segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O velho batuta - A "saideira" de 2008!

Sempre que posso, procuro contrariar aquela velha máxima de “incendiário aos 20, bombeiro aos 40”.

É claro que, com a idade, vamos ficando muito mais cautelosos, mais prudentes, mas isso não pode ser motivo para deixarmos de ter opinião diante dos assuntos e das pautas da vida cotidiana. Em muitos casos, percebo que os jovens incendiários do passado viraram cordeirinhos com a idade, embriagados, na maioria das vezes, pelas conquistas materiais e o “prestígio” adquiridos em duas décadas de vida.

Nesse período natalino, de extremo e exacerbado consumismo, no qual esquecem quase completamente do verdadeiro aniversariante – este sim, digno de todas as homenagens – para reverenciar o “bom velhinho”, lembrei-me e achei muito oportuna e atual a música dos “Garotos Podres”: “... Papai Noel, velho batuta, presenteia os ricos, cospe nos pobres...”.

Essa letra diz muito, para quem, como eu, já percebia na infância que o Papai Noel era muito mais generoso com alguns do que com outros.
E além disso, os mais velhos ainda completavam com a pérola: “Seja um bom menino, no ano que vem você será recompensado”.

Hoje em dia, as diferenças só se acentuaram. O “espírito” de Natal propalado pela mídia e pela propaganda é muito mais presente nos shoppings e magazines. As compras são incentivadas de maneira doentia. As dívidas são inevitáveis, e os mais pobres acabam tendo de pagá-las até no final do ano novo, quando conseguem.

Estamos cada vez mais distantes do verdadeiro espírito natalino, no qual o amor incondicional e imaterial ao próximo deve ser a coisa mais importante.
Precisamos de menos artigos de luxo, menos presentes, menos comilanças, e mais autenticidade, mais solidariedade, mais justiça e muito mais amor. Aí sim, estaríamos verdadeiramente comemorando o aniversário de Jesus, que como ninguém pregou toda a simplicidade e igualdade do mundo entre os homens. Imaginem se ELE iria separar as pessoas pelo tamanho daquilo que elas podem comprar.

Aproveitando a “deixa”, quero mandar boas vibrações a todo(a)s o(a)s blogueiro(a)s guerreiro(a)s com o(a)s quais tive o prazer de interagir nesses quatro últimos meses. A blogosfera é realmente um espaço de verdade e coragem, onde vocês expõem um pouco de suas almas e sentimentos. Ótimo 2009 a todo(a)s, e longa vida a todo(a)s vocês!
Em janeiro estaremos de volta, se ELE quiser!



segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Introducing: The Rollinbunds

O Rollinbunds surgiu das brincadeiras e diálogos de uma turma de amigos de trabalho, em 1991.
Seu nome vem da corruptela e junção de dois termos chulos da Língua Portuguesa. Uma tentativa tresloucada de verter para o Inglês essas duas palavras, que em Português têm um significado nada nobre, pelo contrário, denotam um sujeito que não dá muita sorte na vida.

Um dos temas dos Rollinbunds, criado à época pelo amigo Zé Ovídio, como nós, notório Rollinbund, é a frase lapidar: “Entre a ânsia de querer e o azar de não poder”.

Os Rollinbunds são criaturas vindas da simplicidade e da pobreza material. Infância pobre e com grandes dificuldades de acesso aos bens de consumo e às novidades.

No entanto, nunca tiveram talento ou coragem - até porque são sempre pessoas de boa índole, bons até demais – para enveredar pelo mundo do crime ou das contravenções.

Os Rollinbunds, mesmo com todas as dificuldades, procuram trilhar o caminho duro e suado da honestidade. Talvez a grande lição e o grande legado dos seus pais sejam esses: Honestidade, trabalho, fé em Deus e consciência limpa.

Dado o perfil psico-sociológico do nosso folclórico amigo, talvez seja hora de tentar explicar o que sejam as “rollinbundagens”, ou seja, as ações e presepadas vividas por tais espécimes da raça humana, tão mal ajambrados e tão colocados de lado pela nossa sociedade da imagem e do consumo.

Os Rollinbunds são aqueles tímidos incorrigíveis, que jamais conseguem se aproximar da mulher amada. Na adolescência e juventude, esse é sem dúvida o principal problema dos nossos amigos. Amar platônica e temerosamente, a la “Cyrano de Bergerac”, é uma das coisas mais comuns em suas vidas. Amores não correspondidos e silenciosos marcam profundamente suas sofridas existências.

Os Rollinbunds são notados também por sua incapacidade de atuar bem nas situações glamurosas da vida em sociedade. Devido às falhas educacionais em suas infâncias pobres, apresentam grandes lacunas culturais e de etiqueta, o que os coloca em muitas roubadas e situações cômicas. Não sabem se vestir, não são charmosos nem sedutores.

Como vocês podem ver, a vida pode ser muito dura para os Rollinbunds. São, em geral, grandes pessoas e têm bons corações, contudo, nem sempre conseguem passar tudo isso para o dia-a-dia e vivem se metendo em enrascadas e ciladas. Um dia, falarei mais sobre o nosso amigo Rollinbund. Afinal de contas, até as últimas bolachas dos pacotes podem eventualmente ter tido momentos rollinbundescos e não terem se dado conta disso.

Deixo uma pergunta a todos: Na opinião de vocês, de onde - de que palavras da Língua Portuguesa - teria surgido a alcunha “Rollinbunds”? E qual seria a explicação para tal nome?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Anacrônico

I´m a anacronic man, living in a stupid age.
By Rollinbunds.

