Livremente inspirado na
obra “Tubarões Voadores”, de Arrigo Barnabé e Luiz Gê.
O Tubarão corre pelas avenidas, em sua motorizada jaula blindada e
resplandecente,
Acredita em seu íntimo, que tem alguma coisa a mais do que os outros
seres,
Na verdade, a única coisa que tem a mais é o dinheiro, herança da
família tradicional,
Tubarão só acredita no dinheiro e em seu poder sobre os outros,
Acha-se verdadeiramente superior, cabendo às outras pessoas lhe
renderem deferências,
Quando o tráfego fica por demais lento e pesado, Tubarão se torna
alado,
De arranha-céu em arranha-céu, percorre São Paulo, como um
Homem-Aranha nefasto,
Do alto, não discerne, e nem quer, o que a cidade tem de bom e o que
tem de ruim,
Tudo lá embaixo parece ao Tubarão como algo distante, de um mundo que
não é o seu,
É o mundo dos simples mortais, e o que eles importam, no olimpo em que
ele agora flutua?
Tubarão só se sente à vontade acompanhado dos seus pares, e da chique
tubaroa,
Tubarão
discrimina, diferencia e menospreza todos aqueles milhões de pessoas diferentes
dele,
O equivocado Tubarão defende a sua classe, com ideias equivocadas como
ele,
Alardeia que o melhor parâmetro para a sociedade é a ampla concorrência
de mercado,
Desde que ele, e poucos como ele, sejam os únicos concorrentes
habilitados nessa guerra,
Defende o mercado como regulador de tudo na sociedade, pois este o
mantém tubarão,
Propala aos quatro ventos que só quem tem competência se estabelece,
Mas evita de todas as maneiras deixar que os peixinhos também se
tornem sabidos e competentes,
Sem dó, oprime e maltrata cardumes e cardumes de peixes pequenos,
Tubarão manda, e quem tiver juízo que o obedeça, é a sua máxima,
Tubarão corrompe a classe política e definitivamente comanda a
sociedade,
Tubarão tira de todos aquilo que têm e o que não têm,
Abocanha verbas públicas, faz tráfico de influência, frauda
licitações,
Tubarão só não gosta que venham lhe atrapalhar ou lhe copiar em suas
negociatas,
Só a classe dos tubarões pode fazer e desfazer em toda e qualquer
matéria no país,
Aos outros cabe apenas se calar, sob a pressão política e econômica
dos tubarões,
Tubarões nadam à vontade nas águas brasileiras, há séculos,
Não dando oportunidades a ninguém para incomodá-los,
Tubarões são corporativistas, se defendem, se aliam, se suportam,
Têm espírito de corpo e de porco, apesar de tubarões,
Tubarão, como todos sabemos, esperto que é, nada conforme a maré,
Desde que o domínio, de alguma
forma, esteja em suas mãos, bocarras e barbatanas,
Tubarões controlam e monopolizam a mídia e o mercado,
Tubarões jamais permitirão a revolução dos peixes pequenos,
Tubarões precisam ser combatidos com as suas próprias armas: os
dentes,
Enquanto o nosso tempo de desigualdades e injustiças continua semeando
atrocidades,
O Tubarão Alado sobrevoa as metrópoles, como se fora uma ave de
rapina,
Nada pode sair do controle, ele deve sempre se manter mais igual entre os
iguais,
Deve continuar fazendo a todos acreditarem que nasceram para servi-lo,
Que ele é superior, mesmo não passando de mais um ser vivo criado por
Deus,
Mesmo sendo mortal, Tubarão trabalha para deixar descendentes e
herdeiros,
Que mantenham pelos séculos o império que julga ser seu,
Que mantenham propriedades e terras que julga só a ele e aos seus
pertencerem,
Ah, se todos percebessem o quão equivocado e ultrapassado é esse Tubarão Alado,
Talvez a opressão diuturna dessa casta já tivesse se acabado neste
mundo.
3 comentários:
Grande Altamir!
Mais um texto primoroso que sintetiza, em boa prosa, a nossa atual realidade. Na verdade, todo esse estado de coisas que vivenciamos no nosso dia-a-dia tem raízes longínquas e profundas, bem alimentadas pela nossa própria inépsia. Observe o que motiva o povo e mais especificamente, a juventude a sair de casa e ir para as ruas!
Ilustro a minha breve fala com a letra de uma música que gosto muito, de autoria do Lamartine Passos, gravada pelo cantor e compositor pernambucano Anchieta Dali, em seu cd "Canturis da cor do chão"!
DEUS-CAPITAL
E assim do níquel fez-se o verbo santo
Eclodir o poder do capital
Triunfante miséria social
Envolver os humanos com seu manto
Proclamando a riqueza e seus encantos
Congelando justiça e consciência
E Abolindo da terra a inteligência
Faz-se deus de poder universal
Gera um mundo tão vil, tão desigual
Joga os homens na vala da indecência
É o sustento dos deuses, fantasia
(...) é o único deus que oferece
Paraísos reais aqui na terra
É quem diz quando há paz, ou quando há guerra
É quem diz quem progride ou quem padece
Sua fonte é o trabalho que arrefece
O espinhaço do proletariado
Seu destino entretanto é projetado
Entre os cofres repletos da nobreza
Condenando o mais pobre a mais pobreza
Dando assim mais desgraça ao desgraçado
Dele o poder emana, é sua cria
Pelo dinheiro o poder mancha o nome
Pra minoria farta se consome
Podre paródia de democracia
E os baluartes da demagogia
Com deus no bolso roubam toda massa
E esses ladrões depois que o pleito passa
Voltam pra o trono longe da miséria
Enquanto o pobre tomba na matéria
Em breve tempo só será carcaça
Os tubarões alados continuarão voando, esquadrinhando cada possível lampejo de tomada de consciência da massa que os alimenta. Como afirma a historiadora Mary Del Priori, "(...) as eleições em nosso país têm o dom de por em funcionamento, não a arte de lembrar, mas, aquela de esquecer".
Grande abraço aqui do Cariri,
Tânia Peixoto
Olá, grande Tânia,
O que dizer de um comentário com esse grau de sofisticação? Nada mais, a não ser que não só enriqueceu a ideia em 1000%, como trouxe à tona muitas outras abordagens para o mesmo tema. Isso é que é comentário proveitoso! rsrs
Valeu,
Grande abraço de Sampa,
Altamir
Eu que tenho aprendido muito com os seus textos, Altamir! Me é um prazer passar por aqui e colaborar, de alguma forma. O exercício da troca (não do embate estéril), só alimenta a nossa consciência.
Outro abraço, meu amigo!
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