terça-feira, 1 de março de 2016

QUE TAL?

Como bradam e vociferam os estúpidos, preconceituosos e ignorantes!
Para cada brado, uma alternativa.
Em vez de matar, que tal educar bem?
Em vez de prender depois, que tal dar opções de desenvolvimento antes?
Em vez de mérito apenas pelo sobrenome ou ascendência, que tal oportunidades iguais?
Em vez de cartas marcadas, que tal chances para todos?
Em vez de palavras e atitudes idiotas de intolerância, que tal respeitar as diferenças?
Todas - absolutamente todas - as pessoas são diferentes entre si.
Todas têm singularidades, peculiaridades, idiossincrasias.
Que tal considerá-las todas - absolutamente todas - como gente que são?
Que tal não separá-las por cor, origem, opção, aparência, limitações, credo ou status?
Que tal não se achar melhor do que ninguém?
Que tal não avaliar os livros apenas pelas capas?
Que tal parar de chamar menor infrator negro e pobre de bandido e bandido rico, branco, drogado e motorizado de jovem?
Que tal parar de querer apenas para si e os seus e pensar um pouco no entorno e no todo?
Que tal deixar de bajular apenas quem tem dinheiro e poder somente pelo fato dele(a) ter dinheiro e poder?
Que tal parar de dar importância somente a sobrenomes e passar a dar importância a caracteres?
Que tal parar de dar importância apenas a bens e objetos e passar a dar importância a ideias?
Que tal respeitar e tratar bem mulheres e crianças como elas devem ser respeitadas e bem tratadas? 
Que tal respeitar, valorizar e aprender com a sabedoria e experiência dos idosos?
Que tal respeitar, valorizar e aprender com a garra e rebeldia dos jovens?
Ninguém está sozinho, ninguém faz nada sozinho, ninguém é autossuficiente. 

Que tal pensar, sugerir, agir e fazer deste mundo um lugar melhor para todos, absolutamente todos?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

TCHONGONILDO - O Direita Pão Com Ovo

Tchongonildo está com cinquenta anos. Meio século de despreparo mental. Nascido na década de 60, amargou todo o período do ensino fundamental e médio sob o peso da ditadura. Nada ou pouco aprendeu. Ou, por outro lado, o que aprendeu lhe foi ensinado de maneira distorcida e enviesada, em meio aos rigores e proibições daqueles tempos.

Tchongonildo vem da classe média baixa paulistana, dessas famílias que pautam toda a sua vida cultural na programação da Rede Globo, que, por sinal, tem a mesma idade do nosso personagem. Globo e Tchongonildo, tudo a ver, por cinquenta longos anos. Descerebração total e imputação de certos valores (ou desvalores) ao longo de toda uma vida.

Tchongo, como é carinhosamente chamado, acha que o Brasil piorou muito nos últimos doze anos, que a corrupção nunca foi tão grande, e que uma quadrilha se instalou no poder.

Ele considera que a corrupção no Brasil é uma garota mal chegada à adolescência. Esbraveja contra o governo atual, bate panelas quando a presidenta fala em rede nacional e, sempre que convocado, em larga escala pela própria Globo, veste sua camisa amarela da impoluta CBF e vai para a Paulista vociferar contra os petralhas e pedir a volta dos militares, pelos quais ainda nutre tantas saudades.

Cidadão completamente medíocre, no sentido de que representa a média intelectual da população paulistana, Tchongo esbraveja contra aqueles que as revistas, jornais e grandes redes de TV elegem para serem perseguidos e defenestrados da política. Seu pensamento é pautado pela grande mídia.

Tchongo prefere defender os interesses dos abastados, dos bancos e dos seus patrões, pois os considera, em sua parvoíce, uma classe que muito trabalhou até conquistar todos os patrimônios que hoje ostenta.  Mesmo não tendo sido beneficiado por ela, e jamais seria, Tchongo considera a meritocracia como a maneira mais justa de ascensão social para qualquer cidadão. Alardeia o discurso veiculado constantemente na TV, que valoriza aqueles que vencem unicamente pelo esforço pessoal, contra tudo e contra todos, mesmo sendo eles a exceção da exceção na sociedade.

Tchongo não acha necessário que haja cotas para negros, índios, pobres ou portadores de deficiência. Acredita piamente apenas no mérito. Se a pessoa quer algo, basta se esforçar e pronto. Não percebe que há diferenças e disparidades nas linhas de largada desses competidores por um lugar ao Sol.

