quarta-feira, 25 de junho de 2014

IMPOTÊNCIA CIVIL

Talvez isso aconteça com muitas pessoas, talvez não, somente com aquelas que por algum motivo não sejam dotadas de toda a força, fé, coragem e destemor que os grandes homens e mulheres apresentam em suas vidas. Mas, apesar de todas as facilidades atuais de comunicação e manifestação, ainda me sinto absolutamente impotente diante de tantos aspectos e questões da nossa vida em sociedade.

É muito difícil acompanhar os acontecimentos sem nada de concreto e determinante poder fazer. É triste e repugnante saber todos os dias, dos inúmeros desmandos cometidos por pessoas que simplesmente por terem recursos financeiros - na maioria das vezes, angariados de maneira ilícita ou herdados de mão-beijada - se acham no direito de, com o único intuito de capitalizar e monetizar todas as coisas, cometer arbitrariedades e atrocidades contra gente humilde, em condição social menos privilegiada e inferiorizada. O sentimento de impotência é total quando vemos que as notícias e informações são veiculadas de maneira parcial e distorcida, pelos grandes monopólios de comunicação no Brasil. Sentir que a opinião pública e o senso comum do brasileiro são formados essencialmente por esses famigerados e mal-intencionados meios de informação. Constatar que a maior rede de televisão do país pauta a maioria dos assuntos e enfoques para o cidadão mediano, que sai pelas ruas a propagar inverdades e absurdos, plantados por décadas nas sua cabeça, diuturnamente, pela veiculação de uma grade de programação esdrúxula e de baixo nível, que privilegia a violência, a traição, a mentira, a cobiça, o preconceito e tantos outros “desvalores” tão cultuados pela sociedade atual. E que essa mesma rede de televisão privilegia artistas, cantores e celebridades de gosto, conteúdo e postura completamente duvidosos, alçando-os à condição de astros e estrelas, sendo endeusados pela massa, que, infelizmente, não aprendeu a gostar de pessoas, programas, músicas e livros com conteúdos que valessem à pena ser divulgados, propalados e verdadeiramente nos representassem enquanto povo e nação. Além disso, se sentir impotente diante do fato de que cada vez mais se deixa de valorizar o que cada região do Brasil tem de mais rico nas suas autênticas manifestações culturais, passando o país todo a se comportar, a agir e a idolatrar as mesmas coisas e pessoas, independentemente do estado em que estejamos. Impotente diante da massificação rasteira que vem acontecendo no Brasil, privilegiando-se sempre a manifestação "artística" mais rasa, mais chula e menos pensante. Além disso, haja sentimento de impotência ao ver que apenas os interesses corporativistas, dos latifundiários, dos oligopólios e dos empresários são defendidos com unhas e dentes nas câmaras, nas assembleias e no congresso nacional pelos nossos "representantes". Impotência e tristeza extremas em ver que o governo federal atual, dotado de muito boas intenções, não consegue por em prática grande parte delas devido à famigerada governabilidade com partidos aliados, que se tornou uma praga na política brasileira, a qual só se resolverá com uma séria e profunda reforma política a ser feita no Brasil, alterando-se a forma, e tornando-a mais direta, de como nós, o povo, passaremos a ser representados junto aos governos, em todos as esferas da administração pública. Grande impotência também diante das barbaridades e intolerâncias que somos obrigados a presenciar ou saber, todos os dias, cometidas por pessoas que se entendem como donas da verdade e da razão, que se arvoram a distratar, discriminar e até mesmo agredir e assassinar cidadãos que pensam e agem de maneira diferente da sua, seja por questões de etnia e origem diferentes ou de nível social e situação financeira inferiores. Enfim, sinto-me completamente impotente, por mais que fale, tente dar o exemplo ou faça, diante dessas questões tão presentes e tão pungentes em nosso cotidiano, tidas por muitos - e isso é o mais triste - como aceitáveis, normais e imutáveis. É doloroso perceber que muita gente, talvez a maioria, aceite esse estado de coisas e absurdos, sem tomar qualquer atitude ou posição, apenas seguindo com sua vida, se lamentando em vão, mas sem nada de concreto fazer para mudar, mesmo que minimamente, e apenas no seu pequeno entorno, todo esse absurdo modo de viver e ver a vida. A impotência civil é avassaladora diante do fato, que acaba perpassando todos os absurdos aqui relatados - e muitíssimos outros, que não me ocorreram agora, mas que estão entranhados no mundo atual -, de que alguns indivíduos, por quaisquer motivos ou razões que sejam, se achem, sejam encarados e estejam em posição superior e dominadora em relação a outros seres humanos.       

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...