quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia mundial sem hipocrisia

Caríssimos, logo em seguida ao dia mundial sem carro, queria lançar aqui mais uma campanha de conscientização, que também, tal qual aquela, já está fadada ao insucesso, visto tratar-se de tema espinhoso, de baixíssima receptividade por parte das pessoas em geral. Seria o dia mundial sem hipocrisia.
A ideia consiste, similarmente ao caso do automóvel, em que, pelo menos nessa data, as pessoas saíssem de casa desarmadas da hipocrisia. Deixariam a hipocrisia dormindo até mais tarde, brincando com com os bichinhos de estimação e regando as plantas. E olha que não faltariam tarefas para a Sra. Hipocrisia, e todas elas muito mais úteis do que ficar por aí bajulando algumas pessoas, enrolando outras, distorcendo assuntos, tapando o sol com a peneira, fingindo não ver o que se passa de errado e desagradável no seu entorno, entre tantas outras tarefas ingratas desempenhadas com maestria por essa dama sem vergonha e sem caráter.
No dia mundial sem hipocrisia, as pessoas estariam livres para falar o que realmente pensam, para admirar quem realmente admiram e para ignorar todos aqueles dos quais se aproximam apenas por interesses profissionais, pessoais ou econômicos. Seria também interessante encontrar uma fórmula química que possibilitasse a todos a amnésia total dos fatos no dia seguinte, para que não houvesse retaliações, muxoxos e reclamações pelos atos praticados no dia da verdade e da sinceridade absolutas. Nesse dia, haveria uma trégua ampla total e irrestrita em relação à falsidade, à enganação e à mentira. Todos finalmente estariam livres para dizer a completa verdade e tomar as atitudes justas e necessárias nas suas respectivas áreas de atuação.
Alguns talvez sucumbissem nessa data, uma vez que não receberiam rapapés, nem seriam tratados com os salamaleques habituais por parte dos seus séquitos de empregados, subordinados e agregados. Talvez a verdade, mesmo que num único dia, fosse uma dose elevadamente cavalar para pessoas acostumadas à contínua e ininterrupta puxação de saco.
Os bajuladores, esses teriam um dia de folga do seu pesado fardo de passar os anos vivendo apenas e tão somente para o atendimento de necessidades e vontades alheias e distantes das suas. Talvez vivessem um pouquinho das suas próprias vidas nesse dia.
Quanto à maioria dos políticos, para estes talvez fosse melhor nem sair de casa nessa data especial, uma vez que quase se metamorfoseiam na própria hipocrisia, chegando, em alguns momentos, a serem o retrato mais fiel e acabado dela.
Seria um dia de liberdade, no qual não precisaríamos gastar nosso estoque de risos forçados e falsas expressões de amabilidade, mas em que, por outro lado, estariam totalmente liberados os sorrisos espontâneos e gratuitos e as conversas francas e desarmadas, que nada esperam em troca a não ser a amizade e a compreensão do interlocutor.
Sei, como já afirmei, que esta iniciativa não logrará êxito, pois, como no dia mundial sem carro, em que pouquíssimos deixam os véiculos em casa, a esmagadora maioria das pessoas jamais iria sair para a rua desprovida de seus cartuchos de hipocrisia, que passaram a ser tão indispensáveis na torta forma de convivência largamente adotada nessa estranha sociedade moderna em que vivemos.
Assim como o CO2 liberado pelos automóveis aumenta o buraco na camada de ozônio, as altas doses de hipocrisia liberadas nas relações humanas diárias contribuem fortemente para o vertiginoso aumento dos vazios existenciais em nossas almas. Veneno puro.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tv brasileira: Sessenta anos promovendo o sorvetão na testa do povo!

Neste ano de 2010, a tv brasileira está em festa. Comemora sessenta anos da sua primeira transmissão. Homenagens, eventos e rasgações de seda não faltarão nesse momento. Contudo, talvez fosse a hora de pensarmos também nos grandes estragos e desserviços que essa televisão sessentona tem prestado à nação brasileira. São anos e anos de programação discutível e apelativa, nos quais em muito poucos casos, passíveis de serem contados nos dedos das mãos, mostrou produções inteligentes e inovadoras. E tais produções, quando existem, são veiculadas em horários absurdos ou então nos canais à cabo. Para o famigerado horário nobre sobram apenas os sofríveis programas de sempre, nos mesmos formatos, que praticamente são agressões à inteligência do homem mediano. Abusam dos bíceps, bundas e peitos siliconados, como se só isso importasse para garantir a tão disputada e cobiçada audiência.
São pegadinhas e videocassetadas, ridículas e surradas, sendo repetidas há mais de vinte anos. E haja merchan de patrocinadores para tais barbaridades! As empresas deveriam se envergonhar de fomentar tais imbecilidades coletivas. Queiramos ou não, nosso povo é e sempre foi muito influenciado pelo que assiste na tv, e, infelizmente, nossas crianças e jovens (muitos hoje já são sessentões também) sempre foram bombardeados por programas sem nenhuma noção. Daí o nosso povo, que conta com ensino público lamentável, ter se tornado em sua maioria, completamente incapacitado para uma forma salutar de convívio em sociedade.
Nesse triste contexto, sempre defendi que a televisão tivesse que obrigatoriamente ter uma programação ( E uma função social) que contribuísse para a diminuição desse enorme buraco que existe na formação da maioria dos brasileiros.
A tv tem um alcance muito grande e poderia, se nossas classes política e empresarial quisessem, levar informação e conscientização ao nosso povo, que nunca foi burro, mas é tratado pela tv, entre outras instâncias, como uma manada de completos idiotas.
Imaginem, só a título de exemplo, quanta gente no Brasil foi mal influenciada, durante anos a fio, pelo alfabeto do X, que só contribuiu para fazer com que milhões de crianças desaprendessem o pouco que talvez tivessem aprendido na escola.
Vida de gado (Como já cantou Zé Ramalho em outros tempos), é essa a vida que o nosso povo leva.
Seguindo bovinamente apenas o que é ditado e pautado pelos senhores da televisão, sem jamais ter condições de pensar por si só e questionar tudo aquilo que está fora da ordem (E como tem coisa fora da ordem, como diria Caetano!). A televisão nos deixou, sim, muito burros demais (Dá-lhe Titãs!) !
Rendo aqui as minhas homenagens à essa senhora sexagenária, que tantos sorvetões tem nos ajudado a esfregar em nossas próprias testas ao longo dessas décadas!!!
E tudo isso poderia ser tão diferente. Bastaria boa vontade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre a imbecilidade e a falsidade humanas

Incautos e desbravadores leitores: Este é um post "dois em um". Primeiro vem as patadas, para desopilar o fígado combalido deste que vos fala. Depois, vêm algumas breves dicas musicais, para dar alento a todos vocês.

