quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Xico Sá - O Homem-Síntese

Se tem um cara que atualmente admiro, esse cara é Xico Sá. Não o conheço pessoalmente, mas essa simpática figura tem estado presente na maioria dos acontecimentos culturais de São Paulo e do país.

O grande público o conhece principalmente por ser um dos melhores cronistas da Folha de São Paulo, mas ele é muito mais multifacetado do que isso, e atua em várias frentes artísticas, sempre com grande competência.

Mas profissionais com esse perfil eclético até que não são tão raros assim. O que Xico tem de diferente é o fato, este sim muito raro atualmente, de ser sempre a mesma pessoa e se expressar da mesma forma, esteja onde estiver e esteja perante o público que estiver.

A coerência do cronista é algo bastante incomum nos dias de hoje, onde as pessoas se comportam e se vestem de acordo com o público e a ocasião, e o que é pior, falam e se expressam de maneiras variadas, dependendo dos interlocutores.

Xico Sá é sempre Xico Sá, esteja num clipe do Otto ou do Sidney Magal, esteja num curta ou num longa-metragem dos seus muitos amigos. E, diga-se, o cara é engraçado naturalmente, sem precisar fazer qualquer tipo para isso. Como ele mesmo diz, é um mal-diagramado. E esta é mais uma das suas características marcantes. Mesmo fora dos padrões estéticos atuais, o bom Xico não deixa de ser sedutor, romântico e querido pelo mulherio.

O discurso também é sempre o mesmo, apesar de poder ser variado e riquíssimo em referências e imagens, dependendo do assunto. O cara é culto pra caramba, e transita com desenvoltura em inúmeros meios intelectuais, das letras à música, passando pelo cinema e pela tevê.

Enfim, Xico é o Homem-Síntese porque reúne em si informações e influências as mais variadas possíveis. Em Xico convivem harmonicamente o anarco-punk, o seresteiro, o cavalheiro, o forrozeiro, o romântico, o mangue-boy, o brega, o cosmopolita, o futebolista, o sociólogo, o religioso, o sertanejo, o humorista, o Dom Juan, o roqueiro, o cinéfilo, o político, o moderno e o antigo, o local e o global. Ele funde tudo, mistura tudo no caldeirão cultural do Xico e faz um mix verossímil de Paris, Nova Iorque, Recife e Juazeiro.

A minha intenção era a de prestar uma singela homenagem a esse sujeito chamado Xico Sá, e prestá-la por muitos motivos. A começar pelo fato dele ter nascido no Cariri e chegado aonde chegou. É uma vitória magnífica, pois eu que já estive algumas vezes por lá sei como é sofrida a vida daquela gente, e as dificuldades que enfrentam para tudo. E mais, jamais deixa de lembrar e cultuar as suas origens, esteja onde estiver.

Outros importantes motivos para homenagear Xico Sá são a sua simplicidade e a sua autenticidade, fatores que colaboram muito para que ele seja tão querido por tantos amigos leais, que parecem querer tê-lo ao seu lado em todas as empreitadas, sejam filmes, peças, livros, festas, etc. Xico é multimídia total, sem jamais deixar de ser ele mesmo. E acho que é isso que nos encanta. Num mundo tão voltado à imagem, ao sucesso, ao estrelato, Xico Sá consegue fazer estupendo sucesso sendo simplesmente ele mesmo.

Seu sucesso com as mulheres e sua maneira de encará-las e retratá-las, também são muito peculiares, e o transformam no gentleman que é, tão querido e respeitado pelo sexo feminino. Um autêntico macho-jurubeba, como ele mesmo definiu, que é o sujeito diametralmente oposto aos metrossexuais, tão em voga no momento.

Longa vida a todas as pessoas que se portam como Xico Sá perante o mundo. Embora saiba que são a minoria, são aquelas a quem realmente podemos chamar de Gente.
Precisamos de muitos Xicos Sás em nosso mundo atual tão escroto. Precisamos de gente reta, simples, direta e visceral como ele. Precisamos de toda a humildade, autenticidade e verdade impregnadas na sua figura alegre e festiva. Precisamos de muitos mais Xicos Sás, dotados de caráter, sensibilidade, auto-ironia, amor e respeito ao próximo.

