quinta-feira, 26 de abril de 2012

Mentes Compartimentadas e Fechadas

Parece que, cada vez mais, as mentes das pessoas estão se tornando compartimentadas e setorizadas, não sobrando mais espaços para a diversidade de pensamentos e atuações.  
Já há algumas décadas, mas cada vez mais, implantou-se a cultura urbana das tribos. Por essa linha de pensamento, ou você pertence a uma tribo ou pertence a outra, ou está no limbo. Não há espaço para interações e complementações. Não há diálogos entre os pretensos desiguais. E essa mentalidade, em casos agudos, tem levado até ao aumento exacerbado da violência, haja visto as ditas tribos que são extremistas na sua maneira de atuar, como os skin heads, torcidas organizadas  e grupos similares.
Porém, não acho que precisemos chegar a esses casos extremos, para detectarmos os vários tipos de problemas que a tribificação (Termo cuja invenção reputo ao espetacular músico André Abujamra) das pessoas pode causar ou ensejar.  
As tribos urbanas ou sociais, sejam de que natureza forem, sempre tenderão para a uniformização de pensamentos, ideias, proposições e, claro, da aparência física e da vestimenta dos seus membros.
Alguns poderão estar perguntando: E o que isso tem de mau? Procurarei explicar. Entendo que, toda vez que uma pessoa age levada por fatores externos, sejam quais forem, está deixando de ser ela mesma, e de pensar por si mesma. Nas tribos, sejam musicais, intelectuais, jovens ou qualquer que seja a sua motivação, os integrantes tendem a se comportar sempre dentro dos quadrados informalmente pré-determinados. Ao meu ver, parece que o campo de atuação e de discussão fica reduzido, de acordo com a finalidade à qual aquela tribo se propõe. Sempre que saio com parentes e amigos, indo a shows e espetáculos variados, noto a presença dessas tribos. É claro que nós, pobres mortais, não nos enquadramos em nenhuma delas, visto termos uma mente mais aberta e mais ampla, que aprecia um leque maior de possibilidades artísticas e musicais. Assim, não vemos problema algum em assistir em uma semana a um show dito brega, e na semana seguinte a outro show, completamente diferente, considerado mais pensante e cabeça pela opinião pública. Entendemos que as ideias, opiniões e propostas devam se complementar umas às outras, e jamais se compartimentarem.
Porém, por mais cool que os integrantes de determinadas facções sociais se sintam, acredito que eles percam muito por não praticar a interação espontânea, a qual eu e meu singelo grupo somos afeitos.
Tem sido recorrente o fato de estarmos em casas populares de São Paulo, como a rede SESC, as quais oferecem ótimas opções de shows e espetáculos a preços módicos, e sentirmos, de acordo com os shows, a total compartimentação da plateia. Já houve apresentações, que juntavam artistas mais velhos e mais novos, nas quais os públicos de ambos não interagiam. E, acabada a participação de um dos artistas, o respectivo público, se é que isso existe, imediatamente deixava o recinto, numa clara demonstração de sectarismo e falta de abertura para o que é supostamente diferente e novo.
Mas esses são apenas exemplos mais práticos, para ver se consigo me fazer entender. As tribos, em seus muitos meios de atuação, ao meu ver, se comportam assim. Incensam e valorizam apenas o pequeno nicho de pensamento e pessoas ao qual estão voltadas e das quais estão rodeadas. 
Sinceramente, não vejo vantagem alguma nessa postura. Acredito que a espontaneidade, a interação e o constante treino para o abandono de condutas rançosas e preconceituosas sejam um excelente caminho para a expansão das nossas mentes. A ideia central, para mim, deve ser sempre a de incluir, chamar, interagir. Qual a vantagem em se fechar em um microcosmo, em um grupo de personalidades congêneres, seja virtual, seja presencial, e, a partir daí balizar toda a sua vida e a suas posturas pessoais?   
Novamente lanço mão da sabedoria de André Abujamra, o qual eu já vi propor a ampla e total destribificação dos cérebros, lançando mão, com sua mente criativa e fervilhante, de outro neologismo sensacional, alem de realmente muito aplicável aos dias e comportamentos atuais.  
Destribifiquemo-nos pois. Tenho certeza de que nada perderemos com isso. Contatos com outras maneiras de pensar, com outras visões artísticas e políticas, com pessoas de diferentes faixas etárias, só irão nos enriquecer e integrar neste mundo tão compartimentado e setorizado em que vivemos. Ser cool é compartilhar, e não se fechar em casulos, achando-se diferente e melhor do que todos os outros mortais apenas por ostentar uma tatuagem, um piercing ou um corte de cabelo específico. Ser cool está na essência, e não na aparência das pessoas.

