quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Tubarão Alado


Livremente inspirado na obra “Tubarões Voadores”, de Arrigo Barnabé e Luiz Gê.  

 

O Tubarão corre pelas avenidas, em sua motorizada jaula blindada e resplandecente,

Acredita em seu íntimo, que tem alguma coisa a mais do que os outros seres,

Na verdade, a única coisa que tem a mais é o dinheiro, herança da família tradicional,

Tubarão só acredita no dinheiro e em seu poder sobre os outros,

Acha-se verdadeiramente superior, cabendo às outras pessoas lhe renderem deferências,

Quando o tráfego fica por demais lento e pesado, Tubarão se torna alado,

De arranha-céu em arranha-céu, percorre São Paulo, como um Homem-Aranha nefasto,

Do alto, não discerne, e nem quer, o que a cidade tem de bom e o que tem de ruim,

Tudo lá embaixo parece ao Tubarão como algo distante, de um mundo que não é o seu,

É o mundo dos simples mortais, e o que eles importam, no olimpo em que ele agora flutua?

Tubarão só se sente à vontade acompanhado dos seus pares, e da chique tubaroa,

Tubarão discrimina, diferencia e menospreza todos aqueles milhões de pessoas diferentes dele,

O equivocado Tubarão defende a sua classe, com ideias equivocadas como ele,

Alardeia que o melhor parâmetro para a sociedade é a ampla concorrência de mercado,

Desde que ele, e poucos como ele, sejam os únicos concorrentes habilitados nessa guerra,

Defende o mercado como regulador de tudo na sociedade, pois este o mantém tubarão,

Propala aos quatro ventos que só quem tem competência se estabelece,

Mas evita de todas as maneiras deixar que os peixinhos também se tornem sabidos e competentes,

Sem dó, oprime e maltrata cardumes e cardumes de peixes pequenos,

Tubarão manda, e quem tiver juízo que o obedeça, é a sua máxima,

Tubarão corrompe a classe política e definitivamente comanda a sociedade,

Tubarão tira de todos aquilo que têm e o que não têm,

Abocanha verbas públicas, faz tráfico de influência, frauda licitações,

Tubarão só não gosta que venham lhe atrapalhar ou lhe copiar em suas negociatas,

Só a classe dos tubarões pode fazer e desfazer em toda e qualquer matéria no país,

Aos outros cabe apenas se calar, sob a pressão política e econômica dos tubarões,

Tubarões nadam à vontade nas águas brasileiras, há séculos,

Não dando oportunidades a ninguém para incomodá-los,

Tubarões são corporativistas, se defendem, se aliam, se suportam,

Têm espírito de corpo e de porco, apesar de tubarões,

Tubarão, como todos sabemos, esperto que é, nada conforme a maré,

Desde   que o domínio, de alguma forma, esteja em suas mãos, bocarras e barbatanas,
 
Tubarões controlam e monopolizam a mídia e o mercado,

Tubarões jamais permitirão a revolução dos peixes pequenos,

Tubarões precisam ser combatidos com as suas próprias armas: os dentes,

Enquanto o nosso tempo de desigualdades e injustiças continua semeando atrocidades,

O Tubarão Alado sobrevoa as metrópoles, como se fora uma ave de rapina,

Nada pode sair do controle, ele deve sempre se manter mais igual entre os iguais,

Deve continuar fazendo a todos acreditarem que nasceram para servi-lo,

Que ele é superior, mesmo não passando de mais um ser vivo criado por Deus,

Mesmo sendo mortal, Tubarão trabalha para deixar descendentes e herdeiros,

Que mantenham pelos séculos o império que julga ser seu,

Que mantenham propriedades e terras que julga só a ele e aos seus pertencerem,

Ah, se todos percebessem o quão equivocado e ultrapassado é esse Tubarão Alado,

Talvez a opressão diuturna dessa casta já tivesse se acabado neste mundo.
 
 

sábado, 22 de setembro de 2012

O dia em que os rollinbunds* foram retirar o kit (ferra) de corrida!

*Rollinbunds é uma  alcunha dada a um grupo  de amigos que, já no início dos anos 90, viviam , entre outras modalidades de dificuldades, algumas desventuras  em série nos deslocamentos  diários para a ida ao trabalho e a volta para a casa, em bairros periféricos da  cidade de São Paulo.  

