segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um cidadão X vivendo neste Mundo Y

Os tempos seguem cada vez mais céleres, mais automatizados, mais conectados e cada vez menos presenciais, menos afetivos e menos humanos.

Hoje, para tudo há padrão. Padrão de roupa, padrão de cabelo, padrão estético, padrão de automóveis, etc. O mercado, a propaganda e as poderosas empresas envidam um esforço orquestrado e programado para padronizar uma série de bens, comportamentos e aspectos visuais da aparência, alçando-os, para o incauto público, à condição de coisas mais importantes da vida moderna.

Alia-se a agilidade da informação “sem fricção” com as ações maciças e coordenadas de marketing, tentando transformar o Mundo em uma coisa só. Seja em que local do Globo for, as pessoas acabam tendo os mesmos sonhos de consumo e as mesmas tendências de comportamento.

Não está sobrando tempo ou espaço para a autenticidade regional. Todos estão caminhando, quase sem pensar, para as mesmas práticas e os mesmos padrões comportamentais. Aliás, parece que está ficando cada vez mais deselegante questionar, ou ter opinião diferente sobre qualquer coisa na sociedade moderna globalizada. Há padrões veladamente impostos como certos, que precisam ser seguidos, sob pena, para os eventuais rebeldes, de ficar de fora daquilo que se convencionou entender na sociedade como padrão aceitável de postura, seja física, seja psíquica. São esses padrões comportamentais empresariais impostos goela abaixo dos funcionários, que dão origem às muitas aberrações no relacionamento empresa/cliente, como, por exemplo, o abusivo e onipresente uso do gerundismo pelos robotizados e mal preparados atendentes de Call Center das grandes e modernas empresas. Às vezes, temos a impressão de que os funcionários modernos, por ordem das suas chefias, precisam apenas estar nos seus postos de trabalho uniformizados e bem alinhados, sem a necessidade de realmente prestar um serviço de qualidade aos seus clientes. Basta apenas parecer bonitinho e eficiente, não importando que na realidade seja ordinário e ineficaz. Em muitos casos substitui-se completamente - a meu ver, não sem muitos prejuízos - a eficiência e a capacidade profissional de uma pessoa pela aparência padronizada e asséptica de outro funcionário.

As novas tecnologias podem trazer realmente muitas coisas boas a todos nós. Porém, todas as facilidades tecnológicas de nada adiantarão se, paralelamente a elas, não houver um investimento maior no crescimento das pessoas como seres humanos e cidadãos. Por maior que seja a evolução, entendo que jamais poderemos prescindir de um toque de humanidade em nossas relações, sejam elas de que natureza forem. Nada substitui um cumprimento cordial, um sorriso, uma postura de real interesse naquilo que a outra pessoa (cliente/cidadão/contribuinte) esteja querendo, precisando ou perguntando.

Essa desumanização da vida real cotidiana vem crescendo a olhos vistos. Principalmente nos grandes centros urbanos, não há mais espaço para práticas corteses e interação interpessoal. As pessoas andam pelas ruas e lugares públicos como autômatos, sem qualquer atenção ou respeito para com todos aqueles que circunstancialmente estejam por perto. Parece que tacitamente se convencionou que, atualmente, para haver interação entre humanos, ela precisa necessariamente acontecer de maneira virtual, por vias eletrônicas. Parece que não é mais cabível, em áreas e espaços públicos, haver entrosamento espontâneo e físico, olho no olho, tête-à-tête, com palavras cordiais entre duas ou mais pessoas. As pessoas estão “conectadas e ocupadas” demais para perder tempo com os cidadãos que perambulam ao seu lado. Sem contar que a vida anda muito perigosa, e é melhor não falar pessoalmente com estranhos, só pela Internet.

Observo pelas ruas, que está sendo cada vez mais comum as pessoas se esbarrarem ou trombarem, sem que haja qualquer pedido de desculpa ou iniciativa elegante de qualquer uma delas. Simplesmente se chocam ou quase se chocam, sem que uma olhe diretamente para outra ou lhe dirija a palavra.

Talvez eu esteja errado, e tudo aquilo que escrevi acima sejam apenas lamentações de um homem datado como pertencente à geração X, que viveu ¾ da sua vida no século XX, e que não consegue se adaptar às novas tendências e maneiras de viver deste século XXI, completamente dominado e gerido pela geração Y e subsequentes. Talvez eu esteja errado ou nostálgico demais. Sonhando em viver numa sociedade mais humana e solidária em tempos tão frios e de relações tão estranhas e distantes. Talvez não haja mais tempo e espaço para se ter respeito e preocupação com o próximo, e sim apenas para com o nosso próprio umbigo e com os nossos bens materiais de última geração. Os parâmetros de felicidade parecem ter mudado muito neste Mundo. Fui eu quem não mudou e ficou para trás, atropelado por essa forma de modernidade que nunca desejei.

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