quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O que faz você feliz? (Não é propaganda de supermercado)

Planeta Terra. 2013. Chegou-se a um estágio avançado da sociedade em que as pessoas se acham felizes apenas e tão somente por conseguirem adquirir e ostentar bens de consumo altamente renováveis com a maior rapidez possível e antes que os outros mortais o façam. A maioria também parece ficar muito feliz e satisfeita só em poder frequentar os modernos templos do consumo com toda a família, pois são lugares seguros, bonitos, limpos, que oferecem produtos, serviços, gastronomia e lazer dentro dos padrões de assepsia e apresentação tidos como aceitáveis e muito desejáveis, ainda que altamente industrializados e padronizados. Não importa, para quem é, ou parece ser feliz, se nem todos têm acesso a esse fantástico mundo de modernidade e alegria. Aliás - para esse padrão de felicidade, imposto pelo mercado em geral, e especialmente pelas transnacionais, pelos bancos, pela propaganda e pela mídia -, faz parte do pacote que nem todos possam ter acesso a tudo de bom que o mundo moderno oferece. Somente os escolhidos. E assim, muita gente se esfalfa para se enquadrar naqueles conceitos e estereótipos de homens, mulheres e crianças bem-sucedidos. O sucesso e a felicidade são assegurados apenas àqueles que contam, desde o nascimento, com boas estruturas financeiras familiares e bom respaldo educacional, os quais irão perpetuar a manutenção daquela boa cepa de gente nas linhas de frente, de mando e de comando da sociedade. O mundo caminhou até chegar ao estágio atual, no qual as pessoas valem pelo que têm e o culto à personalidade e às aparências, bem como a idolatria a muitas coisas materiais e palpáveis, suplantou qualquer outro aspecto espiritual ou sentimental que eventualmente pudesse nortear as relações humanas. As pessoas estão felizes ou infelizes, dependendo apenas de terem ou ainda não terem adquirido os seus mais recentes objetos de desejo, tão propagandeados e disseminados pelos ferozes e predatórios meios de comunicação. Essa infelicidade dura até a satisfação desse desejo. Satisfeito aquele desejo da vez, a sensação fugaz de felicidade logo passa, pois outros chamados começam a incomodar e a impacientar os nossos felizardos temporários. Tal qual um dependente químico, as pessoas entram em crise de abstinência por ainda não terem consumido aquilo que o deus mercado manda e impõe como sendo indispensável e sem o qual o cidadão estará incompleto e em desigualdade de condições com o mundo que o rodeia. É preciso trocar o carro, mesmo que o seu ainda esteja cumprindo perfeitamente a missão a que se destina. É preciso ter o último modelo de iphone da semana. É imprescindível comprar em dez vezes no cartão de crédito a última versão da TV de plasma. É de vital importância estar com o cabelo tratado dentro da última técnica surgida para tal cuidado. É tão necessário parecer feliz dentro dos conceitos difundidos e tidos como padrões, que o sujeito precisa sempre estar com as suas fotos e informações atualizadas em tempo real na WEB, como se disso dependesse a continuidade da humanidade. É preciso estar conectado e interagindo virtualmente o tempo todo, mesmo que isso faça com que você deixe de manter contato e trocar ideias com as pessoas que, na realidade, estejam sempre ao seu lado. É preciso usar o sapato do momento, cortar e arrumar o cabelo com o estilo do momento, ouvir a música do momento, vestir a roupa da estação, exalar o cheiro comercializado no momento, entre tantas outras atitudes exigidas e esperadas da pessoa que se entenda como do seu tempo. 

Será que são somente essas ideias e coisas que realmente nos fazem felizes? Será que ser supostamente feliz e ostentar em um meio em que nem todos podem ter as mesmas coisas que você é benéfico ou maléfico para a sociedade? O homem vale pelo que é ou pelo que tem? Qual seria o motivo de alguns terem coisas e desfrutarem mordomias às quais a maioria não tem acesso? Isso é justo? É moral? É lógico? Haveria os escolhidos de Deus? Por que alguns são mais bem tratados e respeitados do que os outros? Seria possível vivermos numa sociedade mais justa e igualitária, com educação e oportunidades para todos, desde pequeninos? Seria possível e viável uma sociedade na qual não houvesse qualquer tipo de distinção entre seres humanos? Seria sustentável uma sociedade em que todos fossem respeitados e tivessem as condições mínimas de dignidade e conforto para viver? Existem seres humanos que valem mais do que os outros?