Assistam Xico Sá no Youtube, nos clipes “Pra ser só minha mulher”, com seu amigo do “Hellcife”, Otto, e “Tenho”, de Sidney Magal. Em ambos, Xico está mais Xico do que nunca, dando um banho de carisma e desenvoltura. Todo o carisma e desenvoltura que podem haver em um sujeito espetacularmente comum. Longa vida a Xico Sá!!!

http://carapuceiro.zip.net/

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Créu, Mulher-Filé e outras aberrações

Foi-se a época em que existiam músicas de duplo sentido. Há algumas décadas, de tempos em tempos, apareciam cantores e compositores que se dedicavam à “arte” de criar canções cujas letras eram cheias de malícia, cacófatos e palavras enviesadas, que levavam o ouvinte a captar outras mensagens, além daquela aparente à primeira audição. Naqueles tempos, é bom que enfatizemos, tais artistas eram tachados, por grande parcela da população, de produtores de baixarias e não de músicas. Ninguém sabia, àquela altura, o que realmente viria a ser baixaria.

Genival Lacerda é um desses artistas, famoso por suas letras de duplo sentido, que falavam uma coisa, mas queriam dizer outra, como a famosa “Severina Chique-Chique” e “Ela deu o rádio”. Sandro Becker, embora muito menos talentoso do que Genival, também lançou das suas, como o “Gato Tico” e “Julieta tá”. Talvez a ditadura militar tenha contribuído para o surgimento desses compositores criativos, que precisavam burlar a censura lançando mão de várias artimanhas e estratégias. Outra fonte para tais criações é o jeito despojado e irônico de muitos nordestinos, que sempre gostaram de introduzir pitadas de humor despojado em suas canções.

Porém, hoje em dia, lamentavelmente, não há mais necessidade de fazer músicas com duplo sentido. As letras são diretas e sem nenhuma graça ou qualquer charme. São grotescas, mesmo. Vide o exemplo do famigerado “Créu”, uma baixaria sem tamanho, sem graça, e nenhuma inspiração. Do “Créu” vieram coisas ainda piores, como a Mulher-Melancia, uma moça cheia de abundância que se diz cantora e dançarina. A vi cantando, se é que aquilo é cantar, apenas uma vez, mas, perto da “música” dessa “cantora” , o Genival Lacerda fica parecendo um Noel Rosa, dada a diferença brutal de nível entre ambos.

Essa moça, como todas as suas “clones”, que surgiram instantaneamente após o seu “sucesso”, devem matar as feministas dos anos 60 de vergonha e de raiva. E pensar que elas lutaram tanto, se mobilizaram tanto, queimaram sutiãs em praça pública, para em 2008, quarenta anos após, as mulheres se comportarem dessa maneira. Mostrando e balançando a bunda na cara de todos os homens e cantando letras impronunciáveis de tão sofríveis e baixas. Acho que não era por esse tipo de emancipação que aquelas mulheres lutavam.

Mulher-Filé, Mulher-Morango, Mulher-Jaca, virou uma grande feira. “Instant celebrities” comestíveis. Basta olhar, escolher e pegar, não sem antes pagar, é claro.

Onde teriam se perdido a delicadeza e a beleza essencialmente femininas? Por que muitas mulheres escolheram esse caminho para se “equiparar” aos homens?

Falo isso, porque não vejo as mulheres sérias, competentes e preparadas - e olha que elas são muitas – se indignando verdadeiramente contra tais comportamentos de parte delas, as ditas e comentadas “cachorras”. Se fosse mulher, teria muita vergonha de ver mulheres reduzidas a meros objetos do desejo e da cobiça dos homens. As mulheres modernas não podem ser só isso, pois, se assim for, a igualdade entre os sexos ainda estará muito mais longe do que imaginamos.

Mas assim caminha a sociedade brasileira moderna. Mulheres expostas como carne em um açougue. Cantando e dançando músicas chulas e baixas, sem nenhum mérito artístico, que, infelizmente, são enfiadas goela abaixo dos nossos despreparados telespectadores, a custa de muito jabá pago às rádios, emissoras de Tv e seus apresentadores sofríveis.

A minha pergunta, sempre que me deparo com esses shows de horrores que só vêm piorando a cada ano, é aonde todas essas aberrações chegarão? E onde será o fundo desse poço de ignorância e destruição da criatividade e qualidade da cultura brasileira?

