Como cidadãos, sabemos que os governos vem e vão, de forma cíclica, uns substituindo os outros. Períodos mais democráticos e de esquerda. Períodos mais autoritários e de direita. E por aí vai. É claro que todos nós temos as nossas preferências e tendências políticas. Que em algumas eleições nos sentimos vitoriosos e em outras, frustrados. Mas o que eu gostaria de dizer é que, melhor ou pior, nenhum governo ou instância da administração pública conseguirá ser perfeito, muito menos agradar a todos os eleitores. Sempre haverá pontos controversos em qualquer administração. Sempre haverá algum nível de tráfico de influência e de apadrinhamento de amigos e simpatizantes. Sem contar a nefasta obrigação, cada vez mais em voga na política, de ter que lotear os governos, dando a cada partido de apoio da base aliada o seu, em muitas vezes, nem tão merecido quinhão. Ou seja, a política do "é dando que se recebe" sempre paira os governos em maior ou menor grau. Por isso, cada vez mais chego à conclusão de que, em muitas situações, devemos fazer nós mesmos as mudanças e as intervenções necessárias para melhoria da nossa sofrida sociedade brasileira. Além disso, e até mais importante, cabe a nós fiscalizar e cuidar para que as políticas públicas caminhem da forma que precisam caminhar, ou seja, sempre em prol e totalmente em nome do povo, visando o seu bem-estar e os avanços sociais, principalmente nos setores críticos como saúde, educação, habitação, transporte e inclusão social. É muito importante que não sejamos omissos quando presenciamos aberrações e descasos sociais à nossa volta. Se há como denunciar absurdos e malfeitos, denunciemos. Se há como chamar a autoridade responsável na "chincha", chamemos. O que não podemos é ficar parados, e compactuar silenciosa e bovinamente, diante do descaso e da omissão de governantes e agentes do governo, sejam de que esfera forem. Além disso, precisamos com urgência ser mais cidadãos. Não podemos exigir do governo aquilo que não praticamos em nosso cotidiano. Se vivemos lançando mão do jeitinho brasileiro (e levando vantagem em tudo, certo?) a torto e a direito em nosso dia-a-dia, como podemos criticar os políticos e homens públicos que nós mesmos elegemos? Se desrespeitamos as vagas de estacionamento para idosos e deficientes na maior desfaçatez. Se avançamos sobre a faixa de pedestres e calçadas com os nossos possantes sem o menor cuidado ou respeito ao próximo. Se sempre que podemos, burlamos a ordem, e passamos na frente, de uma fila indiana para qualquer tipo de atendimento. Se tentamos levar qualquer fiscal na lábia, achando-nos super espertos por auferir qualquer tipo de vantagem à qual não teríamos direito dentro das normas estabelecidas. Em qualquer desses casos, e em muitos outros similares, com os quais nos defrontamos durante os nossos dias, se agimos na esperteza, então não temos direito de cobrar nada de quem está no poder. Se agimos assim, descompromissadamente, indiferentemente, alheios a todas as regras de convívio e respeito ao próximo, então não merecemos nada de bom. Precisamos, urgentemente, nos corrigir e tentar arrumar tudo o de errado e torto que acontece à nossa volta, a começar da nossa casa. Nós somos, no fundo de tudo, essencialmente aquilo que fazemos quando ninguém está nos vendo. É nesses momentos que o nosso verdadeiro caráter se manifesta em sua plenitude. E é aí que precisamos ser verdadeiros e decentes, inclusive conosco mesmos. Nós, os ditos cidadãos de bem, precisamos realmente fazer valer essa condição. Trabalhar na prática, sempre que possível, para minimizar desigualdades e injustiças. Atuar sempre que percebermos que podemos fazê-lo. Evitar a cômoda omissão dos alienados e conformados. Sempre que puder fazer algo de bom ou útil, faça-o, independente de recompensas e de atendimento unicamente aos interesses próprios.