Sempre soube, desde a infância, que todos os pobres, sejam da periferia, do sertão, da caatinga ou das favelas, valem muito pouco ou quase nada no Brasil. Porém, foi necessário chegarmos à era das redes sociais, para que eu tivesse a comprovação de que há, sim, muita intolerância, preconceito, desumanidade e egoísmo arraigados profundamente nas camadas histórica e economicamente menos sofridas da sociedade brasileira.
Como tudo na vida, as atuais facilidades de interação e expressão, que nos dão as ferramentas da internet, podem ser usadas das formas mais belas, nobres e encantadoras, como também possibilitam a exposição de todos os sentimentos mais baixos e rasteiros que o ser humano traz dentro de si.
Lembro que todos os sentimentos, para o bem e para o mal, acompanham os homens desde que o mundo é mundo. As atuais facilidades tecnológicas apenas garantem aos usuários a possibilidade de manifestações acerca dos mais variados temas, de forma democrática, às vezes anônima, que em muitos casos trazem embutidas em si pesadas camadas de ódio, ignorância e rancor, chegando às raias da bestialidade.
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A força e o caráter inabaláveis de Dilma, respondendo de forma corajosa e altruísta a todas as agressões covardes dos grotescos VIPs, às quais foi submetida em alguns momentos da Copa. |
Basta lermos por alguns minutos as opiniões contidas nas caixas de comentários, hoje em dia tão comuns, das postagens e reportagens dos jornalões e da grande mídia, para sermos bombardeados pelas opiniões mais estapafúrdias, preconceituosas e intolerantes que possam ser imaginadas. Trata-se de um fenômeno já conhecido como "chorume" das caixas de comentários. É o resíduo de todo o lixo da nossa sociedade que ali se apresenta, na sua forma mais torpe e insana. Pelo chorume expressado na maioria das opiniões dos leitores, percebemos o quanto vivemos em uma sociedade doente.
E veja que não se trata de cercear a emissão de opiniões, não é isso, pois a democracia deve sempre ser respeitada. O que preocupa é o teor altamente negativo e venenoso destilado por essa gente em seus comentários. É claro que, apesar de na maioria das vezes o ódio ser expressado de maneira anônima, ainda assim há a possibilidade de que os autores de tais comentários possam responder judicialmente por eventuais abusos, embora, na prática, isso seja um tanto difícil e raro de acontecer.
O que esta era moderna está mostrando e escancarando é a dimensão do rancor social impregnado na sociedade brasileira. Como exemplo dessa raiva social, basta pegarmos os episódios da Copa, quando indivíduos vaiaram e xingaram a presidente Dilma nos estádios, em uma turba covarde, formada prioritariamente de pessoas "bem nascidas" e bem situadas, economicamente falando. Esses VIPs, como gostam de ser chamados, sempre tiveram no Brasil, historicamente, todas as chances e oportunidades de crescerem, se formarem e viverem com todas as benesses que o dinheiro pode comprar, mas, mesmo assim, se valeram de modo vil das credenciais de socialites de que dispunham para achincalhar e aviltar a mulher que tem procurado melhorar a vida e minorar os sofrimentos de grande parcela desvalida, e esquecida por séculos, da população brasileira.
Com essa parcela da população, egocêntrica e endinheirada, que não suporta qualquer indício de aumento da igualdade ou solidariedade no Brasil, não há a menor possibilidade de conversa civilizada e construtiva. Basta que nos deparemos com um representante dessa classe em qualquer discussão virtual para que em dois tempos ele nos xingue de lixo ou escória e nos mande ir morar em Cuba. São pessoas incapacitadas para o debate e para a vida em sociedade. Gente que não tem a menor complacência com todos os outros que não sejam da sua estirpe, grupo social ou classe econômica. É gente mesquinha, que segrega, que exclui, que marginaliza todas aquelas outras pessoas que não sejam da sua laia e que não tenham as mesmas pretensões consumistas, monetaristas e de levar vantagem em tudo. Infelizmente, hoje temos uma casta considerável de brasileiros que não suporta a convivência e a inclusão social. São, com certeza, filhotes da famigerada ditadura, que agora, graças à democracia, podem falar, ao menos virtualmente, todas as bobagens, idiotices e sandices que vivem a povoar suas mentes doentias. Discussão social e política construtiva é uma coisa muito salutar. Ódio, rancor e preconceito de classe é outra bem diferente.