Nós, brasileiros, merecemos ter acesso a artistas e trabalhos conscientes e de qualidade, que existem aos montes por todo esse país, mas que infelizmente estão soterrados sob montanhas de bundas e peitos siliconados, além de créus, axés, funks e forrós de péssimo gosto. Será que o aumento da consciência cultural do povo não é um dos caminhos para sairmos desse mar de mazelas e desgraças em que chafurda este país?

Não é possível que o povo brasileiro queira ter acesso apenas a essas “modernas” aberrações da mídia!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Sem-noção manda lembranças!

Hoje em dia, no Brasil, em quase todos os lugares e momentos, há um Sem-Noção aprontando das suas.
Repare bem na fila única do banco: Sempre chega o Sem-Noção e fica por ali, se fazendo de perdido, alegando que não está entendendo a fila para o caixa. Só que o camarada sempre entra ou fica próximo da cabeceira da fila, ou seja, está se fazendo de inocente, mas nunca fica numa posição de desvantagem, na rabeira da fila. Se as outras pessoas da fila comerem mosca, o Sem-Noção fatalmente se aboleta numa posição privilegiada e dá um nó em todo mundo. O Sem-Noção adora gente de boca aberta para ele poder aprontar livremente das suas. Quanto maior a boa-fé dos outros, mais o Sem-Noção se fortalece.

O Sem-Noção também costuma aparecer muito em lugares cheios de gente como cinemas, teatros, shoppings, estádios de futebol, bem como em metrôs e ônibus. Aparece de várias maneiras, mas em se tratando de celular, o Sem-Noção se supera. O mau uso que faz do aparelho é gritante. Parece que realmente faz de tudo para aparecer. A começar pelo toque. O toque do celular do Sem-Noção é sempre o mais estridente, esdrúxulo e alto possível. Ao atender, depois de deixar que o toque irrite a todos os que estão por perto, o Sem-Noção fala aos berros, como se outros precisassem saber dos seus assuntos particulares.

Em conduções cheias, o Sem-Noção apronta uma atrás da outra. Não sabe se comportar, nem se posicionar em meio ao aglomerado de pessoas. O Sem-Noção é aquele que solta o peido mais fedido, bem no momento de maior tensão e lotação, deixando os que estão por perto atordoados em meio à nuvem amarela.
O Sem-Noção é aquele que espirra bem na cara ou por sobre as cabeças dos outros passageiros, sem a menor cerimônia e sem nem pensar em pedir desculpas.
O posicionamento do Sem-Noção é algo irritante. Se precisar estar perto da porta para descer, ele fatalmente estará bem sentado, o mais longe possível da porta. Quando o ônibus, trem ou metrô vai partir, sai como um tresloucado, atropelando a tudo e a todos.
Se vai demorar a descer, o Sem-Noção fica justamente na porta de saída, barrando a passagem e atrapalhando a vida dos outros. Ou então no meio do corredor, sem lembrar que os outros podem estar querendo passar por ali. Ou seja, o Sem-Noção se caracteriza fortemente por conseguir sempre estar no lugar errado na hora errada e na posição mais atrapalhada possível. Se está sentado na condução lotada, o Sem-Noção jamais pensa em ceder o seu rico lugarzinho a alguém mais necessitado que ele, como uma gestante ou um idoso. Os outros nem existem para o Sem-Noção. Quem são os outros?

O Sem-Noção também não usa qualquer palavrinha mágica no dia-a-dia. Por favor, desculpe, obrigado e com licença, não fazem parte do deu ridículo vocabulário.

Os fumantes já são Sem-Noção por natureza, todos devem concordar. Agora, o fumante Sem-Noção é aquele que não respeita os não-fumantes, fumando em lugares impróprios e fechados, empestando todos os ambientes pelos quais passa. O Sem-Noção fumante é foda, literalmente.

Nos locais de trabalho também existe o Sem-Noção, sempre pronto a fazer tudo o que pode para desandar a maionese e acabar com o espírito de equipe. O Sem-Noção é aquele colega que reclama de tudo, que nunca colabora espontaneamente com os demais. Que nunca faz a sua parte bem feita. Que não se comunica. Que nunca responde em tempo hábil às demandas que cabem a ele. O Sem-Noção no trabalho é um estorvo para os que convivem com ele.

