quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia mundial sem hipocrisia

Caríssimos, logo em seguida ao dia mundial sem carro, queria lançar aqui mais uma campanha de conscientização, que também, tal qual aquela, já está fadada ao insucesso, visto tratar-se de tema espinhoso, de baixíssima receptividade por parte das pessoas em geral. Seria o dia mundial sem hipocrisia.
A ideia consiste, similarmente ao caso do automóvel, em que, pelo menos nessa data, as pessoas saíssem de casa desarmadas da hipocrisia. Deixariam a hipocrisia dormindo até mais tarde, brincando com com os bichinhos de estimação e regando as plantas. E olha que não faltariam tarefas para a Sra. Hipocrisia, e todas elas muito mais úteis do que ficar por aí bajulando algumas pessoas, enrolando outras, distorcendo assuntos, tapando o sol com a peneira, fingindo não ver o que se passa de errado e desagradável no seu entorno, entre tantas outras tarefas ingratas desempenhadas com maestria por essa dama sem vergonha e sem caráter.
No dia mundial sem hipocrisia, as pessoas estariam livres para falar o que realmente pensam, para admirar quem realmente admiram e para ignorar todos aqueles dos quais se aproximam apenas por interesses profissionais, pessoais ou econômicos. Seria também interessante encontrar uma fórmula química que possibilitasse a todos a amnésia total dos fatos no dia seguinte, para que não houvesse retaliações, muxoxos e reclamações pelos atos praticados no dia da verdade e da sinceridade absolutas. Nesse dia, haveria uma trégua ampla total e irrestrita em relação à falsidade, à enganação e à mentira. Todos finalmente estariam livres para dizer a completa verdade e tomar as atitudes justas e necessárias nas suas respectivas áreas de atuação.
Alguns talvez sucumbissem nessa data, uma vez que não receberiam rapapés, nem seriam tratados com os salamaleques habituais por parte dos seus séquitos de empregados, subordinados e agregados. Talvez a verdade, mesmo que num único dia, fosse uma dose elevadamente cavalar para pessoas acostumadas à contínua e ininterrupta puxação de saco.
Os bajuladores, esses teriam um dia de folga do seu pesado fardo de passar os anos vivendo apenas e tão somente para o atendimento de necessidades e vontades alheias e distantes das suas. Talvez vivessem um pouquinho das suas próprias vidas nesse dia.
Quanto à maioria dos políticos, para estes talvez fosse melhor nem sair de casa nessa data especial, uma vez que quase se metamorfoseiam na própria hipocrisia, chegando, em alguns momentos, a serem o retrato mais fiel e acabado dela.
Seria um dia de liberdade, no qual não precisaríamos gastar nosso estoque de risos forçados e falsas expressões de amabilidade, mas em que, por outro lado, estariam totalmente liberados os sorrisos espontâneos e gratuitos e as conversas francas e desarmadas, que nada esperam em troca a não ser a amizade e a compreensão do interlocutor.
Sei, como já afirmei, que esta iniciativa não logrará êxito, pois, como no dia mundial sem carro, em que pouquíssimos deixam os véiculos em casa, a esmagadora maioria das pessoas jamais iria sair para a rua desprovida de seus cartuchos de hipocrisia, que passaram a ser tão indispensáveis na torta forma de convivência largamente adotada nessa estranha sociedade moderna em que vivemos.
Assim como o CO2 liberado pelos automóveis aumenta o buraco na camada de ozônio, as altas doses de hipocrisia liberadas nas relações humanas diárias contribuem fortemente para o vertiginoso aumento dos vazios existenciais em nossas almas. Veneno puro.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Tv brasileira: Sessenta anos promovendo o sorvetão na testa do povo!

Neste ano de 2010, a tv brasileira está em festa. Comemora sessenta anos da sua primeira transmissão. Homenagens, eventos e rasgações de seda não faltarão nesse momento. Contudo, talvez fosse a hora de pensarmos também nos grandes estragos e desserviços que essa televisão sessentona tem prestado à nação brasileira. São anos e anos de programação discutível e apelativa, nos quais em muito poucos casos, passíveis de serem contados nos dedos das mãos, mostrou produções inteligentes e inovadoras. E tais produções, quando existem, são veiculadas em horários absurdos ou então nos canais à cabo. Para o famigerado horário nobre sobram apenas os sofríveis programas de sempre, nos mesmos formatos, que praticamente são agressões à inteligência do homem mediano. Abusam dos bíceps, bundas e peitos siliconados, como se só isso importasse para garantir a tão disputada e cobiçada audiência.
São pegadinhas e videocassetadas, ridículas e surradas, sendo repetidas há mais de vinte anos. E haja merchan de patrocinadores para tais barbaridades! As empresas deveriam se envergonhar de fomentar tais imbecilidades coletivas. Queiramos ou não, nosso povo é e sempre foi muito influenciado pelo que assiste na tv, e, infelizmente, nossas crianças e jovens (muitos hoje já são sessentões também) sempre foram bombardeados por programas sem nenhuma noção. Daí o nosso povo, que conta com ensino público lamentável, ter se tornado em sua maioria, completamente incapacitado para uma forma salutar de convívio em sociedade.
Nesse triste contexto, sempre defendi que a televisão tivesse que obrigatoriamente ter uma programação ( E uma função social) que contribuísse para a diminuição desse enorme buraco que existe na formação da maioria dos brasileiros.
A tv tem um alcance muito grande e poderia, se nossas classes política e empresarial quisessem, levar informação e conscientização ao nosso povo, que nunca foi burro, mas é tratado pela tv, entre outras instâncias, como uma manada de completos idiotas.
Imaginem, só a título de exemplo, quanta gente no Brasil foi mal influenciada, durante anos a fio, pelo alfabeto do X, que só contribuiu para fazer com que milhões de crianças desaprendessem o pouco que talvez tivessem aprendido na escola.
Vida de gado (Como já cantou Zé Ramalho em outros tempos), é essa a vida que o nosso povo leva.
Seguindo bovinamente apenas o que é ditado e pautado pelos senhores da televisão, sem jamais ter condições de pensar por si só e questionar tudo aquilo que está fora da ordem (E como tem coisa fora da ordem, como diria Caetano!). A televisão nos deixou, sim, muito burros demais (Dá-lhe Titãs!) !
Rendo aqui as minhas homenagens à essa senhora sexagenária, que tantos sorvetões tem nos ajudado a esfregar em nossas próprias testas ao longo dessas décadas!!!
E tudo isso poderia ser tão diferente. Bastaria boa vontade.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre a imbecilidade e a falsidade humanas

