segunda-feira, 28 de maio de 2012

Propagandas equivocadas em tempos equivocados

Sinal dos tempos modernos, as propagandas tem se mostrado, em sua grande maioria, cada vez menos inspiradas e humanas. Está certo que a propaganda sempre foi a alma do negócio, muito embora alguns poucos considerem, talvez com muita propriedade, que os negócios não tem alma, mas mesmo assim, não é por isso que se pode lançar mão de qualquer estratégia para tentar vender um produto. Seria importante manter um mínimo de dignidade, mesmo em se tratando apenas da voraz competição mercadológica. Há como fazer boas propagandas, pois muitos exemplos, principalmente do passado, demonstram claramente essa possibilidade. Contudo, atualmente, tem-se lançado mão apenas de recursos mais imediatistas, pouquíssimo inspirados e até de mau gosto, para tentar enredar e laçar o consumidor. As propagandas de carros são as que apresentam os mais baixos níveis de criatividade, versando sempre sobre os mesmos temas e usando as mesmas tomadas, dos veículos percorrendo livremente e a toda velocidade estradas longínquas, muito distantes dos grandes centros, onde os carros simplesmente não conseguem mais andar. Ainda sobre os carros, são batidíssimas as cenas em que o bonitão circula pelas ruas e é quase que aclamado pela plateia feminina, que fica maravilhada ao ver aquela obra de arte (o carro, claro) passar. Todos ao redor ficam extasiados diante daquela nova oitava maravilha do mundo (só até o próximo lançamento, daí a uma semana) a acelerar bem diante dos seus olhos perplexos. Cansado de ver esses reclames, como se dizia no passado, cada vez mais abundarem nos intervalos comerciais, resolvi elaborar essa postagem, colocando alguns exemplos de propagandas, ao meu ver equivocadas, que só poderiam mesmo ser veiculadas nos equivocados tempos em que estamos vivendo, de total inversão de prioridades e desrespeito aos verdadeiros sentimentos humanos. Tempos em que acumular e ostentar bens é o que mais importa, em que a pessoa só é aquilo que aparenta ser, em que o valor dos seres humanos é medido apenas na escala material e da aparência física, e de nenhuma outra maneira mais. Essas propagandas podem até ser o reflexo dos dias que vivemos, mas, de qualquer maneira, ainda acredito que entre os os criadores e profissionais de marketing existam pessoas dotadas de razoável inteligência e sensibilidade, que sejam capazes de elaborar novas e criativas abordagens para a divulgação dos produtos e serviços disponíveis no mercado de consumo. Esses profissionais são tão bem remunerados e incensados pela mídia e pelo mercado, será que essas equivocadas peças e estratégias publicitárias que tem nos oferecido representam tudo aquilo que são capazes de criar? Abaixo, vocês podem ver alguns filmes comerciais recentíssimos, que julgo de extremo mau gosto, tendo em vista que dão ênfase e valorizam o egoísmo e a questão material em detrimento da humanidade, dos sentimentos e da capacidade que as pessoas tem em se destacar também por outras atitudes e dons muito mais nobres do que serem representadas apenas  por aquilo que compram e consomem. De todos os quatro filmes abaixo, o que mais me indignou é o comercial do Fiat Bravo, em que um sujeito literalmente começa a desaparecer, apenas por que o seu carro não é aquele top de linha. O cara simplesmente some e deixa de ser visto, somente porque não tem um carro recém lançado. Propagar uma distorção dessas é um desserviço enorme à nossa sociedade, que já não prima como deveria pela valorização das relações e dos sentimentos humanos. Para completar, exemplifico com mais algumas pérolas da babaquice comercial, como o último filme do Boticário, em que uma mulher despreza completamente o romântico pedido de desculpas do seu ex, informando-o fria e secamente que a fila anda. Fechando o ciclo de propagandas equivocadas, pincei ainda o filme da Renault, em que vários babacas choram copiosamente por não terem comprado um tal de Duster. Com tantos motivos melhores e mais nobres para chorar, um marmanjo vai se debulhar em lágrimas por causa de um carro? Francamente. Selecionei também o filme da Net, em que, diante da amiga cheia de si e de razão, uma atriz muito boa nos diverte com a tímida e envergonhada afirmação de que instalou uma banda larga que não é Net, mas é tipo Net. Como se isso fosse fazer sua amiga metida a besta mais feliz do que ela, que instalou uma banda larga wireless, mas com fio. Como ela mesmo afirma: Para que tanta pressa? E é essa pergunta que deixo no ar: Será que precisamos de todos esses bens de ponta e de última geração para sermos considerados seres humanos dignos, queridos e honrados? Espero sinceramente que não.    