Que a maioria das pessoas representa papéis sociais a maior parte do tempo, qualquer um com apenas dois neurônios pode observar.
É claro que devemos todos ter um mínimo de civilidade e nos comportarmos adequadamente, de acordo com a situação e o ambiente em que nos encontremos. Se não, seria a barbárie.
Contudo, noto que muitas pessoas têm colocado a hipocrisia e a falsidade em patamares estarrecedores. Atingiram um nível em que representam o tempo todo, adotam personas e procuram engabelar a todos aqueles com os quais convivem.
Além disso, ainda me choca, por mais que eu tenha vivido, a capacidade que muitos têm de apenas enrolar e empurrar as coisas com a barriga, não produzindo nada concreto ou palpável, mas vendendo uma imagem de super, hiper, ultra, mega competente e atualizado.
São pessoas que não são, apenas fingem que são. E os seus interlocutores - alguns também da mesma linha de pensamento - fingem concordar com tudo e também adotam posturas tolerantes e "políticas" (No mau sentido da palavra).
Ou seja, passam a viver num mundo de Poliana. Onde tudo parece cor-de-rosa. Um verdadeiro país das maravilhas. Tapam o sol com a peneira. E, acima de tudo, detestam aqueles que falam a verdade e tentam esclarecer os fatos e mostrar as coisas tal como são verdadeiramente. Estes são tidos como chatos, desagradáveis, inoportunos e passíveis de afastamento das hipócritas rodas dos que vivem de bajulações e rapapés improdutivos e infrutíferos.
Sei que muitos pensam que o mundo é assim mesmo e não vai mudar nunca. E, no fundo, até concordo. Mas não consigo deixar de achar profundamente lamentável que a verdade, a clareza de pensamentos e a transparência sejam tidas como coisas idiotas e repugnantes por um número cada vez maior de pessoas.
Será que as pessoas, ou a maioria delas, estão vindo equipadas apenas com o Tico e o Teco? Será que com tantas possibilidades tecnológicas, passaram a achar que não é mais necessário pensar, analisar e achar respostas para os problemas e para todas as questões que nos cercam e afligem ou deveriam afligir? Será que a moda agora é viver em constante e infindável estado de inércia e letargia? Será que o certo é deixar o barco correr e puxar o saco daqueles que porventura estejam numa posição "superior" na hierarquia social? Será que nascemos e vivemos anos apenas para isso? Será que o correto é engolir tudo aquilo que a grande mídia nos empurra goela baixo e aceitar como verdade incontestável e acabada?
Ainda me recuso a aceitar esse estado de coisas. Sinto que cada vez mais a dócil e servil imbecilidade grassa na nossa moderna sociedade. Todos bovinamente seguindo os supostos líderes e vivendo nessa realidade cada vez mais hipócrita e nada producente em termos de reais melhorias e avanços humanos.

Para contrabalançar a aridez e a dureza do post acima, e para poder acreditar que o mundo ainda tem jeito, dou duas dicas culturais:

1) Ouçam o CD "Música de Brinquedo", do Pato Fu. É uma mostra concreta e audível de que a criatividade e o talento humanos, quando bem aplicados, podem muito contra todas as babaquices e mesmices da vida. É simples e belo. E, acreditem, é muito difícil ser simples.




2) Ouçam o sábio Raul Seixas. Estive ouvindo o CD "Há dez mil anos atrás", de 1976, e é mais atual, sincero e verdadeiro do que quase tudo que há por aí no mundo da música. Uma verdadeira ode anti-hipocrisia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"Vote Tiririca, pior não fica!"

Que o horário eleitoral gratuito é um longo e interminável desfile de bizarrices e sandices todos nós já estamos cansados de saber. Contudo, parece que a capacidade dos grotescos candidatos - a cada eleição - em piorar o discurso e fazer despencar o nível é também uma ladeira sem fim.
Fico me sentindo um imbecil diante daquele monte de caras-de-pau falando toda a sorte de besteiras e impropérios. É uma afronta à inteligência de qualquer cidadão mediano.
Para chamar o horário eleitoral de circo já não falta mesmo mais nada, uma vez que nesta eleição temos até o palhaço Tiririca com o seu slogan imbatível em termos de objetividade e sinceridade: "Vote Tiririca, pior não fica". E o pior é que ele tem razão. O nível da política no Brasil é tão baixo, que talvez o Tiririca, se eleito, não venha a ser o pior parlamentar que o Brasil possa ter tido ou ainda venha a ter.
É preocupante saber que os nossos dirigentes e parlamentares serão (Ou continuarão a ser) pessoas com esse baixo nível de consciência e comprometimento com a coisa pública e com as necessidades e anseios da sociedade brasileira.
Parece que exatamente todos aqueles que não se deram bem em suas carreiras "artísticas" é que resolveram se valer de sua imagem pública para tentar uma vaga na política. Temos candidatos "cantores", "atores", "comediantes", "Ex-BBB's" e, claro, não poderiam faltar as "mulheres frutas" e congêneres alimentícios. A política virou uma autêntica e grande curva de rio. Tudo o que não presta pára nela.
Quanto ao horário político, temos o livre arbítrio de simplesmente ignorá-lo. É fato. Mas, depois de eleitos - e fatalmente muitos candidatos esdrúxulos se elegerão - certamente todos iremos arcar com os inúmeros ônus da política mal feita, que visa apenas interesses menores e pessoais. Nós até poderemos elegê-los e esquecê-los nos próximos quatro ou oito anos, mas os resultados das suas legislaturas e mandatos estapafúrdios com certeza irão aparecer em nossas vidas, seja na forma de ações defeituosas e mal-intencionadas, seja na forma de omissões e descasos.
É líquido e certo: Quem irá levar o chumbo grosso seremos nós, a incauta massa de eleitores.
Por isso, o mínimo que podemos fazer é tentar separar o pouco trigo que existe no meio de tanto joio, e elegermos pessoas com um mínimo de decência, coerência, clareza e honestidade.
A política está tão banalizada, pútrida e mal-cheirosa em nosso país, que parece estar se tornando definitivamente um reduto de aventureiros e aproveitadores. E, infelizmente, não tenho observado muitas manifestações de repúdio a esse estado degenerativo de coisas. Tudo parece estar sendo visto como normal, como aceitável e como parte da vida moderna. Será que essa baixaria na política tem necessariamente que existir? Será que só esse tipo de gente pode se candidatar hoje em dia? Será que político virou mesmo sinônimo de palhaço e pessoa sem qualquer credibilidade?
São essas as questões que me afligem nesse período eleitoral, que é crucial na vida de qualquer país, mas que tem sido encarado por aqui como um grande circo midiático.
Só que, nesse circo, os palhaços ficam sentados na plateia, e costumam ser o alvo das gargalhadas e gozações dos protagonistas das presepadas, que ficam no picadeiro, como centro das atenções.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gente com "G" maiúsculo

