quarta-feira, 8 de outubro de 2014

IOGURTES E INCLUSÃO

Por estes dias movimentados de eleições e ressaca eleitoral, veio à tona, como milhões de tantas outras, a declaração de um jovem brasileiro, branco, bem posicionado na hierarquia social prevalente, de classe média alta (Eu vou ser politicamente correto nas denominações, não vou usar termos chulos ou de baixo calão, imagine-os por conta própria), mostrou-se indignado com a possibilidade de viver em um país em que eventualmente não houvesse muitas e diversificadas opções de iogurtes nas gôndolas dos supermercados bem abastecidos dos grandes centros, locais que, imagino, ele frequente assídua e rotineiramente. 

Iogurtes variados para todos
Por isso, ele não vota e jamais votaria em Dilma Rousseff. Para garantir à sua estirpe social o nobre e inalienável direito de poder ter sempre à disposição, todas as marcas e sabores de iogurtes aos quais está completamente acostumado o seu fino, requintado, treinado e exigente paladar. 

Talvez seja leviandade da minha parte, mas imagino que este jovem de bem, bem nascido e que teve todas as possibilidades de formação educacional e cultural - às quais todos deveriam ter direito -, muito provavelmente engrosse o cordão das pessoas preconceituosas que vêm tecendo altas críticas ao povo do norte e nordeste brasileiros, afirmando que, principalmente os nordestinos, sejam os culpados pelas eleições e reeleições de Lula e Dilma. 

Apesar da suposta cultura e erudição que tem esse jovem mancebo, creio que ele, como a maioria dos seus pares, não conhece minimamente o nordeste e o povo nordestino. Ou melhor, conhece, mas se acostumou com eles apenas trabalhando (Com muita dignidade e profissionalismo, diga-se) nas funções subalternas da rica sociedade que frequenta. 

Ele não deve conhecer a riqueza cultural do nordeste, a imensa receptividade e alegria do povo nordestino, que, na arte de receber e ser anfitrião, talvez seja incomparável no Brasil, quiçá no mundo.   

Esse rapaz bem posicionado não vota Dilma, porque quer apenas e tão somente manter o sagrado direito de sua casta social continuar, de forma isolada, tendo acesso a todas as coisas boas e interessantes que possam haver neste mundo. Acredito que, na cabeça um tanto quanto deturpada desse moço, não haja espaço para a inclusão social, para o aumento das igualdades de oportunidades, e nem mesmo para o acesso às coisas prosaicas como o iogurte, com as quais milhões de brasileiros só passaram a se familiarizar mais efetivamente depois dos governos de Lula e Dilma. 

Esse jovem pode e deve continuar tendo acesso aos seus iogurtes, mas, agora, não podemos retroceder um milímetro. Ele degustará o seu iogurte, mas na companhia de muitos outros milhões de brasileiros. E grande parte desses milhões é composta de nossos irmãos nortistas e nordestinos, que têm, como quaisquer outros, direito a tudo o que possa ser adquirido, vivido e desfrutado de forma digna e justa nesta sociedade. 

A gente quer iogurte. A gente quer igualdade de oportunidades. A gente quer educação, saúde e moradia para todos. A gente não quer só iogurte, a gente quer estar em toda e qualquer parte. A gente é Dilma, e jamais poderia ser diferente.

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