Por fim, nem é preciso dizer que o Sem-Noção está em muito mais lugares e ocasiões do que pude retratar aqui. Isso é só uma amostra da sua capacidade de destruição. Na política, então, o Sem-Noção nada de braçada, impulsionado pelo voto do eleitor Sem-Noção, outra figura bastante deletéria – infelizmente - também muito presente no Brasil. Mas isso são outras histórias...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Elucubrações matinais no 702-U

Apesar da habitual lotação do 702-U, e de estar em pé, nesta manhã consegui um lugarzinho um pouco mais confortável, uma vez que me encaixei numa pequena área envidraçada, próxima à catraca. Pelos menos não tomaria tantos pisões, empurrões e encoxadas, e ficaria mais protegido de eventuais gatunos e mãos-leves, presenças freqüentes nesse horário.

Nessa privilegiada posição, podia ir contemplando a paisagem da Av. Rebouças, os pontos de ônibus lotados, as pessoas se engalfinhando na porta de entrada para tentar um lugarzinho no busão em que eu me encontrava, além do trânsito caótico de veículos, que trafegam fora do corredor exclusivo de ônibus.

Em alguns muros da avenida, podia ler pichações contrárias ao sistema eleitoral brasileiro e ao resultado parcial das eleições paulistanas.
A frase que mais me chamou atenção foi: “Quem tem fome não consegue votar direito!” ou algo equivalente. Foi aí que fiquei pensando em como seria melhor se o voto fosse facultativo, quando, em tese, só votariam as pessoas realmente preocupadas com a política nacional. Donde se conclui que as escolhas seriam mais sensatas e os eleitos não seriam tão sofríveis quanto os últimos resultados apontaram, principalmente os vereadores.
Por dedução, com eleitos mais decentes, teríamos mais chances de minimizar as agruras da enorme parcela do povo brasileiro que não come direito e não tem acesso à educação. Quem sabe aí conseguiríamos, nas eleições futuras, ter um quorum espontâneo de eleitores muito maior e mais qualificado. Quem sabe? Apenas elucubrações mentais matinais, a bordo do sofrível 702-U, que é - entra prefeito e sai prefeito - apenas mais uma linha de ônibus esquecida de Sampa, que, como tantas outras, transporta apenas trabalhadores e estudantes, além de muitos idosos e crianças, que, faça frio ou faça chuva, logo cedo precisam se dirigir aos hospitais públicos do SUS, para as consultas e exames agendados há meses.

Essa linha, como quase todas as outras, não transporta parentes de políticos, muito menos pessoas das classes A e B.Então, melhorar pra quê?

Mas o meu trajeto ainda estava pela metade, quando me deparei com outra cena marcante: No ponto de ônibus da Faria Lima, em meio à multidão de passageiros, notei um jovem gordo e forte, moletom e camiseta imundos e rasgados, pés descalços, cabelos emplastados de sujeira, com um enorme chico-doce nas mãos. Além dessa triste situação, o que mais me chamou a atenção, é que o rapaz vasculhava as lixeiras e andava soberano por entre todas as pessoas do ponto, que lhe abriam passagem incontinenti, a maioria por receio talvez. Apesar de seu triste estado de abandono e exclusão, o jovem mantinha um ar digno, possivelmente respaldado pelo enorme cacete de madeira que levava consigo. Ele havia descido tanto, que de alguma maneira se encontrava acima das pessoas comuns. Como tudo de pior já lhe acontecera, agora nada mais importava, estava imunizado contra desgraças. Os outros que o temessem e o respeitassem, pois ele já não tinha mais nada a perder, nem podia descer mais baixo. Nossa sociedade que o engolisse, já que o criara apenas com descaso, abandono e sofrimento.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eleiçãozinha sem-vergonha

Segunda chuvosa em São Paulo. Parece que até os céus choram os desastrosos resultados nas eleições municipais. Quem diria? Kassab, ex-malufista, ex-pittista, agora alçado à condição de paladino da justiça e dos bons costumes, queridinho da classe mé®dia. Não que os outros candidatos sejam assim umas “Brastemps”, pois foi-se o tempo em que a gente votava no PT cheio de razão e certeza. Mas, dos males, São Paulo parece estar a caminho de escolher um dos piores.
Por outro lado, temos a nova Câmara Municipal, composta, mais uma vez, por cantores esquecidos, velhas raposas da vereança e alguns novos nomes que nada acrescentarão de bom às discussões da cidade. Estamos, ou continuamos na roça, apesar de estarmos na maior cidade do país. São Paulo merecia políticos mais sérios, engajados e comprometidos, mas, fazer o quê? Se cada povo tem o governo que merece? Só nos resta chorar, como o próprio clima do dia já está se encarregando de fazer.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

