quarta-feira, 25 de março de 2009

Empurroterapia nos botecos de grife paulistanos

De antemão, peço desculpas aos leitores pelo modo despachado como vou tratar do tema em questão. Mas é necessário desopilar o fígado e por pra fora tudo aquilo que está engasgado na garganta deste homem do século XX.
Em São Paulo, os bares da Vila Madalena são tidos como ótimos pontos de boemia e happy hour, além de estarem sempre lotados, principalmente de jovens ditos descolados e antenados.
Levado pelas dicas de conhecidos, eu, que uma vez por mês encontro alguns velhos amigos para pôr os assuntos em dia, resolvi começar a frequentar o lugar.
Os bares são renomados, e ostentam uma certa grife, se é que essa palavra se aplica ao assunto. Antigamente, boteco era só boteco.
Mercearia São Pedro, Mercearia São Bento e Genésio são apenas alguns desses lugares, muito badalados e frequentados. Eu só queria entender por quê.
Os ambientes variam um pouco de nível. Uns são metidos a sofisticados e outros querem passar a impressão de simplicidade e descolamento.
Os preços, no entanto, são altíssimos. Dignos daqueles que seriam os melhores lugares para se frequentar.
Contudo, o atendimento é sofrível. Os garçons, salvo raras exceções, quase nunca cumprimentam ou são simpáticos aos clientes. Trocam os copos de chopp ao seu bel prazer, sem sequer consultar os fregueses. É a teoria da empurroterapia.
E a clientela, pasmem, acha tudo isso normal. Também ignoram os atendentes. É como se houvesse dois grupos incomunicáveis e de castas diferentes. Quase não há, ou há muito pouca, troca de informações. Só o básico e indispensável, mesmo.
Já falei sobre isso aqui. Acho que sou de outra era, pois sempre considerei que a camaradagem e a sinergia entre os clientes de botecos e os garçons tinham um quê de terapia e psicologia.
Sempre entendi que os bares eram lugares nos quais todos se confraternizavam e trocavam experiências, e não apenas locais em que uns servem e outros consomem, sem a menor interação entre as pessoas.
O que me choca, particularmente, é que tais bares são badalados e tidos como points, mesmo tratando os clientes com casca e tudo. As gerações mais atuais parecem não se importar com isso. Aliás, as gerações mais modernas parecem não se importar com nada que remeta à camaradagem e ao companheirismo. Sinto que há muito egoísmo e individualismo no ar.
Interação, trocas de experiências, ouvir o que os outros têm a dizer, parece que são coisas de um passado remoto. Pelo menos cara a cara. Talvez as pessoas estejam interagindo apenas virtualmente, o que também é lamentável. Não devemos prescindir das tecnologias, mas também não podemos ser escravizados por elas.
Vivemos num mundo onde os modismos e os comportamentos estão sendo ditados de fora pra dentro. Não está sobrando espaço para crítica e autocrítica (sou velho mesmo!). Todos vão na onda, todos seguem bovinamente os padrões e as tendências que alguém cria, e esse alguém lucra muito com os seguidores dotados de baixas auto-estima e capacidade de análise.
Nesses modismos criados e seguidos à risca, bem que podiam inventar que a última moda para as meninas bonitas fosse agarrar os homens mal-diagramados e quarentões e se aproveitar deles com toda a voracidade. Aquela que agarrasse mais mal-acabados na noite seria a vencedora desse hipotético concurso. Nas famigeradas micaretas não ganha aquela que beijar mais homens? Então, na noite paulistana ganharia aquela que devorasse mais quarentões feiosos e mal- ajambrados. Elas fariam muitos dinossauros felizes. Eu ficaria muito feliz com esse modismo. Roupas de grife, piercings, alisamento de cabelos, tatuagens, tudo como dita a moda. E, por último, caça aos quarentões feios, limpos e bondosos. Essa moda seria muito legal e bem-vinda!