E assim segue a vida de Tchongonildo, maldizendo todos os políticos que ousem tomar atitudes que venham a beneficiar parcelas anteriormente esquecidas pelos antigos governantes, pelos senhores de engenho e pelos coronéis. Tchongo não acha necessário que nada mude. Entende que deve haver uma divisão entre as pessoas, ou seja, de um lado estão aquelas que têm as coisas, pessoas de bem, e do outro aquelas que não se esforçaram bastante para tê-las, que são os malandros e folgados em geral.

Tchongo é pela pena de morte, pela matança indiscriminada de "bandidos" e pela redução da maioridade penal, sem perceber que até os seus filhos, por serem pobres, podem vir a engrossar as estatísticas de encarceramento e morte violenta da juventude desvalida.

Abre o olho, Tchongonildo! Você está lutando por uma classe que não é a sua, por demandas que não são as dos seus pares. Você é mais um dos tantos que engrossa as fileiras da direita pão com ovo, que come mortadela e arrota caviar.


Ilustração retirada do blog Carcará, link abaixo, cuja postagem é complementar a esta, pois aborda a mesma temática, e a cujos autores de antemão agradeço.

http://carcara-ivab.blogspot.com.br/2014/10/a-direita-pao-com-ovo.html




quinta-feira, 9 de abril de 2015

FORA DE ESQUADRO

Tão fácil querer o carro do ano
Tão comum querer o último iphone
Tão bom estar na praça de alimentação do shopping
Tão seguro estar protegido por grades, alarmes e câmeras

Andar com roupas e calçados da moda
Usar o penteado da moda
Fazer tudo que todos fazem de acordo com a moda
Ouvir, curtir e dançar a música da moda

Garantir uma vida boa para mim e para os meus
Ter um patrão insuportável e explorador
Mas aceitar, candidamente, porque a vida é assim mesmo
Fazer e dizer o que a TV me manda fazer e dizer

Ser o mais igual entre os iguais
Ser muito tolerante, mesmo diante das maiores injustiças
Pensar só em mim, sempre, e acima de tudo
Farinha pouca, meu pirão primeiro

Achar que a minha dor é a maior de todas
Mas não me incomodar com a dor alheia
Querer garantir avidamente o meu quinhão
Não me importando que nem todos vivam com dignidade

Tão fácil ser assim
Tão fácil querer tudo isso ou só isso
Basta seguir o script que escrevem para nós
Por que então ser fora de esquadro?


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

CUIDADO: HOMENS NÃO TRABALHANDO

Charge de Bennet, que de alguma
 forma ilustra esta postagem.

Ao assistir aos telejornais da nossa mídia, que também não é, nem nunca foi, flor que se cheire, nos deparamos todas as manhãs com denúncias seletivas, mas nem por isso menos emblemáticas, do mau uso e da má fé inerentes às coisas e aos órgãos públicos.

São cenas lamentáveis de descaso com os cidadãos e com os usuários desses serviços, que deveriam ser públicos e realmente prestar atendimentos, cada qual na sua finalidade, aos brasileiros que a essas repartições ou instâncias necessitem recorrer em determinadas alturas de suas vidas.

Hoje, por exemplo, vi o caso de um renomado instituto de saúde de São Paulo, que está deixando seus pacientes idosos e infartados sentados por horas a fio à espera de atendimento, exames e medicamentos.

Quando se pergunta qual o motivo daquela barbárie, normalmente ouvimos as mesmas cantilenas dos seus gestores e administradores, que invariavelmente alegam falta ou insuficiência de recursos.  

Os recursos até podem realmente ser menores do que o necessário, mas como se explica aquela situação de total abandono e descaso para com os contribuintes e cidadãos? Ali, não se vê boa vontade ou agilidade para nada. Todos, com raríssimas e honrosas exceções, se encostam na tal da falta de recursos e deixam a coisa descambar e degringolar de vez, nos fazendo a todos presenciar cenas dantescas do mais genuíno desrespeito a que seres humanos podem ser submetidos, justamente nos momentos em que estão mais frágeis e carentes de cuidados.

É comum no Brasil afirmarmos de boca cheia que os políticos são todos corruptos. Mas, e nós? Se como agentes e funcionários públicos também permitimos que esses desserviços sejam prestados à população e nos acovardamos diante das situações e nada, absolutamente nada, fazemos para torná-la um pouco melhor e menos desumana. O que somos nós? Omissos, preguiçosos, covardes, inoperantes? 

Percebo no serviço público brasileiro uma avidez por verbas, colocações e benesses, mas não sinto que nem 10% dessa sanha por poder e status se transformem em resultados positivos para aquele que mais precisa e que é a razão dos entes públicos existirem: o cidadão.

