quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gente com "G" maiúsculo

No último final de semana, estava eu assistindo programas de TV e filmes em DVD, quando tive dois bons e raros momentos de contato com histórias de pessoas especiais.
No sábado à noite, o programa "Legendários", da Rede Record, prestou um belo e merecido tributo ao falecido humorista Mussum.
João Gordo, que é da minha geração, foi o apresentador da matéria. E o fez com muita emoção e verdade, conseguindo transmitir aos telespectadores a sua admiração pessoal por Mussum, e por tudo aquilo que o trapalhão mais engraçado de todos representou na sua infância e adolescência.
Também foram mostrados momentos de Mussum como vocalista do grupo "Originais do Samba", quando ele roubava a cena com suas coreografias e trejeitos bastante peculiares e engraçadíssimos.
Tanto no humorismo, quanto na música, Mussum foi um artista completo. Infelizmente, só depois de sua morte prematura, começamos a valorizar todo o seu talento e simpatia.
Ficou claro, com o passar dos anos, que ele era o integrante mais inspirado dos Trapalhões, aquele que tinha o dom de provocar risos e gargalhadas espontâneos em crianças e adultos.
Além disso, atuou numa época em que o politicamente correto ainda não imperava, o que dava muito maior liberdade de criação a ele e aos seus companheiros de comédia. Eles se xingavam, se ofendiam, mas no final, tudo acabava bem, pois a pureza e a amizade estavam acima de tudo. Era recorrente nos programas dos Trapalhões, que o Mussum fosse chamado de "Negão" pelos colegas, bem como a sua resposta rápida, rasteira e marcante: "Negão é o teu passadis!"
Somente ao ver essa homenagem ao grande "Mussa", pude sentir quanta falta ele ainda faz, e quanto estamos precisando de gente assim atualmente. Em tempos tão pasteurizados e massificados, como seria bom termos mais pessoas como Mussum, que nos brindassem com tiradas e posturas autênticas e leves. Que nos remetessem aos tempos de criança com naturalidade e simplicidade desconcertantes. Definitivamente, não é fácil ser palhaço como Mussum foi. Que Deus o tenha em bom lugar!

No domingo, ao assistir ao filme "Mãos Talentosas", que conta a vida do neurocirurgião Benjamin Carson, fiquei sabendo de outra história de vida belíssima, que realmente merece ser contada e conhecida por todos.
No filme, o astro Cuba Gooding, Jr. interpreta o Dr. Ben Carson, negro, de origem humilde, criado apenas pela dedicada mãe, que consegue superar vários obstáculos e tornar-se um médico respeitadíssimo em todo o mundo, sendo o primeiro a ter sucesso em certos procedimentos cirúrgicos de alto risco, chegando a salvar pacientes tidos até então como casos perdidos pela medicina em geral.
Além da capacidade profissional, chama a atenção também a humanidade, a humildade e a responsabilidade social do Dr. Carson, pessoa afável e de trato muito fácil, apesar da inteligência e talento prodigiosos.
Recomendo a todos que assistam a esse filme, ou leiam os livros do Dr. Ben Carson, pois são fontes de reflexão e sabedoria, dois itens tão escassos nos dias de comportamentos padronizados e mesmice que vivemos.
Em dois dias, dois exemplos de vida, cada qual no seu meio de atuação. Grandes pessoas. Gente com "G" maiúsculo!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Já vivemos o Big Brother de Orwell

