sábado, 16 de janeiro de 2010

Massification Society

Não sei se vocês perceberam, mas estamos vivendo num mundo em que as pessoas fazem quase tudo sempre igual e ao mesmo tempo.

Como miquinhos amestrados, estamos sendo, todos, orquestrados por poderosos grupos econômicos, empresas, meios de comunicações e detentores das mais modernas tecnologias.
Apesar de nos acharmos tão livres, leves e soltos, estamos, isto sim, sendo o tempo todo compelidos a agirmos desta ou daquela maneira, a usarmos esta ou aquela grife, a comprarmos este ou aquele carro, a assistirmos este ou aquele filme, a ouvirmos esta ou aquela música...

Os comportamentos têm cada vez mais sido ditados pela televisão e pela internet. As poderosas redes televisivas dão a pauta de como a sociedade vai se comportar naquele período.

Pensem um pouco sobre o cronograma de vida e atividades que nos impõem durante o ano:

Em janeiro, ao mesmo tempo que falam em férias escolares, dando sugestões de onde ocupar os pimpolhos, falam também sobre IPVA, IPTU e material escolar. Sempre a mesma lenga-lenga.

Depois vem o Carnaval, e só se fala nesse assunto, diuturnamente. Mostram inúmeros carros descendo para o litoral, porque ficou estabelecido, sabe Deus por quem, que Carnaval é para ser curtido na praia. Desfiles, fofocas sobre as rainhas de bateria e suas infantilidades. Quantos mililitros de silicone as musas colocaram. Quanto malharam. Com quem estão namorando. Haja saco. A música então, só samba-enredo de manhã até a noite. Um porrilhão de surdos e cuícas massacrando diretamente os nossos pobres tímpanos.

Após o Carnaval, o assunto passa a ser o início das aulas e o aumento do trânsito já caótico, devido às mamães que insistem em parar em fila dupla na frente dos colégios dos rebentos.
Fala-se também dos trotes aplicados aos calouros nas faculdades e das eventuais atrocidades que essa prática costuma trazer todos os anos.

Abril, mês da Semana Santa. E a mídia já começa a insuflar a população para as viagens ao interior. Assim como o Carnaval tem que ser curtido na praia, a Semana Santa deve ser aproveitada no interior. É outra regra que assola o nosso inconsciente coletivo.
Por que o cara não pode curtir o Carnaval no campo ou na montanha e a Semana Santa na praia? Onde está escrito que essa norma não pode ser subvertida? Eu, particularmente, todas as vezes em que inverti os roteiros pré-programados pela massificação onipresente, me dei extremamente bem, ficando em lugares tranquilos e menos badalados.

E assim passa o ano: Dias das mães, férias de julho, dias dos pais, dias das crianças... e, finalmente, o auge da mesmice e do comportamento clônico: Natal e Ano Novo. Aí é que o caldo entorna de vez. Graças a Deus, passamos por esse período recentemente e vai demorar um pouco para chegar novamente.

Aí sim, a micaiada amestrada se lambuza de tanto fazer a mesma coisa junta e igual, exatamente ao mesmo tempo.

Todo mundo se fodendo junto nos centros de compras, sejam shoppings chiquérrimos e metidos à besta, ou os centros populares de varejo, como a 25 de Março em São Paulo, ou o Sahara no Rio de Janeiro.

A desinteligência coletiva é tanta, que todo o ano, passado o Natal, as lojas ficam às moscas, com liquidações de até 70% de desconto. Mas isso, só alguns poucos pensantes e autênticos conseguem vislumbrar e aproveitar. Para eles, tiro o meu chapéu.

E também, e principalmente, nesse período, a ditadura comportamental assola a todos.
O Natal DEVE ser passado em família, em volta do peru e próximo à árvore de Natal.
O Ano Novo DEVE ser passado na praia, de branco, pulando sete ondinhas e comendo romã. Claro que depois de suportar as 10 horas de tráfego pesado e engarrafamento, para só então poder pisar na areia suja e contaminada.

Não sou contra a alegria, contra as viagens e muito menos contra as deliciosas reuniões familiares. Não sou contra dar presentes a quem amamos ou admiramos. Muito pelo contrário.
Sou contra, isso sim, o fato de sermos impingidos a fazer isso sempre que o patrão mandar.

Não sou contra a música. Por sinal, adoro música. Mas precisa ser a música que eu escolhi para curtir. Não aquela que toca à exaustão nas rádios e na TV.

Curto tudo que há de bom na vida, mas deve ser tudo aquilo que represente algo de bom para mim, para minha família e para a sociedade em geral. Não o que nos empurram goela abaixo durante o ano todo.

Acho que só a educação séria e comprometida das nossas crianças pode fazer com que, no futuro, passemos a ter mais cidadãos pensantes, atuantes e questionadores. Que não engulam, sem avaliar ou cogitar, todo o lixo e todas as regras de comportamento que nos são delicada e discretamente impostas.


Créditos:
A imagem de Homer Simpson, que ilustra este post, foi retirada do blog The Gong Show.
Pesquisando imagens sobre mesmice, me deparei com o blog Humor em textos, de Paulo Tamburro, cujo post muitíssimo bem humorado sobre este tema pode ser lido aqui.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cabeça em manutenção

Próximo dos 45.000 Km de rodagem, resolvi levar meu cérebro e meu coração para a revisão periódica. A última foi feita com 35.000 Km.
É o momento de reavaliar conceitos, opiniões, pontos de vista. Guardar o que presta e jogar fora aquilo que não serve mais.
Preciso lubrificar os neurônios, balancear os sentimentos, alinhar o coração.
Afinal de contas, antes da longa viagem de 2010, é preciso estar com o check-up em dia.
A única peça que parece intacta é o odômetro da contramão. Esse parece que ainda vai continuar muito operante após a revisão.
Recentemente, li em um blog amigo que não entendiam o que poderia significar "Altavolt na Contramão". Fiquei preocupado. Acho que estou sendo menos claro do que sempre pretendi.
E isso "estartou" o processo de aferição de parâmetros. Tudo que eu sempre pretendi foi ser claro nos meus conceitos e ideias. Se não me entendem mais, é hora de baixar oficina.
Em breve, voltarei zerado.

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