segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Curso de Noção Vivencial em Sociedade

Hoje em dia, costuma-se dizer sistematicamente, em variadas e diferentes situações, que Fulano ou Beltrano são pessoas sem-noção por esse ou por aquele motivo. Fala-se em tom de brincadeira, mas a falta de noção de um número cada vez maior de brasileiros, principalmente, mas não só, nas grandes cidades, tem atingido níveis alarmantes. Em muitos locais, já não nos comportamos como seres humanos e racionais, mas apenas, e se tanto, como jegues mal amestrados.
Nas ruas paulistanas, por exemplo, uma parcela cada vez maior da população tem se comportado com elevadíssimos índices de ausência de noção na maioria das suas atividades ou deslocamentos diários.
Os motoristas com seus carros cada vez mais possantes (embora em nosso caótico trânsito cotidiano não seja possível trafegar a mais de 30 km/h) invadem as ruas com suas atitudes tresloucadas e ostensivas, jogando os veículos para cima de todo e qualquer incauto que esteja no seu raio de ação. Os pedestres nas calçadas sofrem com as saídas e entradas de carros nas garagens em alta velocidade e sem o mínimo de respeito ou atenção.
E quanto maior e mais caro o carro, maior é a ignorância e a falta de educação e noção com que age o seu condutor. Madames metidas a besta, doutores que se dizem super ocupados, ou então os famosos jarbas a serviço de gente rica, simplesmente - não sabemos por que - acreditam piamente que devam ter e receber todas as deferências e preferências dos demais motoristas, transeuntes ou o que seja que se locomova à sua volta ou na sua proximidade.
Nas faixas de travessia das vias públicas são travadas verdadeiras batalhas, nas quais a falta de noção, principalmente daqueles que se encontram motorizados, faz com que haja constante perigo de atropelamentos e ferimentos para os pedestres, que são a parte mais frágil e mais sujeita a riscos nesses desproporcionais e selvagens confrontos. Muito embora, precisamos fazer aqui uma observação, muitos pedestres também ajam, em determinadas situações, com total e absoluta falta de noção, tentando passar pelos lugares mais perigosos, sem o menor cuidado ou atenção.
Os ciclistas também são outra categoria que exigem, com grande grau de razão, todo o respeito do mundo dos motoristas e motociclistas, mas que também costumam não primar pelas atitudes com noção, principalmente quando trafegam pelas calçadas, colocando os pedestres em risco, na maioria das vezes ao passar por eles, vindos de trás, em alta velocidade e sem a menor preocupação em avisá-los que vão fazer a passagem. Ou então, quando, mesmo vindo de frente, empreendem na bicicleta velocidade incompatível com uma calçada e ainda obrigam o pedestre a se virar para sair da frente. Não se pode dizer, infelizmente, que apesar de algumas iniciativas válidas, os ciclistas dos grandes centros sejam exemplos acabados de cidadania e noção social.
Outra categoria que vive surfando diariamente na quase completa falta de noção são os motociclistas, que cortam no trânsito a torto e a direito, sem qualquer preocupação, travando também a sua batalha particular com os motoristas, outra categoria grotesca que, como já colocado acima, encabeça a lista dos atuais cidadãos sem-noção brasileiros.
Outras situações muito comuns e habituais em nossas vidas, que tem sido completamente tomadas pela falta de noção dizem respeito exatamente à atenção que todos deveríamos ter com os idosos, deficientes físicos e com pessoas que não tenham estritamente a mesma origem e orientação que a nossa, seja racial, social, religiosa ou sexual.
A falta de noção e educação tem se mostrado cada vez mais presente nas relações cotidianas dos brasileiros. A maioria age como se o seu próprio umbigo fosse o centro do universo e não existissem pessoas ao seu redor. Quase não vemos mais gestos solidários e educados. Quase não presenciamos atitudes cavalheiras. Raramente somos agraciados com um pedido de licença, com um muito obrigado ou com um pedido de desculpas. Dificilmente alguém faz um gesto cortês para os que estão à sua volta. E o absurdo é que quando alguém tem uma atitude educada e com noção, muitas vezes é tido como um alienígena, um extraterrestre, que saiu de algum OVNI recém chegado à Terra. 
Em muitos casos, a falta de noção é ainda agravada pela utilização indiscriminada das inúmeras tecnologias de comunicação e entretenimento atualmente disponíveis em nosso famigerado e cada vez mais voraz mercado de consumo. Pessoas andam por calçadas ou falam com outras pessoas ao mesmo tempo em que estão conectadas ao mundo virtual e aí, como já sabemos, agem como verdadeiros autômatos, zumbis teleguiados a um passo de trombar com os outros, serem atropelados ou caírem nos buracos do caminho.
Nas relações comerciais também há grande participação dos sem-noção. Como não tem a devida base educacional, muitos profissionais atuais agem estritamente como miquinhos amestrados ao atender os clientes, seguindo um script pré-formatado pelas suas chefias, primando pela total falta de espontaneidade ou autenticidade, tornando essas relações muito enfadonhas e pouquíssimo verdadeiras ou agradáveis para qualquer um dos lados envolvidos.
E infelizmente os exemplos de atitudes e comportamentos sem-noção poderiam continuar ad eternum, mas é necessário informar sobre o título deste post, que promove a instituição urgente do Curso de Noção Vivencial em Sociedade, o qual deverá começar a ser ministrado em todas as instâncias e organizações educacionais, públicas ou privadas, em todos os níveis, visando propiciar conhecimentos rudimentares aos nossos profissionais, cidadãos, jovens e crianças sobre como viver com noção, ou seja, para que as pessoas de todos os níveis sociais e faixas etárias recebam as noções básicas para uma vida social, profissional e familiar minimamente provida de noção, bom senso, respeito e educação. A vida com noção nos tornará um povo mais voltado para o coletivo, para o social, enfim, mais voltado para os aspectos humanos. Precisamos dar um basta em tanta alienação, em tanto preconceito, em tanto egoísmo e em tanto consumismo. Precisamos entender que só cresceremos enquanto nação se aprendermos a dar valor a nós mesmos e a nos respeitarmos mutuamente mais a cada dia. Precisamos muito de noção.  