Em tempos tão obrigatoriamente modernos, nos quais é exigido indiretamente de nós que estejamos up to date em todas as frentes, sejam as culturais, tecnológicas, políticas ou comportamentais, chego à absoluta conclusão de que estou anacrônico. Não consigo, principalmente porque não quero, andar pari passu com as absurdas imposições da mídia, da propaganda, dos formadores de opinião, dos políticos, dos economistas, dos supostos artistas, enfim, de tudo aquilo tido como atual, aceitável, desejável e padrão.

Hoje em dia, até para ser rebelde há um padrão socialmente aceitável. Existe uma rebeldia calculada que é aceita e até recebida com alguma simpatia pelo main-stream vigente.

Os rebeldes de hoje vivem tatuados, com os cabelos eriçados, piercings pendurados, mas eu pergunto: Terão eles, interiormente, padrões e conceitos realmente revolucionários? Ou apenas usam uma casca de rebeldia e nada de novo trazem dentro de si?

Os verdadeiros revolucionários e vanguardistas já o são na sua própria essência, na forma de se expressarem, na maneira como vivem, nas opções que fazem na vida, na não-aceitação ou ao menos no questionamento das imposições e formas de comportamentos que nos são enfiados goela abaixo.

Vivemos na era do faça isso, leia aquilo, comporte-se assim, vista isso, adquira o novo modelo, vá ao point tal, freqüente o restaurante do fulano que está in, ouça isso, assista aquilo outro...

Não há espaço para a individualidade, a sociedade aprende cada vez menos a questionar e discutir os seus problemas, as pessoas apenas seguem padrões que alguém em algum momento criou. Novas tendências, novas ondas, e lá vão todos surfando nessas new waves.

De repente, o que era execrado como brega há vinte anos vira cool e aí todos os ditos antenados passam a curtir aquilo que antes abominavam. Nós não aprendemos a discernir por nós mesmos o que é bom ou não. O marketing, os formadores de opiniões e os críticos são os que nos dizem que caminhos devemos trilhar. Personal stylists, personal trainers, orientadores de etiqueta social, todos se arvoram a nos dizer o que temos que fazer, usar, ou como nos devemos comportar. Miquinhos amestrados é o que estamos nos tornando. Sem opinião, sem rosto, sem história. Precisamos muito de aprender a conviver com as diferenças e a desenvolver espírito crítico.

Precisamos desenvolver iniciativas próprias, inclusive em relação às atitudes solidárias. Até para sermos solidários ficamos esperando acontecimentos de comoção nacional para agir. Em tragédias como a de Santa Catarina, horrível e muito triste, as pessoas são conclamadas por televisões, jornais e pessoas da mídia a colaborar com ajuda às vítimas. Nada contra, muito pelo contrário, mas será que só esse tipo de solidariedade, orquestrado e de alta visibilidade é válido? Não temos inúmeras oportunidades em nossos cotidianos de exercermos a cidadania e sermos solidários? Não é só nos grandes e notórios desastres que se faz necessária a solidariedade. Precisaríamos olhar mais para os lados e para trás no nosso dia-a-dia, quando ninguém está nos vendo ou acompanhando, quando só nós mesmos podemos avaliar qual atitude ali, naquele momento, é melhor ou menos perniciosa. Não deveríamos precisar de platéia para sermos solidários, pelo contrário, tudo aquilo que fazemos por absoluta iniciativa própria tem muito maior validade em nossas histórias de vida.

Para finalizar, em questões de solidariedade, muitas vezes agimos sem pensar que nós mesmos poderíamos estar na pele e na situação do outro. Acredito que além da ajuda, caberiam ainda a nós alguns questionamentos interiores, como por exemplo: Qual a minha parcela de culpa para que essas pessoas estejam passando por isso? Onde estão as origens dos problemas que levaram estas pessoas a estarem nessas condições indignas de vida?

De nada adianta agirmos como os magnânimos que nada podem fazer para melhorar toda a podridão que os rodeia a não ser sentir pena. Em alguma coisa a gente está se omitindo, ou então, com alguma coisa errada a gente está compactuando, para vivermos tantas desigualdades e aberrações sociais e, paralelamente, uma outra grande parcela da população vivendo automaticamente com tudo aquilo que a globalização nos impõe. É justo haver gente curtindo tudo que a vida moderna propicia enquanto muitos outros passam toda sorte de necessidades e se dedicam a catar e separar todo o lixo de tamanha modernidade? Em que idade estamos? A idade altissimamente tecnológica ou a idade da barbárie?

Post scriptum: Hoje, às 6h00 da manhã, logo após ter escrito este post, por acaso assisti a uma entrevista com o grande cartunista Millôr Fernandes no Canal Brasil, e por absoluta coincidência, ele tocou em alguns pontos que sempre achei muito relevantes e sempre concordei, mesmo sem saber que a opinião dele era essa. Primeiro, falou da necessidade que sente de que os homens sejam essencialmente bons, e não bonzinhos, como vemos tantos por aí, lobos em peles de cordeiros. Falou também da diferença que faz entre notoriedade - que considera importante, pois denota respeito a um trabalho bem feito - e popularidade, que é aquilo que as pessoas têm apenas por aparecerem, por qualquer motivo, em revistas e na televisão. Coincidentemente, Millôr falou também que se emociona com a solidariedade espontânea do cotidiano, quando as pessoas agem apenas pelo ímpeto de ajudar ao próximo, sem esperar nada em troca por isso.

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