Perguntas que ficam no ar. Como a principal delas: O que tenho feito para tornar este mundo melhor, mais justo, mais feliz e mais humano para todos?    

terça-feira, 16 de abril de 2013

O mundo individualista que criamos

Eu já deveria estar acostumado com muitas coisas já tidas como naturais neste mundo em que vivemos, mas, teimoso que sou, ainda continuo a catalogar mentalmente várias situações cotidianas e comportamentos como estranhos e, em alguns casos, inaceitáveis para uma vida decente em coletividade.
Justamente neste momento da humanidade, quando tantas ferramentas e possibilidades de comunicação e interação estão disponíveis, é que noto que cada dia mais as pessoas estão interagindo e se conectando menos no seu dia a dia real. As interações e conexões virtuais estão acontecendo num ritmo cada vez mais frenético, quase beirando a completa ininterrupção. As pessoas estão plugadas e conectadas o tempo todo.
Porém, na minha opinião, isso não faz com que elas se entendam mais e melhor. Pelo contrário, tenho notado pessoas de todas as idades, mas prioritariamente os jovens, com grandes dificuldades de expressão e interação em tarefas ou situações corriqueiras da vida de qualquer cidadão, ou, suposto cidadão.
Posso ser tachado de chato, retrógrado e nostálgico, mas mesmo assim prefiro me manifestar a respeito dessa automatização dos seres humanos, que em muitos casos nos transforma em seres praticamente autômatos na vida real, e em relação à qual acredito ser necessário tomar algumas medidas educacionais e precauções, evitando-se que em alguns anos haja a mais completa e acabada ensimesmação dos seres humanos, passando todos a viverem, cada qual em seu mundo particular, isolado e distante da vida concreta e diária.
Imagem retirada do site Filosofia, Ciência e Vida
É importante que se diga que, além das facilidades e inovações tecnológicas, que em si mesmas são apenas benéficas e, se bem usadas, podem somente nos fazer crescer em possibilidades de contatos e diálogos, o que mais tem prejudicado as relações humanas nestes nossos tempos são as imposições midiáticas e propagandísticas, as quais estabelecem e forçam padrões estéticos, de consumo e de comportamento, de acordo com os interesses financeiros e mercadológicos dos poderosos senhores do capital mundial.
Assim, na prática, as pessoas estão procurando - e, iludidas, acham que isso é muito bacana - viver em uma ilusória bolha de felicidade, em que por algum motivo se acham felizes à medida em que seguem cegamente os estereótipos e modelos de sucesso propostos à exaustão pelos meios de comunicação, bem como à medida em que conseguem consumir e se apoderar dos bens e looks tidos e havidos como imprescindíveis ou fashion.  
Todo esse estado de coisas leva, ao final, a uma brutal massificação de comportamentos, de visuais e de posturas, os quais são completamente idênticos, mas isso não é percebido pelos indivíduos, que são levados a achar que cada um daqueles itens foi criado com exclusividade para ele, seja uma calça, um carro ou uma conta bancária com atendimento personalizado. No fundo, todos aqueles que alcançam esse padrão de vida classe média antenada, acham que esse é o único tipo de vida que convém levar, e que só dessa maneira podem ser aceitos pelos seus iguais como pessoas bem-sucedidas.
Assim, criou-se o mundo da exclusividade para todos. Todos os incluídos (Aqui não há espaço para os milhões de excluídos) só alcançam a felicidade quando conseguem se enquadrar nos padrões estabelecidos. E sempre estarão correndo atrás dos últimos lançamentos e das últimas modas, como aqueles coelhos de corrida, que são enganados e correm atrás de uma cenoura, que o tempo todo estará à sua frente e inalcançável, visto que sempre estará desempenhando maior velocidade que eles.
E, para mim, esse egoísmo arraigado fortemente em cada pretenso cidadão, tem feito com que as pessoas deixem de se olhar e de se comunicar na prática.
Imagem retirada do site Central Crítica
Tem se falado exaustivamente, nas redes sociais e na mídia, sobre as questões relativas ao respeito às minorias, mas, na vida real, não temos quase praticado nenhuma forma de respeito para com os nossos semelhantes de carne e osso.
Respeito é, e sempre deve ser, primordial e indispensável em toda e qualquer relação humana. Contudo, acho que em se tratando de respeito, temos ficado muito no discurso virtual e quase nada temos posto em prática nas situações reais, pelas quais passamos durante as nossas atividades diárias, sejam elas de lazer, de trabalho, de deslocamento, de estudo, etc.
Enfim, em termos de respeito aos próximos, temos deixado muito a desejar nos dias atuais, muito embora sejamos bombardeados por inúmeras exortações virtuais às defesas de causas as mais variadas, as quais, contudo, no meu entender, têm ficado apenas no discurso e na retórica bonita.
Cidadania e respeito se fazem de verdade nas ruas, espaços públicos, transportes e todos os demais locais em que as pessoas se reúnam e precisem conviver e interagir por quaisquer questões ou necessidades cotidianas da vida de qualquer cidadão.
Chega de tanta imposição virtual e tantos discursos vazios. Já passou da hora de respeitarmos as outras pessoas de verdade, todas elas, a começar por aquela que, por qualquer circunstância e sob qualquer condição, esteja perto de nós neste momento. A vida é realmente muito mais feliz quando compartilhada, e não segmentada e apartada como a temos vivido.

