I´m a anacronic man, living in a stupid age.
By Rollinbunds.
Em tempos tão obrigatoriamente modernos, nos quais é exigido indiretamente de nós que estejamos up to date em todas as frentes, sejam as culturais, tecnológicas, políticas ou comportamentais, chego à absoluta conclusão de que estou anacrônico. Não consigo, principalmente porque não quero, andar pari passu com as absurdas imposições da mídia, da propaganda, dos formadores de opinião, dos políticos, dos economistas, dos supostos artistas, enfim, de tudo aquilo tido como atual, aceitável, desejável e padrão.
Hoje em dia, até para ser rebelde há um padrão socialmente aceitável. Existe uma rebeldia calculada que é aceita e até recebida com alguma simpatia pelo main-stream vigente.
Os rebeldes de hoje vivem tatuados, com os cabelos eriçados, piercings pendurados, mas eu pergunto: Terão eles, interiormente, padrões e conceitos realmente revolucionários? Ou apenas usam uma casca de rebeldia e nada de novo trazem dentro de si?
Os verdadeiros revolucionários e vanguardistas já o são na sua própria essência, na forma de se expressarem, na maneira como vivem, nas opções que fazem na vida, na não-aceitação ou ao menos no questionamento das imposições e formas de comportamentos que nos são enfiados goela abaixo.
Vivemos na era do faça isso, leia aquilo, comporte-se assim, vista isso, adquira o novo modelo, vá ao point tal, freqüente o restaurante do fulano que está in, ouça isso, assista aquilo outro...
Não há espaço para a individualidade, a sociedade aprende cada vez menos a questionar e discutir os seus problemas, as pessoas apenas seguem padrões que alguém em algum momento criou. Novas tendências, novas ondas, e lá vão todos surfando nessas new waves.
De repente, o que era execrado como brega há vinte anos vira cool e aí todos os ditos antenados passam a curtir aquilo que antes abominavam. Nós não aprendemos a discernir por nós mesmos o que é bom ou não. O marketing, os formadores de opiniões e os críticos são os que nos dizem que caminhos devemos trilhar. Personal stylists, personal trainers, orientadores de etiqueta social, todos se arvoram a nos dizer o que temos que fazer, usar, ou como nos devemos comportar. Miquinhos amestrados é o que estamos nos tornando. Sem opinião, sem rosto, sem história. Precisamos muito de aprender a conviver com as diferenças e a desenvolver espírito crítico.
Precisamos desenvolver iniciativas próprias, inclusive em relação às atitudes solidárias. Até para sermos solidários ficamos esperando acontecimentos de comoção nacional para agir. Em tragédias como a de Santa Catarina, horrível e muito triste, as pessoas são conclamadas por televisões, jornais e pessoas da mídia a colaborar com ajuda às vítimas. Nada contra, muito pelo contrário, mas será que só esse tipo de solidariedade, orquestrado e de alta visibilidade é válido? Não temos inúmeras oportunidades em nossos cotidianos de exercermos a cidadania e sermos solidários? Não é só nos grandes e notórios desastres que se faz necessária a solidariedade. Precisaríamos olhar mais para os lados e para trás no nosso dia-a-dia, quando ninguém está nos vendo ou acompanhando, quando só nós mesmos podemos avaliar qual atitude ali, naquele momento, é melhor ou menos perniciosa. Não deveríamos precisar de platéia para sermos solidários, pelo contrário, tudo aquilo que fazemos por absoluta iniciativa própria tem muito maior validade em nossas histórias de vida.
Para finalizar, em questões de solidariedade, muitas vezes agimos sem pensar que nós mesmos poderíamos estar na pele e na situação do outro. Acredito que além da ajuda, caberiam ainda a nós alguns questionamentos interiores, como por exemplo: Qual a minha parcela de culpa para que essas pessoas estejam passando por isso? Onde estão as origens dos problemas que levaram estas pessoas a estarem nessas condições indignas de vida?