A expressão Big Brother, atualmente tão pobremente difundida em todo o mundo, na verdade foi criada pelo escritor inglês George Orwell, em seu livro "1984", lançado em 1949.
Mal sabia Orwell, que sessenta anos após a publicação de sua obra prima, o termo seria usado de maneira tão vulgar, e para representar coisas que muito pouco, ou nada, têm a ver com a rica realidade fictícia criada por ele.
Ao ler "1984", logo percebemos a forte crítica social e política engendrada por Orwell. Antes da metade do século XX, o autor estava muito preocupado com os sistemas políticos totalitários e com todas as suas formas de controle dos cidadãos. Por isso, muito criativo e visionário que era, imaginou toda uma sociedade vivendo sob as ordens e o controle do Grande Irmão, que chegava a ter meios e mecanismos para descobrir até mesmo o que os cidadãos pensavam. Era impossível fugir ao campo de visão do Grande Irmão. E era essa, acredito, a principal sensação aterradora que Orwell queria passar em sua criação.
Hoje, no entanto, como já disse, a expressão de Orwell é sim muito conhecida em todo o planeta, mas, infelizmente, talvez pelos motivos errados e muito distantes daqueles pensados pelo escritor.
Big Brother se tornou uma franquia televisiva de reality show, cujos gosto e finalidade são completamente duvidosos e discutíveis.
De qualquer forma, atualmente, a expressão tem sido usada - aí sim com alguma familiaridade com a obra de Orwell - sempre que as pessoas se sentem vigiadas e constrangidas pelos moderníssimos sistemas de segurança implantados de diversas formas, em variados ambientes e situações da vida moderna.
Hoje, somos vigiados ostensivamente por câmeras de televisão, de trânsito, por CFTV's de empresas e instituições públicas, por rastreadores via satélite, por ligações que fazemos e recebemos no celular, pela maneira como nos relacionamos na Internet, etc.
Talvez seja por toda essa exposição e controle sob os quais todos estejamos forçados a viver, que a maioria das pessoas esteja se sentindo sempre à beira de se tornar instant celebrities.
Tenho notado que em certos casos, as mínimas aparições públicas dos anônimos já têm garantido a alguns (e algumas) o status de aspirantes à fama. Não que tenham algum talento ou virtude (exceto os avantajados atributos físicos, na maioria dos casos) para isso, mas apenas porque a exposição em todas as formas de mídia tem ficado cada vez mais banalizada e fácil.
Nesse ritmo, tem sido comum as pessoas ficarem conhecidas nacionalmente, e até universalmente, por ações simplórias, como comparecer a um velório, prestar depoimento em uma delegacia ou se envolver em episódios de violência e crime.
Começo a ter a impressão de que passou a ser importante apenas aparecer e se fazer notar, mesmo que pelos motivos errados e sem qualquer fundamento.
Já não há mais necessidade do talento inconteste ou do trabalho consistente para que uma pessoa seja respeitada, admirada e propalada na mídia. Hoje, basta estar com a roupa certa (pouca, claro!), na hora certa e no lugar certo, para que a imagem corra o mundo. Também serve a roupa errada e inapropriada, como blusas curtas e justas e minissaias, em situações antes tidas como sérias, como as de cunho policial ou judicial, por exemplo. Tudo vale para não perder o espocar dos flashes e a captura das imagens pelas lentes das inúmeras câmeras sempre a postos. Todos já vivemos num imenso Big Brother. Viva Orwell.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Homo Metidus"

Nestes tempos modernos, de amplas possibilidades de comunicação e muita superficialidade, tem sido muito frequente nos depararmos com pessoas que pelos mais variados e estapafúrdios motivos "se acham" mais e melhores que as outras.
Pessoas de ambos os sexos, pois neste caso, ao contrário do que preceitua a tão em voga e midiaticamente fomentada guerra dos sexos, ser homem ou mulher não faz muita diferença.
O homo metidus tem representantes em todas as categorias e grupos de pessoas, aparecendo até mesmo nos lugares mais inusitados e, a princípio, insuspeitos, como as igrejas, as escolas e os templos religiosos.
O espécime arrogante sempre coloca suas prerrogativas, credenciais e títulos antes do próprio nome. É um ser abjeto, que precisa de algum apoio externo para se garantir diante dos outros. Equivocadamente, o infeliz acredita e tem para si que é a última bolacha do pacote.
Não consigo entender por que cargas d'água, mas o homo metidus crê firmemente que a sua passagem por este planeta tem mais significado ou mais importância do que a dos outros reles mortais.
O HM entende que os melhores lugares, as melhores coisas e os melhores tratamentos devem estar reservados a ele e a todos aqueles que considere da sua mesma estirpe ou linhagem, seja lá o que isso possa significar.
Frequentemente, destrata ou tenta subjugar as pessoas e as classes socialmente menos favorecidas, impondo-se pela arrogância e pela pose de bem-sucedido.
Como falei, os HM podem aparecer em todos os lugares e circunstâncias, mas costumam ser mais prejudiciais à raça humana quando transitam em meios virtualmente mais relevantes, como na política, nas instâncias judiciais, na mídia ou nos conglomerados economicamente representativos.
Seria muito bom se os seres humanos interagissem baseando-se apenas em premissas maiores e mais dignas, mantendo apenas relações nas quais o respeito mútuo e a humildade fossem tidos como valores sempre presentes e marcantes. No entanto, neste mundo tão materialista, tão egoísta e de tanto culto à personalidade em que vivemos, muitos e muitos babacas se vêem no direito de "se acharem", pelos motivos mais torpes e idiotas, acima dos outros, ou, pelo menos, de alguns outros.
Apesar de ser um conceito humanamente tão simples, parece que é cada vez mais impossível fazê-los entender que todos, absolutamente todos nós, por mais preparados, belos, ricos e prestigiados que sejamos, do pó viemos, e ao pó voltaremos. Simples assim.

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