Na guerra das superpoderosas
empresas de telefonia móvel, que monopolizam esses serviços no Brasil, chegou-se
a um consenso de que as ligações para as linhas da mesma operadora devem custar
R$ 0,25, podendo o usuário conversar o dia inteiro, se quiser ou tiver assunto
para tanto. Uma ou outra operadora pode eventualmente baixar ainda mais essa tarifa, chegando até a
R$ 0,21. No entanto, o presente post não se destina, de maneira nenhuma, a
fazer propaganda dessas famigeradas empresas, que tanto exploram e, em muitos
casos, tantas canseiras dão aos seus incautos usuários. Acontece que, com essa
história de ligações com valores aparentemente baixos, a maioria da população
já usa celulares com um monte de chips, cada um de uma operadora, para ir
conversando com os amigos e parentes, de acordo com a procedência das linhas
dos interlocutores. Daí, como as pessoas, via de regra, tem muitas coisas
importantes para falar e para apresentar ao mundo, podemos ver cidadãos,
principalmente em espaços públicos ou em transportes coletivos, conversando
despreocupadamente por horas a fio, como se estivessem numa mesa de bar ou na
sala da sua própria casa. É nessas horas, que as pessoas ao redor do falastrão
são contempladas com toda a sorte de abobrinhas, desabafos e narrativas
inapropriadas para lugares públicos. Algumas pessoas parecem perder a noção de
que estão em espaços de uso comum. É claro que o mau uso do celular, dependendo
do ambiente e do momento, por si só, já pode causar vários desconfortos aos que
rodeiam os sem-noção que lançam mão dessa prática. Contudo, tem algumas figuras
que vão bem além de apenas atender ou fazer uma ligação em momentos pouco
aconselháveis para isso. Em ônibus lotados, em plena 7h00 da manhã, já
presenciei conversas longas e detalhadas contendo relatos e assuntos pouco
próprios para serem discutidos fora de quatro paredes, que dirá em um coletivo,
transportando, naquele momento, cerca de 100 pessoas. É de chocar ou até de
fazer rir, a facilidade com que algumas pessoas discutem assuntos espinhosos e
íntimos na presença dos outros, como se não houvesse ninguém por perto. Da
última vez que presenciei esse tipo de conversa, há uns três dias, uma mulher
falava em alto e bom som sobre a sexualidade de toda a sua família, inclusive
dela própria e do marido, sem nenhum pudor ou semancol. Chegou a falar que o
fulano não pegaria a beltrana, nem mesmo se ela fosse a última mulher da Terra.
Em outro momento, ao falar que apresentara uma outra mulher para o marido - a
qual este, educadamente e com muita finesse, disse prontamente que pegava -, a
narradora acrescentou que não iria preparar bolo para o outro comer. Como vocês
podem perceber, as conversas giravam em torno de questões importantíssimas, que
não poderiam de maneira nenhuma esperar para serem discutidas em outra
oportunidade. Tinha que ser ali, naquele local, falando besteira ilimitada ou
infinitamente, como preferirem. Também, pudera, por R$ 0,25, até injeção na
testa. Não importa o que você fala, mas o quanto você fala. O negócio é trocar
o chip e soltar o verbo. Nunca o brasileiro foi tão interativo e conectado.
Pena que toda essa facilidade de conexão e interatividade não tem contribuído em
nada para uma sociedade melhor, mais justa e cidadã.
4 comentários:
"Interativo e conectado", sim. Evoluído, NÃO. Nos tornamos escravos dessas operadoras e da tecnologia barata, Altamir... Percebo uma cegueira generalizada e isso muito me assusta...
Um abraço aqui do Cariri,
Tânia Peixoto
O problema não é a tecnologia, mas sim o mau uso que fazemos dela.
Valeu pela visita, cara Tânia.
Abraço!
Tem razão, Altamir. Usamos mal e nos autodestruimos.
Segue abaixo comentário enviado por e-mail pela amiga Fátima, que pediu que eu postasse por ela neste espaço:
Olá.
Altinha, tb fico indignada c/a falta de noção desse pessoal.
Uns ligam de manhã cedinho (eu no onibus – ouvindo), a pessoa do outro lado atende: - Alô. Respondem - Acordou??? ... Ou então a noite: - Estou chegando, tire a carne do congelador. E por aí vai. Fora as musicas q colocam q deixam qualquer um surdo. Outro dia sentei perto de um ouvindo “batidão” bem alto, ai q raiva, dei graças a Deus qdo ele levantou, mas não durou muito o sossego porque sentou outros 2, um de cada lado (bco do fundo) com essa “bosta” (desculpem) ligada mas assim q deu mudei de lugar, só não levantei na hora porque estava cansadona. O pior é que essa gente se acha o máximo. Eh, exibicionismo barato. As x vejo até pessoas em pé, se contorcendo só p/falar asneiras no celular, fora o fato de q alguns descem do ônibus, sem segurar, e quase caem por causa desse “brinquedinho”. É impressionante, mas o povão não aprende a fazer bom uso de nada. Só quem gosta é quem fatura com essa onda de ignorantes.
Maria de Fátima Rodrigues
Postar um comentário