Durante o Carnaval, fui a mais um
show do Mundo Livre S/A, desta vez no SESC Santana. Como já conheço a banda
liderada pelo eclético e criativo Fred Zero Quatro, artista emblemático da cena
recifense, a alta qualidade da apresentação não me surpreendeu, mas apenas
confirmou os vários motivos que dão suporte à admiração que nutro pelo grupo
pernambucano.
A banda Mundo Livre S/A, liderada pelo cavaquinho de Fred Zero Quatro. |
A simplicidade e a espontaneidade
da banda no palco são dignas de nota, visto que não há qualquer espaço para
afetação ou estrelismo. Os diálogos entre eles mesmos, entre eles e a produção
e, principalmente, com o público são diretos, bem-humorados e criativos. Ou
seja, não ficam nos lugares-comuns dos shows pasteurizados, tão repetitivos e
em voga atualmente, nos quais se endeusam, por interesses mercadológicos,
sempre as mesmas figurinhas carimbadas e desprovidas de talento. Não há média
ou rasgação de seda, a não ser com
artistas que realmente sejam talentosos e merecedores de elogios, como Jorge Ben
e Chico Science.
O Mundo Livre S/A é formado por
excelentes músicos e, desta maneira, a qualidade do seu som é das melhores que
podemos contemplar nos dias atuais. Contudo, as letras das canções é que dão o
tom diferencial e especial à apresentação da banda. As músicas são na grande maioria
divertidas, dançantes e cheias de suingue, mas nem por isso as letras, críticas
e engraçadas, deixam de fazer pensar e refletir sobre uma série de temas que
não podem estar fora de pauta na sociedade atual.
Resumindo, é um show feito pra
dançar e desopilar o fígado, que, além disso, faz com que a plateia saia de lá
pensando melhor. Onde está escrito que música para divertir tem necessariamente
que contar com letras absurdas ou idiotas, que beiram a debilidade? Como já
propôs o Barão Vermelho há alguns anos, pensar e dançar é bastante possível, e
o Mundo Livre está aí para confirmar plenamente essa possibilidade.
Consumismo desenfreado, padrões
de comportamento idiotizados e repetitivos, a fé cega e alienada, a supervalorização
dos bens materiais em detrimento do verdadeiro crescimento espiritual, além das
altas doses de hipocrisia na política e na vida pública, tudo isso e muito mais
é criticado e posto em cheque pelas inspiradíssimas canções do Mundo Livre S/A.
Capa do último disco do Mundo Livre S/A, que traz canções indispensáveis como Fucking Shit e Tua Carne Black Label. |
Todas as músicas do Mundo Livre
S/A, de todas as épocas e de todos os discos, são indispensáveis e precisariam
ser ouvidas com muito mais frequência nas rádios e apresentadas recorrentemente
nos canais da televisão aberta. Entretanto, não há interesse algum das redes de
televisão aberta em mostrar músicas e artistas de real valor. Os programas das
redes comerciais de TV primam apenas por difundir novidades pegajosas,
grudentas e imbecilizantes, que além de nada acrescentar à cultura dos
brasileiros, ainda os torna mais alienados.
O novo disco do Mundo Livre S/A, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa, é um
dos exemplos de obras que precisariam e poderiam ser altamente difundidas,
curtidas, dançadas e pensadas, principalmente pelos nossos estudantes, pois o
seu teor é exatamente para isso: Ouvir, refletir, inspirar, questionar, sem que
com isso não seja possível dançar e se divertir muito também.
O Brasil precisa muito mais da
obra do Mundo Livre S/A do que podemos imaginar à primeira vista, mas
infelizmente a mídia e a indústria “cultural” continuam dando amplo apoio às
letras onomatopeicas e de conteúdos explícitos e diretos, que nenhum trabalho
ou questionamento causam aos abandonados neurônios dos ouvintes, muito pelo
contrário.
2 comentários:
Achei essa postagem enquanto procurava assuntos relacionados ao Mundo Livre S/A. Muito boa!
Abraço,
Zuza Zapata
www.zuzazapata.com.br
Olá, Zuza,
Fico feliz que tenha gostado dessa merecida e singela homenagem ao belo trabalho do Mundo Livre S/A.
Grande abraço!
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