quarta-feira, 27 de março de 2013

O país dos dedos de silicone

Por esses dias, foi amplamente noticiada e comentada por a toda imprensa brasileira, assim como nas redes sociais, a falcatrua perpetrada por um grupo (quadrilha?) de médicos do SAMU de Ferraz de Vasconcelos, grande São Paulo, por meio da qual apenas um elemento comparecia ao local de trabalho, mas registrava os pontos de todos os demais comparsas do bando, com a utilização de dedos de silicone com as respectivas impressões digitais.  
Simulacros dos dedos de médicos do SAMU,
 feitos em silicone para fraudar o registro de ponto
Ainda não se sabe o tamanho do prejuízo que essa esperteza teria causado à sociedade e ao erário. Tendo em vista se tratar de atendimento emergencial e de primeiros socorros, que é a atividade-fim do SAMU, imagina-se que muita gente possa ter sido séria e até mortalmente prejudicada com essa desfaçatez e descaso em relação à coisa pública e à população.
Agora, além desse caso concreto e escabroso, que veio à tona graças a uma campana bem feita pela Guarda Municipal de Ferraz, fico me perguntando em quantas instâncias, repartições e órgãos públicos não estarão acontecendo, por parte de espertalhões e malandros, o uso de expedientes tão ardilosos quanto o uso de simulacros (Como a investigação policial denominou as réplicas dos dedos) de silicone para burlar a frequência e o horário de trabalho e outras safadezas correlatas e de igual potencial ofensivo?
Ao que parece - a julgar pela forma como grande parte metida a esperta da nossa sociedade encara os serviços públicos -, os dedos de silicone podem estar metidos em inúmeras instâncias, entrâncias e reentrâncias de entidades e autarquias.  Tais entes públicos detêm a função precípua, cada um deles, de prestar serviços a todos nós, cidadãos e contribuintes em geral, que em última análise somos os patrões de todos os servidores públicos, categoria que compreende desde as mais humildes funções até os ministros das mais altas cortes do país, incluindo parlamentares, autoridades nomeadas e mandatários do poder executivo.
É alarmante que servidores públicos achem normal burlar regras e dar nós em pingos d'água visando não cumprir as tarefas, atribuições e horários para os quais são pagos, e em alguns casos, como os médicos do SAMU, muito bem pagos. 
Percebemos que, pelos séculos afora, o famigerado jeitinho brasileiro realmente se arraigou e se alastrou de forma geométrica nas terras tupiniquins. Por quaisquer locais ou situações que passemos, se formos um pouco atentos, notaremos a formação de esquemas e estratégias que buscam trazer vantagens pecuniárias, ou de quaisquer outras naturezas, para aqueles que participam dessas ações entre amigos. Ou, melhor dizendo, talvez pudéssemos classificá-las como ações entre  inimigos da cidadania, da ética e da honestidade. 
Exemplos desses esquemas de corrupção não faltam. Pelo contrário, infelizmente abundam em nosso cotidiano. Podem acontecer e se configurar de naturezas e formas das mais diversas, mas sempre, em todos esses casos, detectamos a figura daquele (ou daqueles) que está levando vantagem indevida e se locupletando de forma ilegal ou irregular em troca de favores, os quais não seriam passíveis de ser concedidos se esses agentes atuassem estritamente dentro da lei e da regularidade que as atividades, principalmente os serviços públicos, exigem de todos eles. 
Em consequência dessa deformação cultural, nosso dia-a-dia fica repleto de flanelinhas, cambistas e  atravessadores, em relações e situações para os quais esses elementos não seriam minimamente necessários, muito menos bem vindos. Em outro contexto, mais virtual e institucional, também agem os flanelinhas e traficantes de influência, só que de maneira mais velada e profissional,  tirando vantagens pessoais indevidas. Só que esses, tais como os doutores do dedo de silicone, andam bem arrumados, de colarinho branco e têm, a princípio, aquela aparência de "pessoas de bem", tão difundida e incutida em nosso inconsciente coletivo. 
Já passou da hora de o Brasil banir das relações sociais, governamentais e econômicas, os tais dedos de silicone, que se enfiam em todos os meios e corrompem todas as instâncias por onde passam.  

