terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Thongo Man (O padrão do novo homem)

O Thongo Man chega ao seu escritório, de onde emana ordens a torto e a direito, em todas as direções e por todos os meios de comunicação de que dispõe. Se acha o dono da verdade. Está conectado a várias mídias simultaneamente, mas é incapaz de interagir diretamente com a secretária ou com a copeira. Thongo, para os mais íntimos, não lida muito bem com pessoas propriamente ditas. Se sai melhor com números, tabelas e apresentações de vídeo objetivas e impessoais. Thongo não prima por ser bom em comandar e coordenar equipes de trabalho, apesar de ser o mandachuva do lugar em que atua. Ele não tem a mínima facilidade para promover o bom e sadio trabalho em equipe. Talvez acredite na teoria de que ao dividir as pessoas poderá manter melhor controle sobre elas. Thongo mais separa do que agrega, mais ignora do que enaltece. Mais reprime do que libera os anseios e as propostas dos seus subordinados. Thongo é, para muitos padrões atuais, um homem de pleno sucesso. É jovem, bem vestido, bem tratado. Tem uma namorada loira e bonita, que vive saindo na mídia por aparecer em eventos grã-finos e vazios. Tem três carros espetaculares na sua garagem, com muitos cavalos de potência em cada um deles (E um burro ao volante). Apesar disso, Thongo jamais conseguiu desenvolver uma velocidade maior do que 40 km/h nas ruas paulistanas pelas quais trafega, ou melhor, pelas quais engarrafa. À noite, Thongo costuma frequentar vernissages, inaugurações de concessionárias de carros importados, lançamentos de imóveis de altíssimo padrão e outras efemérides dessa linhagem. Nos finais de semana, Thongo esbalda-se em sua lancha nas praias do litoral norte paulistano, que são as mais bem frequentadas, em sua maioria apenas por gente bonita, como a estirpe dos Thongos costuma se referir a lugares privativos apenas para pessoas de pedigree, com as quais eles costumam se sentir bem e completamente adaptados, uma vez que esse é o seu habitat natural. Em certas circunstâncias, como nos dias de eleição, homens e mulheres da linhagem do Thongo Man precisam se misturar às outras castas sociais menos privilegiadas, com as quais são obrigados a conviver minimamente, pois se tivessem tal poder, talvez as extirpassem da face da Terra. Mas, por outro lado, raciocina o Thongo, se eu os eliminar do mundo, quem irá executar os trabalhos pesados e sujos para que eu e os meus possamos viver dignamente, como cidadãos de bens que somos? Pessoas como o Thongo, equivocadas que são, se veem - bem como em relação aos seus pares - como seres predestinados a vencer, melhores realmente que os demais, quiçá até ungidos por Deus. O Thongo acha que nasceu para brilhar nesse mundo de glamour, de posses, de rapapés e salamaleques, de mútua rasgação de seda. No mundo do Thongo, cada um deles preserva e dá suporte aos congêneres, defendendo-se uns aos outros com unhas e dentes contra a sanha das demais classes desprovidas de toda a graça e toda a glória com as quais eles, os thongos, foram devidamente abençoados. Ao final, com um exame mais detalhado, percebemos o quanto o Thongo Man pode ser vazio e desprovido de vivência, de assunto e de interação humana. Quanto tempo ainda será necessário para que a casta dita superior dos Thongo Men entenda que a vida deve ser compartilhada e vivida com todos aqueles que os rodeiam, e que de preferência o bem-estar deva estar presente em todos os lugares, disponível para todos e usufruído também por todos? Quando os homens (e mulheres) como o Thongo Man deixarão de agir de maneira egoísta e hipócrita, passando a entender que o Sol nasce e brilha para todos, independentemente de qualquer diferença que possa existir entre nós?            

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...