terça-feira, 10 de março de 2009

Cenas de escrotice explícita

Sábado à tarde. O Metrô de São Paulo, linha vermelha, está cheio como sempre. Em uma das estações, noto - a alguns metros do banco em que estou - a entrada de uma senhora de mais de setenta anos. Sem lugar para sentar, a senhorinha é olimpicamente ignorada pelos que estão sentados à sua frente. A maioria, bem mais jovem do que ela, diga-se. Inclusive, o banco cinza, reservado para idosos, está ocupado por um jovem casal que faz cara de paisagem diante da situação. Começo a me contorcer de raiva no meu banco, já tentando sinalizar, apesar da distância, para que ela venha se sentar no meu lugar. Contudo, antes disso, vejo uma outra senhora, talvez apenas dez anos mais jovem que a primeira, levantando-se e cedendo gentilmente o seu assento. Nesse exato momento, pasmem, um moleque de uns 17 anos aproveita que a mulher levantou e pula abruptamente para o banco em que ela estava, sem sequer se aperceber que a senhora mais jovem havia levantado em prol da senhora mais velha, que se encontrava há alguns minutos em pé, bem na cara dele. O motivo dele ter trocado de banco devia-se ao fato de querer ficar ao lado do seu amiguinho, outro adolescente imbecil que também fazia vistas grossas a tudo que ali se passava. Resumindo: A senhora mais velha conseguiu sentar no lugar que vagou, graças à gentileza de outra senhora, quase da idade dela, a qual teve de ficar em pé, sem que nenhum dos jovens presentes demonstrasse qualquer noção de cidadania e respeito aos idosos.
Indignado com tamanha falta de solidariedade e bom senso, comentei com as pessoas próximas sobre a situação, ao que também fui solenemente ignorado, como se fora eu um extraterrestre.
Não contente com todo aquele estado de coisas, chamei a única boa samaritana ali presente para sentar-se no meu lugar, ao que ela recusou agradecendo, informando que ia descer logo.
Moral da história: Além do cavalheirismo e da cidadania terem abandonado os meios de transportes, ainda há, atualmente, uma total e irrestrita complacência com tais comportamentos anti-sociais. As gerações mais novas encaram tais grotesquices como naturais e corriqueiras. No episódio narrado acima, me senti um completo alienígena, tentando fazer as coisas caminharem e acontecerem de acordo com a lógica e a educação que trago em mim desde o século passado. Acho que sou um dinossauro. Já me sinto até em extinção.

domingo, 1 de março de 2009

Todos sempre acham que os outros é que precisam ajudar a melhorar o mundo

Ia de ônibus pela Avenida Paulista, num domingo ensolarado, quando pude ver pela janela, na outra pista, um grupo de ciclistas todo paramentado, passando a toda velocidade pela faixa de pedestres no momento em que o semáforo estava fechado para os veículos. Os pedestres tiveram que se reduzir à sua insignificância e esperar calmamente que o comboio de bikes passasse na maior vula, até porque, do contrário, seriam atropelados. Pensei comigo: Se os ciclistas estão na via pública - e além do mais, em grupo - o que os leva a pensar que não precisam respeitar o sinal vermelho?

O fato me chamou atenção porque sempre acreditei firmemente que as bicicletas possam ajudar substancialmente a desafogar e humanizar o caótico trânsito das metrópoles brasileiras.
Contudo, também os ciclistas precisam se pautar pela urbanidade e respeito ao próximo. Bicicleta também é um veículo e não há sentido no fato delas trafegarem a esmo pelas ruas paulistanas, sem respeitar as normas de trânsito e os outros transeuntes ou meios de transporte.

Nas grandes cidades, os sujos falam dos mal-lavados. Os motoristas criticam os motociclistas e ambos criticam os ciclistas, que criticam os pedestres, que criticam todos os anteriores.
Ou seja, as soluções estão sempre nas mãos dos outros. Eu não posso fazer nada, nem mudar em nada o meu comportamento. Todas as mudanças e melhorias devem ficar nas mãos dos outros. Todos devem fazer a sua parte, menos eu.

Acho que, acima de tudo, todos devem respeitar a todos. E todos devem se pautar pelo bom senso e humanidade. Estejamos nós em qualquer um dos papéis - pedestre, ciclista, motorista, etc - temos a obrigação de cumprir as regras da boa convivência. Não adianta apenas criticar desbragadamente as outras "categorias" de pessoas. Todos nós, no final das contas, somos seres humanos, e não temos nada de melhor ou pior em relação aos outros.

Se cada um de nós, ao encarnar as personas do dia a dia, cumprirmos o nosso papel com responsabilidade e cidadania, todo o conjunto vai ficar melhor para todos.

No meu modesto entender, a vida urbana já é caótica demais para que também nós, pessoas, nos tratemos uns aos outros como meros animais que pensam de vez em quando.

Precisamos exercitar mais a virtude de nos colocarmos no lugar do próximo. O mundo dá voltas e o próximo, em outras situações ou circunstâncias, poderá ser você mesmo.

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