terça-feira, 16 de abril de 2013

O mundo individualista que criamos

Eu já deveria estar acostumado com muitas coisas já tidas como naturais neste mundo em que vivemos, mas, teimoso que sou, ainda continuo a catalogar mentalmente várias situações cotidianas e comportamentos como estranhos e, em alguns casos, inaceitáveis para uma vida decente em coletividade.
Justamente neste momento da humanidade, quando tantas ferramentas e possibilidades de comunicação e interação estão disponíveis, é que noto que cada dia mais as pessoas estão interagindo e se conectando menos no seu dia a dia real. As interações e conexões virtuais estão acontecendo num ritmo cada vez mais frenético, quase beirando a completa ininterrupção. As pessoas estão plugadas e conectadas o tempo todo.
Porém, na minha opinião, isso não faz com que elas se entendam mais e melhor. Pelo contrário, tenho notado pessoas de todas as idades, mas prioritariamente os jovens, com grandes dificuldades de expressão e interação em tarefas ou situações corriqueiras da vida de qualquer cidadão, ou, suposto cidadão.
Posso ser tachado de chato, retrógrado e nostálgico, mas mesmo assim prefiro me manifestar a respeito dessa automatização dos seres humanos, que em muitos casos nos transforma em seres praticamente autômatos na vida real, e em relação à qual acredito ser necessário tomar algumas medidas educacionais e precauções, evitando-se que em alguns anos haja a mais completa e acabada ensimesmação dos seres humanos, passando todos a viverem, cada qual em seu mundo particular, isolado e distante da vida concreta e diária.
Imagem retirada do site Filosofia, Ciência e Vida
É importante que se diga que, além das facilidades e inovações tecnológicas, que em si mesmas são apenas benéficas e, se bem usadas, podem somente nos fazer crescer em possibilidades de contatos e diálogos, o que mais tem prejudicado as relações humanas nestes nossos tempos são as imposições midiáticas e propagandísticas, as quais estabelecem e forçam padrões estéticos, de consumo e de comportamento, de acordo com os interesses financeiros e mercadológicos dos poderosos senhores do capital mundial.
Assim, na prática, as pessoas estão procurando - e, iludidas, acham que isso é muito bacana - viver em uma ilusória bolha de felicidade, em que por algum motivo se acham felizes à medida em que seguem cegamente os estereótipos e modelos de sucesso propostos à exaustão pelos meios de comunicação, bem como à medida em que conseguem consumir e se apoderar dos bens e looks tidos e havidos como imprescindíveis ou fashion.  
Todo esse estado de coisas leva, ao final, a uma brutal massificação de comportamentos, de visuais e de posturas, os quais são completamente idênticos, mas isso não é percebido pelos indivíduos, que são levados a achar que cada um daqueles itens foi criado com exclusividade para ele, seja uma calça, um carro ou uma conta bancária com atendimento personalizado. No fundo, todos aqueles que alcançam esse padrão de vida classe média antenada, acham que esse é o único tipo de vida que convém levar, e que só dessa maneira podem ser aceitos pelos seus iguais como pessoas bem-sucedidas.
Assim, criou-se o mundo da exclusividade para todos. Todos os incluídos (Aqui não há espaço para os milhões de excluídos) só alcançam a felicidade quando conseguem se enquadrar nos padrões estabelecidos. E sempre estarão correndo atrás dos últimos lançamentos e das últimas modas, como aqueles coelhos de corrida, que são enganados e correm atrás de uma cenoura, que o tempo todo estará à sua frente e inalcançável, visto que sempre estará desempenhando maior velocidade que eles.
E, para mim, esse egoísmo arraigado fortemente em cada pretenso cidadão, tem feito com que as pessoas deixem de se olhar e de se comunicar na prática.
Imagem retirada do site Central Crítica
Tem se falado exaustivamente, nas redes sociais e na mídia, sobre as questões relativas ao respeito às minorias, mas, na vida real, não temos quase praticado nenhuma forma de respeito para com os nossos semelhantes de carne e osso.
Respeito é, e sempre deve ser, primordial e indispensável em toda e qualquer relação humana. Contudo, acho que em se tratando de respeito, temos ficado muito no discurso virtual e quase nada temos posto em prática nas situações reais, pelas quais passamos durante as nossas atividades diárias, sejam elas de lazer, de trabalho, de deslocamento, de estudo, etc.
Enfim, em termos de respeito aos próximos, temos deixado muito a desejar nos dias atuais, muito embora sejamos bombardeados por inúmeras exortações virtuais às defesas de causas as mais variadas, as quais, contudo, no meu entender, têm ficado apenas no discurso e na retórica bonita.
Cidadania e respeito se fazem de verdade nas ruas, espaços públicos, transportes e todos os demais locais em que as pessoas se reúnam e precisem conviver e interagir por quaisquer questões ou necessidades cotidianas da vida de qualquer cidadão.
Chega de tanta imposição virtual e tantos discursos vazios. Já passou da hora de respeitarmos as outras pessoas de verdade, todas elas, a começar por aquela que, por qualquer circunstância e sob qualquer condição, esteja perto de nós neste momento. A vida é realmente muito mais feliz quando compartilhada, e não segmentada e apartada como a temos vivido.

3 comentários:

Tânia Peixoto disse...

Querido Altamir,

Já não lhe é nenhuma novidade o meu cansaço e a minha quase exaustão no tocante ao comportamento das pessoas nas redes sociais. Parte considerável delas vive conectadas quase 24h por dia! Tudo é postado, compartilhado, comentado, curtido! Às vezes esquecemos completamente que a beleza de certos momentos vividos está no anonimato e na partilha, unicamente, com aqueles que interessam. NÃO HÁ NECESSIDADE DE TORNÁ-LOS PÚBLICOS! Pergunto-me, muitas vezes, se isso é interação. E me respondo que NÃO! Há a ilusão da interação e tudo sucede na superfície, sem aprofundamento algum em relação a nada.

Tornar-se um militante político ficou mais fácil e cômodo! Ali, na frente do micro, vendo a TV (e informando o que está vendo na TV!!!) e fazendo mil coisas ao mesmo tempo, postamos a nossa “indignação”, a nossa “revolta” com a atual conjuntura do país. Ninguém vai mais às ruas suar a camisa e provocar mudanças, como no passado não tão distante de quem nos antecedeu e teve a coragem de dar “a cara para bater” e pagar, com a própria vida a implementação de processos transformadores.

Na frente do micro, inserido numa rede social cada vez mais enfadonha e chata, nos conectamos com centenas de pessoas e, na vida REAL, nos isolamos daqueles que verdadeiramente nos querem bem e se importam conosco. Vivemos solitários e nem nos damos conta disso... E onde reside a culpa, meu amigo? – Em nós mesmos, na nossa mais completa escravização aos padrões de comportamento ditados por aqueles que conhecem as nossas fraquezas e a origem delas e DELAS obtêm lucro!

Meu abraço aqui do Cariri,
Tânia Peixoto

Altavolt disse...

Cara Tânia,

O que falar depois desse seu comentário tão lúcido e verdadeiro? Nada mais, a não ser ficar feliz por saber que alguém também sente de forma parecida as angústias que sentimos. Seu comentário, que na verdade é um post, muito bem feito por sinal,foi além daquilo que eu havia proposto no texto inicial.
Parabéns! Que bom seria se mais gente parasse para analisar e refletir sobre esses pontos abordados.

Grande beijo de Sampa,

Altamir

cida zanela disse...

oi, quanto tempo, entre em contato comigo por favor abç,

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