Nenhuma instituição pública ou seus administradores, agentes e funcionários, podem estar acima da finalidade para a qual foi criada. A prestação de serviços de qualidade à população é o único motivo para a existência de um hospital, de uma universidade, de uma autarquia governamental ou de um órgão de governo. Para mais nada deveriam se prestar, a não ser atender, e bem, aos seus usuários. 

As vergonhas que os agentes, órgãos e entidades públicas brasileiras nos têm feito passar, com suas más gestões, ingerências e arrogâncias fora de contexto e lugar, já passaram da hora de serem extirpadas da vida cotidiana. 

Parafraseando Kennedy, tanto funcionários públicos, quanto dirigentes e políticos, precisam parar e se perguntar o que o Brasil está esperando e necessitando que eles façam, e não somente perguntar aquilo que o Brasil pode fazer por eles. 

Já passou da hora da eficiência, em prol dos usuários e da sociedade, começar a pautar todas as condutas dos agentes públicos, fazendo com que todos colaborem no mais alto grau do seu potencial e da sua instrução. Sem roubalheiras, sem desvios, sem descaso, sem preguiça e sem hipocrisia. 

Se todos cuidam dos seus bens pessoais e particulares com um afinco até maior do que o necessário, muitas vezes se locupletando com o erário, por que não podem dispender um pouco dessa preocupação com a coisa e os serviços públicos? 

Podemos todos, de alto abaixo, principalmente os cargos de comando e gestão, fazer muito mais e exigir muito menos em troca, basta querer. Não é só com dinheiro que se faz o melhor. Há também outras formas de fazê-lo, e boa vontade e empenho são as principais.

Mais empenho e menos corrupção, roubalheira, hipocrisia e descaso em todo o serviço público brasileiro, dos cargos mais humildes aos senhores doutores que comandam tudo, principalmente estes últimos. 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

DESCONSTRUINDO

É preciso desconstruir
Aquilo que nos diferencia
É preciso abolir
Tudo o que nos distancia

Se humanos somos desde a concepção
Brasão do Espaço Mata Branca
Brejo do Cruz
Paraíba - Brasil
Por que há baias, cercas e muros?
Já que merecemos todos atenção
Uns ganham prêmios, outros ganham furos

Por que existem os escolhidos?
Se todos precisam viver
Por que existem os recolhidos?
Se todos precisam pertencer

Por que o “belo” é imposto em todas as frentes?
A cor, a origem, a magreza
Se somos tantos e tão diferentes
Cada qual com a sua inteireza

Gente é o que somos
Antes de tudo e também após
Humanizar é o que propomos
Desfazer estigmas, desatar nós

Que nenhum bem seja mais relevante
Que latifúndio algum seja o critério
Para tornar alguém mais importante
Do que o imenso humano mistério.


Mais um "sonetim circuladô de fulô" para o sarau do Espaço Mata Branca, da cidade de Brejo do Cruz - Paraíba - Brasil

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

IOGURTES E INCLUSÃO

Por estes dias movimentados de eleições e ressaca eleitoral, veio à tona, como milhões de tantas outras, a declaração de um jovem brasileiro, branco, bem posicionado na hierarquia social prevalente, de classe média alta (Eu vou ser politicamente correto nas denominações, não vou usar termos chulos ou de baixo calão, imagine-os por conta própria), mostrou-se indignado com a possibilidade de viver em um país em que eventualmente não houvesse muitas e diversificadas opções de iogurtes nas gôndolas dos supermercados bem abastecidos dos grandes centros, locais que, imagino, ele frequente assídua e rotineiramente. 

Iogurtes variados para todos
Por isso, ele não vota e jamais votaria em Dilma Rousseff. Para garantir à sua estirpe social o nobre e inalienável direito de poder ter sempre à disposição, todas as marcas e sabores de iogurtes aos quais está completamente acostumado o seu fino, requintado, treinado e exigente paladar. 

Talvez seja leviandade da minha parte, mas imagino que este jovem de bem, bem nascido e que teve todas as possibilidades de formação educacional e cultural - às quais todos deveriam ter direito -, muito provavelmente engrosse o cordão das pessoas preconceituosas que vêm tecendo altas críticas ao povo do norte e nordeste brasileiros, afirmando que, principalmente os nordestinos, sejam os culpados pelas eleições e reeleições de Lula e Dilma. 