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Noite de Personal Autograph Delivery do livro BLOGÔNICAS DO INCONFORMISMO

Prezados incautos e escassos leitores, informo a todos que no último dia 23 de fevereiro foi lançado o meu segundo livro: BLOGÔNICAS DO INCONFORMISMO, o qual também se encontra disponível para aquisição no site www.clubedeautores.com.br, juntamente com o "Grotesco...", meu primeiro livro. Basta clicar nas respectivas capas, abaixo, para ser direcionado às páginas de venda. 

A noite de autógrafos funcionará no sistema delivery, e será na Livraria Cultura de São Paulo (Conjunto Nacional), point em que são feitos os grandes lançamentos. Cada pessoa que fizer a aquisição online de um dos meus livros, terá o direito a receber o personal autógrafo, que será concedido nas dependências da famosa livraria, bastando para isso que, com antecedência e por e-mail, marquemos o horário de encontro naquele local.

O personal autograph delivery é uma nova forma de fazer com que os compradores dos livros, cujas vendas são online, possam encontrar com o autor e receber a sua dedicatória personalizada.    

Seguem abaixo as sinopses dos meus dois livros. Desde já agradeço a atenção de todos vocês. Caso necessário, e se o número de compradores exceder as nossas expectativas, poderemos, eventualmente,  alugar e disponibilizar uma Kombi, para facilitar e tornar mais confortável o transporte das pessoas até a livraria Cultura.

Aguardo o contato de vocês para a noite de personal autógrafos delivery, hein galera!

Abaixo disponibilizo as informações sobre os livros, bem como as respectivas sinopses. Obrigado a todos!

Clique aqui e será direcionado para a página de venda deste livro.
BLOGÔNICAS DO INCONFORMISMO 
Coletânea de textos publicados de 2008 a 2013 
Autor: Altamir Souza 
Sinopse: 
Este livro reúne os melhores textos produzidos e divulgados pelo autor no blog ALTAVOLT (www.altavolt.blogspot.com), cujo lema principal é : "Pílulas de cidadania, sarcasmo e nonsense! A busca constante pela hipocrisia zero! Em suas crônicas, Altamir Souza procura sempre mostrar outros ângulos de abordagem para muitas situações e fatos corriqueiros em nosso mundo atual. A visão crítica e irônica está sempre presente em sua escrita. O autor tenta, de maneira bem humorada e simples, dar sua pequena contribuição para a conscientização e para o desenvolvimento do pensamento crítico dos seus leitores. Para ele, analisar e entender as coisas do cotidiano e os comportamentos humanos é sempre muito importante para vivermos mais e melhor em sociedade. Acredita o autor que só assim chegaremos a um mundo mais igualitário, humano e fraterno, no qual as preocupações com o coletivo passem a ser mais presentes e frequentes do que as iniciativas estritamente pessoais e em benefício próprio.


