terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O árido deserto imbecilizado do Brasil

Nos últimos dias, muita gente, principalmente nas redes sociais, se mostrou descontente ou até mesmo furiosa com o artigo do jornalista Mino Carta intitulado A imbecilização do Brasil, o qual foi publicado como editorial da revista Carta Capital.
Por mais que os termos e opiniões ali expressados sejam fortes e nos façam pensar e ponderar sobre o tema, não há grandes possibilidades de discordarmos profundamente das teorias defendidas por Mino em seu corajoso texto.
Por mais que, como brasileiros que somos, a carapuça possa nos servir de maneira completa e acabada, temos que parar para refletir sobre tudo aquilo que o articulista discorre em sua matéria.
Mino afirma que nas últimas décadas houve grande diminuição da produção cultural de qualidade no Brasil e esse fato é incontestável. Por mais que pensemos em nossos grandes nomes das artes e da cultura nos últimos tempos, eles só serão as exceções (algumas brilhantes, é verdade), que irão confirmar a regra de que no Brasil há muito tempo não se incentiva, tampouco se valoriza, as manifestações culturais de qualidade, dotadas de profundidade e capacidade de gerar a reflexão e o aprendizado por parte da população.
É sabido por todos que o sistema educacional brasileiro é e sempre foi elitista e está falido há décadas, e que vem se deteriorando mais e mais a cada ano. Diante desse quadro caótico da nossa educação, a população brasileira, cada vez mais, se vê despreparada para crescer e progredir como nação, visto que não lhe são fornecidos os elementos e ferramentas fundamentais para isso. E deve ficar claro aqui que não estou falando apenas da população mais carente do Brasil, muito pelo contrário, pois temos encontrado cada vez mais nas classes média e alta os maiores índices de preconceitos, de desrespeitos ao próximo e às leis, bem como de desvalorização de todos os aspectos e comportamentos que possam representar a cidadania de um povo.
É inegável que o povo brasileiro melhorou economicamente nos últimos dez anos, mas, como afirma Mino, as melhorias econômicas devem ser acompanhadas das melhorias dos níveis de cidadania e cultura da população. Uma população não se desenvolve apenas com o aumento do consumo de bens, produtos, carros e músicas de baixa qualidade. O povo brasileiro precisa crescer em consciência, em esclarecimento acerca da sociedade que o rodeia. Precisa crescer em cidadania, igualdade, justiça e no respeito às diferenças sociais, culturais e de origens.    
Quanto ao fato de a grande mídia - que no Brasil está concentrada nas mãos de poucas famílias - e da "indústria cultural" apenas continuarem trabalhando para manter o nosso povo na ignorância, mais uma vez Mino acerta brilhantemente. A grande maioria das "produções culturais" de massa, como as novelas, os programas televisivos e os discos dos artistas dito populares é totalmente pautada pelo mais baixo nível intelectual. Assim, temos um quadro em que, de um lado são fornecidos produtos culturais de baixíssima qualidade e do outro há um público completamente despreparado para analisar e reprovar aquele conteúdo, o qual lhe é enfiado goela abaixo de maneira sistemática e orquestrada pela poderosa indústria do entretenimento.    
Some-se a tudo isso o enorme poder que o marketing e a propaganda têm em um país colonizado como o Brasil e chegaremos ao que temos atualmente: uma população que consome muito e até de maneira desenfreada, mas que não tem preparo para raciocinar em relação à massificação a que está submetida, uma vez que não aprendeu em tempo algum a pensar com a própria cabeça e a não apenas seguir as grandes tendências e correntes que o mercado impõe a todo momento, umas depois das outras, de acordo com as conveniências de quem detém o poder econômico. 
O povo brasileiro precisa muito de consciência e de cidadania. Precisa urgentemente sair desse deserto de alienação em que está metido, muito embora a maioria de nós não se dê conta disso, infelizmente. 
Penso que em vez de nos enfurecermos com Mino Carta por ter dito verdades dolorosas, temos, isso sim, que trabalhar por uma democracia mais verdadeira e, mais do que tudo, em prol daquilo que vai alavancar o Brasil em todos os sentidos: a educação plena e de qualidade para todos os brasileiros.

2 comentários:

Tânia Peixoto disse...

Olá, Altamir!

O Mino tem razão, sim! Assim como você também o tem, na sua tão lúcida análise. No entanto, meu amigo, não consigo divisar saídas imediatas ou mesmo a médio prazo para solucionar o problema do povo brasileiro, considerando que, quem detém o poder e o monopólio no âmbito das informações que circulam, de forma geral, não tem interesse em ver a população politizada, esclarecida. Às vezes olho, angustiada, o contexto atual e me flagro sem muitas esperanças... As mentes são manipuladas e tomadas, pelos poderosos de plantão (da política, da mídia, da indústria cultural) como verdadeiros depósitos de lixo. E da mesma forma que me percebo desesperançosa, surpreendo-me ao constatar que o povo não é tão ingênuo e cego quanto pensamos e que gosta, sim, de boa parte do que, “culturalmente”, é oferecido nas rádios, na TV, nas revistas ditas de entretenimento. Isso sucede por quê?

A realidade é dura e corrosiva. E há excessos em tudo, em todos os aspectos. Observemos como se portam as pessoas, nas redes sociais: vida VIRTUAL em demasia... Se por um lado elas podem contribuir para a propagação de algo positivo no que tange à possibilidade de um certo tipo de amadurecimento intelectual (isso depende da rede que cada um, individualmente, constrói), por outro, escravizam, também dominam e imbecilizam. É assustador!E é esse o objetivo de quem as criou!!!

Vale seguir, tentando acreditar que, um dia, a vida poderá ser diferente...

Um abraço aqui do Cariri cearense,
Tânia Peixoto

Altavolt disse...

Olá, cara Tânia!

Como na maioria das vezes acontece por aqui, a sua contribuição acaba sendo mais certeira e completa do que a minha provocação inicial (risos). Parece mesmo que estamos pregando no deserto (Seria o do Mino carta?) ao tratar desses temas, com os quais a grande maioria não está nem minimamente preocupada. Deve ser mais leve e divertido viver na alienação e na mesmice, gostando do que a grande maioria gosta e consumindo o que a grande maioria consome. Vivem uma vida despreocupada e cheia de clichês, chavões e preconceitos, como se não houvesse amanhã. De qualquer forma, a nós já não cabe mais calar. Uma vez adquirida a consciência, torna-se covardia fechar os olhos para as mazelas do mundo.

Grande beijo de Sampa!

Altamir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...