quarta-feira, 7 de abril de 2010

Precisa-se de homens-bomba

Enquanto uma parte menor da humanidade perde seu tempo dando valor desmedido ao próprio ego e a muitas coisas absolutamente desimportantes e fúteis, outra parte, essa bem maior, perde seu tempo nas degradantes condições dos transportes coletivos, dos hospitais públicos e das burocráticas e preguiçosas repartições, que deveriam prestar serviços aos cidadãos. Perdem também seu tempo nas vagarosas filas dos bancos, que fazem questão de andar bem lentas e desrespeitosas para aqueles que pouco têm. Aos que muito têm, os bancos reservam atendimentos preferenciais, com nomes pomposos, afrancesados, americanizados. Mas isso é para poucos. Apenas personalidades merecem tratamentos diferenciados e atenciosos. Personalidades com cifras de muitos zeros à direita em suas contas e aplicações. Não, não é necessário que as personalidades a que me refiro sejam pessoas honestas, decentes, corretas. Nada disso, basta às personalidades ter o poderio econômico. Só isso. Caráter, decência, respeito, são coisas que não valem mais nada atualmente. Hoje, não é mais importante ser um homem de bem. Hoje, o que vale é ser um homem de bens. A inércia é imensa. A pasmaceira é enorme. As pessoas sofrem absurdos cotidianos completamente caladas. Não reclamam, não protestam. Não se organizam para reivindicar os direitos mais básicos. Atribuem seus dramas à vontade de Deus. Será que Deus trataria de maneira tão desigual os seus filhos? Estamos chafurdando no caos. Estamos enterrados na lama, como sabiamente já disse Chico Science. Uma das últimas e poucas cabeças pensantes que realmente disse e mostrou a que veio. Pena ter nos deixado tão precocemente. De um lado, esnobismos, ostentações e demonstrações de poder daqueles que só se preocupam com isso na vida. De outro lado, a total falta de traquejo para a vida em sociedade e para o senso de justiça de enorme camada da nossa população. Aceitando todas as desgraças e mazelas como se fizessem parte da normalidade e da paisagem. Aceitando bovinamente que alguns têm e nasceram para ter, enquanto outros nasceram para sofrer e para ser explorados. Como se fosse aceitável admitirmos que existem cidadãos de diferentes classes, de diferentes castas. Que só por um punhado de ouro, alguns possam se sobrepor aos outros, impondo a estes a sua vontade. Precisamos urgentemente de homens-bomba, que venham explodir com essas convenções tão arraigadas, que venham sacudir esse status quo tão viciado, que venham exigir a sua parcela de dignidade e respeito. Precisamos de homens-bomba pensantes, que questionem as unanimidades burras. Que ousem propor outros caminhos. Que ousem perguntar: Por que é que tem que ser necessariamente assim e não de outro jeito? Precisamos de homens-bomba que detonem os preconceitos dos bem-nascidos, arrebentem com a empáfia e a arrogância daqueles que se sentem, por qualquer motivo, mais merecedores de respeito e homenagens que os outros mortais. Precisamos urgentemente de homens-bomba que dinamitem todas as atrocidades cometidas pelos homens contra os próprios homens. Precisamos de homens-bomba que acendam o estopim da arrancada para uma nova forma de viver, mais fraterna, mais solidária, enfim, mais humana.

Obs.: Post inspirado no poema-protesto homônimo, de Sandra Lacerda, que teve a ideia de propor a ação de homens-bomba do bem contra toda a inércia atual da nossa sociedade. Em uma situação prática e cotidiana, numa estação de metrô lotada, ela viveu o desprazer de sentir na pele o descaso com que o povo é tratado. E, pior, constatar que nenhum dos presentes ao menos cogitava em protestar, questionar ou se perguntar por que aquela situação estava acontecendo.

8 comentários:

Eraldo Paulino disse...

Eu ia lendo teu post, e imaginando a Marisa Monte cantando Panis et circenses...

Tambémnãoaguentomaistantomarasmo...

Um forte axé!

Altavolt disse...

Marasmo demais, Eraldo, para quem está a procura do bem geral! Abraço!

Luna Sanchez disse...

Por não ter uma sugestão a dar, essa realidade me assusta...

Beijo, Alta.

ℓυηα

M.M. disse...