No último final de semana, estava eu assistindo programas de TV e filmes em DVD, quando tive dois bons e raros momentos de contato com histórias de pessoas especiais.
No sábado à noite, o programa "Legendários", da Rede Record, prestou um belo e merecido tributo ao falecido humorista Mussum.
João Gordo, que é da minha geração, foi o apresentador da matéria. E o fez com muita emoção e verdade, conseguindo transmitir aos telespectadores a sua admiração pessoal por Mussum, e por tudo aquilo que o trapalhão mais engraçado de todos representou na sua infância e adolescência.
Também foram mostrados momentos de Mussum como vocalista do grupo "Originais do Samba", quando ele roubava a cena com suas coreografias e trejeitos bastante peculiares e engraçadíssimos.
Tanto no humorismo, quanto na música, Mussum foi um artista completo. Infelizmente, só depois de sua morte prematura, começamos a valorizar todo o seu talento e simpatia.
Ficou claro, com o passar dos anos, que ele era o integrante mais inspirado dos Trapalhões, aquele que tinha o dom de provocar risos e gargalhadas espontâneos em crianças e adultos.
Além disso, atuou numa época em que o politicamente correto ainda não imperava, o que dava muito maior liberdade de criação a ele e aos seus companheiros de comédia. Eles se xingavam, se ofendiam, mas no final, tudo acabava bem, pois a pureza e a amizade estavam acima de tudo. Era recorrente nos programas dos Trapalhões, que o Mussum fosse chamado de "Negão" pelos colegas, bem como a sua resposta rápida, rasteira e marcante: "Negão é o teu passadis!"
Somente ao ver essa homenagem ao grande "Mussa", pude sentir quanta falta ele ainda faz, e quanto estamos precisando de gente assim atualmente. Em tempos tão pasteurizados e massificados, como seria bom termos mais pessoas como Mussum, que nos brindassem com tiradas e posturas autênticas e leves. Que nos remetessem aos tempos de criança com naturalidade e simplicidade desconcertantes. Definitivamente, não é fácil ser palhaço como Mussum foi. Que Deus o tenha em bom lugar!

No domingo, ao assistir ao filme "Mãos Talentosas", que conta a vida do neurocirurgião Benjamin Carson, fiquei sabendo de outra história de vida belíssima, que realmente merece ser contada e conhecida por todos.
No filme, o astro Cuba Gooding, Jr. interpreta o Dr. Ben Carson, negro, de origem humilde, criado apenas pela dedicada mãe, que consegue superar vários obstáculos e tornar-se um médico respeitadíssimo em todo o mundo, sendo o primeiro a ter sucesso em certos procedimentos cirúrgicos de alto risco, chegando a salvar pacientes tidos até então como casos perdidos pela medicina em geral.
Além da capacidade profissional, chama a atenção também a humanidade, a humildade e a responsabilidade social do Dr. Carson, pessoa afável e de trato muito fácil, apesar da inteligência e talento prodigiosos.
Recomendo a todos que assistam a esse filme, ou leiam os livros do Dr. Ben Carson, pois são fontes de reflexão e sabedoria, dois itens tão escassos nos dias de comportamentos padronizados e mesmice que vivemos.
Em dois dias, dois exemplos de vida, cada qual no seu meio de atuação. Grandes pessoas. Gente com "G" maiúsculo!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Já vivemos o Big Brother de Orwell

