sábado, 14 de maio de 2011

Incômodos

Post livremente inspirado na

música "Apenas um Incômodo", da

banda cearense Cidadão Instigado.

Sua aparência não confere com a aparência padrão, ditada pelo Grande Irmão, e por isso ele incomoda. Suas roupas não seguem as tendências da última estação, nem das maciças propagandas, aliás, não seguem qualquer tendência, apenas são usadas com a finalidade de proteger o corpo e aquecê-lo do frio.

Raspou os cabelos, que já eram ralos, pois assim tem uma preocupação a menos na vida.

Seu discurso, ninguém sabe o porquê, não está alinhado com os discursos propalados pelos agentes do Grande Irmão, impressos, narrados ou transmitidos eletronicamente.

A música que aprecia não toca nas rádios e Tv's que servem ao Grande Irmão, apenas a ouve nos cada vez mais raros veículos alternativos. Nos meios de comunicações "oficiais", só se ouve ou se vê aquilo que serve aos interesses econômicos ou políticos do Grande Irmão.

Mas por que ele incomoda tanto, se é praticamente inofensivo? Como já dissemos, não vive travestido de moderno, cultuando as últimas tendências fúteis para poder se manter competitivo. Não leu o último "best-seller", lançado na semana passada pelo guru da auto-ajuda. Não assistiu ao último "blockbuster", que já está cotado para ganhar dez "Oscars", todos relativos às categorias técnicas.

Ele incomoda porque, à primeira vista, não se parece com aquilo que se adotou como padrão internacional de ser humano ideal.

Não age e se apresenta exatamente como a maioria esmagadora, que compõe o senso comum, entende ser a correta maneira de agir e se apresentar.

Ele incomoda porque não fala aquilo que a maior parte das pessoas que seguem o Grande Irmão estão preparadas para ouvir.

Ele é um incômodo porque não atrelou e programou toda a sua vida à aquisição do último modelo de veículo lançado ontem, custe o que isso poderá custar. Ele também não acha que precisa comprar o último lançamento eletrônico a ser lançado amanhã pela manhã, nem tampouco que precisa entrar na fila de madrugada para garantir que seja um dos primeiros a fazer a aquisição.

Os incômodos que perambulam por aí simplesmente ainda vivem a vida real. Precisam se preocupar com o próprio sustento, e por isso não têm tempo para pensar em etiquetas e padrões comportamentais a cumprir.

São pessoas, de alguma forma, mais ricas e felizes que as demais, uma vez que não estão escravizadas pelos estereótipos criados e promovidos pelo Grande Irmão. Embora paguem um alto preço por essa postura "inadequada".

Talvez os incômodos queiram dizer, de alguma forma, que pode existir vida criativa, producente e feliz fora dos muros dos condomínios fechados e dos shopping centers. E que, principalmente, existe muita vida inteligente e inspirada fora da mesmice em que chafurdam todos os meios de comunicações servidores do Grande Irmão.

Existem manifestações culturais regionais prodigiosas. Existem músicos talentosíssimos, que optam por realizar seus trabalhos de maneira sincera e autoral. Enfim, existem artistas e pessoas de todas as naturezas fazendo coisas e mostrando que há muitos caminhos e possibilidades a seguir. Por que, então, teremos de seguir, todos, por uma única estrada?

4 comentários:

Eraldo Paulino disse...

Essa banda facilmente poderia ser citada em meus recentesposts. É o que eu digo, o Brasil é muito maior que isso aí que mostram na TV (muito pior também, infelizmente).

Parabéns pelo texto. Não sei a opinião doscearenses, mas acredito que ficariam orgulhosos se vissem.

Abração!

Altavolt disse...

É isso aí, caro Eraldo! Existem muitas coisas boas neste Brasil, que estão fora do Eixo Rio-São Paulo, e também muito além daquilo que querem mostrar a Rede Globo e a grande mídia!

Abraço!

Anônimo disse...

É isso mesmo, Altamir! O Brasil há muito, muito tempo mesmo, desvencilhou-se do chamado eixo Rio-São Paulo, que ditava, de forma contundente, os modismos em relação à Arte, nas suas mais variadas formas de expressão, no tocante à moda e, sobretudo, no que diz respeito à produção acadêmica. Digo que somos muitos BraSis, com "S" mesmo, que somos múltiplos! E ainda bem! UFA!
E quem pensa e age como "gente diferenciada", indubitavelmente sempre causará "incômodos".
Gratíssima por mais esse texto, por mais essa reflexão que só vem se somar a outras que tanto nos fazem crescer.


Abração do Cariri!
Tânia Peixoto

Altavolt disse...

Cara Tânia, seu apoio sempre é muito bem-vindo, pois trata-se do apoio de uma pessoa engajada, que luta diariamente para divulgar e promover a cultura popular, da gente diferenciada.

Grande beijo!

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