Inércia. Marasmo.
Falta de indignação.
Falta de atitude.
Essas coisas me assustam.

E me pergunto: o que é realmente preciso?

Beijo

http://meninamisteriosa.wordpress.com/
http://www.aceuabertodaboca.blogspot.com/

Unknown disse...

Pois é, meu caro. Um acontecimento tão pequeno desse toma uma dimensão tão grande quando sentimos ferido o nosso direito mais básico previsto na Constituição: o de "ir e vir". Temos mais é que explodir, porque "viver é muito perigoso" e dói. Sinto-me uma "mulher-bomba" nos dias de hoje.

COMPAREÇA A SSO

Tá faltando “homem-bomba”*
no metrô Santa Cecília
ta faltando atitude
na tal de SSO
S O C O R R O !!
A quem posso recorrer?

Se o cara que veste a farda
é mais um fardo pro metrô?
Cada trem que corre solto
desemboca numa próxima estação
e o VAZIO aumenta em nós
que não consegue embarcar
Em cada carro lotado que pára
não cabe nem pensamento
e penso: se cada funcionário
tivesse a coragem de um “homem-bomba”
de tomar uma atitude
de fazer uma boa ação
de sair dessa inércia de ficar só espiando
e dar desculpas esfarrapadas para a sua inoperância
Minha santa ignorância!

Caberia muita gente
se parasse um vagão vazio
se melhor distribuído
e não mais corresse solto para uma próxima estação
Ta faltando “homem-bomba”
no metrô S anta Cecília

E o que cabe ao Estado
sempre isento de alguma culpa?
Ah, eu imploro dá-me um sopro
Sr. seu Governador
Pra acabar com essa dor
e chegar um trem vazio
nas “horas de avemariar”
e não mais ter penitência
de quem deseja embarcar.

Eu, Sandra Lacerda, revoltada - entre o Tatuapé e a República (já voltando do que não fui)
São Paulo, 06 de abril: após tentar embarcar no metrô Santa Cecília das 17h45 até18h15 (sem sucesso) e ter que pegar um táxi pro aeroporto.

*penso que deveria haver um “homem-bomba” em cada um de nós pra se rebelar e berrar bem alto pelo que incomoda e afeta a todos.
Eis o “homem-bomba” no melhor sentido: de uma atitude pro bem estar coletivo.

Fiz minha reclamação na tal de SSO, mas sabe lá se vão ao menos ler o papel?
Socorro, São Paulo! Choro contigo a cada chuva que cai porque amo-te, mas está c ada vez mais insuportável viver nesse caos.

Flávia Batista disse...

cara, esse post me fez lembrar de uma coisa que vi essa semana: cheguei para me vacinar contra a gripe H1N1 e havia uma fila quilômetrica para tomar a vacina. AS pessoas ficavam na rua, expostas ao sol e a chiva (porque aqui em São Luís faz sol e chove muito ao msm tempo) esperando a hora de serem chamadas pelo número da senha que entregavam a elas. e sabe pq isso? por falta de respeito com elas. era só a adminstração do posto de saúde pensar uma formar de acomadar aquelas pessoas de uma forma melhor. Fui em outro posto e a realidade era outra: a fila andava rápido (afinal era só para tomar um vacina, não demora nem um minuto), os seguranças do posto não deixavam ngm ficar do lado de fora, exposto ao sol... e tudo acontecia mtyo rapído! Enfim, é triste, realmente triste, ver como o povo é tratado com descaso...

bjs

Altavolt disse...

Luna: Nós é que temos a árdua tarefa de buscar e propor soluções, embora não seja nada fácil. Beijo.

MM: Para mim, é preciso que não percamos a capacidade de nos indignarmos com as coisas erradas. Beijo.

Sandra: Todos nós precisaríamos ser homens e mulheres-bomba, para diminuirmos o grau de mazelas sociais que vivemos. Obrigado por ter postado o poema. Eu tentei copiar e colar junto ao post, mas este blogspot fez questão de não colaborar. rsrsrs. Beijão.

Flávia: Justamente, vc exemplificou muito bem uma situação que precisaria ter sido consertada. E olha que não seria nada difícil, bastaria boa vontade e raciocínio, não é? Beijo.

Luna Sanchez disse...

Cadê tu? oO

Beijo,

ℓυηα

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