A expressão Big Brother, atualmente tão pobremente difundida em todo o mundo, na verdade foi criada pelo escritor inglês George Orwell, em seu livro "1984", lançado em 1949.
Mal sabia Orwell, que sessenta anos após a publicação de sua obra prima, o termo seria usado de maneira tão vulgar, e para representar coisas que muito pouco, ou nada, têm a ver com a rica realidade fictícia criada por ele.
Ao ler "1984", logo percebemos a forte crítica social e política engendrada por Orwell. Antes da metade do século XX, o autor estava muito preocupado com os sistemas políticos totalitários e com todas as suas formas de controle dos cidadãos. Por isso, muito criativo e visionário que era, imaginou toda uma sociedade vivendo sob as ordens e o controle do Grande Irmão, que chegava a ter meios e mecanismos para descobrir até mesmo o que os cidadãos pensavam. Era impossível fugir ao campo de visão do Grande Irmão. E era essa, acredito, a principal sensação aterradora que Orwell queria passar em sua criação.
Hoje, no entanto, como já disse, a expressão de Orwell é sim muito conhecida em todo o planeta, mas, infelizmente, talvez pelos motivos errados e muito distantes daqueles pensados pelo escritor.
Big Brother se tornou uma franquia televisiva de reality show, cujos gosto e finalidade são completamente duvidosos e discutíveis.
De qualquer forma, atualmente, a expressão tem sido usada - aí sim com alguma familiaridade com a obra de Orwell - sempre que as pessoas se sentem vigiadas e constrangidas pelos moderníssimos sistemas de segurança implantados de diversas formas, em variados ambientes e situações da vida moderna.
Hoje, somos vigiados ostensivamente por câmeras de televisão, de trânsito, por CFTV's de empresas e instituições públicas, por rastreadores via satélite, por ligações que fazemos e recebemos no celular, pela maneira como nos relacionamos na Internet, etc.
Talvez seja por toda essa exposição e controle sob os quais todos estejamos forçados a viver, que a maioria das pessoas esteja se sentindo sempre à beira de se tornar instant celebrities.
Tenho notado que em certos casos, as mínimas aparições públicas dos anônimos já têm garantido a alguns (e algumas) o status de aspirantes à fama. Não que tenham algum talento ou virtude (exceto os avantajados atributos físicos, na maioria dos casos) para isso, mas apenas porque a exposição em todas as formas de mídia tem ficado cada vez mais banalizada e fácil.
Nesse ritmo, tem sido comum as pessoas ficarem conhecidas nacionalmente, e até universalmente, por ações simplórias, como comparecer a um velório, prestar depoimento em uma delegacia ou se envolver em episódios de violência e crime.
Começo a ter a impressão de que passou a ser importante apenas aparecer e se fazer notar, mesmo que pelos motivos errados e sem qualquer fundamento.
Já não há mais necessidade do talento inconteste ou do trabalho consistente para que uma pessoa seja respeitada, admirada e propalada na mídia. Hoje, basta estar com a roupa certa (pouca, claro!), na hora certa e no lugar certo, para que a imagem corra o mundo. Também serve a roupa errada e inapropriada, como blusas curtas e justas e minissaias, em situações antes tidas como sérias, como as de cunho policial ou judicial, por exemplo. Tudo vale para não perder o espocar dos flashes e a captura das imagens pelas lentes das inúmeras câmeras sempre a postos. Todos já vivemos num imenso Big Brother. Viva Orwell.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Homo Metidus"

Nestes tempos modernos, de amplas possibilidades de comunicação e muita superficialidade, tem sido muito frequente nos depararmos com pessoas que pelos mais variados e estapafúrdios motivos "se acham" mais e melhores que as outras.
Pessoas de ambos os sexos, pois neste caso, ao contrário do que preceitua a tão em voga e midiaticamente fomentada guerra dos sexos, ser homem ou mulher não faz muita diferença.
O homo metidus tem representantes em todas as categorias e grupos de pessoas, aparecendo até mesmo nos lugares mais inusitados e, a princípio, insuspeitos, como as igrejas, as escolas e os templos religiosos.
O espécime arrogante sempre coloca suas prerrogativas, credenciais e títulos antes do próprio nome. É um ser abjeto, que precisa de algum apoio externo para se garantir diante dos outros. Equivocadamente, o infeliz acredita e tem para si que é a última bolacha do pacote.
Não consigo entender por que cargas d'água, mas o homo metidus crê firmemente que a sua passagem por este planeta tem mais significado ou mais importância do que a dos outros reles mortais.
O HM entende que os melhores lugares, as melhores coisas e os melhores tratamentos devem estar reservados a ele e a todos aqueles que considere da sua mesma estirpe ou linhagem, seja lá o que isso possa significar.
Frequentemente, destrata ou tenta subjugar as pessoas e as classes socialmente menos favorecidas, impondo-se pela arrogância e pela pose de bem-sucedido.
Como falei, os HM podem aparecer em todos os lugares e circunstâncias, mas costumam ser mais prejudiciais à raça humana quando transitam em meios virtualmente mais relevantes, como na política, nas instâncias judiciais, na mídia ou nos conglomerados economicamente representativos.
Seria muito bom se os seres humanos interagissem baseando-se apenas em premissas maiores e mais dignas, mantendo apenas relações nas quais o respeito mútuo e a humildade fossem tidos como valores sempre presentes e marcantes. No entanto, neste mundo tão materialista, tão egoísta e de tanto culto à personalidade em que vivemos, muitos e muitos babacas se vêem no direito de "se acharem", pelos motivos mais torpes e idiotas, acima dos outros, ou, pelo menos, de alguns outros.
Apesar de ser um conceito humanamente tão simples, parece que é cada vez mais impossível fazê-los entender que todos, absolutamente todos nós, por mais preparados, belos, ricos e prestigiados que sejamos, do pó viemos, e ao pó voltaremos. Simples assim.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Twittando asneiras