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Besteiras ilimitadas e infinitas por apenas R$ 0,25


Na guerra das superpoderosas empresas de telefonia móvel, que monopolizam esses serviços no Brasil, chegou-se a um consenso de que as ligações para as linhas da mesma operadora devem custar R$ 0,25, podendo o usuário conversar o dia inteiro, se quiser ou tiver assunto para tanto. Uma ou outra operadora pode eventualmente  baixar ainda mais essa tarifa, chegando até a R$ 0,21. No entanto, o presente post não se destina, de maneira nenhuma, a fazer propaganda dessas famigeradas empresas, que tanto exploram e, em muitos casos, tantas canseiras dão aos seus incautos usuários. Acontece que, com essa história de ligações com valores aparentemente baixos, a maioria da população já usa celulares com um monte de chips, cada um de uma operadora, para ir conversando com os amigos e parentes, de acordo com a procedência das linhas dos interlocutores. Daí, como as pessoas, via de regra, tem muitas coisas importantes para falar e para apresentar ao mundo, podemos ver cidadãos, principalmente em espaços públicos ou em transportes coletivos, conversando despreocupadamente por horas a fio, como se estivessem numa mesa de bar ou na sala da sua própria casa. É nessas horas, que as pessoas ao redor do falastrão são contempladas com toda a sorte de abobrinhas, desabafos e narrativas inapropriadas para lugares públicos. Algumas pessoas parecem perder a noção de que estão em espaços de uso comum. É claro que o mau uso do celular, dependendo do ambiente e do momento, por si só, já pode causar vários desconfortos aos que rodeiam os sem-noção que lançam mão dessa prática. Contudo, tem algumas figuras que vão bem além de apenas atender ou fazer uma ligação em momentos pouco aconselháveis para isso. Em ônibus lotados, em plena 7h00 da manhã, já presenciei conversas longas e detalhadas contendo relatos e assuntos pouco próprios para serem discutidos fora de quatro paredes, que dirá em um coletivo, transportando, naquele momento, cerca de 100 pessoas. É de chocar ou até de fazer rir, a facilidade com que algumas pessoas discutem assuntos espinhosos e íntimos na presença dos outros, como se não houvesse ninguém por perto. Da última vez que presenciei esse tipo de conversa, há uns três dias, uma mulher falava em alto e bom som sobre a sexualidade de toda a sua família, inclusive dela própria e do marido, sem nenhum pudor ou semancol. Chegou a falar que o fulano não pegaria a beltrana, nem mesmo se ela fosse a última mulher da Terra. Em outro momento, ao falar que apresentara uma outra mulher para o marido - a qual este, educadamente e com muita finesse, disse prontamente que pegava -, a narradora acrescentou que não iria preparar bolo para o outro comer. Como vocês podem perceber, as conversas giravam em torno de questões importantíssimas, que não poderiam de maneira nenhuma esperar para serem discutidas em outra oportunidade. Tinha que ser ali, naquele local, falando besteira ilimitada ou infinitamente, como preferirem. Também, pudera, por R$ 0,25, até injeção na testa. Não importa o que você fala, mas o quanto você fala. O negócio é trocar o chip e soltar o verbo. Nunca o brasileiro foi tão interativo e conectado. Pena que toda essa facilidade de conexão e interatividade não tem contribuído em nada para uma sociedade melhor, mais justa e cidadã.

sábado, 5 de maio de 2012

Massification Society - Revisited

Texto originalmente publicado em janeiro de 2010, mas
 repostado agora em virtude da atualidade do tema. 

Não sei se vocês perceberam, mas estamos vivendo num mundo em que as pessoas fazem quase tudo sempre igual e ao mesmo tempo.

Como miquinhos amestrados, estamos sendo, todos, orquestrados por poderosos grupos econômicos, empresas, meios de comunicações e detentores das mais modernas tecnologias.
Apesar de nos acharmos tão livres, leves e soltos, estamos, isto sim, sendo o tempo todo compelidos a agir desta ou daquela maneira, a usar esta ou aquela grife, a comprar este ou aquele carro, a assistir este ou aquele filme, a ouvir esta ou aquela música...