Apesar da suposta cultura e erudição que tem esse jovem mancebo, creio que ele, como a maioria dos seus pares, não conhece minimamente o nordeste e o povo nordestino. Ou melhor, conhece, mas se acostumou com eles apenas trabalhando (Com muita dignidade e profissionalismo, diga-se) nas funções subalternas da rica sociedade que frequenta. 

Ele não deve conhecer a riqueza cultural do nordeste, a imensa receptividade e alegria do povo nordestino, que, na arte de receber e ser anfitrião, talvez seja incomparável no Brasil, quiçá no mundo.   

Esse rapaz bem posicionado não vota Dilma, porque quer apenas e tão somente manter o sagrado direito de sua casta social continuar, de forma isolada, tendo acesso a todas as coisas boas e interessantes que possam haver neste mundo. Acredito que, na cabeça um tanto quanto deturpada desse moço, não haja espaço para a inclusão social, para o aumento das igualdades de oportunidades, e nem mesmo para o acesso às coisas prosaicas como o iogurte, com as quais milhões de brasileiros só passaram a se familiarizar mais efetivamente depois dos governos de Lula e Dilma. 

Esse jovem pode e deve continuar tendo acesso aos seus iogurtes, mas, agora, não podemos retroceder um milímetro. Ele degustará o seu iogurte, mas na companhia de muitos outros milhões de brasileiros. E grande parte desses milhões é composta de nossos irmãos nortistas e nordestinos, que têm, como quaisquer outros, direito a tudo o que possa ser adquirido, vivido e desfrutado de forma digna e justa nesta sociedade. 

A gente quer iogurte. A gente quer igualdade de oportunidades. A gente quer educação, saúde e moradia para todos. A gente não quer só iogurte, a gente quer estar em toda e qualquer parte. A gente é Dilma, e jamais poderia ser diferente.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Meu nome é José Simplício, mas podem me chamar de "Seu" Peninha

Peninha e seu companheiro
 inseparável, o pandeiro.
Dentro da programação do ICB Cultural, iniciativa da Comissão de Cultura e Extensão do ICB/USP, pudemos apreciar nesta quarta-feira, 01/10/14, ao meio-dia, na Lanchonete do ICB I, a linda apresentação musical, de voz e pandeiro, do nosso antigo colega José Simplício da Silva, popularmente conhecido como "Seu" Peninha. 

Nascido no povoado de Lagamar, município de Itabaiana, no estado da Paraíba, muito cedo mudou-se de lá para Timbaúba, em Pernambuco, onde viveu até os 20 anos de idade. Depois disso, teve uma passagem por Bonsucesso (RJ), regressando posteriormente à sua terra natal, Itabaiana. 

Por volta dos 40 anos de idade, veio para São Paulo, onde se estabeleceu. Em 1992, começou a prestar serviços no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, onde trabalha até hoje, como funcionário terceirizado. 

De lá para cá, já foi contratado por várias empresas, mas manteve-se firme e forte no ICB, devido à sua enorme boa vontade e capacidade de trabalho, bem como ao carinho que a comunidade do Instituto, principalmente do Edifício Biomédicas I, tem por ele. 

Peninha durante a sua
 bela apresentação.
Homem de sorriso fácil e dotado de enorme alegria de viver, Peninha é o que podemos chamar de pessoa do bem, com muitas contribuições e bons serviços prestados ao ICB e à comunidade.

É, num outro jargão popular, aquela pessoa para a qual não há tempo ruim, sempre de bem com a vida, apesar de todas as dificuldades que ela possa apresentar. 

Além desse caráter firme e dessa reputação ilibada, "Seu" Peninha também tem dotes artísticos e musicais. E esse foi o motivo dos organizadores do "ICB Cultural" o terem convidado para a deliciosa e magnética apresentação de hoje. Aliás, a comissão organizadora está de parabéns por ter tido a sensibilidade de prestigiar quem tanto já se dedicou em prol do ICB.

"Seu" Peninha mereceu muito essa lembrança, mas quem ganhou o presente fomos nós, seus colegas do ICB, que pudemos apreciar a poesia e o talento dele durante a apresentação de algumas músicas, todas elas de sua própria autoria.

O cidadão José Simplício - e ele, mais do que ninguém, pode ser chamado assim, sem sombra de dúvida, pois exerce a cidadania e o respeito por todos de maneira magistral em seu dia a dia - precisa mesmo ser reconhecido e exaltado por todos nós, pois não é fácil para um brasileiro simples, de muita garra, vencer tantos obstáculos e manter-se de cabeça erguida e atuante por tantos anos, apenas fazendo o bem, sem jamais olhar ou escolher a quem. 

