Talvez isso aconteça com muitas pessoas,
talvez não, somente com aquelas que por algum motivo não sejam dotadas de toda
a força, fé, coragem e destemor que os grandes homens e mulheres apresentam em suas
vidas. Mas, apesar de todas as facilidades atuais de comunicação e manifestação,
ainda me sinto absolutamente impotente diante de tantos aspectos e questões da
nossa vida em sociedade.
É muito difícil acompanhar os acontecimentos sem nada de
concreto e determinante poder fazer. É triste e repugnante saber todos os dias,
dos inúmeros desmandos cometidos por pessoas que simplesmente por terem recursos financeiros - na
maioria das vezes, angariados de maneira ilícita ou herdados de mão-beijada -
se acham no direito de, com o único intuito de capitalizar e monetizar todas as
coisas, cometer arbitrariedades e
atrocidades contra gente humilde, em condição social menos privilegiada e inferiorizada.
O sentimento de impotência é total quando vemos que as notícias e informações
são veiculadas de maneira parcial e distorcida, pelos grandes monopólios de
comunicação no Brasil. Sentir que a opinião pública e o senso comum do
brasileiro são formados essencialmente por esses famigerados e
mal-intencionados meios de informação. Constatar que a maior rede de televisão
do país pauta a maioria dos assuntos e enfoques para o cidadão mediano, que
sai pelas ruas a propagar inverdades e absurdos, plantados por décadas nas sua cabeça, diuturnamente, pela veiculação de uma grade de programação esdrúxula e
de baixo nível, que privilegia a violência, a traição, a mentira, a cobiça, o
preconceito e tantos outros “desvalores” tão cultuados pela sociedade atual. E
que essa mesma rede de televisão privilegia artistas, cantores e celebridades
de gosto, conteúdo e postura completamente duvidosos, alçando-os à condição de
astros e estrelas, sendo endeusados pela massa, que, infelizmente, não aprendeu
a gostar de pessoas, programas, músicas e livros com conteúdos que valessem à
pena ser divulgados, propalados e verdadeiramente nos representassem enquanto
povo e nação. Além disso, se sentir impotente diante do fato de que cada vez
mais se deixa de valorizar o que cada região do Brasil tem de mais rico nas
suas autênticas manifestações culturais,
passando o país todo a se comportar, a agir e a idolatrar as mesmas coisas e
pessoas, independentemente do estado em que estejamos. Impotente diante da massificação rasteira que vem acontecendo no
Brasil, privilegiando-se sempre a manifestação "artística"
mais rasa, mais chula e menos pensante. Além disso, haja sentimento de
impotência ao ver que apenas os interesses corporativistas, dos latifundiários,
dos oligopólios e dos empresários são defendidos com unhas e dentes nas
câmaras, nas assembleias e no congresso nacional pelos nossos
"representantes". Impotência e tristeza extremas em ver que o governo
federal atual, dotado de muito boas intenções, não consegue por em prática grande
parte delas devido à famigerada governabilidade com partidos aliados, que se tornou
uma praga na política brasileira, a qual só se resolverá com uma séria e
profunda reforma política a ser feita no Brasil, alterando-se a forma, e
tornando-a mais direta, de como nós, o povo, passaremos a ser representados
junto aos governos, em todos as esferas da administração pública.
Grande impotência também diante das barbaridades e intolerâncias que somos
obrigados a presenciar ou saber, todos os dias, cometidas por pessoas que se entendem
como donas da verdade e da razão, que se arvoram a distratar, discriminar e até
mesmo agredir e assassinar cidadãos que pensam e agem de maneira diferente da sua, seja por questões de etnia e origem diferentes ou de nível social e situação financeira inferiores. Enfim, sinto-me completamente impotente, por mais que fale, tente dar
o exemplo ou faça, diante dessas questões tão presentes e tão pungentes em
nosso cotidiano, tidas por muitos - e isso é o mais triste - como aceitáveis,
normais e imutáveis. É doloroso perceber que muita gente, talvez a maioria,
aceite esse estado de coisas e absurdos, sem tomar qualquer atitude ou posição,
apenas seguindo com sua vida, se lamentando em vão, mas sem nada de concreto
fazer para mudar, mesmo que minimamente, e apenas no seu pequeno entorno, todo
esse absurdo modo de viver e ver a vida. A impotência civil é avassaladora
diante do fato, que acaba perpassando todos os absurdos aqui relatados - e
muitíssimos outros, que não me ocorreram agora, mas que estão entranhados no
mundo atual -, de que alguns indivíduos, por quaisquer motivos ou razões que sejam, se
achem, sejam encarados e estejam em posição superior e dominadora em relação
a outros seres humanos.