Clique aqui e será direcionado para a página de venda deste livro.
Grotesco: Como (Não) Ser Um 
Tudo aquilo que, como cidadãos, deveríamos saber, mas ainda não aprendemos 

Autor: Altamir Rodrigues de Souza 
Sinopse: 
O livro procura ligar o nome à pessoa do grotesco, que é um personagem indefinido, mas muito comum nas nossas idas e vindas diárias, ao qual talvez a maioria dos leitores ainda não tenha sido formalmente apresentada. Grotescos existem em todos os meios e em todas as situações. Humildemente, procuramos aqui demonstrar alguns motivos deles existirem de forma tão abundante nos dias atuais. Através de contos, crônicas e aforismos, tentamos montar um amplo painel sobre o que é a grotesquice humana. Num segundo momento, o leitor irá depreender o que seria necessário mudar em nossas vidas para a erradicação dos grotescos e das suas consequentes grotesquices, tão nocivas ao convívio social. Espero que seja uma leitura leve e divertida, que possa de alguma forma contribuir para a melhoria da nossa convivência cotidiana.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Por que o som do Mundo Livre S/A é tão indispensável?


Durante o Carnaval, fui a mais um show do Mundo Livre S/A, desta vez no SESC Santana. Como já conheço a banda liderada pelo eclético e criativo Fred Zero Quatro, artista emblemático da cena recifense, a alta qualidade da apresentação não me surpreendeu, mas apenas confirmou os vários motivos que dão suporte à admiração que nutro pelo grupo pernambucano.  
A banda Mundo Livre S/A, liderada pelo
 cavaquinho de Fred Zero Quatro.
A simplicidade e a espontaneidade da banda no palco são dignas de nota, visto que não há qualquer espaço para afetação ou estrelismo. Os diálogos entre eles mesmos, entre eles e a produção e, principalmente, com o público são diretos, bem-humorados e criativos. Ou seja, não ficam nos lugares-comuns dos shows pasteurizados, tão repetitivos e em voga atualmente, nos quais se endeusam, por interesses mercadológicos, sempre as mesmas figurinhas carimbadas e desprovidas de talento. Não há média ou rasgação de seda, a não ser com artistas que realmente sejam talentosos e merecedores de elogios, como Jorge Ben e Chico Science.
O Mundo Livre S/A é formado por excelentes músicos e, desta maneira, a qualidade do seu som é das melhores que podemos contemplar nos dias atuais. Contudo, as letras das canções é que dão o tom diferencial e especial à apresentação da banda. As músicas são na grande maioria divertidas, dançantes e cheias de suingue, mas nem por isso as letras, críticas e engraçadas, deixam de fazer pensar e refletir sobre uma série de temas que não podem estar fora de pauta na sociedade atual.
Resumindo, é um show feito pra dançar e desopilar o fígado, que, além disso, faz com que a plateia saia de lá pensando melhor. Onde está escrito que música para divertir tem necessariamente que contar com letras absurdas ou idiotas, que beiram a debilidade? Como já propôs o Barão Vermelho há alguns anos, pensar e dançar é bastante possível, e o Mundo Livre está aí para confirmar plenamente essa possibilidade.  
Consumismo desenfreado, padrões de comportamento idiotizados e repetitivos, a fé cega e alienada, a supervalorização dos bens materiais em detrimento do verdadeiro crescimento espiritual, além das altas doses de hipocrisia na política e na vida pública, tudo isso e muito mais é criticado e posto em cheque pelas inspiradíssimas canções do Mundo Livre S/A.
Capa do último disco do Mundo Livre S/A, que traz canções
 indispensáveis como Fucking Shit e  Tua  Carne Black Label.
Todas as músicas do Mundo Livre S/A, de todas as épocas e de todos os discos, são indispensáveis e precisariam ser ouvidas com muito mais frequência nas rádios e apresentadas recorrentemente nos canais da televisão aberta. Entretanto, não há interesse algum das redes de televisão aberta em mostrar músicas e artistas de real valor. Os programas das redes comerciais de TV primam apenas por difundir novidades pegajosas, grudentas e imbecilizantes, que além de nada acrescentar à cultura dos brasileiros, ainda os torna mais alienados.
O novo disco do Mundo Livre S/A, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, é um dos exemplos de obras que precisariam e poderiam ser altamente difundidas, curtidas, dançadas e pensadas, principalmente pelos nossos estudantes, pois o seu teor é exatamente para isso: Ouvir, refletir, inspirar, questionar, sem que com isso não seja possível dançar e se divertir muito também.
O Brasil precisa muito mais da obra do Mundo Livre S/A do que podemos imaginar à primeira vista, mas infelizmente a mídia e a indústria “cultural” continuam dando amplo apoio às letras onomatopeicas e de conteúdos explícitos e diretos, que nenhum trabalho ou questionamento causam aos abandonados neurônios dos ouvintes, muito pelo contrário.    