Passados quase vinte anos da separação do bando de rollinbunds, apenas dois deles ainda mantêm contato contínuo, tendo inclusive se tornado compadres nos anos subsequentes à separação da famigerada gangue de desafortunados.
Nos anos 2000, esses dois rollinbunds passaram a se dedicar às corridas de rua, como forma de extravasar o stress da metrópole, bem como para tentar manter um mínimo de forma física possível nessa idade já um pouco mais adiantada. 

Nessas corridas, geralmente realizadas nas manhãs de domingo, os participantes costumam retirar seus kits (camiseta, número de peito, bolsa, etc.) com dois dias de antecedência, para chegarem uniformizados no dia do evento.

Essa prática nunca trouxe nenhum problema, até que, para a corrida da primavera, os rollinbunds, bem como todos os demais atletas, foram instados a retirar seu kit (ferra) de participação em um Hotel chamado Transamérica, que fica numa área longínqua da capital paulista, no bairro de Santo Amaro, e tem apenas a marginal Pinheiros como acesso.

Some-se a isso, que os kits seriam entregues apenas na sexta e no sábado. Assim sendo, os rollinbunds, após o susto da localidade em que teriam que ir buscar os apetrechos, passaram a engendrar o seu plano de deslocamento. Pedestres inveterados que são, consultaram o oráculo Google, para saber qual condução precisariam utilizar para chegar ao local. Descobriram que, de ônibus, numa sexta à noite, depois do trabalho, gastariam cerca de 2h45m para aportar nesse suntuoso e distante hotel. Cogitaram a opção de caminhar pela Marginal Pinheiros até o ponto do Hotel, mas tendo em vista se tratar de via inapropriada para andarilhos, bem como a distância de cerca de onze quilômetros, houveram por bem lançar mão do trem, modal de transporte que lhes pareceu mais pertinente para acessar aquela inóspita região da cidade, na qual as pessoas de bens só se deslocam (com imensa lentidão, devido ao acúmulo, claro) a bordo de suas máquinas automotoras possantes e maravilhosas. 

Embarcaram no trem com destino ao Grajaú na estação Pinheiros, depois de ali chegarem pelo metrô da linha amarela e caminharem por cerca de quinze minutos em meio a uma manada humana para chegar à plataforma da linha desejada. Na plataforma, deram muita sorte, pois um trem vazio acabava de aportar por aquelas plagas.
Devidamente aboletados em um vagão, ficaram próximo à porta, em meio à massa humana que ali se formara.
Meia hora depois, andando sempre ao lado da Marginal Pinheiros, cujos carros engarrafados pareciam estar parados, chegaram à estação Santo Amaro, que era o ponto mais próximo para um pedestre poder tentar acessar aquela luxuosa e restrita localidade, que por obra caprichosa do destino estavam sendo obrigados a visitar naquela chuvosa noite paulistana.

Chegaram à calçada enlameada da Marginal Pinheiros e caminharam por áreas pouco propícias para o deslocamento humano, em um local completamente concebido para o tráfego de veículos automotivos, no qual sequer havia faixas de pedestres. Sempre que precisavam atravessar o leito carroçável ( e ali só tinha leito carroçável) expunham-se a grandes riscos de atropelamento. 

Após um pequeno périplo, perceberam a fachada do Hotel Transamérica. No entanto, ficaram se perguntando como adentrariam ao local, tendo em vista que não se viam por ali caminhos ou veredas que podiam ser utilizadas por pedestres, e sim apenas vias sinalizadas para carros.
Ao chegar ali andando e "do nada", além de modestamente  vestidos, assustaram os porteiros/vigias, todos eles elegantemente trajados com ternos sóbrios e bem cortados. Percebendo o espanto e a prontidão dos vigias, logo trataram de quebrar o gelo e perguntaram em alto e bom som se era ali a retirada dos kits. Os porteiros responderam que sim, mas ficaram meio constrangidos ao informar aos rollinbunds que eles precisariam se deslocar com cuidado, evitando riscos de serem atropelados, pelo amplo estacionamento que tomava toda a área de frente daquele faraônico complexo hoteleiro.  

Assim, se aproximaram da entrada principal do Hotel, onde fizeram questão de perguntar ao carregador de malas se era ali mesmo a retirada dos kits. Esse confirmou com desdém e ar blasé, enquanto dava atenção a uma roda se socialites e madames muitíssimo bem vestidas. Os rollinbunds passaram, pela primeira vez na vida, por uma daquelas portas giratórias de hotel grã-fino e acessaram o enorme hall de entrada, muito perfumado e frequentado apenas por pessoas de fino trato. As únicas portas giratórias que conheciam  até então eram as dos bancos, que sempre travavam quando da tentativa de entrada por parte deles. 

