sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Message in a virtual bottle

Às vezes me perguntam para que serve um blog. Sinceramente, cada vez mais tenho dificuldades em responder a essa questão. São milhões de blogs vagando pelo cyber-espaço, e outros milhares sendo criados todos os dias. Algumas das minhas respostas recorrentes normalmente abordam a possibilidade de publicar nossos textos e ideias, ou a facilidade de armazenamento das nossas experiências de vida, entre outras tantas evasivas.
Contudo, é mesmo de se perguntar: Pra que serve um blog?
A única coisa mais palpável que me vem à mente é o fato de que daqui a cem, duzentos anos, nossos escritos poderão ser eventualmente estudados pelos arqueólogos e antropólogos do futuro. Se tem uma coisa da qual nossos descendentes não poderão reclamar será da falta de informações sobre como era absurda e cheia de inconformidades a vida humana no Planeta Terra no início do terceiro milênio.
Os blogs serão fósseis digitais ao alcance de quem tenha paciência para dissecá-los e tentar decifrá-los.
Do modo com a tecnologia evolui vertiginosamente, talvez bem antes, ainda na próxima década, os blogs já sejam tidos como dinossauros digitais.
O fato concreto é que, talvez como uma garrafa com o pedido de socorro lançada ao info-mar, a utilidade do blog esteja nas observações, críticas e discussões que fazemos hoje, sobre acontecimentos e comportamentos desta era, os quais poderão ser estudados e quiçá melhor entendidos pelos nossos irmãos do futuro. Quem sabe se, até lá, a humanidade já não terá atingido um determinado grau de consciência e esclarecimento que permita aos homens que virão se espantar com coisas e pensamentos produzidos nestes tempos.
E tomara que vivam, nesse futuro distante, de maneira muito mais civilizada, num tempo em que já tenham resolvido as questões de preconceito, miséria, fome, corrupção, diferenças sociais, diferenças étnicas, diferenças religiosas, diferenças ideológicas, entre tantos outros graves problemas enfrentados neste mundo atual.
Acho que essa talvez seja a única resposta factível para a manutenção de um blog nos dias atuais. O envio de mensagens póstumas aos nossos irmãos do futuro.
Fora isso, para pouco serve um blog pouco ou nada lido, com o acompanhamento apenas de uma meia dúzia de amigos sinceros e de todas as horas.
Para mim, blogs que, por mais que tentem, não conseguem produzir discussões, que não atingem um determinado número mínimo de leitores, que provocam pouquíssima ressonância, como é o caso deste, estão fadados a serem diários eletrônicos, passíveis de serem compilados para futuras biografias feitas pela família, no máximo.
Depois de toda essa reflexão, tenho a resposta, um blog é uma mensagem na garrafa, uma cápsula do tempo, que poderá ser descoberta e aberta daqui a séculos ou milênios.
Não deixa de ser uma ferramenta moderna, voltada para o futuro, sob certo ponto de vista.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A cidade dos carros

Em São Paulo, hoje, tudo é voltado e (mal) planejado para as necessidades dos automóveis. Parece que as pessoas, em sua imensa maioria, desaprenderam a caminhar ou a se deslocar de outras maneiras. Mesmo para trajetos de 500m, as pessoas optam pelo uso do automóvel, talvez até pelo suposto status que o veículo particular possa conferir ao cidadão. Há uma enorme preocupação da prefeitura em cuidar das pistas de rolagem, mas nenhuma preocupação em manter as calçadas minimamente trafegáveis para os pedestres e cadeirantes. É como se as calçadas fossem terra de ninguém; como se nenhum incauto fosse ousar caminhar a pé por elas. Acontece que há milhares de paulistanos que, por consciência ou por falta de opção, precisam caminhar pelas calçadas. E como é duro ser pedestre em Sampa. Em muitos casos tornam-se praticamente invisíveis, pois os motoristas jogam seus carros sobre eles sem a menor cerimônia, dando ainda a entender que eles, pedestres, os estão atrapalhando em suas manobras, principalmente nas entradas e saídas de garagens. É como se a calçada deixasse de se ser sobretudo o caminho reservado aos pedestres para ser, prioritariamente, entrada e saída de veículos.
Além disso, os níveis de grotesquice dos motoristas tem passado de todo e qualquer limite aceitável. Eles metem as mãos nas buzinas a qualquer pretexto, a qualquer hora, não importando se a zona é residencial, ou se há crianças e idosos por perto. É a barbárie. E na maioria dos casos, as grotesquices são produzidas por pessoas que se auto intitulam como sendo de bem. Parece haver muita gente que acha que educação, respeito e boas maneiras não precisam se estender ao trânsito motorizado.
Agora, com a fiscalização pegando pesado e multando em relação ao respeito às faixas de pedestres, talvez os grotescos motoristas paulistanos sejam compelidos por força de lei a respeitarem um pouquinho mais esses seres que se arvoram a cruzar o seu caminho, também chamados de transeuntes. Onde já se viu? Gente comum querendo transitar a pé em São Paulo!?! Nessa cidade só se anda motorizado, com uma verdadeira armadura sobre rodas!
Se você não tem carro porque não pode ou porque não gosta de dirigir, azar o seu! Aqui não é o seu lugar!
As preocupações dos governantes com o transporte público estão muito aquém de onde deveriam estar. Os investimentos em transportes integrados, que possibilitem aos cidadãos se moverem de maneira rápida e digna em São Paulo são infinitamente menores do que efetivamente essa cidade precisaria. E olhe que as passagens são caras. Pagamos caro para andar como sardinhas em lata, em ônibus e trens cujos horários e frequência de partidas sempre estão longe de serem os ideais, gerando a superlotação cotidiana.
Preocupações do poder público com os ciclistas, praticamente não existem. Pouco se investe em ciclovias e em reais incentivos para que a população adotasse de maneira segura e confortável o uso das bicicletas em nossas ruas e avenidas.
Por enquanto, tudo se resume aos carros, tudo se destina aos carros. Eles são os donos das ruas e dos corações e mentes da maioria das pessoas, inclusive daquelas que detém o poder e que, se quisessem, poderiam começar a mudar essa situação.
Enquanto isso, ser pedestre, usuário de transporte coletivo, motociclista ou ciclista em São Paulo são atividades de alto risco, para as quais não há garantias ou preocupações por parte de ninguém.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Robozinho valente volta ao inferno de Dante