Hoje em dia, qualquer pessoa pode expor ao Mundo seus pensamentos e ideias em até 140 caracteres. Para o caso das pessoas que realmente tem algo a dizer, o Twitter passa a ser uma considerável ferramenta de comunicação e interação. No entanto, percebo que o quantidade de baboseiras e asneiras "publicadas" na web é uma coisa alarmante. Como tudo na vida, o Twitter também precisaria ser usado com parcimônia e bom senso. Mas, claro, bom senso não é um artigo muito abundante na praça. Aliás, anda bastante escasso nos dias que correm. Nessa toada, segue o bombardeio de frases incompreensíveis e absurdos postados a esmo! É uma verdadeira saraivada de informações inúteis, diálogos "tronchos" e repetitivos. Piores ainda são os "retweets", quando o "twitteiro" não tem sequer condições de criar suas próprias besteiras, e se vale das "ideias" alheias - muitas vezes também já estapafúrdias na origem - para poluir a rede. Atenção: Por favor, não confundam "xaropices" com bom humor! Não sou nada contra as tiradas e sacadas bem-humoradas, até porque são provas incontestes de inteligência e perspicácia dos seus autores. Mas é lamentável que um meio de comunicação tão poderoso seja utilizado com tanta intensidade apenas para a propagação de "pensamentos vazios" e "informações" que não trazem nada de útil às pessoas em geral. Deveríamos, isso sim, lutar para que o Twitter fosse usado como instrumento de troca de ideias e informações dotadas de conteúdo útil, que servissem à conscientização e organização das pessoas em torno dos muitos temas relevantes em pauta hoje em dia. Tenho certeza, e vejo muitos casos em que pessoas utilizam essa ferramenta para discutir e falar sobre temas mais sérios. Contudo, essas discussões mais profícuas ficam relegadas ao segundo plano. Infelizmente, a grande maioria vê as ferramentas de interação virtual apenas como um canal para lançar ao mundo toda e qualquer bobagem que lhe passe pela cabeça. E o pior, se a pessoa que dispara a asneira na rede tem algum respaldo popular - é "artista" ou "celebridade instantânea" - aí sim é que obtém uma enormidade de respostas e comentários. Ou seja, a asneira é elevada à enésima potência, como se fosse algo importante e digno de atenção. Outro ponto espantoso é o número de seguidores que essas ditas celebridades alcançam no Twitter. Chovem puxa-sacos aos twitteiros renomados, ainda que postem apenas boçalidades, fofocas e coisas que não interessam efetivamente a ninguém. É tão comum nos depararmos com postagens que informam o horário em que a pessoa foi dormir. Ou então, aquilo que a pessoa comeu na hora do almoço. Ou ainda que passou horas no salão de beleza! Francamente, o mundo precisa de assuntos muito mais importantes sendo discutidos na rede do que a cor da cueca de qualquer zé-mané!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Precisa-se de homens-bomba

Enquanto uma parte menor da humanidade perde seu tempo dando valor desmedido ao próprio ego e a muitas coisas absolutamente desimportantes e fúteis, outra parte, essa bem maior, perde seu tempo nas degradantes condições dos transportes coletivos, dos hospitais públicos e das burocráticas e preguiçosas repartições, que deveriam prestar serviços aos cidadãos. Perdem também seu tempo nas vagarosas filas dos bancos, que fazem questão de andar bem lentas e desrespeitosas para aqueles que pouco têm. Aos que muito têm, os bancos reservam atendimentos preferenciais, com nomes pomposos, afrancesados, americanizados. Mas isso é para poucos. Apenas personalidades merecem tratamentos diferenciados e atenciosos. Personalidades com cifras de muitos zeros à direita em suas contas e aplicações. Não, não é necessário que as personalidades a que me refiro sejam pessoas honestas, decentes, corretas. Nada disso, basta às personalidades ter o poderio econômico. Só isso. Caráter, decência, respeito, são coisas que não valem mais nada atualmente. Hoje, não é mais importante ser um homem de bem. Hoje, o que vale é ser um homem de bens. A inércia é imensa. A pasmaceira é enorme. As pessoas sofrem absurdos cotidianos completamente caladas. Não reclamam, não protestam. Não se organizam para reivindicar os direitos mais básicos. Atribuem seus dramas à vontade de Deus. Será que Deus trataria de maneira tão desigual os seus filhos? Estamos chafurdando no caos. Estamos enterrados na lama, como sabiamente já disse Chico Science. Uma das últimas e poucas cabeças pensantes que realmente disse e mostrou a que veio. Pena ter nos deixado tão precocemente. De um lado, esnobismos, ostentações e demonstrações de poder daqueles que só se preocupam com isso na vida. De outro lado, a total falta de traquejo para a vida em sociedade e para o senso de justiça de enorme camada da nossa população. Aceitando todas as desgraças e mazelas como se fizessem parte da normalidade e da paisagem. Aceitando bovinamente que alguns têm e nasceram para ter, enquanto outros nasceram para sofrer e para ser explorados. Como se fosse aceitável admitirmos que existem cidadãos de diferentes classes, de diferentes castas. Que só por um punhado de ouro, alguns possam se sobrepor aos outros, impondo a estes a sua vontade. Precisamos urgentemente de homens-bomba, que venham explodir com essas convenções tão arraigadas, que venham sacudir esse status quo tão viciado, que venham exigir a sua parcela de dignidade e respeito. Precisamos de homens-bomba pensantes, que questionem as unanimidades burras. Que ousem propor outros caminhos. Que ousem perguntar: Por que é que tem que ser necessariamente assim e não de outro jeito? Precisamos de homens-bomba que detonem os preconceitos dos bem-nascidos, arrebentem com a empáfia e a arrogância daqueles que se sentem, por qualquer motivo, mais merecedores de respeito e homenagens que os outros mortais. Precisamos urgentemente de homens-bomba que dinamitem todas as atrocidades cometidas pelos homens contra os próprios homens. Precisamos de homens-bomba que acendam o estopim da arrancada para uma nova forma de viver, mais fraterna, mais solidária, enfim, mais humana.

Obs.: Post inspirado no poema-protesto homônimo, de Sandra Lacerda, que teve a ideia de propor a ação de homens-bomba do bem contra toda a inércia atual da nossa sociedade. Em uma situação prática e cotidiana, numa estação de metrô lotada, ela viveu o desprazer de sentir na pele o descaso com que o povo é tratado. E, pior, constatar que nenhum dos presentes ao menos cogitava em protestar, questionar ou se perguntar por que aquela situação estava acontecendo.

sábado, 27 de março de 2010

Sobre cachorros e gente (O que é politicamente correto?)