Muito obrigado, "Seu" Peninha. Nós temos o privilégio de tê-lo como companheiro e ainda podemos apreciar e nos divertir com todo o seu talento artístico. 

Grande abraço e força sempre!

Abaixo, pequena amostra do "Seu" Peninha em ação!






Peninha, acompanhado de alguns integrantes da Comissão "ICB Cultural".

terça-feira, 23 de setembro de 2014

OUTRO JEITO DE SER HUMANO É POSSÍVEL

Ultimamente, tenho notado, talvez por causa das redes sociais, que tanto facilitam a circulação de todos os tipos de ideias e propostas, que muita gente tem descido, cada vez mais, a lenha em nós mesmos, os humanos. 


Postam as brincadeiras de um lindo cãozinho e em seguida alguma patada na raça humana, do tipo: só os animais são sinceros, só os animais são leais, só os animais são puros... e por aí vai. 

Se o objeto da postagem é uma paisagem ou algum fenômeno natural, lá vem as comparações e cacetadas na humanidade, do tipo: a natureza é bela, quem a estraga somos nós, e coisas do gênero.

Em relação aos políticos, também não é diferente: ninguém presta, ninguém vale nada e todos são extremamente corruptos. É esse o senso comum e é isso que parece estar arraigado no âmago da maioria dos brasileiros.   

Ou seja, falamos do homem em geral como se nós também não fizéssemos parte da humanidade. Tudo no outro é errado, corrompido, pecaminoso, injusto, mas não em nós. Nós sempre somos os salvadores da Terra, a quem nenhuma fraqueza moral, espiritual ou real pode abater. Errados são sempre os outros. 

É cada vez mais comum a célebre frase: prefiro os animais, eles são puros e honestos. Como se nós também não fôssemos animais. Racionais, mas também animais. 

São repetidas postagens mostrando os bichinhos em momentos de extrema graça, fofura e delicadeza, como se nós também não pudéssemos, se quiséssemos, agir daquela maneira com tudo e todos que estão à nossa volta.

Considero um comodismo preguiçoso e modorrento esse de achar que o irracional é belo e perfeito, enquanto nós, racionais, não prestamos e não fazemos nada de bom pelo mundo. 

Se existem tantas pessoas fazendo tudo errado, e concordo que não são poucas, cabe também a nós fazer o melhor que pudermos para mostrar que outro jeito de ser humano é possível.

Entendo que essa postura de cultivar o irracional e o inanimado como entidades acima do bem e do mal, em detrimento de nós, homens e mulheres, não nos leva objetivamente a lugar algum. 

A natureza é belíssima, mas nós somos parte integrante dela. Se não estamos fazendo por merecer esse respeito e essa dignidade dirigidos aos demais seres, talvez seja mais um motivo para nos avaliarmos, nos reciclarmos e procurarmos melhorar enquanto indivíduos. 

Acho que não somos tão ruins assim e que o mundo está cheio de gente boa, honesta e solidária, mas que andam encobertas e eclipsadas pelas pessoas corruptas, corrompidas, más, egoístas, ditatoriais e bandidas, que tanto permeiam a sociedade atual. 

A humanidade tem jeito porque nós também fazemos parte dela e podemos mudar esse quadro. A decência, a verdade, o caráter, a fibra, a honestidade, a compaixão, a solidariedade e o amor precisam virar esse jogo, que estamos perdendo de forma tão bisonha, e de goleada. O bicho homem também pode ser bonito e gracioso, e essa beleza está em nossas mãos, ao nosso alcance.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sonetim Circuladô

Sonetim circuladô

Tem livro circulando em Brejo do Cruz
Na farmácia, na ótica, no mercado
Livro de todo tipo, doado e em bom estado
Literatura da boa, que ensina e seduz

Quem vive em Brejo, vive contente
Pode ler, aprende a matutar
Se escuta lorota solta pelo ar
Evita, contesta e desmente

Em tempo de tanta asneira
Basta um clique, sem nem pensar
Quem lê separa o bom da besteira

Nesta era virtual e distante
Todos querem dizer, mas ninguém quer escutar
Muito bem-vindo, amigo livro circulante

Em homenagem ao projeto Livro Circulante Brejo Do Cruz,




quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Impressões sobre o livro "O Nome da Morte", de Klester Cavalcanti

Capa do livro O Nome da Morte,
 Editora Planeta, de Klester Cavalcanti
No prefácio de O Nome da Morte, o jornalista Geneton Moraes Neto nos informa que o autor dessa obra, Klester Cavalcanti, é um repórter que jamais sofrerá da Síndrome da Frigidez Editorial (SFE).