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quem não respeita uma fila não respeita ninguém

Todos no Brasil já devem ter passado por essa experiência: A pessoa está numa determinada fila e de repente surge algum espertalhão se fazendo de desorientado e tentando se infiltrar e furar na frente dos outros incautos. Outra modalidade bastante conhecida é a do sujeito que, ao se aproximar de qualquer fila, principalmente as mais longas e tumultuadas, logo procura por algum conhecido que permita a sua entrada indevida na frente dos menos espertos.
Desrespeitar a fila de idosos e pessoas com deficiência também é uma atitude à qual muitos sem-noção se entregam sem a menor cerimônia, na maior desfaçatez. No país do jeitinho e da lei de Gerson, o importante sempre foi levar vantagem em tudo, certo?
Ignorar assentos reservados em transportes coletivos. Utilizar indevidamente vagas de estacionamento para idosos e deficientes. Estacionar na frente de rampas de acesso para cadeirantes. Todas essas também são atitudes de pessoas que não respeitam nem a si próprias, pois todos nós, em algum momento da vida, poderemos nos encontrar na situação de precisar dessas instalações e dessas necessárias benesses, que, se respeitadas e corretamente utilizadas, tanto facilitam a vida de quem tenha ou esteja com algum problema de locomoção.
Mas, voltando à questão da fila, é comum notarmos que os folgados que a furam, quando muito, se preocupam em dar uma desculpa esfarrapada apenas para a pessoa que ficou imediatamente atrás deles, como se a sua atitude não estivesse prejudicando também a todos os demais que ali estão.
É no mínimo que se conhece o máximo. Do que será capaz um sujeito que não tem consciência ou respeito com os outros para se comportar devidamente em uma simples fila? Com certeza não pestanejará em auferir outros tipos de vantagens ilícitas ou indevidas nas outras searas da sua vida. Jamais, sempre que tiver oportunidade, se furtará a passar a perna nos incautos que o rodeiam. Dificilmente será capaz de um gesto solidário, digno ou nobre para com as demais pessoas.
Do que será capaz o elemento saudável que estaciona seu veículo, mesmo que por uns minutinhos -como esses sem-vergonha costumam se justificar - em vagas e lugares reservados para pessoas especiais? Com certeza não respeitam nem os próprios pais e nem a si mesmos daí a vinte ou trinta anos.
Essa questão é mesmo de cidadania, ou melhor, de falta dela. No Brasil, nossa educação pública de base, além de muito deficitária, jamais se preocupou em formar cidadãos na concepção plena dessa palavra. Nossas precárias escolas não preparam as pessoas para a vida em sociedade e não dão nenhuma importância à formação de cidadãos, que sejam plenamente conscientes dos seus direitos e deveres. Nossas escolas tem repercutido completamente aquilo que se vê na atual e massificada sociedade de consumo, ou seja, o individualismo exacerbado acima de tudo. Parece que está fora de moda propiciar às pessoas ferramentas e orientações que possibilitem um aprendizado voltado para o coletivo, para o todo e para o entorno. Sabemos que ninguém vive ou sobrevive sozinho, então é necessário formar indivíduos íntegros, solidários e participativos, e não apenas criaturas ensimesmadas, abobalhadas e ridículas, que valorizam tão somente o próprio umbigo.   

Procurando imagens para ilustrar este post, conheci o blog www.afilanossadecadadia.wordpress.com  ao qual dou o crédito e, além disso, recomendo, pela similaridade com o assunto abordado neste texto.


LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...