segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Futebol 10 X 0 Torcidas organizadas

Apesar de já ter sido considerado por muitos o ópio do povo, o futebol é um dos elementos culturais mais presentes e marcantes na vida dos brasileiros.
Dada a nossa paixão espontânea por esse esporte, se bem trabalhadas, as escolinhas de futebol seriam uma das formas mais eficazes de mantermos as crianças longe das ruas, da violência e das drogas.
O futebol, para alguns escolhidos, ainda é a forma mais democrática de ascensão social. Se o garoto for bom de bola e tiver as ajudas necessárias e oportunas talvez venha a se tornar mais um astro dos gramados.
Contudo, não é exatamente a paixão e o suposto lado mágico do futebol que quero abordar aqui.
O que tem me preocupado muito em relação aos jogos de futebol são as verdadeiras praças de guerra nas quais se transformaram as arquibancadas dos estádios brasileiros.
No último domingo, pela televisão, enquanto assistia à vitória do São Paulo sobre o Vasco, em São Januário, foi possível sentir, pelo áudio do estádio, todos os absurdos cometidos pela torcida Independente. Dava para ouvir os gritos de guerra dos vândalos - pois para mim não são torcedores, mas sim vândalos travestidos de torcedores - hostilizando e chamando para briga a torcida do Vasco, bem como gritando impropérios e ameaças às outras torcidas dos times de São Paulo, que nem por perto estavam. Em dado momento, rimavam aos berros: “...cocaína com ...dar porrada na torcida vascaína”. Atitude, aliás, pouquíssimo inteligente, tendo em vista o número muito maior de torcedores do Vasco. Aliás, em geral, nos jogos eles gritam muito mais vezes o nome da Independente ou das outras "organizadas" do que o do São Paulo ou dos seus respectivos times. São-paulino que sou, fiquei feliz com o desempenho do meu time, mas não com o dessa famigerada torcida, que reputei como execrável. Como admirador do futebol, acho que nos estádios só deveria importar o que acontece dentro das quatro linhas, sendo o desempenho dos clubes do coração, bem como dos craques, os principais focos da atenção dos torcedores. Não faz o menor sentido ir a um estádio para entoar cantos de guerra em nome de Independente, Mancha-Verde, Gaviões ou qualquer outra torcida organizada. Para mim isso é uma aberração, um aleijão cultural que foi se formando ao longo do tempo. Como todas as pessoas de bom senso e amor pela vida, deixei de freqüentar estádios de futebol. Não que não tenha vontade de assistir a bons jogos, pois ver um jogo ao vivo é sempre uma emoção muito intensa. Mas, do jeito que a estupidez e a ignorância se apossaram das arquibancadas, esse não é mais um programa recomendado para os cidadãos comuns. Das últimas vezes que fui, pude perceber que os torcedores das organizadas se preocupam muito mais com as suas ações e os seus cantos de guerra do que com o andamento das partidas. Muitas vezes se postam até de costas para o gramado, tamanho o desinteresse pelo esporte em si.
Não sei como, mas essas torcidas, com esse modus operandi, precisariam realmente ser extintas, pois estão acabando com toda a graça e encanto que havia em assistir o nosso time jogando, ali bem pertinho do gramado.
Sempre achei que ao torcedor cabe se emocionar, elogiar seus ídolos, xingar o juiz, xingar o técnico, protestar verbalmente contra o que acha errado, e só. As arquibancadas são realmente um local para extravasamento de emoções, mas tudo dentro de certos limites físicos e éticos. Pára por aí a interferência da torcida no espetáculo, até porque, como cidadãos, deveríamos ter assuntos muito mais sérios do que o futebol para nos preocuparmos.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Bordoadas e porradas a serviço da cidadania

Às vezes, em certas situações, dá vontade de radicalizar. Já que não vai por bem, na educação, então que seja por mal, na base da grotesquice. O importante é que a mensagem seja passada.
Vi recentemente, em dois programas de televisão diferentes, algumas atitudes estapafúrdias à primeira vista, mas que depois, pensando bem, talvez surtissem algum efeito a médio e longo prazo.
Na primeira, um personagem chamado Ninja, investia abruptamente contra os motoristas que dirigiam ao celular, arrancava os aparelhos de suas mãos e os explodia (ou fingia que explodia) jogando-os ao chão. As “vítimas” ficavam enfurecidas e algumas delas até abandonavam os veículos para pegar o “agressor”. Era uma situação, no mínimo, muito engraçada de se assistir, pois o número de panacas que falam ao celular enquanto dirigem é uma enormidade. E, por conta desse péssimo hábito, ilegal por sinal, além de acidentes, haja desatenção e fechadas nos outros veículos e falta de cuidado e descaso com os pedestres.