domingo, 22 de abril de 2012

Considerações de um diletante sobre o "Jornalismo Lado B"

Estava eu praticando minha caminhada de domingo, em meio às elucubrações das ideias e propostas lançadas e discutidas no curso "Jornalismo Lado B", do Instituto Barão de Itararé, quando nos meus fones de ouvido a letra de uma das músicas da Nação Zumbi trouxe uma frase precisa, que se encaixava no contexto e no cerne de toda essa discussão: "...Mais perto da essência, o sentido respira,  consumido no perfume que vem..." Aliás, com um pequeno aparte, recomendo a todos que ouçam sempre as músicas de Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, pois todas são sempre muito boas para ficar pensando melhor e mais claro. Essas letras e músicas deveriam ser estudadas nas escolas, conforme a excelente sugestão do Azenha,  juntamente com muitos outros materiais audiovisuais criativos e alternativos, que podemos encontrar nas televisões públicas, na mídia alternativa e até mesmo no lado claro e positivo da Internet.
Mas, voltando à vaca fria, a música "Prato de Flores" traz em sua letra, conforme trecho sublinhado acima, a importância que existe em vivermos sempre, diante de qualquer aspecto de nossas vidas, perto da nossa essência, pois perto dela, nossos sentidos sempre estarão melhor amparados pela nossa verdade, pelos nossos princípios. Nada será mais belo ou verdadeiro do que qualquer trabalho que façamos balizados pelos nossos próprios e verdadeiros parâmetros interiores. Sempre que seguirmos verdades e imposições alheias em detrimento das nossas convicções soaremos falsos, fakes, ou seja, seremos cópias dos outros, ou então fantoches, jamais seremos nós mesmos. É claro que as boas influências, os grandes profissionais e tudo de bom e criativo que nos rodeia pode e deve ser utilizado e aproveitado por nós, mas apenas com o sentido de inspiração, sendo que sempre deveremos procurar acrescentar algo de novo e útil aos bons métodos e ideias alheias que porventura nos sirvam de inspiração. A cópia pela cópia dos padrões impostos como certos e válidos jamais trará nada de positivo ou interessante a qualquer meio de trabalho em que estejamos inseridos.
Como coloco no título deste post, sou apenas um diletante, um amador, que adora estar bem informado, mas não apenas isto, que procura no dia-a-dia separar o joio do trigo, principalmente em relação às posturas e ações políticas de nossos homens públicos, bem como daqueles, que por fazerem parte da mídia, são responsáveis por divulgar todos os acontecimentos e fatos, sejam políticos ou de que natureza forem.
Além disso, entendo que precisamos resgatar o sentido de coletividade e bem-estar geral em nossas vidas. De nada adiantará termos uma vida profissional extremamente bem sucedida se ela, em última análise, não puder oferecer uma contribuição concreta, útil e desinteressada à vida das pessoas que nos rodeiam.
Entendo que todos nós, jornalistas ou não, que nos propomos a interagir de alguma forma com o mundo, precisamos manter nessa relação o maior grau de honestidade e verdade possível, mesmo que a nossa verdade possa não condizer exatamente com os modismos e imposições midiáticas e propagandísticas do momento. Um posicionamento sincero e honesto, mesmo que não seja entendido imediatamente, será entendido por todos com o passar do tempo. Às vezes, o que é correto, justo e valoroso fica sucumbido pelos ditames da moda, pelas imposições do capital ou pela manifestação da vontade daqueles que detém o poder, seja político ou econômico. Porém, demorando ou não, a verdade sempre prevalecerá.
Por isso, volto ao ponto inicial, quem mantém a coerência interior e a firmeza de propósitos em todos os aspectos da sua vida, dificilmente cairá em contradições, sejam pessoais ou profissionais. Por outro lado, quem se deixa levar pelas tendências de mercado, pelos atalhos fáceis e pelas imposições alheias, corre o sério risco ser tido como incoerente e suscetível às influências daninhas e oportunistas.
É claro que, com  todas as novas tecnologias à disposição, alguns aspectos profissionais vão se alterando e evoluindo com o tempo, mas, como já foi dito algumas vezes nas palestras deste curso, o conteúdo e as ideias sempre continuarão sendo a base de todo o bom trabalho que qualquer profissional venha a criar ou executar. Acho, por fim, que para todos nós, o que deve nos mover para realizar trabalhos dignos e úteis à sociedade seja o legítimo interesse de que toda ela evolua conjunta e continuamente, aumentando a inclusão em todos os setores e diminuindo as diferenças e injustiças sociais que ainda campeiam por esse imenso Brasil.               

