Nestes tempos, vivemos a ditadura do politicamente correto. Particularmente, tenho uma opinião bem formada a respeito. Considero que todos devemos ser exemplar e completamente politicamente corretos nas questões de cidadania, relações humanas, política, respeito ao próximo e solidariedade.
Para mim, ser politicamente correto significa fazer parte da sociedade de maneira cidadã e engajada. Lutar pela melhoria dos aspectos coletivos de nossas vidas e, principalmente, ter atitudes que nos levem, todos, a viver melhor e mais humanamente.
Gosto de ser politicamente correto ao respeitar a ordem de uma fila, bem como fazer com que os outros a respeitem. Gostaria muito de viver numa sociedade - e tento fazer a minha parte para isso - em que as pessoas não se maltratassem tanto, ou até se matassem, por pequenas questões idiotas de trânsito, que não levam a nada de melhor para ninguém e são recheadas dos mais baixos níveis de prepotência, ignorância e violência a que o homem pode descer.
Acho imprescindível que conseguíssemos evoluir para um um nível de convivência social em que fosse regra, e não exceção com é hoje, que os cidadãos se respeitassem mutuamente, bem como fossem respeitados pela classe política e pelos detentores do poder econômico.
O que vemos hoje em dia é o completo desrespeito e descaso entre a maioria da sociedade dita organizada brasileira.
Haja descaso nos atendimentos ao cidadão, seja em hospitais, escolas, repartições públicas e serviços essenciais prestados por concessionários dos governos, entre outros. Haja descaso nas relações comerciais, que todos temos que fazer para a manutenção de nossas vidas cotidianas. Haja descaso da grande maioria dos representantes do povo para com o próprio povo que os elegeu. E haja, em todos esses meios, relações deturpadas, promíscuas e corruptas, que, em última instância, só geram danos e lesões ao cidadão comum, que é prejudicado e fica praticamente indefeso na maioria dessas situações.
Penso que, para diminuirmos tantos atos e comportamentos politicamente incorretos e daninhos ao povo, esse próprio povo, do qual fazemos parte, precisaria dar a sua contribuição, agindo corretamente, e exigindo que todos o fizessem, nas situações comuns, que todos vivemos nos nossos dias. Todas as mazelas e desrespeitos que sofremos e vemos os outros sofrerem são oriundos do próprio seio da nossa sociedade. Não dá para achar que só os outros são errados e que o mundo é assim mesmo. Todos nós somos errados quando desrespeitamos os espaços reservados aos idosos e aos deficientes físicos. Quando paramos o carro sobre uma faixa de pedestres. Quando damos um jeitinho de burlar uma fila e levar vantagem. Aliás, vantagem é o que a maioria gosta de levar em cima dos outros. Como já dizia o velho Gerson: "O importante é levar vantagem, certo?"
Acho que só vamos sair desse poço, quando todos nós conseguirmos levar vantagem juntos. Mas uma espécie de vantagem benéfica, democrática, que contemple a todos os cidadãos brasileiros. Não apenas às minorias oportunistas.
Falei tudo isso, para tentar esclarecer que há também um tipo de pensamento politicamente correto xiita com o qual não concordo. Um estado de espírito politicamente correto muito chato, defendido principalmente por aqueles que, no meu entender, exageram em certas questões, chegando ao ponto de, em muitos casos, considerar um ser humano menos relevante do que um cachorro ou uma árvore.
Não são poucos os cidadãos, de classe média principalmente, que incorrem em muitas das atitudes anti-cidadãs acima expostas, mas que, de forma ultra aguerrida, se arvoram a paladinos da defesa dos animais e da natureza, passando por cima, às vezes, até das necessidades e da vida de outros seres humanos.
Eu penso sim que todos os animais, plantas e recursos naturais merecem respeito e tratamento digno. Contudo, ainda acho que, no limite, mais vale a vida e os interesses de uma pessoa do que os de um animal ou uma árvore.
No local em que trabalho, recentemente, um bom e prestativo vigia foi altamente repreendido e criticado por pesquisadores e alunos de pós-graduação, por ter tido que, no exercício de suas atribuições, dar um "chega pra lá" num cachorro que queria entrar no prédio em que fazia a vigilância, um local de pesquisas e aulas. O cachorro insistente avançava no vigilante e se mostrava feroz. Ele precisou se desvencilhar do cão com um leve chute. Atitude que lhe custou muitos aborrecimentos e cobranças, pois pessoas "muito bem preparadas intelectualmente", que assistiram a cena, se arrogaram no direito de tomar satisfações do vigia.
O que essas pessoas queriam que o rapaz fizesse? Que se deixasse morder pelo cão? Que deixasse o cachorro perambular livremente pelo prédio?
Achei esse um caso prático da atual inversão total de valores. Não concebo alguém prestigiar um cachorro em detrimento de um humilde trabalhador no cumprimento da sua função.
E tanto o vigia estava certo, que no dia seguinte, um desses cachorros que circulam naquela área avançou num professor e o mordeu.
Entendo que devemos valorizar e prestigiar as pessoas de bem sempre.
Estou farto de pessoas ditas politicamente corretas, que se preocupam extremamente com a destinação dos resíduos e com a proteção de plantas e animais, mas não parecem dar a mínima para a melhoria das condições de vida de enorme parcela da nossa sociedade, que vive excluída de tudo. Acho que ecologicamente corretíssimo seria, primeiramente, tratarmos de dar condições dignas de vida e educação a todas as pessoas, pois isso fatalmente também traria no seu bojo uma ampla e sensível melhoria na relação dos homens com o meio ambiente.