Incautos e desbravadores leitores: Este é um post "dois em um". Primeiro vem as patadas, para desopilar o fígado combalido deste que vos fala. Depois, vêm algumas breves dicas musicais, para dar alento a todos vocês.

Que a maioria das pessoas representa papéis sociais a maior parte do tempo, qualquer um com apenas dois neurônios pode observar.
É claro que devemos todos ter um mínimo de civilidade e nos comportarmos adequadamente, de acordo com a situação e o ambiente em que nos encontremos. Se não, seria a barbárie.
Contudo, noto que muitas pessoas têm colocado a hipocrisia e a falsidade em patamares estarrecedores. Atingiram um nível em que representam o tempo todo, adotam personas e procuram engabelar a todos aqueles com os quais convivem.
Além disso, ainda me choca, por mais que eu tenha vivido, a capacidade que muitos têm de apenas enrolar e empurrar as coisas com a barriga, não produzindo nada concreto ou palpável, mas vendendo uma imagem de super, hiper, ultra, mega competente e atualizado.
São pessoas que não são, apenas fingem que são. E os seus interlocutores - alguns também da mesma linha de pensamento - fingem concordar com tudo e também adotam posturas tolerantes e "políticas" (No mau sentido da palavra).
Ou seja, passam a viver num mundo de Poliana. Onde tudo parece cor-de-rosa. Um verdadeiro país das maravilhas. Tapam o sol com a peneira. E, acima de tudo, detestam aqueles que falam a verdade e tentam esclarecer os fatos e mostrar as coisas tal como são verdadeiramente. Estes são tidos como chatos, desagradáveis, inoportunos e passíveis de afastamento das hipócritas rodas dos que vivem de bajulações e rapapés improdutivos e infrutíferos.
Sei que muitos pensam que o mundo é assim mesmo e não vai mudar nunca. E, no fundo, até concordo. Mas não consigo deixar de achar profundamente lamentável que a verdade, a clareza de pensamentos e a transparência sejam tidas como coisas idiotas e repugnantes por um número cada vez maior de pessoas.
Será que as pessoas, ou a maioria delas, estão vindo equipadas apenas com o Tico e o Teco? Será que com tantas possibilidades tecnológicas, passaram a achar que não é mais necessário pensar, analisar e achar respostas para os problemas e para todas as questões que nos cercam e afligem ou deveriam afligir? Será que a moda agora é viver em constante e infindável estado de inércia e letargia? Será que o certo é deixar o barco correr e puxar o saco daqueles que porventura estejam numa posição "superior" na hierarquia social? Será que nascemos e vivemos anos apenas para isso? Será que o correto é engolir tudo aquilo que a grande mídia nos empurra goela baixo e aceitar como verdade incontestável e acabada?
Ainda me recuso a aceitar esse estado de coisas. Sinto que cada vez mais a dócil e servil imbecilidade grassa na nossa moderna sociedade. Todos bovinamente seguindo os supostos líderes e vivendo nessa realidade cada vez mais hipócrita e nada producente em termos de reais melhorias e avanços humanos.

Para contrabalançar a aridez e a dureza do post acima, e para poder acreditar que o mundo ainda tem jeito, dou duas dicas culturais:

1) Ouçam o CD "Música de Brinquedo", do Pato Fu. É uma mostra concreta e audível de que a criatividade e o talento humanos, quando bem aplicados, podem muito contra todas as babaquices e mesmices da vida. É simples e belo. E, acreditem, é muito difícil ser simples.




2) Ouçam o sábio Raul Seixas. Estive ouvindo o CD "Há dez mil anos atrás", de 1976, e é mais atual, sincero e verdadeiro do que quase tudo que há por aí no mundo da música. Uma verdadeira ode anti-hipocrisia.

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