Nestes tempos, vivemos a ditadura do politicamente correto. Particularmente, tenho uma opinião bem formada a respeito. Considero que todos devemos ser exemplar e completamente politicamente corretos nas questões de cidadania, relações humanas, política, respeito ao próximo e solidariedade.
Para mim, ser politicamente correto significa fazer parte da sociedade de maneira cidadã e engajada. Lutar pela melhoria dos aspectos coletivos de nossas vidas e, principalmente, ter atitudes que nos levem, todos, a viver melhor e mais humanamente.
Gosto de ser politicamente correto ao respeitar a ordem de uma fila, bem como fazer com que os outros a respeitem. Gostaria muito de viver numa sociedade - e tento fazer a minha parte para isso - em que as pessoas não se maltratassem tanto, ou até se matassem, por pequenas questões idiotas de trânsito, que não levam a nada de melhor para ninguém e são recheadas dos mais baixos níveis de prepotência, ignorância e violência a que o homem pode descer.
Acho imprescindível que conseguíssemos evoluir para um um nível de convivência social em que fosse regra, e não exceção com é hoje, que os cidadãos se respeitassem mutuamente, bem como fossem respeitados pela classe política e pelos detentores do poder econômico.
O que vemos hoje em dia é o completo desrespeito e descaso entre a maioria da sociedade dita organizada brasileira.
Haja descaso nos atendimentos ao cidadão, seja em hospitais, escolas, repartições públicas e serviços essenciais prestados por concessionários dos governos, entre outros. Haja descaso nas relações comerciais, que todos temos que fazer para a manutenção de nossas vidas cotidianas. Haja descaso da grande maioria dos representantes do povo para com o próprio povo que os elegeu. E haja, em todos esses meios, relações deturpadas, promíscuas e corruptas, que, em última instância, só geram danos e lesões ao cidadão comum, que é prejudicado e fica praticamente indefeso na maioria dessas situações.
Penso que, para diminuirmos tantos atos e comportamentos politicamente incorretos e daninhos ao povo, esse próprio povo, do qual fazemos parte, precisaria dar a sua contribuição, agindo corretamente, e exigindo que todos o fizessem, nas situações comuns, que todos vivemos nos nossos dias. Todas as mazelas e desrespeitos que sofremos e vemos os outros sofrerem são oriundos do próprio seio da nossa sociedade. Não dá para achar que só os outros são errados e que o mundo é assim mesmo. Todos nós somos errados quando desrespeitamos os espaços reservados aos idosos e aos deficientes físicos. Quando paramos o carro sobre uma faixa de pedestres. Quando damos um jeitinho de burlar uma fila e levar vantagem. Aliás, vantagem é o que a maioria gosta de levar em cima dos outros. Como já dizia o velho Gerson: "O importante é levar vantagem, certo?"
Acho que só vamos sair desse poço, quando todos nós conseguirmos levar vantagem juntos. Mas uma espécie de vantagem benéfica, democrática, que contemple a todos os cidadãos brasileiros. Não apenas às minorias oportunistas.
Falei tudo isso, para tentar esclarecer que há também um tipo de pensamento politicamente correto xiita com o qual não concordo. Um estado de espírito politicamente correto muito chato, defendido principalmente por aqueles que, no meu entender, exageram em certas questões, chegando ao ponto de, em muitos casos, considerar um ser humano menos relevante do que um cachorro ou uma árvore.
Não são poucos os cidadãos, de classe média principalmente, que incorrem em muitas das atitudes anti-cidadãs acima expostas, mas que, de forma ultra aguerrida, se arvoram a paladinos da defesa dos animais e da natureza, passando por cima, às vezes, até das necessidades e da vida de outros seres humanos.
Eu penso sim que todos os animais, plantas e recursos naturais merecem respeito e tratamento digno. Contudo, ainda acho que, no limite, mais vale a vida e os interesses de uma pessoa do que os de um animal ou uma árvore.
No local em que trabalho, recentemente, um bom e prestativo vigia foi altamente repreendido e criticado por pesquisadores e alunos de pós-graduação, por ter tido que, no exercício de suas atribuições, dar um "chega pra lá" num cachorro que queria entrar no prédio em que fazia a vigilância, um local de pesquisas e aulas. O cachorro insistente avançava no vigilante e se mostrava feroz. Ele precisou se desvencilhar do cão com um leve chute. Atitude que lhe custou muitos aborrecimentos e cobranças, pois pessoas "muito bem preparadas intelectualmente", que assistiram a cena, se arrogaram no direito de tomar satisfações do vigia.
O que essas pessoas queriam que o rapaz fizesse? Que se deixasse morder pelo cão? Que deixasse o cachorro perambular livremente pelo prédio?
Achei esse um caso prático da atual inversão total de valores. Não concebo alguém prestigiar um cachorro em detrimento de um humilde trabalhador no cumprimento da sua função.
E tanto o vigia estava certo, que no dia seguinte, um desses cachorros que circulam naquela área avançou num professor e o mordeu.
Entendo que devemos valorizar e prestigiar as pessoas de bem sempre.
Estou farto de pessoas ditas politicamente corretas, que se preocupam extremamente com a destinação dos resíduos e com a proteção de plantas e animais, mas não parecem dar a mínima para a melhoria das condições de vida de enorme parcela da nossa sociedade, que vive excluída de tudo. Acho que ecologicamente corretíssimo seria, primeiramente, tratarmos de dar condições dignas de vida e educação a todas as pessoas, pois isso fatalmente também traria no seu bojo uma ampla e sensível melhoria na relação dos homens com o meio ambiente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Reumanize-se

Depois de andar meio cansado, principalmente das "pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas", estou de volta em doses homeopáticas. Agradeço demais aos amigos que deram força para que eu pudesse retomar a caminhada.

Tem horas que a gente se cansa mesmo de "tanta babaquice, de tanta caretice e dessa eterna falta do que falar", mas, "vamos pedir piedade, senhor piedade, pra essa gente careta e covarde. Deus lhes dê grandeza e um pouco de coragem".
Não sei porque, mas hoje acordei tendo o Cazuza como porta-voz. É óbvio que é porque ele sempre falou aquilo que muitos queriam falar, mas nunca tiveram coragem. Inclusive eu.

Mas, tenho certeza, se Cazuza estivesse vivo hoje, estaria certamente ainda mais revoltado com os rumos que tem tomado a nossa querida humanidade. Ele sempre foi muito contrário à hipocrisia e à falta de autenticidade no ser humano e, atualmente, isso é o que mais presenciamos no nosso cotidiano. Está certo que o ser humano sempre destilou suas doses de veneno, bem como agiu, muitas vezes, de maneira canalha e egoísta, mas, agora, isso tem sido muito recorrente, quase regra.

Enganar, trapacear, enrolar e mentir para se dar bem em cima dos outros têm sido práticas corriqueiras (e tidas por muitos como válidas!) em nossa sociedade de ultra-consumo.