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Epitáfios grotescos

Segue abaixo uma série de inscrições para lápides, as quais poderiam ser utilizadas nos túmulos da grande maioria dos nossos homens públicos, políticos, banqueiros, empresários, latifundiários e proprietários rurais, entre muitos outros, que tantos e recorrentes danos causam à nossa sociedade. Há alguns casos que também se aplicam a muita gente oriunda da classe média, que, em larga escala, costuma se achar melhor  e mais digna do que as pessoas mais humildes.


Aqui jaz Grotesco, aquele que, em vida...


"Considerava-se realmente mais vivo do que os outros, sempre querendo levar vantagem em tudo, conforme os ditames da famigerada Lei de Gerson."

"Sempre se achou, por razões inexplicadas, superior às outras pessoas e merecedor de especial deferência e consideração de todos à sua volta."

"Sempre se portou em vida segundo a velha máxima: Farinha pouca, o meu pirão primeiro!"

"Achava que tudo girava à sua volta, bem como da sua família, pouco se lixando para se o resto do mundo se explodia."

"Jamais  respeitou o lado humano das pessoas, pautando todas as relações apenas pelas aparências e pela cosmética."

"Nunca em vida valorizou o ser em detrimento do ter."

"Jamais pautou-se pela honestidade, ombridade e lealdade, pois considerava esses valores como fora de moda e antiquados."

"Sempre fez na vida pública uma interminável extensão do que fazia na privada."

"Jamais se preocupou com questões ambientais, querendo sempre, isso sim, auferir todos os lucros possíveis sobre as terras, águas e riquezas naturais que considerava como suas."   

"Nunca se pautou pela preocupação com os mais humildes e desvalidos, tomando todas as atitudes sempre orientado pelos seus instintos corporativistas e de classe."

"Por achar-se dono do capital, sempre exigiu ser aquele que mais lucraria em qualquer transação ou situação nas quais investisse o seu famigerado dinheiro."

"Por seu poderio econômico, sempre fez uso da sua arrogância, explorando as pessoas e os subalternos em todas as situações nas quais havia essa possibilidade."

"Sempre distorceu os fatos e a história com o intuito de manter-se no poder a qualquer custo, valendo-se da ignorância dos mais fracos e humildes."

"Sempre trabalhou nas esferas em que pôde para manter o enorme fosso social brasileiro, sentindo-se sempre parte de uma classe hegemônica reduzida e superior."

"Sempre levou uma vida de indiferença em relação às questões sociais, passando a manifestar-se ferozmente e a declarar-se cansado apenas quando a violência chegou à sua porta ou aos seus entes queridos."

"Passava por cima dos desafetos e oponentes de maneira covarde e violenta, fazendo valer estupidamente, e à força, toda a sua vontade."
Deus os tenha em bom lugar!

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