De nada adianta agirmos como os magnânimos que nada podem fazer para melhorar toda a podridão que os rodeia a não ser sentir pena. Em alguma coisa a gente está se omitindo, ou então, com alguma coisa errada a gente está compactuando, para vivermos tantas desigualdades e aberrações sociais e, paralelamente, uma outra grande parcela da população vivendo automaticamente com tudo aquilo que a globalização nos impõe. É justo haver gente curtindo tudo que a vida moderna propicia enquanto muitos outros passam toda sorte de necessidades e se dedicam a catar e separar todo o lixo de tamanha modernidade? Em que idade estamos? A idade altissimamente tecnológica ou a idade da barbárie?
Post scriptum: Hoje, às 6h00 da manhã, logo após ter escrito este post, por acaso assisti a uma entrevista com o grande cartunista Millôr Fernandes no Canal Brasil, e por absoluta coincidência, ele tocou em alguns pontos que sempre achei muito relevantes e sempre concordei, mesmo sem saber que a opinião dele era essa. Primeiro, falou da necessidade que sente de que os homens sejam essencialmente bons, e não bonzinhos, como vemos tantos por aí, lobos em peles de cordeiros. Falou também da diferença que faz entre notoriedade - que considera importante, pois denota respeito a um trabalho bem feito - e popularidade, que é aquilo que as pessoas têm apenas por aparecerem, por qualquer motivo, em revistas e na televisão. Coincidentemente, Millôr falou também que se emociona com a solidariedade espontânea do cotidiano, quando as pessoas agem apenas pelo ímpeto de ajudar ao próximo, sem esperar nada em troca por isso.
Hoje em dia, até para ser rebelde há um padrão socialmente aceitável. Existe uma rebeldia calculada que é aceita e até recebida com alguma simpatia pelo main-stream vigente.
Os rebeldes de hoje vivem tatuados, com os cabelos eriçados, piercings pendurados, mas eu pergunto: Terão eles, interiormente, padrões e conceitos realmente revolucionários? Ou apenas usam uma casca de rebeldia e nada de novo trazem dentro de si?
Os verdadeiros revolucionários e vanguardistas já o são na sua própria essência, na forma de se expressarem, na maneira como vivem, nas opções que fazem na vida, na não-aceitação ou ao menos no questionamento das imposições e formas de comportamentos que nos são enfiados goela abaixo.
Vivemos na era do faça isso, leia aquilo, comporte-se assim, vista isso, adquira o novo modelo, vá ao point tal, freqüente o restaurante do fulano que está in, ouça isso, assista aquilo outro...
Não há espaço para a individualidade, a sociedade aprende cada vez menos a questionar e discutir os seus problemas, as pessoas apenas seguem padrões que alguém em algum momento criou. Novas tendências, novas ondas, e lá vão todos surfando nessas new waves.
De repente, o que era execrado como brega há vinte anos vira cool e aí todos os ditos antenados passam a curtir aquilo que antes abominavam. Nós não aprendemos a discernir por nós mesmos o que é bom ou não. O marketing, os formadores de opiniões e os críticos são os que nos dizem que caminhos devemos trilhar. Personal stylists, personal trainers, orientadores de etiqueta social, todos se arvoram a nos dizer o que temos que fazer, usar, ou como nos devemos comportar. Miquinhos amestrados é o que estamos nos tornando. Sem opinião, sem rosto, sem história. Precisamos muito de aprender a conviver com as diferenças e a desenvolver espírito crítico.
Precisamos desenvolver iniciativas próprias, inclusive em relação às atitudes solidárias. Até para sermos solidários ficamos esperando acontecimentos de comoção nacional para agir. Em tragédias como a de Santa Catarina, horrível e muito triste, as pessoas são conclamadas por televisões, jornais e pessoas da mídia a colaborar com ajuda às vítimas. Nada contra, muito pelo contrário, mas será que só esse tipo de solidariedade, orquestrado e de alta visibilidade é válido? Não temos inúmeras oportunidades em nossos cotidianos de exercermos a cidadania e sermos solidários? Não é só nos grandes e notórios desastres que se faz necessária a solidariedade. Precisaríamos olhar mais para os lados e para trás no nosso dia-a-dia, quando ninguém está nos vendo ou acompanhando, quando só nós mesmos podemos avaliar qual atitude ali, naquele momento, é melhor ou menos perniciosa. Não deveríamos precisar de platéia para sermos solidários, pelo contrário, tudo aquilo que fazemos por absoluta iniciativa própria tem muito maior validade em nossas histórias de vida.
