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Capa do livro O Nome da Morte,
Editora Planeta, de Klester Cavalcanti |
No prefácio de O Nome da Morte, o jornalista Geneton Moraes Neto nos informa que o autor dessa obra, Klester Cavalcanti, é um repórter que jamais sofrerá da Síndrome da Frigidez Editorial (SFE).
Segundo Geneton, a tal síndrome costuma acometer profissionais do jornalismo, que, com o tempo, ou pela falta de vocação, passam a apreciar muito mais a temperatura sempre agradável de uma sala climatizada por condicionador de ar do que a adrenalina de sair às ruas em busca de bons personagens e boas histórias para contar.
Realmente, em O Nome da Morte não há nada de confortável, muito menos fácil de ter sido apurado, constatado e escrito. Também não é fácil para o leitor sair incólume dessa narrativa surpreendente.
Klester nos conta a incrível história de Júlio Santana, matador profissional, do interior do Maranhão, que dedicou 35 anos de sua vida ao serviço de assassinar pessoas a mando de outras pessoas, as quais tinham os mais variados motivos para eliminar desafetos, devedores, líderes sindicais, adversários políticos e até mesmo familiares.
O jornalista relata a vida de Júlio, dos 17 aos 52 anos de idade, ou seja, o período que vai desde quando ele se iniciou nessa profissão até o dia em que resolveu parar de matar e mudou-se com a família para um sítio, em local desconhecido, longe de sua terra natal.
Ao final da leitura, entendi que Júlio Santana é apenas uma peça quebrada, em uma engrenagem enferrujada, que é a sociedade brasileira, principalmente nos aspectos ligados à política, à polícia, à justiça e ao domínio completo e absoluto que a força do capital exerce sobre tudo e sobre todos, nos mais diversos lugares e atividades deste país.
Sobre Júlio, fica a impressão, apesar da sua "profissão", de que é uma pessoa bastante honesta e de princípios, diferentemente de tantas outras, que atuam nos mais variados meios e ambientes da nossa sociedade, e que não primam em suas vidas pela correção, pela decência e pela honradez, muito ao contrário.
No Brasil, muitos figurões, coronéis e assemelhados, principalmente nos grotões do país, contratam impunemente os serviços de matadores como Júlio, pelos motivos mais torpes e estapafúrdios possíveis.
Para mim, a atitude dos mandantes desses crimes é completamente execrável, tendo em vista que as razões pelas quais eles determinam a morte de outras pessoas, via de regra, estão ligadas ao amplo exercício - sem quaisquer freios morais, éticos ou legais - dos grandes poderes econômicos e políticos que costumam deter.
Mandam matar simplesmente porque acham que podem mandar matar. Sabem que nada vai lhes acontecer devido à sua grande influência social e econômica, que na maioria das vezes compra e corrompe os agentes das instâncias oficiais que estejam à sua volta.
É dura e triste a história de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas. Mas, ao final da leitura, fica-nos a imensa tristeza de constatar que a vida de Júlio só pôde se desenrolar dessa forma porque vivemos em um país que ainda precisa avançar muito em termos de justiça, educação, respeito e cidadania.
Pelo que li de notícias sobre O Nome da Morte na internet, o livro está em vias de se tornar um filme, no qual Júlio Santana será interpretado pelo ator Daniel de Oliveira. Especula-se que o lançamento será em 2015. Com certeza será um grande filme.
O Nome da Morte é mais uma obra literária de Klester Cavalcanti, que, como as outras duas - As Viúvas da Terra e Dias de Inferno na Síria - nos apresenta uma narrativa crua, direta e sincera sobre tema espinhoso, que muitos preferem fingir não ver.
Agradeço ao Provocações, o melhor programa de entrevistas da TV brasileira, do fantástico Antonio Abujamra, a oportunidade de poder ter conhecido o trabalho do jornalista Klester Cavalcanti, que tanto destoa, positivamente, das costumeiras abordagens superficiais dos assuntos na grande imprensa em geral.
Klester Cavalcanti, e o próprio Júlio Santana, ao seu modo, são pessoas que levam extremamente a sério o seu ofício e a palavra empenhada. Talvez seja isso o que falta nos dias atuais. Firmeza, retidão e respeito para consigo mesmo, para com a sociedade e, principalmente, nas relações com as demais pessoas.