Estamos modernos demais em alguns aspectos de nossa vidas, mas estamos regredindo aos períodos pré-históricos em outros. Temos colocado muitas coisas e interesses acima do próprio ser humano. E acho isso lamentável. Reumanizemo-nos urgentemente!
Precisamos passar a ter novamente (se é que já o tivemos) o ser humano como ponto central em todas as esferas de nossas vidas.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Capital X Cidadania

Estava eu fazendo a minha corrida matinal de domingo no famoso elevado paulistano conhecido como Minhocão, quando me deparei com mais uma situação diferente.
Antes de narrar os fatos, é preciso lembrar que o citado elevado é célebre por ter sido construído pelo então prefeito Paulo Maluf. É uma obra horrenda, que passa sobre importantes avenidas centrais, ficando no nível dos primeiros andares dos prédios daquelas vias. Ou seja, são 2,5 Km em que as pessoas abrem as janelas e podem apreciar aquele mar de veículos desfilando ininterruptamente à sua frente, bem como respirar aquele ar "saudável" que o pesado tráfego proporciona.
Essa construção já foi objeto de muita polêmica, principalmente nas vésperas das eleições, no entanto, nunca melhoraram nada no local. Já falaram em revitalização, em reurbanização e até em demolição do monstrengo, mas sempre foram apenas palavras.
No entanto, a única utilidade razoável daquela via pública se dá nos domingos e feriados, quando é fechada ao trânsito de veículos e funciona como um improvisado espaço de lazer. Daí as minhas corridas e caminhadas por lá.
Apesar de ser muito frequentado nesses dias, o Minhocão jamais contou com qualquer infraestrutura maior, ou serviços da prefeitura, no sentido de torná-lo mais humano e receptivo para os pedestres e usuários. Apenas uma viatura da PM circula pelo local, quando muito.
Mas, voltando à vaca fria, corria eu nesse domingo, quando avistei uma equipe de filmagem, cujos seguranças, munidos de HT´s, "pediam delicadamente" que nós passássemos para a outra via. Logo vi o motivo: Estavam gravando mais um comercial de automóvel. Dessa vez era um carro de alto luxo, de uma montadora japonesa.
O problema é que o carro utilizava uma das pistas para andar em alta velocidade, e eles não conseguiam sinalizar todo o trajeto do local. Em outras palavras, a situação gerava risco às crianças, aos transeuntes, enfim, a todos os que pretendiam curtir um espaço teoricamente sem a presença de carros, muito menos correndo e manobrando daquela maneira.
Mais uma vez, como em tantas outras, o povo vê o suposto espaço público tomado pelos interesses econômicos de grupos privados, sem sequer ser consultado a respeito. Além de sermos tratados pelos gorilas da segurança como intrusos. A população é vista como intrusa até num dos poucos espaços públicos que supostamente estaria livre do trânsito e disponível para algumas formas de lazer mais pertinentes às pessoas simples e trabalhadoras, que têm no domingo talvez o único dia de folga.
Ao perguntarmos à equipe de filmagem sobre aquela interrupção, fomos informados de que eles têm autorização da prefeitura para utilizar o espaço. Se assim é, a prefeitura deveria dar maior respaldo para que as coisas não caminhassem ao bel prazer dos produtores do comercial.
Além disso, suponho que a prefeitura cobre a devida taxa pela utilização de espaço público. Nada mais justo de que as taxas cobradas por tais eventos naquele local (Que não são poucos, diga-se) fossem ao menos em parte revertidas em benefício da população local, humanizando um pouco o esquisito Minhocão.
Se tão árido ele já merece tanta atenção das pessoas, imaginem se fossem disponibilizados banheiros químicos, serviços de saúde, monitores e orientadores para atividades físicas, música ambiente propícia à prática de esportes, etc...
Infelizmente, a cidadania tem cada vez mais sucumbido aos interesses maiores, que geralmente não trazem nada de positivo à população. Neste caso específico, os únicos que ganharam com aquelas gravações foram a equipe de produção, a montadora e as revendedoras daquele possante veículo de luxo, que nunca vai fazer parte da vida de uma pessoa comum.
O poderio econômico sempre solapa qualquer manifestação ou anseio popular. Apenas fazendo um paralelo, acho absurdo no Carnaval, principalmente em Salvador - mas também no resto do Brasil, nas famigeradas micaretas - as vias públicas serem loteadas por trios elétricos e "artistas de sucesso" para turistas endinheirados e desocupados, em total detrimento da população local, que em muitas vezes é tratada como totalmente marginal e nada bem-vinda aos locais dessa presepada.
Mais uma vez é tirado o direito de ir e vir em vias públicas do cidadão local, apenas porque ele não pode comprar o caríssimo abadá da "festa".
Já é passada a hora de que tais situações passem a reverter em benefícios práticos às populações locais. Alguma compensação os senhores do Capital devem dar ao povo tão usurpado em seus direitos.
Voltando do Minhocão, vi um rapaz grafitando uma bela obra na Rua da Consolação. A cena compensou um pouco a minha inquietação anterior.
E já que o assunto é Cidadania e sua usurpação pelos donos do poder, aproveito o ensejo para fazer minha homenagem aos grafiteiros (não aos pichadores grotescos) e às suas obras e mensagens, que felizmente têm se tornado cada vez mais frequentes em nossas vias públicas. São um verdadeiro oásis de inteligência, bom humor e sagacidade em meio a um mar de mesmice, propagandas e veículos engarrafados.
Pretendo, e já faz tempo, fazer um post somente sobre os grafiteiros e suas obras, mas ainda não recolhi material suficiente. Longa vida ao grafite como forma de conscientização e questionamento sociais. A foto que ilustra esse post é de um grafite que foi feito por esses dias. Mais verdadeiro, impossível. Alguém, de alguma forma, tem de falar a verdade.

PS: Não conheço o autor desse grafite, mas terei o maior prazer de dar os créditos, caso receba essa informação.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Massification Society

Não sei se vocês perceberam, mas estamos vivendo num mundo em que as pessoas fazem quase tudo sempre igual e ao mesmo tempo.