Para finalizar, em questões de solidariedade, muitas vezes agimos sem pensar que nós mesmos poderíamos estar na pele e na situação do outro. Acredito que além da ajuda, caberiam ainda a nós alguns questionamentos interiores, como por exemplo: Qual a minha parcela de culpa para que essas pessoas estejam passando por isso? Onde estão as origens dos problemas que levaram estas pessoas a estarem nessas condições indignas de vida?
De nada adianta agirmos como os magnânimos que nada podem fazer para melhorar toda a podridão que os rodeia a não ser sentir pena. Em alguma coisa a gente está se omitindo, ou então, com alguma coisa errada a gente está compactuando, para vivermos tantas desigualdades e aberrações sociais e, paralelamente, uma outra grande parcela da população vivendo automaticamente com tudo aquilo que a globalização nos impõe. É justo haver gente curtindo tudo que a vida moderna propicia enquanto muitos outros passam toda sorte de necessidades e se dedicam a catar e separar todo o lixo de tamanha modernidade? Em que idade estamos? A idade altissimamente tecnológica ou a idade da barbárie?
Post scriptum: Hoje, às 6h00 da manhã, logo após ter escrito este post, por acaso assisti a uma entrevista com o grande cartunista Millôr Fernandes no Canal Brasil, e por absoluta coincidência, ele tocou em alguns pontos que sempre achei muito relevantes e sempre concordei, mesmo sem saber que a opinião dele era essa. Primeiro, falou da necessidade que sente de que os homens sejam essencialmente bons, e não bonzinhos, como vemos tantos por aí, lobos em peles de cordeiros. Falou também da diferença que faz entre notoriedade - que considera importante, pois denota respeito a um trabalho bem feito - e popularidade, que é aquilo que as pessoas têm apenas por aparecerem, por qualquer motivo, em revistas e na televisão. Coincidentemente, Millôr falou também que se emociona com a solidariedade espontânea do cotidiano, quando as pessoas agem apenas pelo ímpeto de ajudar ao próximo, sem esperar nada em troca por isso.
10 comentários:
Por isso é que eu acho que as virgens são as verdadeiras revolucionárias da vez! rs
Brincadeiras à parte, o que tenho visto de pior é a falta de gente portanto esta inquietude que você apresenta aqui, é a conformação. Isso é que é triste. E considerando que a história é cíclica, já pensou no que poderá ser a próxima guinada? É de dar medo!
Gostei do seu texto, já disse q vc "parece" com minha professora de sociologia?
Olha, apesar de entender oque vc disse, eu não sei se concordo ou discordo, só sei q é uma crítica, qnd vc diz "não há espaço para individualidade" eu jur oq me confunde, pq tipo assim, capitalismo, egocentrismo, e tals... se a individualidade não cabe aqui cabe onde?
E acho q vai alem dos jogos de palavras, pq esse social coletivo, vive no mesmo plano de um individualismo, num é?
Enfim. MUITO BOM mesmo.
e continuo achando q meus filhos estudaram seu blog rs
Olá. Muito bem escrito seu texto. Parabéns. Concordo com várias coisas que expõe nele, mas uma coisa, data vênia, me incomodou. A padronização, a classificação. No texto você padroniza, rotula pessoas por suas ações e relaciona certas atitudes a certos grupos. A sociedade é quem faz isso o tempo. Pegando o exemplo da tatuagem, tenho 3 e estou indo pra 4º e por isso estou pegando esse exemplo, te pergunto o por que da relação entre tatuagem e rebeldia. Como tudo na vida, pode haver rebeldia, como pode, também, não haver nada disso. Pra mim, tatuagem é uma forma de expressão como outra qualquer. Como gostar de falar em público, escrever, gritar e etc.