RSVP - A "Caras" de Sampa

Vi por estes dias, a veiculação da propaganda da revista RSVP, a qual, pelo que entendi, deverá ser um suplemento da famigerada Caras, que tratará especificamente de assuntos relacionados ao Grand Monde paulistano. Uma espécie de roteiro gastronômico, de compras e serviços, especialmente voltado aos bem-nascidos e bem-vividos da paulicéia.
Tudo bem, tal publicação terá certamente o seu seleto público e, com o tempo, talvez venha a rivalizar com a Vejinha, outro balcão de anúncios suntuosos para bolsos abastados e gostos duvidosos.
Em minha modéstia suburbana, fico a conjeturar se é desse tipo de publicação que São Paulo, a grande São Paulo - a mãe que não rejeita ninguém, mas trata muito mal a maioria de seus filhos – estaria necessitando.
É notório que São Paulo tem um lado chique e cool no último. Mas também é notório para os menos hipócritas ou alienados, que é uma cidade cujas periferias estão impregnadas pelas mazelas sociais mais desumanas e torpes que podem afligir os cidadãos.
São Paulo precisa, isso sim, de publicações honestas e diversificadas, que mostrem tudo de bom que a cidade tem (E olha que São Paulo tem muitas pessoas decentes e coisas boas e simples, que não aparecem em guias finos como esse), mas também tudo aquilo em que ela precisa melhorar.
Falta atendimento digno e humano em hospitais e postos de saúde. Faltam creches e escolas bem equipadas e professores motivados. Faltam habitações decentes e obras de urbanização das regiões pobres e favelizadas. Falta transporte público rápido e eficiente, pois a maioria das obras viárias, quando são feitas, visam apenas melhorar o tráfego dos automóveis particulares. Faltam opções de lazer, esporte e arte para as crianças e jovens. Por outro lado, sobra criminalidade, tráfico de drogas e práticas corruptas e ilícitas. Falta vergonha na cara da classe dirigente de São Paulo para, em todas as instâncias diretivas e decisórias, agir com responsabilidade e espírito público, visando realmente melhorar as precárias condições de vida da maioria dos paulistanos. Mas não se preocupe. Nada disso estará na RSVP. Lá o mundo é cor-de-rosa e perfumado. E as pessoas são bronzeadas, malhadas, saradas e botocadas. As mulheres têm os cabelos lisos e sedosos e os homens sempre usam gel.
Quanto aos leitores da RSVP, esses não precisam de nada que o Estado possa oferecer. Já têm transporte individual, terrestre e aéreo. Têm segurança particular, muito bem treinada e pronta para agir na incômoda presença de cidadãos comuns. Têm os melhores atendimentos que o dinheiro pode propiciar. Estudam nas melhores escolas, freqüentam os points chics indicados na revista. Não precisam do Estado. Vivem em redomas e condomínios fechados. Que se danem os comuns, jogados aos leões da violência urbana. Os VIP´s vivem muito bem em Sampa. Aliás, os ricos vivem muito bem em qualquer lugar do mundo, até na cadeia. Lêem Caras, Vejinha e RSVP, e ficam antenados quanto aos lugares a que podem ir, sem ter de passar o constrangimento de resvalar ou ombrear com gente de verdade. Chega às raias da indecência termos publicações voltadas apenas para o maravilhoso mundo dos grã-finos, em meio a todo o mar de injustiças e aberrações sociais que vivemos em São Paulo e no Brasil.

PS: Fiquei curioso - sem a menor necessidade, diga-se - quanto ao que pudesse significar RSVP, e descobri o seguinte:

R.S.V.P. vem do francês: "respondez s`il vous plait", que significa "responda, por favor". A pessoa que enviou o convite deseja saber se você vai aceitá-lo ou não, ou seja, ela quer saber se você vai comparecer ao evento”.
Fonte de pesquisa: http://pessoas.hsw.uol.com.br/questao450.htm

Sigla bastante comum no dia-a-dia, e de fácil compreensão para o paulistano médio. Acho que só eu não sabia!

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