Segundo Geneton, a tal síndrome costuma acometer profissionais do jornalismo, que, com o tempo, ou pela falta de vocação, passam a apreciar muito mais a temperatura sempre agradável de uma sala climatizada por condicionador de ar do que a adrenalina de sair às ruas em busca de bons personagens e boas histórias para contar.

Realmente, em O Nome da Morte não há nada de confortável, muito menos fácil de ter sido apurado, constatado e escrito. Também não é fácil para o leitor sair incólume dessa narrativa surpreendente.

Klester nos conta a incrível história de Júlio Santana, matador profissional, do interior do Maranhão, que dedicou 35 anos de sua vida ao serviço de assassinar pessoas a mando de outras pessoas, as quais tinham os mais variados motivos para eliminar desafetos, devedores, líderes sindicais, adversários políticos e até mesmo familiares. 

O jornalista relata a vida de Júlio, dos 17 aos 52 anos de idade, ou seja, o período que vai desde quando ele se iniciou nessa profissão até o dia em que resolveu parar de matar e mudou-se com a família para um sítio, em local desconhecido, longe de sua terra natal.

Ao final da leitura, entendi que Júlio Santana é apenas uma peça quebrada, em uma engrenagem enferrujada, que é a sociedade brasileira, principalmente nos aspectos ligados à política, à polícia, à justiça e ao domínio completo e absoluto que a força do capital exerce sobre tudo e sobre todos, nos mais diversos lugares e atividades deste país.

Sobre Júlio, fica a impressão, apesar da sua "profissão", de que é uma pessoa bastante honesta e de princípios, diferentemente de tantas outras, que atuam nos mais variados meios e ambientes da nossa sociedade, e que não primam em suas vidas pela correção, pela decência e pela honradez, muito ao contrário.

No Brasil, muitos figurões, coronéis e assemelhados, principalmente nos grotões do país, contratam impunemente os serviços de matadores como Júlio, pelos motivos mais torpes e estapafúrdios possíveis.

Para mim, a atitude dos mandantes  desses crimes é completamente execrável, tendo em vista que as razões pelas quais eles determinam a morte de outras pessoas, via de regra, estão ligadas ao amplo exercício - sem quaisquer freios morais, éticos ou legais - dos grandes poderes econômicos e políticos que costumam deter. 

Mandam matar simplesmente porque acham que podem mandar matar. Sabem que nada vai lhes acontecer devido à sua grande influência social e econômica, que na maioria das vezes compra e corrompe os agentes das instâncias oficiais que estejam à sua volta.    

É dura e triste a história de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas. Mas, ao final da leitura, fica-nos a imensa tristeza de constatar que a vida de Júlio só pôde se desenrolar dessa forma porque vivemos em um país que ainda precisa avançar muito em termos de justiça, educação, respeito e cidadania.  

Pelo que li de notícias sobre O Nome da Morte na internet, o livro está em vias de se tornar um filme, no qual Júlio Santana será interpretado pelo ator Daniel de Oliveira. Especula-se que o lançamento será em 2015. Com certeza será um grande filme. 

O Nome da Morte é mais uma obra literária de Klester Cavalcanti, que, como as outras duas - As Viúvas da Terra e Dias de Inferno na Síria - nos apresenta uma narrativa crua, direta e sincera sobre tema espinhoso, que muitos preferem fingir não ver. 

Agradeço ao Provocações, o melhor programa de entrevistas da TV brasileira, do fantástico Antonio Abujamra, a oportunidade de poder ter conhecido o trabalho do jornalista Klester Cavalcanti, que tanto destoa, positivamente, das costumeiras abordagens superficiais dos assuntos na grande imprensa em geral.

Klester Cavalcanti, e o próprio Júlio Santana, ao seu modo, são pessoas que levam extremamente a sério o seu ofício e a palavra empenhada. Talvez seja isso o que falta nos dias atuais. Firmeza, retidão e respeito para consigo mesmo, para com a sociedade e, principalmente, nas relações com as demais pessoas.  

domingo, 3 de agosto de 2014

O país dos sem-memória, dos indignados seletivos e dos vira-latas

Atualmente, tem sido muito comum nos depararmos com manifestações raivosas de parte da sociedade brasileira contra o governo federal, nas quais falam basicamente que o país nunca esteve tão mal, que a inflação está voltando e que a educação, a saúde e a segurança estão sucateadas.