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Homem-Carro e outros heróis do nosso tempo

Dando continuidade à saga de heróis modernos
 e reais, em série livremente inspirada no
 poema  "Homemcarro", de Ademir Assunção,
 em  seu  livro  "A Máquina Peluda", a quem já
 homenageamos anteriormente  com o post
"Homem-Sapato" ,  apresentamos agora
 estes novos personagens.


Devido aos avanços tecnológicos e industriais das últimas décadas, ficou fácil para considerável parcela privilegiada da população mundial ter acesso aos automóveis próprios em números cada vez maiores de exemplares e modelos por família bem-sucedida.

Tal facilidade possibilitou o surgimento de uma classe de humanos que não concebe que os deslocamentos diários, de qualquer distância que seja, possam ser realizados sem lançar mão do seu cada vez mais moderno e poderoso automóvel. Com o tempo, a interação homem e máquina tornou-se tão intensa, que uma relevante parte da humanidade começou a transmudar e a transformar-se em uma classe de mutantes: os homens-carro.   
Hoje em dia, as ruas das grandes e mais abastadas cidades do mundo estão repletas desses seres poderosos e arrogantes, para os quais todos os urbanistas, governantes e empresários têm dado o seu amplo e irrestrito apoio. Os Homens-Carro ditam as regras e as modalidades urbanas de transportes. Em relação a qualquer política que se queira implantar nas cidades, primeiramente são estudados os impactos nas vidas dos homens-carro. Somente depois de atendidas as suas necessidades é que a sociedade se volta para outros mutantes modernos, como o Homem-Sapato, o Homem-Bike, e os motorcycle-men.
Há ainda categorias como os skate-boys, que também vivem às turras com a sociedade sobre onde seria o lugar ideal para as demonstrações das suas habilidades. 
Contudo, mal ou bem, os mutantes acima, apesar de sempre estarem sujeitos às reverências e prioridades sociais concedidas aos homens-carro, acabam se organizando minimamente e, ainda que de forma rudimentar, conseguem ser vistos como classes humano-mutantes. 
A vida nas grandes cidades fica difícil mesmo, ou quase impraticável, para os homens-rato, categoria mutante subumana, que se alastra e se arrasta pelos becos, vielas e embaixo dos viadutos e pontes. Os homens-rato vivem das sobras e dos favores de má vontade de todas as outras espécies urbanas. Apesar de ser uma categoria humana também moderna, não há qualquer glamour ou elegância na vida dos homens-rato. Vivem jogados às margens das avenidas e ruas por onde trafegam, às vezes velozes, às vezes engarrafados, os onipresentes homens-carro. De tão comuns na paisagem urbana, os homens-rato já não são mais sequer notados, principalmente pelos ocupados, importantes e apressados homens-carro. 
Alguns homens-rato ainda têm consciência e energia para tentar trabalhar e levar uma vida digna e nesse caso podem se transformar em uma categoria intermediária: a dos homens-carroça. Os homens-carroça prestam um importante serviço à sociedade, uma vez que, mesmo de forma improvisada, muito contribuem para a coleta de resíduos e restos que poderiam eventualmente complicar ainda mais, se é que isso é possível, os deslocamentos dos ocupados, importantes e superiores homens-carro. Muitas vezes, os homens-carroça são obrigados a se deslocarem em meio ao pesado tráfego de homens-carro e quase são trucidados por esses déspotas do trânsito, mas, mesmo assim, conseguem levar a sua vida de mutantes de segunda classe.             
Assim, segue a vida urbana moderna, repleta de castas de mutantes que pouco ou nada interagem entre si. As interações ficam restritas e ensimesmadas nas próprias classes e se dão principalmente de maneira virtual e à distância. Dessas interações surgem as subclasses de homens-carro, ou seja, os homens-facebook, os homens-twitter, os homens-tablet e os notebook-men, entre possíveis muitas outras que vão aparecendo. 
A lamentar, apenas e principalmente, é o fato de que todos esses super-heróis modernos pouco ou nada fazem para realmente democratizar e solidarizar a vida de todas as classes na moderna sociedade, trabalhando para que a subclasse dos homens-rato deixe de existir, e que todos os homens possam passar a viver em condições realmente mais igualitárias e menos diferenciadas e discriminatórias. Afinal, não precisamos de heróis, precisamos de homens, apenas homens.  