Uma vez reiniciada - dois anos após a primeira incursão - a epopeia do flutuador (robozinho valente) da Globo nas imundas águas do Rio Tietê, achei interessante e oportuno republicar este post daquela época.

Todos os dias, o robozinho - guiado pelo seu quixotesco e estoico guardião, o cavaleiro navegante Dan Robson - é acompanhado pela equipe de reportagem da Globo.

Durante as transmissões, são recorrentes as esperadas e padronizadas caras e bocas de espanto dos apresentadores dos telejornais. Como se a situação horripilante do Rio Tietê pudesse ser novidade, mesmo para o mais desligado paulistano.

A única conclusão possível, diante dessa segunda e tresloucada jornada, é que a situação é igual, se não pior do que em 2009, e que nada foi efetivamente feito, por nenhuma instância, para reverter o quadro dantesco do Rio Tietê.

Foi iniciada nesta terça-feira, 01/09/09, com pompa, circunstância, transmissões e relatos ao vivo, uma jornada no mínimo insólita. A Globo está patrocinando a viagem de um flutuador, que mais parece um robozinho ou um satélite, o qual terá a ingrata missão de percorrer 500 Km do Rio Tietê, coletando informações, dados e imagens sobre a vida (?) e a quantidade de oxigênio de suas águas imundas, espessas e pardacentas.
São públicos e notórios os altíssimos níveis de poluição do Rio Tietê, pelo menos na parte que corta a grande São Paulo, causados principalmente pelos esgotos e dejetos industriais lançados sem o menor cuidado nas suas águas.

Parafraseando jornadas famosas, concluímos que essa tresloucada expedição será uma autêntica viagem ao fundo da merda.

Nos primeiros dias, o robozinho irá navegar por águas mais limpas, próximas da nascente do Tietê. O bicho vai pegar na medida em que ele for se aproximando da capital. Nem sei se alguns trechos ainda são navegáveis, dada a densidade de suas águas marrons. Talvez o aparato venha a encalhar em alguns pontos das águas embosteadas do rio.
O que me espanta é o ar de desbravadores do rio que os apresentadores dos telejornais da emissora têm adotado. O entusiasmo e a alegria com que noticiam os avanços do projeto, que, ao menos em tese terá duração de um mês. Isso, se o sofisticado equipamento não vier a se desintegrar nas ácidas águas em que irá navegar.
Outro ponto em que os globais dão muita ênfase é o envio de imagens a serem coletadas durante a empreitada. Não consigo deixar de imaginar as belas imagens a serem fotografadas, e transmitidas em tempo real, no período crítico, quando o flutuador estiver navegando quilômetros e quilômetros literalmente na merda.
Quanto à vida nesse trecho do rio, só vejo a possibilidade de encontrarem uma única espécie, cuja resistência é descomunal, são os famosos peixes de origem nipônica, os toroços. Esses deverão ser muito fotografados pelo heroico robozinho.
É importante lembrar, que a engenhoca será sempre pajeada por um atleta do remo, a quem eu sinceramente desejo toda a sorte do mundo, tendo em vista os caminhos pútridos nos quais irá se aventurar.
No final das contas, ao fim da penosa viagem, teremos um amplo painel dos níveis de merda existentes no Rio Tietê. Nunca nenhuma iniciativa foi tão desbravadora e corajosa. Durante anos a fio esperamos uma medida como essa, que pudesse comprovar cientificamente aquilo que os olhos e narizes dos paulistanos já conhecem de longe.

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