De fato, concordo que o Brasil ainda tem muito o que fazer em relação à educação, saúde e segurança pública, contudo, este momento não é, nem de longe, o pior momento da história do Brasil, como alguns desmemoriados mal-intencionados querem fazer crer aos incautos.

O Brasil avançou muito de 20 anos para cá. Entretanto, os últimos 12 anos foram realmente decisivos na implantação de várias políticas públicas que diminuíram sensivelmente a desigualdade social e possibilitaram a milhões de brasileiros saírem da miséria e pobreza extrema. 
Notícias sobre inflação comuns nos anos 80.

Mesmo assim, há pessoas na sociedade brasileira, que insistem de maneira sistemática, em propalar as teorias do caos que atacam as gestões Lula e Dilma com uma raivosidade exacerbada, tentando convencer os menos letrados de que o Brasil nunca esteve tão mal, de que a corrupção nunca foi tão grande e de que a saúde educação e segurança nunca foram tão deficientes.

Nada disso é verdade, e para isso, basta que as próprias pessoas comparem a vida que tinham há 12 anos e a maneira como vivem hoje.

Essa falta de memória, intencional para aqueles que sempre estiveram bem no Brasil, mesmo quando a maior parte dos brasileiros estavam à margem ou abaixo da linha da pobreza, também é compactuada por cidadãos mais simples, que são bombardeados pelas notícias, principalmente na TV, que dia após dia batem na tecla de que o Brasil vai muito mal e que a inflação, que é baixíssima e sob controle atualmente, está à espreita para voltar a qualquer momento.

Quem tem menos de 25 anos no Brasil não sabe e nunca viveu os tempos da inflação realmente galopante dos anos 80.

As décadas de 70 e 80 foram pródigas em maltratar o povo brasileiro mais humilde, uma vez que estávamos sob o jugo dos militares e de presidentes civis incompetentes, mancomunados com o status quo vigente à época, como era o caso de Sarney.

Naqueles anos, não se falava em cotas sociais, em políticas de reparação de desigualdades, em unificação e promoção do ensino superior. Não se falava em nada que pudesse minimizar o abismo social que dividia ricos, classe média e pobres.

Após junho de 2013, outra figura surgiu no panorama social brasileiro: os indignados seletivos e apartidários. Brasileiros que protestam contra tudo, mas que só atacam a figura da presidenta Dilma e as gestões do PT.

Os seletivos acham o máximo o julgamento e condenação dos petistas envolvidos no mensalão, mas não cobram a mesma rigidez da justiça para todos os outros inúmeros, mais vultosos e mais antigos casos de corrupção espalhados por todo o Brasil e por toda as esferas da administração pública.

No fundo, percebemos que o que na verdade indigna os seletivos é o aumento da igualdade de oportunidades atualmente vivido no Brasil. Indignados seletivos não se conformam de que hoje haja mais gente participando de atividades que há 20 anos só a eles eram permitidas, como andar de avião, fazer faculdade, ter carro próprio e acesso a bens de consumo e eletrônicos.

Os indignados seletivos são egoístas e querem o retorno aos tempos em que só eles podiam ostentar e se mostrar melhores economicamente do que a maior parte da população.

Um terceiro tipo de brasileiro também joga contra todas as iniciativas das gestões petistas: os vira-latas. Esses, adoram endeusar tudo o que venha de fora, do estrangeiro, mas vivem depreciando tudo o que seja feito aqui em nosso país.

Vira-latas - que muitas vezes também são simultaneamente sem-memória e indignados seletivos - se ressentem dos tempos em que só eles podiam se esbaldar em viagens ao exterior e voltar ao Brasil arrotando experiências e histórias que estariam reservadas apenas a pessoas pertencentes à sua estirpe.

Hoje, se condoem com a popularização das viagens e intercâmbios, que estão mais acessíveis a todos, situações em que mais brasileiros podem conhecer outros países e sentir na pele que o Brasil não está tão ruim e é realmente um dos melhores países do mundo para se viver.

Termino enfatizando que há muito a fazer neste país, mas que muito está sendo feito e já faz parte da vida do nosso povo. E de maneira nenhuma vivemos os piores momentos do Brasil, como a mídia e os mal-intencionados poderosos querem nos fazer crer.