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O árido deserto imbecilizado do Brasil

Nos últimos dias, muita gente, principalmente nas redes sociais, se mostrou descontente ou até mesmo furiosa com o artigo do jornalista Mino Carta intitulado A imbecilização do Brasil, o qual foi publicado como editorial da revista Carta Capital.
Por mais que os termos e opiniões ali expressados sejam fortes e nos façam pensar e ponderar sobre o tema, não há grandes possibilidades de discordarmos profundamente das teorias defendidas por Mino em seu corajoso texto.
Por mais que, como brasileiros que somos, a carapuça possa nos servir de maneira completa e acabada, temos que parar para refletir sobre tudo aquilo que o articulista discorre em sua matéria.
Mino afirma que nas últimas décadas houve grande diminuição da produção cultural de qualidade no Brasil e esse fato é incontestável. Por mais que pensemos em nossos grandes nomes das artes e da cultura nos últimos tempos, eles só serão as exceções (algumas brilhantes, é verdade), que irão confirmar a regra de que no Brasil há muito tempo não se incentiva, tampouco se valoriza, as manifestações culturais de qualidade, dotadas de profundidade e capacidade de gerar a reflexão e o aprendizado por parte da população.
É sabido por todos que o sistema educacional brasileiro é e sempre foi elitista e está falido há décadas, e que vem se deteriorando mais e mais a cada ano. Diante desse quadro caótico da nossa educação, a população brasileira, cada vez mais, se vê despreparada para crescer e progredir como nação, visto que não lhe são fornecidos os elementos e ferramentas fundamentais para isso. E deve ficar claro aqui que não estou falando apenas da população mais carente do Brasil, muito pelo contrário, pois temos encontrado cada vez mais nas classes média e alta os maiores índices de preconceitos, de desrespeitos ao próximo e às leis, bem como de desvalorização de todos os aspectos e comportamentos que possam representar a cidadania de um povo.
É inegável que o povo brasileiro melhorou economicamente nos últimos dez anos, mas, como afirma Mino, as melhorias econômicas devem ser acompanhadas das melhorias dos níveis de cidadania e cultura da população. Uma população não se desenvolve apenas com o aumento do consumo de bens, produtos, carros e músicas de baixa qualidade. O povo brasileiro precisa crescer em consciência, em esclarecimento acerca da sociedade que o rodeia. Precisa crescer em cidadania, igualdade, justiça e no respeito às diferenças sociais, culturais e de origens.    
Quanto ao fato de a grande mídia - que no Brasil está concentrada nas mãos de poucas famílias - e da "indústria cultural" apenas continuarem trabalhando para manter o nosso povo na ignorância, mais uma vez Mino acerta brilhantemente. A grande maioria das "produções culturais" de massa, como as novelas, os programas televisivos e os discos dos artistas dito populares é totalmente pautada pelo mais baixo nível intelectual. Assim, temos um quadro em que, de um lado são fornecidos produtos culturais de baixíssima qualidade e do outro há um público completamente despreparado para analisar e reprovar aquele conteúdo, o qual lhe é enfiado goela abaixo de maneira sistemática e orquestrada pela poderosa indústria do entretenimento.    
Some-se a tudo isso o enorme poder que o marketing e a propaganda têm em um país colonizado como o Brasil e chegaremos ao que temos atualmente: uma população que consome muito e até de maneira desenfreada, mas que não tem preparo para raciocinar em relação à massificação a que está submetida, uma vez que não aprendeu em tempo algum a pensar com a própria cabeça e a não apenas seguir as grandes tendências e correntes que o mercado impõe a todo momento, umas depois das outras, de acordo com as conveniências de quem detém o poder econômico. 
O povo brasileiro precisa muito de consciência e de cidadania. Precisa urgentemente sair desse deserto de alienação em que está metido, muito embora a maioria de nós não se dê conta disso, infelizmente. 
Penso que em vez de nos enfurecermos com Mino Carta por ter dito verdades dolorosas, temos, isso sim, que trabalhar por uma democracia mais verdadeira e, mais do que tudo, em prol daquilo que vai alavancar o Brasil em todos os sentidos: a educação plena e de qualidade para todos os brasileiros.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Robson Mendonça é gente que faz de verdade!

