terça-feira, 15 de julho de 2014

VIPs sem classe, vaias e intolerância com o diferente

Sempre soube, desde a infância, que todos os pobres, sejam da periferia, do sertão, da caatinga ou das favelas, valem muito pouco ou quase nada no Brasil. Porém, foi necessário chegarmos à era das redes sociais, para que eu tivesse a comprovação de que há, sim, muita intolerância, preconceito, desumanidade e egoísmo arraigados profundamente nas camadas histórica e economicamente menos sofridas da sociedade brasileira. 
Como tudo na vida, as atuais facilidades de interação e expressão, que nos dão as ferramentas da internet, podem ser usadas das formas mais belas, nobres e encantadoras, como também possibilitam a exposição de todos os sentimentos mais baixos e rasteiros que o ser humano traz dentro de si. 
Lembro que todos os sentimentos, para o bem e para o mal, acompanham os homens desde que o mundo é mundo. As atuais facilidades tecnológicas apenas garantem aos usuários a possibilidade de manifestações acerca dos mais variados temas, de forma democrática, às vezes anônima, que em muitos casos trazem embutidas em si pesadas camadas de ódio, ignorância e rancor, chegando às raias da bestialidade.
A força e o caráter inabaláveis de Dilma, respondendo
 de forma  corajosa e altruísta a todas as agressões
covardes dos  grotescos  VIPs, às quais  foi
submetida em alguns  momentos da Copa. 
Basta lermos por alguns minutos as opiniões contidas nas caixas de comentários, hoje em dia tão comuns, das postagens e reportagens dos jornalões e da grande mídia, para sermos bombardeados pelas opiniões mais estapafúrdias, preconceituosas e intolerantes que possam ser imaginadas. Trata-se de um fenômeno já conhecido como "chorume" das caixas de comentários. É o resíduo de todo o lixo da nossa sociedade que ali se apresenta, na sua forma mais torpe e insana. Pelo chorume expressado na maioria das opiniões dos leitores, percebemos o quanto vivemos em uma sociedade doente. 
E veja que não se trata de cercear a emissão de opiniões, não é isso, pois a democracia deve sempre ser respeitada. O que preocupa é o teor altamente negativo e venenoso destilado por essa gente em seus comentários. É claro que, apesar de na maioria das vezes o ódio ser expressado de maneira anônima, ainda assim há a possibilidade de que os autores de tais comentários possam responder judicialmente por eventuais abusos, embora, na prática, isso seja um tanto difícil e raro de acontecer.  
O que esta era moderna está mostrando e escancarando é a dimensão do rancor social impregnado na sociedade brasileira. Como exemplo dessa raiva social, basta pegarmos os episódios da Copa, quando indivíduos vaiaram e xingaram a presidente Dilma nos estádios, em uma turba covarde, formada prioritariamente de pessoas "bem nascidas" e bem situadas, economicamente falando. Esses VIPs, como gostam de ser chamados, sempre tiveram no Brasil, historicamente, todas as chances e oportunidades de crescerem, se formarem e viverem com todas as benesses que o dinheiro pode comprar, mas, mesmo assim, se valeram de modo vil das credenciais de socialites  de que dispunham para achincalhar e aviltar a mulher que tem procurado melhorar a vida e minorar os sofrimentos de grande parcela desvalida, e esquecida por séculos, da população brasileira.  
Com essa parcela da população, egocêntrica e endinheirada, que não suporta qualquer indício de aumento da igualdade ou solidariedade no Brasil, não há a menor possibilidade de conversa civilizada e construtiva. Basta que nos deparemos com um representante dessa classe em qualquer discussão virtual para que em dois tempos ele nos xingue de lixo ou escória e nos mande ir morar em Cuba. São pessoas incapacitadas para o debate e para a vida em sociedade. Gente que não tem a menor complacência com todos os outros que não sejam da sua estirpe, grupo social ou classe econômica. É gente mesquinha, que segrega, que exclui, que marginaliza todas aquelas outras pessoas que não sejam da sua laia e que não tenham as mesmas pretensões consumistas, monetaristas e de levar vantagem em tudo. Infelizmente, hoje temos uma casta considerável de brasileiros que não suporta a convivência e a inclusão social. São, com certeza, filhotes da famigerada ditadura, que agora, graças à democracia, podem falar, ao menos virtualmente, todas as bobagens, idiotices e sandices que vivem a povoar suas mentes doentias. Discussão social e política construtiva é uma coisa muito salutar. Ódio, rancor e preconceito de classe é outra bem diferente. 

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