
Novamente nos aproximamos rapidamente do dia de
Natal. As mesmas repetitivas e exaustivas reportagens sobre o aumento do
consumo e do endividamento das famílias nessa época tão supostamente feliz.
Invariavelmente, mostram as pessoas se esfalfando em shoppings e ruas do
comércio popular com o intuito de comprar os famigerados presentes da moda para
todos os amigos e familiares. A mim causa estranheza que a maioria dessas
pessoas, que correm freneticamente nesse período, muitas vezes nem lembrem
exatamente qual é o principal motivo da celebração do Natal, tamanha é a avidez
por adquirir tudo aquilo que está em voga nesta estação, bem como presentear a
todos com essas coisinhas, que não serão sequer lembradas daqui a um ano.
Percebo que a grande maioria se empolga com as festas de final de ano, com os
famigerados amigos secretos ou ocultos, como queiram, mas não vejo quase
ninguém lembrar com a devida atenção do aniversariante e de todos os
ensinamentos que ele nos deixou quando passou por esta Terra. Muitos passam a
ser extremamente generosos neste período, como se a generosidade e a
solidariedade não coubessem em outras épocas, ou melhor, em todas as outras
épocas e dias de todos os anos de nossas vidas. O sentimento cristão de
enxergar o próximo, de viver em comunhão com os outros, de ser solidário, de
pensar um pouco mais no coletivo e menos no individual, tudo isso deveria ser
praticado por todos de maneira incessante e ininterrupta. No entanto, tirando o
período de festas, nas demais épocas do ano o que vemos é a exacerbação máxima
do individualismo e do egoísmo. Da violência, da maldade e da ignorância. Das
injustiças, dos preconceitos, das diferenciações e distinções em todas as
esferas entre pobres e ricos, entre quem pode e quem não pode pagar. As pessoas
tem valido apenas pelo seu poder de consumo e por sua capacidade econômica. Não
estamos dando a mínima para a formação das nossas crianças e jovens, que têm se
tornado cada vez mais despreparados, consumistas e individualistas. O que vejo
em quase todos os meios em que vivo, ou nas situações que presencio, é a grande
voracidade das pessoas por se darem bem individualmente, em fazer crescer o seu
patrimônio, muitas vezes de maneira ilícita e corrupta, prejudicando terceiros
e até pessoas próximas e mais humildes. Poucos têm sido os exemplos de
honradez, retidão de caráter e hombridade, apesar de que eles existem, e quando
os vemos, ficamos espantados, como se tais gestos fossem muito estranhos, quase
bizarros. Ser honesto, nestes tempos mercantilizados, passou a ser uma virtude,
quando, na verdade, ser honesto é um dever de qualquer cidadão, sempre.
Pessoalmente, não consigo passar bem e feliz por essas comemorações, pois,
diante do nosso dia a dia turbulento e desumano, considero demasiada hipocrisia
que de repente todas as pessoas passem a se cumprimentar efusivamente, aos
beijos e abraços, após terem passado o ano inteiro se maldizendo e se
desrespeitando. Claro, sou obrigado a concordar que sempre é tempo para a
reconciliação e o entendimento entre as pessoas, mas percebo que tais reuniões
de fato duram muito pouco, acabando já antes do Carnaval, outro período em que
as pessoas voltam a se individualizar extremamente, sendo que para algumas
parece que o mundo irá se acabar nessas folias de Momo. Como não sei o que dar para
cada um de vocês, e acho que todos nós estamos precisando muito mais de
reflexão e carinho do que de festas, bebidas, presentes e modismos, deixo aqui
as minhas impressões e sensações pessoais do que entendo ser uma justa e
correta comemoração do aniversário de Jesus. Penso que o melhor presente para
Ele seria que todos nós passássemos a viver de maneira boa e simples; coletiva
e justa; sem que as posses, o dinheiro e os bens materiais e de consumo
pautassem as nossas relações da maneira tão marcante como tem acontecido em
nossas vidas. Que as pessoas fossem valorizadas pelo que são e não pelo que têm
ou representam na sociedade. Que enalteçamos os talentos e os dons daqueles
que os têm, mas que jamais deixemos de perceber que por mais simples que
sejam as vocações das pessoas, todos nós as temos, e estamos neste mundo para
vivermos como verdadeiros irmãos, nos auxiliando, nos apoiando, de maneira
sincera e leal, dia a dia, e não apenas nas épocas e das formas predeterminadas
pelos que detêm o poder e o dinheiro. São a simplicidade, a solidariedade e a
bondade o maior legado que nos deixou o nosso pai, cujo
aniversário é o grande motivo de comemoração do próximo dia 25 de dezembro,
muito embora às vezes pareçamos esquecer completamente disso.
Feliz Natal a todos, de verdade!!! E que em 2013 possamos começar a encontrar, todos nós, e para todos, tantas coisas das quais estamos realmente precisando.