Robson Mendonça circula pelas ruas centrais
 de São Paulo com a sua inseparável Bicicloteca.


Robson seguiu em frente com a sua ideia, mesmo
 tendo de enfrentar ações do poder público
 contrárias à sua iniciativa humana e pioneira.
Na edição de ontem (27/01/13) do programa Provocações da TV Cultura, comandado há anos pelo antenado e irrequieto Antonio Abujamra, fiquei conhecendo o espetacular Robson Mendonça (link para a entrevista) e a sua sofrida e maravilhosa história de vida. Como vocês poderão perceber ao assistir a entrevista com Robson, que merece ser vista na íntegra, a vida deste provocador (segundo Abu) de fácil nunca teve nada, muito pelo contrário, ele só encontrou dificuldades e obstáculos pelo caminho. Contudo, nenhuma dessas tragédias pessoais foi capaz de abatê-lo ou torná-lo uma pessoa amarga ou rancorosa. Robson é sim muito crítico ao poder constituído, mas isso se explica facilmente pelo fato de que muito pouco recebeu de apoio do poder público, sendo que em muitos casos os agentes públicos só serviram para atrapalhá-lo em seu trabalho social com a sua inseparável Bicicloteca. Essa iniciativa inovadora, de propiciar, gratuitamente, leitura aos moradores de rua de São Paulo, idealizada por Robson após ele ter lido A Revolução dos Bichos, de George Orwell, vem fazendo sucesso em pontos centrais da cidade. Segundo Robson, após ler essa obra, na qual os bichos fazem uma revolução contra o poder opressor dos homens, ele pensou no que a leitura e o conhecimento poderiam fazer de positivo na vida das pessoas que vivem em situação de rua. Assim, começou a juntar livros e a fazê-los circular, sem a menor preocupação de que esses livros eventualmente não fossem devolvidos pelos leitores. Robson defende a ideia de que os livros devem ser lidos pelo maior número possível de pessoas, mas diz que, mesmo assim, sem fazer nenhum controle, a grande maioria dos livros emprestados volta à bicicloteca. Pelo que vi ao pesquisar no site da bicicloteca (link acima), é possível a todos nós, cidadãos comuns, ajudarmos de muitas maneiras nesse trabalho tão humano, sério e desinteressado, que é feito pelo cidadão Robson Mendonça. Podemos doar livros, podemos contar histórias junto às biciclotecas, podemos contribuir com valores, ou mesmo adquirir as camisetas que fazem alusão às ideias e princípios dessa benfazeja atividade. Por último, gostaria de ressaltar que o trabalho criado e desenvolvido pelo Sr. Robson Mendonça é realmente digno de nota e de aplauso, pois ele teria, com toda a razão, todos os motivos do mundo para não fazê-lo, mas enfrentando todos os prognósticos negativos e forças contrárias, ele o faz a cada dia com mais força e motivação. Robson Mendonça mostra a todos, principalmente aos  agentes que operam o poder constituído, o qual ele tanto teme e abomina, o quanto é fácil, barato e producente criar alternativas de lazer, cultura e inclusão para todos os cidadãos paulistanos, com ênfase para os menos favorecidos e mais esquecidos moradores da nossa cidade. É de homens simples, decentes e solidários como Robson Mendonça que realmente se faz uma nação. Parabéns! 


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