Após irem ao luxuoso sanitário, onde quase tomaram um banho completo utilizando o sabão líquido caríssimo, bem como o papel-toalha extra-macio que ali estava à disposição dos hóspedes e visitantes, finalmente chegaram à sala de entrega dos kits.

Por curiosidade, perguntaram aos funcionários do evento sobre o motivo daquele local tão distante ter sido o escolhido para a entrega de kits, ao que estes informaram ser devido à facilidade para pouso de helicópteros naquele complexo, que dispunha de dezenas de heliportos.     

Resignados, pegaram suas sacolas e saíram em sua caminhada, não sem antes terem tido a pachorra de perguntar aos porteiros sobre qual seria a estação de trem mais perto dali, visto que o local ficava entre duas delas, ao que estes, novamente pasmos, responderam que era a estação Santo Amaro.

Os rollinbunds saíram dali com alguma convicção de que talvez sejam os únicos dos cinco mil participantes da corrida da primavera a conseguir a proeza de retirar esses kits utilizando trem e, como pedestres,  terem andado até o majestoso, e acessível para poucos, Hotel Transamérica.

sábado, 8 de setembro de 2012

Em Sampa tá ruço, mano!

Os eleitores da cidade de São Paulo, nas poucas eleições para prefeito que foram realizadas a partir de 1985, mostraram prioritariamente que tem a característica marcante de confundir a urna eleitoral com penico. Senão, vejamos. Da redemocratização do país até hoje, ocorreram sete eleições municipais em todo o Brasil e em São Paulo. Houve eleições em 1985, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004 e 2008. 
Nessas sete eleições, apenas em 1988 e 2000 o eleitorado de São Paulo escolheu os melhores candidatos, no caso, candidatas, Erundina e Marta. Essas candidatas, eleitas prefeitas, realmente eram, em cada uma das eleições em que participaram, as alternativas mais acertadas e voltadas à implantação de gestões democráticas  e populares na cidade de São Paulo. Nas outras cinco eleições, os paulistanos sempre optaram pelos candidatos com grande tendência à administração de direita e voltada aos grandes interesses econômicos e à realização de obras faraônicas ou iniciativas equivocadas e inócuas, que poucos resultados efetivos trazem à enorme população das periferias. Mas, depois da eleição já é tarde, o prefeito mal eleito tem quatro anos para tornar a vida nessa metrópole ainda pior, principalmente para os cidadãos mais pobres, que são os que mais precisam das boas e eficazes iniciativas do poder público municipal.       
Relembrando, a título de esclarecimento, Sampa já elegeu, em anos recentes, Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta, José Serra e Gilberto Kassab. É importante frisar que esses senhores venceram, nos respectivos pleitos, pessoas como FHC, Suplicy, Erundina e Marta. Ou seja, o povo paulistano já demonstrou que tem uma enorme tendência para votar mal, como se encarasse a urna eleitoral como penico, sem a menor preocupação ou responsabilidade.
Nas eleições que se aproximam, mais uma vez as pesquisas apontam fortemente para uma nova escolha equivocadíssima e impensada do eleitorado paulistano. Na frente de todos, com percentual altíssimo, aparece uma figura insossa e de passado de poucos feitos conhecidos, mas que já andou com Maluf em outros tempos, Celso Russomanno. Ele parece ser o candidato vazio e queridinho da vez.
Espero que a cagada eleitoral não se repita em São Paulo. Ainda há tempo dos paulistanos darem um basta a esse tipo de administração centralizada, ditatorial e equivocada, que por tantos anos dominaram a cidade.
Ainda estamos sob a política higienista e militarizada do Sr. Kassab, o Jânio sem álcool, em alcunha muito propriamente dada a ele pelo jornalista Xico Sá. Será que esses oito anos desse tipo de administração ainda não foram o suficiente para as periferias de Sampa votarem em outra direção? Será que vão escolher novamente um prefeito insípido e inodoro, que pouco ou nada vai mudar na vida dos paulistanos, principalmente dos mais necessitados?
Só nos resta deixar aqui um apelo: Que nas próximas eleições, o eleitor encare a urna eleitoral como aquilo que é, o local para depositar o seu voto consciente, visando eleger prefeito e vereadores que trabalhem por uma São Paulo melhor. O panorama em São Paulo já tá ruço, mano, não faça com que ele ainda fique pior a partir do ano que vem. Bom voto a todos!   

São Paulo merece ser governada por pessoas de maior credibilidade e de outra estirpe, com posturas e biografias diferentes dos exemplos aqui mostrados! 

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