Parece que, cada vez mais, as mentes das pessoas estão se tornando compartimentadas e setorizadas, não sobrando mais espaços para a diversidade de pensamentos e atuações.
Já há algumas décadas, mas cada vez mais, implantou-se a cultura urbana das tribos. Por essa linha de pensamento, ou você pertence a uma tribo ou pertence a outra, ou está no limbo. Não há espaço para interações e complementações. Não há diálogos entre os pretensos desiguais. E essa mentalidade, em casos agudos, tem levado até ao aumento exacerbado da violência, haja visto as ditas tribos que são extremistas na sua maneira de atuar, como os skin heads, torcidas organizadas e grupos similares.
Porém, não acho que precisemos chegar a esses casos extremos, para detectarmos os vários tipos de problemas que a tribificação (Termo cuja invenção reputo ao espetacular músico André Abujamra) das pessoas pode causar ou ensejar.
As tribos urbanas ou sociais, sejam de que natureza forem, sempre tenderão para a uniformização de pensamentos, ideias, proposições e, claro, da aparência física e da vestimenta dos seus membros.
Alguns poderão estar perguntando: E o que isso tem de mau? Procurarei explicar. Entendo que, toda vez que uma pessoa age levada por fatores externos, sejam quais forem, está deixando de ser ela mesma, e de pensar por si mesma. Nas tribos, sejam musicais, intelectuais, jovens ou qualquer que seja a sua motivação, os integrantes tendem a se comportar sempre dentro dos quadrados informalmente pré-determinados. Ao meu ver, parece que o campo de atuação e de discussão fica reduzido, de acordo com a finalidade à qual aquela tribo se propõe. Sempre que saio com parentes e amigos, indo a shows e espetáculos variados, noto a presença dessas tribos. É claro que nós, pobres mortais, não nos enquadramos em nenhuma delas, visto termos uma mente mais aberta e mais ampla, que aprecia um leque maior de possibilidades artísticas e musicais. Assim, não vemos problema algum em assistir em uma semana a um show dito brega, e na semana seguinte a outro show, completamente diferente, considerado mais pensante e cabeça pela opinião pública. Entendemos que as ideias, opiniões e propostas devam se complementar umas às outras, e jamais se compartimentarem.
Porém, por mais cool que os integrantes de determinadas facções sociais se sintam, acredito que eles percam muito por não praticar a interação espontânea, a qual eu e meu singelo grupo somos afeitos.
Tem sido recorrente o fato de estarmos em casas populares de São Paulo, como a rede SESC, as quais oferecem ótimas opções de shows e espetáculos a preços módicos, e sentirmos, de acordo com os shows, a total compartimentação da plateia. Já houve apresentações, que juntavam artistas mais velhos e mais novos, nas quais os públicos de ambos não interagiam. E, acabada a participação de um dos artistas, o respectivo público, se é que isso existe, imediatamente deixava o recinto, numa clara demonstração de sectarismo e falta de abertura para o que é supostamente diferente e novo.
Mas esses são apenas exemplos mais práticos, para ver se consigo me fazer entender. As tribos, em seus muitos meios de atuação, ao meu ver, se comportam assim. Incensam e valorizam apenas o pequeno nicho de pensamento e pessoas ao qual estão voltadas e das quais estão rodeadas.
Sinceramente, não vejo vantagem alguma nessa postura. Acredito que a espontaneidade, a interação e o constante treino para o abandono de condutas rançosas e preconceituosas sejam um excelente caminho para a expansão das nossas mentes. A ideia central, para mim, deve ser sempre a de incluir, chamar, interagir. Qual a vantagem em se fechar em um microcosmo, em um grupo de personalidades congêneres, seja virtual, seja presencial, e, a partir daí balizar toda a sua vida e a suas posturas pessoais?
Novamente lanço mão da sabedoria de André Abujamra, o qual eu já vi propor a ampla e total destribificação dos cérebros, lançando mão, com sua mente criativa e fervilhante, de outro neologismo sensacional, alem de realmente muito aplicável aos dias e comportamentos atuais.
Destribifiquemo-nos pois. Tenho certeza de que nada perderemos com isso. Contatos com outras maneiras de pensar, com outras visões artísticas e políticas, com pessoas de diferentes faixas etárias, só irão nos enriquecer e integrar neste mundo tão compartimentado e setorizado em que vivemos. Ser cool é compartilhar, e não se fechar em casulos, achando-se diferente e melhor do que todos os outros mortais apenas por ostentar uma tatuagem, um piercing ou um corte de cabelo específico. Ser cool está na essência, e não na aparência das pessoas.