Em outro programa, outra idéia parecida mostrava um super-herói ecológico que, juntamente com seu menino-prodígio, atacava as pessoas que praticavam atos grotescos e anti-ecológicos, tais como jogar lixo na rua, derrubar árvores, gastar água lavando o carro com mangueira, deixar a torneira aberta ao fazer a barba e outras atitudes freqüentes nas vidas dos without-notion.
Em tais casos, nossos heróis partiriam para a ignorância e dariam umas bolachas nos incautos folgados. Se o cara jogasse o lixo pela janela do carro, eles pegariam um balde de lixo e jogariam para dentro do veículo, em cima da cabeça do sujismundo. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Lei de Talião, olho por olho, dente por dente.
Outra situação em que a patrulha de super-heróis poderia agir seria aquela em que algum espertinho tentasse furar uma fila. O cara seria jogado à força e sem qualquer cerimônia para o final da fila, onde deveria ter entrado desde o começo.
Também contra aqueles motoristas espertos que utilizam os corredores exclusivos de ônibus nas avenidas ou os acostamentos nas estradas para levar vantagem sobre os outros carros. Nesses casos, os engraçadinhos poderiam ser jogados pelos nossos heróis para fora da estrada ou da avenida, para aprenderem a respeitar os outros e as sinalizações e regulamentos.
Os espaçosos - que nos transportes públicos utilizam indevidamente os assentos reservados para idosos, deficientes e gestantes - também seriam gentilmente compelidos a liberar tais lugares para quem deles realmente precisasse.
Pessoas que andam descuidadas com seus animaizinhos de estimação, os quais vão emporcalhando as calçadas por onde passam, também seriam delicadamente lembradas e convidadas a limpar a sujeira dos seus bichinhos.
Todos aqueles que vêem as ruas como extensão da lata de lixo de suas casas, seriam sutilmente orientados a recolher o lixo recém lançado ao chão para que o arremessassem nos cestos e lixeiras apropriados para esse fim. Eventualmente, como medida educativa complementar, também eles seriam lançados aos cestos de lixo por nossos gentis heróis.
Para aqueles imbecis que por diversos motivos se colocam acima do bem e do mal e discriminam ou tratam as pessoas de maneira diferenciada, dependendo da sua origem ou aparência, as bordoadas viriam céleres, antes mesmo que eles se dessem conta de onde estariam vindo. Aprenderiam rapidamente como tratar igual e respeitosamente a todos os cidadãos, sem distinção.
Em relação à corrupção, falta de decoro parlamentar e prevaricações em geral, nem se fala,
nossos heróis já chegariam metendo porradas a torto e a direito, não dando nem chance aos malandros para começarem com aquelas costumeiras justificativas cheias de milongas.
Pode não ser o ideal, nem politicamente correto, mas se existisse um Big Brother sempre atento a todas as formas de mesquinharia, estupidez e falta de consciência humanas, e que as corrigisse na base dos catiripapos e safanões, talvez melhorássemos rápida e eficazmente os níveis de consciência dos cidadãos brasileiros. Desculpem o desabafo, mas às vezes me dá um desencanto e sinto que por bem nunca chegaremos lá.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Será que ainda é possível?

Depois de tantas tentativas frustradas. Depois de tantos sonhos fracassados e desilusões. Depois de tantas atrocidades e violências. Será que ainda é possível acreditarmos que algum dia, de alguma forma, viveremos com mais justiça e verdade neste planeta?
Numa sociedade que fosse pautada principalmente no ser humano e na qual este ser humano soubesse tratar bem, além da sua própria espécie, também a todas as outras que coabitam este mundo.
Numa sociedade com maior igualdade de direitos e deveres, com menos diferenças e muito mais civilidade e solidariedade.
Num mundo em que o dinheiro não fosse parâmetro para comparar as pessoas. Num mundo em que houvesse espaço para o diálogo e a fraternidade.
Num mundo de reais oportunidades, dando a todos pelo menos uma boa chance de explorar as suas potencialidades e dons naturais. Num tempo em que ninguém fosse discriminado por sua aparência, por sua origem, por suas preferências ou características pessoais e,muito menos, pela cor da sua pele.
Num tempo em que governantes, políticos e empresários colocassem os assuntos coletivos e sociais realmente à frente dos seus próprios interesses pessoais.
Num mundo em que todos se preocupassem muito mais com os seus caracteres do que com as suas aparências, suas roupas e seus bens.
Num tempo em que o homem se preocupasse muito mais em ser do que em ter.