Como miquinhos amestrados, estamos sendo, todos, orquestrados por poderosos grupos econômicos, empresas, meios de comunicações e detentores das mais modernas tecnologias.
Apesar de nos acharmos tão livres, leves e soltos, estamos, isto sim, sendo o tempo todo compelidos a agirmos desta ou daquela maneira, a usarmos esta ou aquela grife, a comprarmos este ou aquele carro, a assistirmos este ou aquele filme, a ouvirmos esta ou aquela música...

Os comportamentos têm cada vez mais sido ditados pela televisão e pela internet. As poderosas redes televisivas dão a pauta de como a sociedade vai se comportar naquele período.

Pensem um pouco sobre o cronograma de vida e atividades que nos impõem durante o ano:

Em janeiro, ao mesmo tempo que falam em férias escolares, dando sugestões de onde ocupar os pimpolhos, falam também sobre IPVA, IPTU e material escolar. Sempre a mesma lenga-lenga.

Depois vem o Carnaval, e só se fala nesse assunto, diuturnamente. Mostram inúmeros carros descendo para o litoral, porque ficou estabelecido, sabe Deus por quem, que Carnaval é para ser curtido na praia. Desfiles, fofocas sobre as rainhas de bateria e suas infantilidades. Quantos mililitros de silicone as musas colocaram. Quanto malharam. Com quem estão namorando. Haja saco. A música então, só samba-enredo de manhã até a noite. Um porrilhão de surdos e cuícas massacrando diretamente os nossos pobres tímpanos.

Após o Carnaval, o assunto passa a ser o início das aulas e o aumento do trânsito já caótico, devido às mamães que insistem em parar em fila dupla na frente dos colégios dos rebentos.
Fala-se também dos trotes aplicados aos calouros nas faculdades e das eventuais atrocidades que essa prática costuma trazer todos os anos.

Abril, mês da Semana Santa. E a mídia já começa a insuflar a população para as viagens ao interior. Assim como o Carnaval tem que ser curtido na praia, a Semana Santa deve ser aproveitada no interior. É outra regra que assola o nosso inconsciente coletivo.
Por que o cara não pode curtir o Carnaval no campo ou na montanha e a Semana Santa na praia? Onde está escrito que essa norma não pode ser subvertida? Eu, particularmente, todas as vezes em que inverti os roteiros pré-programados pela massificação onipresente, me dei extremamente bem, ficando em lugares tranquilos e menos badalados.

E assim passa o ano: Dias das mães, férias de julho, dias dos pais, dias das crianças... e, finalmente, o auge da mesmice e do comportamento clônico: Natal e Ano Novo. Aí é que o caldo entorna de vez. Graças a Deus, passamos por esse período recentemente e vai demorar um pouco para chegar novamente.

Aí sim, a micaiada amestrada se lambuza de tanto fazer a mesma coisa junta e igual, exatamente ao mesmo tempo.

Todo mundo se fodendo junto nos centros de compras, sejam shoppings chiquérrimos e metidos à besta, ou os centros populares de varejo, como a 25 de Março em São Paulo, ou o Sahara no Rio de Janeiro.

A desinteligência coletiva é tanta, que todo o ano, passado o Natal, as lojas ficam às moscas, com liquidações de até 70% de desconto. Mas isso, só alguns poucos pensantes e autênticos conseguem vislumbrar e aproveitar. Para eles, tiro o meu chapéu.

E também, e principalmente, nesse período, a ditadura comportamental assola a todos.
O Natal DEVE ser passado em família, em volta do peru e próximo à árvore de Natal.
O Ano Novo DEVE ser passado na praia, de branco, pulando sete ondinhas e comendo romã. Claro que depois de suportar as 10 horas de tráfego pesado e engarrafamento, para só então poder pisar na areia suja e contaminada.

Não sou contra a alegria, contra as viagens e muito menos contra as deliciosas reuniões familiares. Não sou contra dar presentes a quem amamos ou admiramos. Muito pelo contrário.
Sou contra, isso sim, o fato de sermos impingidos a fazer isso sempre que o patrão mandar.

Não sou contra a música. Por sinal, adoro música. Mas precisa ser a música que eu escolhi para curtir. Não aquela que toca à exaustão nas rádios e na TV.

Curto tudo que há de bom na vida, mas deve ser tudo aquilo que represente algo de bom para mim, para minha família e para a sociedade em geral. Não o que nos empurram goela abaixo durante o ano todo.

Acho que só a educação séria e comprometida das nossas crianças pode fazer com que, no futuro, passemos a ter mais cidadãos pensantes, atuantes e questionadores. Que não engulam, sem avaliar ou cogitar, todo o lixo e todas as regras de comportamento que nos são delicada e discretamente impostas.


Créditos:
A imagem de Homer Simpson, que ilustra este post, foi retirada do blog The Gong Show.
Pesquisando imagens sobre mesmice, me deparei com o blog Humor em textos, de Paulo Tamburro, cujo post muitíssimo bem humorado sobre este tema pode ser lido aqui.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cabeça em manutenção

Próximo dos 45.000 Km de rodagem, resolvi levar meu cérebro e meu coração para a revisão periódica. A última foi feita com 35.000 Km.
É o momento de reavaliar conceitos, opiniões, pontos de vista. Guardar o que presta e jogar fora aquilo que não serve mais.
Preciso lubrificar os neurônios, balancear os sentimentos, alinhar o coração.
Afinal de contas, antes da longa viagem de 2010, é preciso estar com o check-up em dia.
A única peça que parece intacta é o odômetro da contramão. Esse parece que ainda vai continuar muito operante após a revisão.
Recentemente, li em um blog amigo que não entendiam o que poderia significar "Altavolt na Contramão". Fiquei preocupado. Acho que estou sendo menos claro do que sempre pretendi.
E isso "estartou" o processo de aferição de parâmetros. Tudo que eu sempre pretendi foi ser claro nos meus conceitos e ideias. Se não me entendem mais, é hora de baixar oficina.
Em breve, voltarei zerado.

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