Os comportamentos têm cada vez mais sido ditados pela televisão e pela internet. As poderosas redes televisivas dão a pauta de como a sociedade vai se comportar naquele período.

Pensem um pouco sobre o cronograma de vida e atividades que nos impõem durante o ano:

Em janeiro, ao mesmo tempo que falam em férias escolares, dando sugestões de onde ocupar os pimpolhos, falam também sobre IPVA, IPTU e material escolar. Sempre a mesma lenga-lenga.

Depois vem o Carnaval, e só se fala nesse assunto, diuturnamente. Mostram inúmeros carros descendo para o litoral, porque ficou estabelecido, sabe Deus por quem, que Carnaval é para ser curtido na praia. Desfiles, fofocas sobre as rainhas de bateria e suas infantilidades. Quantos mililitros de silicone as musas colocaram. Quanto malharam. Com quem estão namorando. Haja saco. A música então, só samba-enredo de manhã até a noite. Um porrilhão de surdos e cuícas massacrando diretamente os nossos pobres tímpanos.

Após o Carnaval, o assunto passa a ser o início das aulas e o aumento do trânsito já caótico, devido às mamães que insistem em parar em fila dupla na frente dos colégios dos rebentos.
Fala-se também dos trotes aplicados aos calouros nas faculdades e das eventuais atrocidades que essa prática costuma trazer todos os anos.

Abril, mês da Semana Santa. E a mídia já começa a insuflar a população para as viagens ao interior. Assim como o Carnaval tem que ser curtido na praia, a Semana Santa deve ser aproveitada no interior. É outra regra que assola o nosso inconsciente coletivo.
Por que o cara não pode curtir o Carnaval no campo ou na montanha e a Semana Santa na praia? Onde está escrito que essa norma não pode ser subvertida? Eu, particularmente, todas as vezes em que inverti os roteiros pré-programados pela massificação onipresente, me dei extremamente bem, ficando em lugares tranquilos e menos badalados.

E assim passa o ano: Dias das mães, férias de julho, dias dos pais, dias das crianças... e, finalmente, o auge da mesmice e do comportamento clônico: Natal e Ano Novo. Aí é que o caldo entorna de vez. Graças a Deus, passamos por esse período recentemente e vai demorar um pouco para chegar novamente.

Aí sim, a micaiada amestrada se lambuza de tanto fazer a mesma coisa junta e igual, exatamente ao mesmo tempo.

Todo mundo se fodendo junto nos centros de compras, sejam shoppings chiquérrimos e metidos à besta, ou os centros populares de varejo, como a 25 de Março em São Paulo, ou o Sahara no Rio de Janeiro.

A desinteligência coletiva é tanta, que todo o ano, passado o Natal, as lojas ficam às moscas, com liquidações de até 70% de desconto. Mas isso, só alguns poucos pensantes e autênticos conseguem vislumbrar e aproveitar. Para eles, tiro o meu chapéu.

E também, e principalmente, nesse período, a ditadura comportamental assola a todos.
O Natal DEVE ser passado em família, em volta do peru e próximo à árvore de Natal.
O Ano Novo DEVE ser passado na praia, de branco, pulando sete ondinhas e comendo romã. Claro que depois de suportar as 10 horas de tráfego pesado e engarrafamento, para só então poder pisar na areia suja e contaminada.

Não sou contra a alegria, contra as viagens e muito menos contra as deliciosas reuniões familiares. Não sou contra dar presentes a quem amamos ou admiramos. Muito pelo contrário.
Sou contra, isso sim, o fato de sermos impingidos a fazer isso sempre que o patrão mandar.

Não sou contra a música. Por sinal, adoro música. Mas precisa ser a música que eu escolhi para curtir. Não aquela que toca à exaustão nas rádios e na TV.

Curto tudo que há de bom na vida, mas deve ser tudo aquilo que represente algo de bom para mim, para minha família e para a sociedade em geral. Não o que nos empurram goela abaixo durante o ano todo.

Acho que só a educação séria e comprometida das nossas crianças pode fazer com que, no futuro, passemos a ter mais cidadãos pensantes, atuantes e questionadores. Que não engulam, sem avaliar ou cogitar, todo o lixo e todas as regras de comportamento que nos são delicada e discretamente impostas.


Créditos:
A imagem de Homer Simpson, que ilustra este post, foi retirada do blog The Gong Show.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...