Num tempo em que a tecnologia pudesse ser aproveitada por todos de maneira equânime, e não fosse motivo de separação entre ricos e pobres. Em que carros, barcos, aviões e propriedades fossem utilizados com fins sociais e coletivos, e não para tornar alguns poucos muito mais humanos do que a maioria.
Num mundo no qual não precisássemos ter tanto medo dos nossos próprios irmãos.
Num tempo no qual nenhum energúmeno tivesse a infeliz idéia de perguntar, fosse em que situação fosse, “Sabe com quem está falando?”
Numa sociedade em que ninguém, por qualquer motivo que fosse, pudesse ser colocado em situação de superioridade e destaque econômicos perante seus semelhantes.
Num tempo em que as promessas e a palavra empenhada realmente valessem alguma coisa.
Num mundo em que apenas a sabedoria, a integridade, a bondade, a solidariedade e o desprendimento fossem considerados parâmetros para que alguém atingisse maior respeitabilidade no seu grupo social. Onde os idosos fossem ouvidos e tidos como a reserva necessária de experiência e conhecimento. Onde as crianças fossem as sementes a serem cultivadas e bem-cuidadas no presente, para que se transformassem nos frutos e nas flores do futuro.
Enfim, num mundo em que a globalização de idéias, de recursos e projetos sociais realmente atingisse a todos, nos seus quatro cantos, sem que houvesse um só excluído, fosse pelo motivo ou pela causa que fosse.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cada instante é um flash!

Hoje em dia, com as câmeras digitais, os celulares que fotografam e enviam fotos, as webcams, os e-mail´s, os notebooks com blue tooth, e todas essas ferramentas da alta tecnologia, ficou muito fácil o registro e o compartilhamento dos momentos que as pessoas acreditam ser interessantes.
Após registrar tudo o que se passa ao seu redor, os cidadãos modernos avidamente correm para compartilhar tais instantâneos com todos aqueles seus “1898 amigos” do Orkut ou comunidades equivalentes.
É como se as pessoas só vivessem naqueles instantes imortalizados pelas lentes e expostos ao mundo via web. A vida já não pode ser apenas vivida, precisa também ser transmitida e comentada. O que não está na Internet não está no mundo. Já não importa tanto viver momentos felizes de verdade, basta parecer que os momentos vividos são felizes. Em muitos casos, talvez só haja felicidade fabricada durante o espocar dos flashes. É tudo pose, como já dizia Lobão.
Após eternizar os momentos “sublimes” e “felizes” compulsivamente, a segunda etapa é publicá-los o máximo possível nos canais atuais de relacionamento instantâneo.
E haja fotos do aniversário do bebê, da última balada, do último show, do churrasco na casa do Marcão, da festinha surpresa no escritório (mesmo que recheada de falsidades), etc. Fotos legendadas: “Meu amorzão”, “A coisa mais linda da mamãe”, “Amor eterno”, “amigos para sempre” e outras inscrições que só dizem respeito estritamente ao círculo de amizade ou familiar daquele indivíduo, expostas ao mundo todo.
A quem - excetuando as pessoas que realmente nos amam - podem interessar as fotos do nosso Totó fazendo cocô na casa da vovó?
Neste mundo de “instant celebrities” e BBB´s em que vivemos, todos querem se ver, se mostrar, se documentar. Cada movimento é um flash.
Basta irmos a um show musical para nos depararmos com centenas de pessoas se acotovelando para pegar os melhores ângulos do artista. Mas isso dura o show todo. Às vezes eu me pergunto se certas pessoas prestam atenção às músicas, ou apenas fotografam cada segundo do espetáculo.
Que saudades dos antigos álbuns de fotografias, organizados por evento, cronologicamente, sem grandes possibilidades de farta distribuição, até porque as cópias não eram exatamente baratas e acessíveis. As fotos ficavam boas dependendo do fotógrafo e das variáveis envolvidas. Sempre havia a possibilidade de não prestarem, mas quando prestavam era aquela alegria.
Pode até ser saudosismo meu, mas não vejo grande vantagem em toda essa agilidade atual.
Tira-se uma foto digital atrás da outra na ânsia de se mostrar vivo. Viramos paparazzis de nós mesmos. Alguém tem que registrar meus momentos, mesmo que seja eu. Talvez hoje o que importa não seja ser realmente feliz, mas sim parecer feliz. E, é claro, é necessário que o mundo todo veja isso.
A tecnologia deve nos servir sempre que precisarmos, jamais nos escravizar.
O melhor lugar para armazenarmos a felicidade real é em nossa própria memória, e tenham certeza, os momentos verdadeiramente felizes e os amigos realmente sinceros sempre estarão lá, eternizados por toda a vida!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...