedade seja o legítimo interesse de que toda ela evolua conjunta e continuamente, aumentando a inclusão em todos os setores e diminuindo as diferenças e injustiças sociais que ainda campeiam por esse imenso Brasil.               

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Epitáfios grotescos

Segue abaixo uma série de inscrições para lápides, as quais poderiam ser utilizadas nos túmulos da grande maioria dos nossos homens públicos, políticos, banqueiros, empresários, latifundiários e proprietários rurais, entre muitos outros, que tantos e recorrentes danos causam à nossa sociedade. Há alguns casos que também se aplicam a muita gente oriunda da classe média, que, em larga escala, costuma se achar melhor  e mais digna do que as pessoas mais humildes.


Aqui jaz Grotesco, aquele que, em vida...


"Considerava-se realmente mais vivo do que os outros, sempre querendo levar vantagem em tudo, conforme os ditames da famigerada Lei de Gerson."

"Sempre se achou, por razões inexplicadas, superior às outras pessoas e merecedor de especial deferência e consideração de todos à sua volta."

"Sempre se portou em vida segundo a velha máxima: Farinha pouca, o meu pirão primeiro!"

"Achava que tudo girava à sua volta, bem como da sua família, pouco se lixando para se o resto do mundo se explodia."

"Jamais  respeitou o lado humano das pessoas, pautando todas as relações apenas pelas aparências e pela cosmética."

"Nunca em vida valorizou o ser em detrimento do ter."

"Jamais pautou-se pela honestidade, ombridade e lealdade, pois considerava esses valores como fora de moda e antiquados."

"Sempre fez na vida pública uma interminável extensão do que fazia na privada."

"Jamais se preocupou com questões ambientais, querendo sempre, isso sim, auferir todos os lucros possíveis sobre as terras, águas e riquezas naturais que considerava como suas."   

"Nunca se pautou pela preocupação com os mais humildes e desvalidos, tomando todas as atitudes sempre orientado pelos seus instintos corporativistas e de classe."

"Por achar-se dono do capital, sempre exigiu ser aquele que mais lucraria em qualquer transação ou situação nas quais investisse o seu famigerado dinheiro."

"Por seu poderio econômico, sempre fez uso da sua arrogância, explorando as pessoas e os subalternos em todas as situações nas quais havia essa possibilidade."

"Sempre distorceu os fatos e a história com o intuito de manter-se no poder a qualquer custo, valendo-se da ignorância dos mais fracos e humildes."

"Sempre trabalhou nas esferas em que pôde para manter o enorme fosso social brasileiro, sentindo-se sempre parte de uma classe hegemônica reduzida e superior."

"Sempre levou uma vida de indiferença em relação às questões sociais, passando a manifestar-se ferozmente e a declarar-se cansado apenas quando a violência chegou à sua porta ou aos seus entes queridos."

"Passava por cima dos desafetos e oponentes de maneira covarde e violenta, fazendo valer estupidamente, e à força, toda a sua vontade."
Deus os tenha em bom lugar!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Faça você mesmo e faça agora

Como cidadãos, sabemos que os governos vem e vão, de forma cíclica, uns substituindo os outros. Períodos mais democráticos e de esquerda. Períodos mais autoritários e de direita. E por aí vai. É claro que todos nós temos as nossas preferências e tendências políticas. Que em algumas eleições nos sentimos vitoriosos e em outras, frustrados. Mas o que eu gostaria de dizer é que, melhor ou pior, nenhum governo ou instância da administração pública conseguirá ser perfeito, muito menos agradar a todos os eleitores. Sempre haverá pontos controversos em qualquer administração. Sempre haverá algum nível de tráfico de influência e de apadrinhamento de amigos e simpatizantes. Sem contar a nefasta obrigação, cada vez mais em voga na política, de ter que lotear os governos, dando a cada partido de apoio da base aliada o seu, em muitas vezes, nem tão merecido quinhão. Ou seja, a política do "é dando que se recebe" sempre paira os governos em maior ou menor grau. Por isso, cada vez mais chego à conclusão de que, em muitas situações, devemos fazer nós mesmos as mudanças e as intervenções necessárias para melhoria da nossa sofrida sociedade brasileira. Além disso, e até mais importante, cabe a nós fiscalizar e cuidar para que as políticas públicas caminhem da forma que precisam caminhar, ou seja, sempre em prol e totalmente em nome do povo, visando o seu bem-estar e os avanços sociais, principalmente nos setores críticos como saúde, educação, habitação, transporte e inclusão social. É muito importante que não sejamos omissos quando presenciamos aberrações e descasos sociais à nossa volta. Se há como denunciar absurdos e malfeitos, denunciemos. Se há como chamar a autoridade responsável na "chincha", chamemos. O que não podemos é ficar parados, e compactuar silenciosa e bovinamente, diante do descaso e da omissão de governantes e agentes do governo, sejam de que esfera forem. Além disso, precisamos com urgência ser mais cidadãos. Não podemos exigir do governo aquilo que não praticamos em nosso cotidiano. Se vivemos lançando mão do jeitinho brasileiro (e levando vantagem em tudo, certo?) a torto e a direito em nosso dia-a-dia, como podemos criticar os políticos e homens públicos que nós mesmos elegemos? Se desrespeitamos as vagas de estacionamento para idosos e deficientes na maior desfaçatez. Se avançamos sobre a faixa de pedestres e calçadas com os nossos possantes sem o menor cuidado ou respeito ao próximo. Se sempre que podemos, burlamos a ordem, e passamos na frente, de uma fila indiana para qualquer tipo de atendimento. Se tentamos levar qualquer fiscal na lábia, achando-nos super espertos por auferir qualquer tipo de vantagem à qual não teríamos direito dentro das normas estabelecidas. Em qualquer desses casos, e em muitos outros similares, com os quais nos defrontamos durante os nossos dias, se agimos na esperteza, então não temos direito de cobrar nada de quem está no poder. Se agimos assim, descompromissadamente, indiferentemente, alheios a todas as regras de convívio e respeito ao próximo, então não merecemos nada de bom. Precisamos, urgentemente, nos corrigir e tentar arrumar tudo o de errado e torto que acontece à nossa volta, a começar da nossa casa. Nós somos, no fundo de tudo, essencialmente aquilo que fazemos quando ninguém está nos vendo. É nesses momentos que o nosso verdadeiro caráter se manifesta em sua plenitude. E é aí que precisamos ser verdadeiros e decentes, inclusive conosco mesmos. Nós, os ditos cidadãos de bem, precisamos realmente fazer valer essa condição. Trabalhar na prática, sempre que possível, para minimizar desigualdades e injustiças. Atuar sempre que percebermos que podemos fazê-lo. Evitar a cômoda omissão dos alienados e conformados. Sempre que puder fazer algo de bom ou útil, faça-o, independente de recompensas e de atendimento unicamente aos interesses próprios.

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