quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Quociente emocional

Já há alguns anos, existe uma idéia altamente propagandeada em todos os meios de comunicação: A existência do Q.E. – Quociente emocional. Tal quociente representaria o nível de inteligência emocional de uma pessoa e seria uma espécie de contraponto ou complemento ao famoso Q.I. – Quociente de inteligência. Desta forma, da mesma maneira como o Q.I. dimensiona a inteligência do indivíduo, o Q.E. representaria o modo como este mesmo indivíduo se relacionaria com os seus semelhantes, principalmente nos ambientes de trabalho e nas carreiras profissionais, visando à ascensão pessoal, economicamente falando. Nada contra esse novo método de aferir tal aspecto da inteligência, mas, se estudarmos melhor o Q.E., chegaremos à conclusão de que esse quociente apenas mede a capacidade que um indivíduo teria de engolir sapos e puxar desbragadamente os sacos de todos aqueles que, de alguma forma, podem propiciar ou ajudar na sua ascensão pessoal. De acordo com tais estudos, não bastaria aos indivíduos serem bem preparados ou competentes nas suas áreas de atuação. Seria tão ou mais importante que o profissional soubesse relacionar-se com os seus semelhantes, principalmente, ou somente, com os semelhantes que se encontram acima na escala social. Afirmo isso, pois, infelizmente, não vejo em tais estudos nada que aponte para a importância de tratarmos bem a todas as outras pessoas, indistintamente. Essa teoria aponta apenas para a enorme necessidade que os seres humanos têm de praticamente se anularem para poderem agradar em todos os sentidos àqueles que, de alguma forma, detém alguma ascendência financeira ou profissional sobre eles.
Ou seja, em outras palavras essa teoria nos ensina, para que sejamos emocionalmente inteligentes no mundo globalizado, a engolirmos e digerirmos todos os sapos oferecidos pelos nossos superiores, seja profissionalmente, seja economicamente falando.
O tal Q.E., com toda a sua pompa e importância, nada mais é do que se aplicar o puxa-saquismo no seu mais alto grau e deixar de lado a sua própria personalidade. O inteligente emocional é aquele que se anula, deixa de ter ou manifestar opiniões pessoais que possam, de alguma maneira, atingir ou desagradar às pessoas importantes (apenas economicamente falando).
Não vejo nessa teoria nada que indique a enorme importância de valores dos quais todos os seres humanos deveriam ser altamente dotados, como respeito ao próximo, honestidade, fraternidade, solidariedade, entre outros.
Pelo contrário, ficamos com a forte impressão de que o alto nível de Q.E., para quem o tem ou para quem o conquiste, irá tornar o indivíduo muito mais egoísta e voltado apenas para o próprio umbigo. Temos a convicção de que tais pessoas acabam tornando-se frias e calculistas, passando a visar apenas à ascensão econômica a todo custo, inclusive da submissão canina aos detentores de todas as formas de poder.
Concluindo, a pessoa dotada de alto Q.E. nada mais é do que o velho e famoso “capacho”, aquele indivíduo que, através dos tempos e em todas as épocas sempre existiu.
É o sujeito dotado de grande senso de oportunidade e ocasião, que prefere não manifestar os seus próprios pensamentos, apenas abraçar com unhas e dentes, e sem questionamentos, a todas as idéias dos figurões que o rodeiem.
O indivíduo inteligente emocional sempre existiu e sempre existirá, a única novidade que o Q.E. traz é o fato de que agora esse comportamento passa a ser visto de maneira “científica” e rende milhões de dólares a todos os autores que pregam essa teoria.
É bastante provável que as pessoas dotadas de alto Q.E., durante suas vidas, sempre se sairão economicamente melhor do que aquelas que são competentes e inteligentes, mas lutam por suas idéias. Porém, nunca poderemos saber se, nos fins de suas tristes vidas, serão pessoas completamente realizadas e felizes, depois de anularem-se por anos a fio, devotando-se a valores tão fúteis e pouco humanos.

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