Foram quinhentos anos de mandos e desmandos do capital e da casa grande sobre a senzala. Hoje, a senzala está sendo cada vez mais abandonada, e seus antigos moradores começam a viver em casas dignas, um pouco mais parecidas, ainda que bem menores, com as casas grandes. Não podemos retroceder. Agora, só nos cabe avançar mais e mais. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

VIPs sem classe, vaias e intolerância com o diferente

Sempre soube, desde a infância, que todos os pobres, sejam da periferia, do sertão, da caatinga ou das favelas, valem muito pouco ou quase nada no Brasil. Porém, foi necessário chegarmos à era das redes sociais, para que eu tivesse a comprovação de que há, sim, muita intolerância, preconceito, desumanidade e egoísmo arraigados profundamente nas camadas histórica e economicamente menos sofridas da sociedade brasileira. 
Como tudo na vida, as atuais facilidades de interação e expressão, que nos dão as ferramentas da internet, podem ser usadas das formas mais belas, nobres e encantadoras, como também possibilitam a exposição de todos os sentimentos mais baixos e rasteiros que o ser humano traz dentro de si. 
Lembro que todos os sentimentos, para o bem e para o mal, acompanham os homens desde que o mundo é mundo. As atuais facilidades tecnológicas apenas garantem aos usuários a possibilidade de manifestações acerca dos mais variados temas, de forma democrática, às vezes anônima, que em muitos casos trazem embutidas em si pesadas camadas de ódio, ignorância e rancor, chegando às raias da bestialidade.
A força e o caráter inabaláveis de Dilma, respondendo
 de forma  corajosa e altruísta a todas as agressões
covardes dos  grotescos  VIPs, às quais  foi
submetida em alguns  momentos da Copa. 
Basta lermos por alguns minutos as opiniões contidas nas caixas de comentários, hoje em dia tão comuns, das postagens e reportagens dos jornalões e da grande mídia, para sermos bombardeados pelas opiniões mais estapafúrdias, preconceituosas e intolerantes que possam ser imaginadas. Trata-se de um fenômeno já conhecido como "chorume" das caixas de comentários. É o resíduo de todo o lixo da nossa sociedade que ali se apresenta, na sua forma mais torpe e insana. Pelo chorume expressado na maioria das opiniões dos leitores, percebemos o quanto vivemos em uma sociedade doente. 
E veja que não se trata de cercear a emissão de opiniões, não é isso, pois a democracia deve sempre ser respeitada. O que preocupa é o teor altamente negativo e venenoso destilado por essa gente em seus comentários. É claro que, apesar de na maioria das vezes o ódio ser expressado de maneira anônima, ainda assim há a possibilidade de que os autores de tais comentários possam responder judicialmente por eventuais abusos, embora, na prática, isso seja um tanto difícil e raro de acontecer.  
O que esta era moderna está mostrando e escancarando é a dimensão do rancor social impregnado na sociedade brasileira. Como exemplo dessa raiva social, basta pegarmos os episódios da Copa, quando indivíduos vaiaram e xingaram a presidente Dilma nos estádios, em uma turba covarde, formada prioritariamente de pessoas "bem nascidas" e bem situadas, economicamente falando. Esses VIPs, como gostam de ser chamados, sempre tiveram no Brasil, historicamente, todas as chances e oportunidades de crescerem, se formarem e viverem com todas as benesses que o dinheiro pode comprar, mas, mesmo assim, se valeram de modo vil das credenciais de socialites  de que dispunham para achincalhar e aviltar a mulher que tem procurado melhorar a vida e minorar os sofrimentos de grande parcela desvalida, e esquecida por séculos, da população brasileira.  
Com essa parcela da população, egocêntrica e endinheirada, que não suporta qualquer indício de aumento da igualdade ou solidariedade no Brasil, não há a menor possibilidade de conversa civilizada e construtiva. Basta que nos deparemos com um representante dessa classe em qualquer discussão virtual para que em dois tempos ele nos xingue de lixo ou escória e nos mande ir morar em Cuba. São pessoas incapacitadas para o debate e para a vida em sociedade. Gente que não tem a menor complacência com todos os outros que não sejam da sua estirpe, grupo social ou classe econômica. É gente mesquinha, que segrega, que exclui, que marginaliza todas aquelas outras pessoas que não sejam da sua laia e que não tenham as mesmas pretensões consumistas, monetaristas e de levar vantagem em tudo. Infelizmente, hoje temos uma casta considerável de brasileiros que não suporta a convivência e a inclusão social. São, com certeza, filhotes da famigerada ditadura, que agora, graças à democracia, podem falar, ao menos virtualmente, todas as bobagens, idiotices e sandices que vivem a povoar suas mentes doentias. Discussão social e política construtiva é uma coisa muito salutar. Ódio, rancor e preconceito de classe é outra bem diferente. 

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