terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A interminável peleja entre o Zé Bosta e o Rollinbund

De antemão, queria pedir licença aos amigos Alexandre (Zé Bob), Zé Ovídio, Gustavão e Xico Sá, para fazer uso de alguns dos personagens e situações criados por eles, dos quais lançarei mão neste singelo post. Aproveito para agradecê-los pela inspiração que sempre me proporcionam com seus temas hilariantes.

Os contendores:

De um lado do ringue, Zé Bosta, que personifica o homem cujos principais atributos são as roupas, a forma física cuidada em excesso, o dinheiro, o elevado status, e, claro, sua paixão visceral pelos bens materiais, principalmente pelos veículos automotores.
Normalmente, é dotado de boa educação formal, provida desde a mais tenra idade pelos pais, o que não significa necessariamente que seja culto e/ou inteligente. Num estágio mais avançado, eventualmente, o Zé Bosta passa a ser extremamente narcisista, olhando-se para o espelho o tempo todo, ou seja, chega a um grau tão alto de culto a si próprio, que se houvesse possibilidades reais, se autocomeria.
Das mulheres, bem... quer apenas que sejam mais um acessório em sua vida. De preferência, um belo acessório, com o qual irá desfilar toda a sua vaidade e da qual terá de receber inúmeras adorações e paparicos. Frise-se aqui, que existem milhões de mulheres, talvez a imensa maioria, que se sujeita aos caprichos de um Zé Bosta, almejando alcançar a suposta honraria que seria estar do lado de um sujeito como esse.
Finalizando, Zé Bosta (or Shit Joe) , na maioria das situações acaba se fazendo acompanhar das "Marias-Zé-Bostas", ávidas por aparecerem da maneira mais fácil e mais rápida. Às vezes, ou muitas vezes, não chegam a ter prazer ou satisfação com essa companhia, mas, dotadas de curta capacidade mental, não conseguem entender o triste papel que cumprem no mundo moderno.

No outro córner do ringue, Rollinbund, sujeito humilde, simples e direto. Dotado de enorme carinho e simpatia pelo sexo frágil, que vive sempre marcado pela pouca sorte para os relacionamentos com as adoradas mulheres.
O Rollinbund é o sujeito autêntico, que não precisa (nem sabe) usar máscaras para conviver com as demais pessoas no dia-a-dia. Não sabe utilizar-se do marketing pessoal para obter benesses, seja no trabalho, seja na vida amorosa. Quer sempre agradar à mulher amada e, por todos esses motivos, acaba, em geral, não sendo bem-sucedido, pois o nosso mundo globalizado valoriza muito mais a imagem e a aparência do que a essência de cada pessoa.
Os Rollinbunds são sofredores. Não que eles procurem o sofrimento, pois não têm nada de masoquistas. Apenas não têm o carisma (ou a grana dos Zé-Bostas) suficiente para emplacar como pessoa, muito embora sejam, na maioria dos casos, inteligentes e dotados de auto-ironia e senso de humor muito corrosivo.

Deixo a critério dos amigos, principalmente das mulheres, decidir essa contenda, que acontece em todos os lugares em que estejamos, seja no trabalho, na escola, no lazer... sempre, de alguma forma velada, silenciosa, estará havendo uma batalha entre os Zé-Bostas e os Rollinbunds. Eles são como água e azeite: não se misturam jamais.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sr. "Curva-de-Rio"

Ele era um autêntico Curva-de-rio. Tudo que era complicado, malfeito ou atrapalhado sempre ia parar nas suas mãos. Em seu trabalho passava o dia a descascar os abacaxis administrativos que a sua função impunha. Sua sala era um autêntico amontoado de pepinos burocráticos. Tudo o que não prestava e era desagradável parava ali. Brigas de funcionários terceirizados, equipamentos quebrados, elevadores parados, funcionários doentes ou deprimidos. Tudo, absolutamente tudo de aborrecido se dirigia instintivamente para a mesa do nosso herói. Tal qual nas curvas dos rios, onde param todos os bagulhos, móveis velhos, embalagens descartáveis e sujeiras em geral, sua sala vivia repleta dos maus fluídos e das cargas negativas das coisas que não dão certo. O Curva-de-rio ia tocando a sua vida sofrida mas honesta. Às vezes pensava consigo mesmo: "Puxa, mas os outros levam a vida de maneira tão leve, vivem celebrando por aí, por que comigo não pode ser igual"?

E assim passava os dias. Assuntos e mais assuntos cabeludos desfilando pela sua mesa. Resolvia um e apareciam mais dez. Notava a enorme má vontade dos colegas em resolver as coisas, e sabia que todas aquelas omissões e negligências somadas contribuíam em muito para que a sua rotina se tornasse ainda mais trabalhosa e cansativa. Jamais ouvia um "obrigado", mas vivia recebendo muxoxos dos funcionários que viam o Curva-de-rio como a panaceia para todos os problemas.

Isso não deu certo? Manda para o Curva... Aquilo vai complicar? Encaminha para o Curva... Caiu, bateu, machucou? Só o Curva pode dar um jeito!

O interessante é que não enviavam nada de bom para o Curva-de-rio.

Restou ao Curva se conformar com sua triste sina. Uma vida feita para servir aos próximos. Ampará-los, ajudá-los, aconselhá-los, encaminhá-los. Dar aquela força para que os entulhos se desprendessem da curva do rio. Para que liberassem espaço, pois atrás vinham mais sujeiras e materiais inservíveis a serem tratados.

Para assuntos agradáveis, homenagens, descontrações e brincadeiras, jamais se lembravam do Curva-de-rio. Agora, para ver como seria limpa a área do evento ou quem carregaria as tralhas usadas na recepção, adivinhem se não lembravam rapidinho do Curva-de-rio?

Assim seguiu, caudaloso e recheado de imbróglios, o rio da vida do Curva-de-rio. Até que se aposentou por tempo de serviço e, totalmente parado, sem nenhuma chateação para enfrentar, logo caiu doente e foi pro saco, sem dó nem piedade de ninguém.

Salve o Curva-de-rio. Uma vida de devoção ao trabalho árduo que ninguém queria fazer. Sem glamour nem reconhecimento. Apenas tubérculos para serem descascados, cozinhados e digeridos.

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