As pessoas "per se" vivem 24 horas em contradição. Não precisam de rótulos, classificações. Um exemplo de contradição "ambulante", em tudo, é o ex-presidente da OAB-RJ, Sérgio Zveiter. Advogado, vive engravatado, ex-presidente de uma instituição como a OAB-RJ e tem mais de 5 tatuagens espalhadas pelo corpo, faixa preta de jiu-jitsu e etc. Se eu não o conhecesse e fosse rotulá-lo, nunca imaginaria que um ex-presidente da OAB pudesse ter 5 tatuagens e fosse faixa preta de jiu-jitsu.
Concluindo, a gente tem que fazer o que gosta, da forma que gosta, independente de padrões pré-estabelecidos pela sociedade, mídia e etc.
Guilherme
gfaro.blogspot.com
Olá Altamir.
Agora sou eu quem agradece seu cometário no meu blog. Agradeço, também, pela grandeza de espírito que você demonstrou ter em dizer que pensou no que escrevi acerca da padronização.
Estarei aqui no seu blog sempre, pois encontrei textos inteligentes.
Um abraço
Pra variar, eu li esse post e adivinha? Fui pensar sobre. E agora, no meio da madrugada, na companhia da minha caneca de vaquinha transbordante de café puro e fumegante (que sempre me faz pensar melhor), traço um paralelo entre o que você descreveu no seu post e o que eu vejo nas minhas andanças e, na minha humilde opinião, o cerne dessa abdicação da individualidade em nome da adequação a um determinado padrão se deve principalmente a uma coisa básica: auto-estima. Sabe-se lá porquê, É PRECISO pertencer a um grupo para não ser o esquisito da vez, É PRECISO ter o carro tal, É PRECISO ter lido determinado livro pra mostrar que é inteligente, É PRECISO usar aquelas coisas esquisitas que perambulam nas passarelas do SP Fashion Week pra mostrar que é antenado, É PRECISO bancar a Madre Teresa de Calcutá quando houver alguém por perto pra mostrar que não se é um ser execrável, É PRECISO ser mais um - veja bem o contra-senso! - para sobressair. Abre-se mão desse presente fantástico que é a autenticidade em troca de aceitação. Aceitação de quem? De quem nem vai lembrar o seu nome depois de apertar a sua mão numa
festa badalada? Do vizinho que só lembra de vc na hora de pedir emprestado o aspirador de pó ou de reclamar do som que vc ouve antes de dormir? Do colega de trabalho que acha que vc se veste mal só porque não está usando a ridícula gravata pink com estrelinhas azuis que desfilou na revista Caras no pescoço do Reynaldo Giannechini? Onde é que fica a própria aceitação?
A resposta, eu não sei. Só sei que, no dia que a gente aprender que o que nos torna especiais é justamente as diferenças, e que diferença não é defeito e sim uma forma única de enriquecer o espírito, e que para isso não é preciso abrir mão de si próprio, nesse dia talvez a gente se lembre de que os rótulos existem para não serem lembrados.
Beijos!
Maria, Jú, Guilherme e Flavinha,
Muito obrigado pelas riquíssimas colaborações!
Abraço, e beijos pras meninas!
Prezado Altamir,
obrigado pelas visitas!
Dizem os mestres que "nada é por acaso", e tinha acabado de ler esse seu post, que chama à reflexão, quando recebi um vídeo com trecho de entrevista com um tal de Robert Happe, de quem eu nunca havia ouvido falar, discorrendo justamente sobre essa padronização mental.
Ele tem um site (veja no google), e o vídeo da entrevista está no youtube. "Consciência é a resposta", diz ele.
Embora eu sempre fique com um pé atrás com esses gurus que faturam com palestras e livros, o que o tal Happe diz não deixa de ajudar a refletirmos.
Abraço!
meu amigo, nada como a cultura de massa! é por isso que tudo é assim, tão moldado! as vezes é triste né?!
abraços
1) Exato! Praticamente um priapismo
2) Odiamos, mas odiamos com todas as forças o "politicamente correto"; pau no c... do stuatus quo (não da banda, que era muito boa)
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